quarta-feira, 20 de agosto de 2008

DIÁRIO DE CUBA (08)
O SEGUNDO DIA NA ILHA: UMA MANHÃ “JINETERA” (09/03/2008)
Manhã de tempo fechado, saímos para conhecer a orla do Malecón. Há uns 400 metros do hotel Vedado, ficamos vislumbrados com o “El Monte de las Banderas (Panteão)”, um grandioso monumento a José Martí, ao lado da embaixada dos EUA. Lugar amplo, com um imenso palco. Marcão me diz que ali, local de grandes concentrações públicas, foi onde o povo cubano concentravam-se para fazer a defesa ao menino Elian, até que os EUA tiveram que devolvê-lo. Questão de justiça internacional (que daquela vez foi feita). Que grande ironia e uma justa provocação. Um local de concentração popular de defesa ao regime comunista bem ao lado da embaixada americana, o templo do capitalismo. Vibrei em imaginar aquilo lotado e pulsando. Não ficamos mais, pois ventava muito. Naquela manhã, só nós dois e alguns seguranças. As bandeiras produziam um belo som, flanando lá do alto daqueles imensos mastros.

Adiante avistamos um monumento a Calixto Garcia, onde o mar batia forte nas muralhas e invadia a avenida. Ninguém por ali. Estávamos sós. Diante de nós, um estádio, damos uma volta quase completa, sempre a sós. Adentramos umas quadras residenciais e paramos numa banca de jornais. Compro os primeiros meus por lá, o “Tribuna de la Habana” e o “Juventud Rebelde”, recebendo encartado o “Orbe – Semanário Internacional de Prensa Latina”. Aqui meu primeiro contato com as tais duas moedas cubanas. Não existem por lá bancas como as existentes aqui. Poucas revistas e mais jornais (que bom). Todos no formato tablóide e finos. Nada daquele amontoado de anúnmcios desnecessários, só informação. Entro na fila e pergunto a dois cubanos, no meu sofrível portunhol, pelo preço. Respondem ser 40 centavos. Levo os dois. Ia dando 80 centavos no “peso convertible (CUC)”. A senhora da banca, me vendo com a mão cheia de moedas, me pede para abri-la. Retira de lá uma moeda de cinco centavos, dizendo estar tudo pago. Fez uma conversão que ainda desconhecia. Minha manhã estava mais do ganha.

Seguimos em frente até o monumento a José Manuel Gomez, ao lado do Hospital Ortopédico. Ali, mais pessoas na rua. Somos abordados pelo primeiro cubano. Falamos de futebol. Papo que segue, percebendo Marcão revolucionário, oferece uma moeda com a esfinge do Che por um peso. Pago e o presenteio. Queria nos levar para uma livraria para comprar camiseta de Che. Um guarda do outro lado da rua o chama, ele vai até ele e se afasta de nós dois. De longe faz sinais para seguirmos pela rua onde estava. Seguimos o caminho contrário. Naquele mesmo quadrilátero, um rapaz se diz estudante de turismo, querendo travar conhecimento com turistas estrangeiros. Abre uma bvolsa, mostra coisas e pressentindo a aproximação policial, se despede e some.

O terceiro daquela manhã, foi o mais marcante. Também chama-se Marcos, negro, magro, disse trabalhar na Cubatur (agência de turismo do país). Com um papo agradável, seguimos ao seu lado por um bom tempo. Dá dicas sobre um Festival de Salsa (muitos falaram disso, mas nunca o encontramos - tratava-se de uma lorota) e vai obtendo informações nossas. Quando peço uma foto juntos, diz ser da Santeria (religião de origem negra), onde fotos não são permitidas. Tiro uma dele de costas, junto ao Marcão. Num outro momento, ao informar que iriamos para Santa Clara, nos diz da necessidade de comprar passagens antecipadas, devido ao tal festival (sic). Vamos juntos ao provável terminal rodoviário. Longa caminhada, quando aproveitamos para conhecer um lado de Havana,que não mais voltaríamos. Desconfiamos das intenções, mas seguimos. Ele recebe várias ligações de celular pelo caminho (e ainda diziam por aqui que eles não possuíam celular). Paramos defronte uma empresa de ônibus, a Astra. Recusamos comprar bilhetes, fora de guichês e ele ainda nos ensina o caminho de volta. Não passou disso, nada acintoso, nem perigoso. Curtimos o tour feito. Uma tentativa de achaque, longe do enfrentamento vivenciado do lado capitalista desse mundo.
Depois, tomamos conhecimento da realidade dos tais “Jineteros”, pessoas querendo tirar alguma vantagem dos turistas, vivendo da grana proveniente dessas informações, espécie de guias não autorizados, existente no mundo todo e também por lá. Isso é prova de que o regime não é tão duro. Existe uma certa precaução do regime, os policiais estão atentos (e isso é ótimo), mas não reprimem (assim mesmo recebem críticas, imaginem se reprimissem). Como em qualquer regime, esses conheceram um lado fácil de levarem suas vidas, preferem tocá-las desse jeito. E o fazem, sem emprego fixo, à margem, correndo lá seus riscos. Veríamos outros, mas a cada abordagem, íamos aprendendo a se safar. Marcão colocou em prática uma técnica infalível de despistamento. “Ao se aproximarem, digo logo estar em viagem oficial do Partido Comunista do Brasil, para contato com os do partido cubano. Eles se arrepiam e batem em retirada”, me ensina.Isso não foi assimilado de forma rápida. Insistimos nesses contatos, até o último dia. Queríamos conhecer todos os lados da questão cubana e essa muito nos interessava. Voltamos rápido para o hotel, pois naquele domingo à tarde, teríamos algo grandioso à nossa espera. Um almoço numa casa cubana, de uma família com parentes em Bauru.
Continua semana que vem...

4 comentários:

Anônimo disse...

Que diferença deste moço para o pai não? Não sou comunista mas acho admirável sua personalidade e sinceridade.

Abraço
Ruy

Anônimo disse...

Olá Henrique!
Conheci teu blog pelo comentário que fazes do FIZTV (ficamos muito felizes por isso!)
E realmente me identifiquei muito, gostei bastante do blog e vou seguir lendo sobre Cuba. Aliás, sempre é bom conversar com outro viajante!!!
Prometo postar mais sobre Cuba, mas faz dias que não atualizo meu blog, pq estas últimas semanas estão turbulentas demais hehe

Espero que continuemos conversando (mesmo que digitalmente!)
Grande abraço,
Thaís Brugnara Rosa

Anônimo disse...

Concordo, o Marcos é de outro mundo uma raridade, azar do nosso mundo não fazer mais pessoas assim.

Lenaro

Anônimo disse...

Que saudade da minha viagem a Cuba anos atrás ao ler seu belo diário, até dos chatos jineteros acaba dando saudade. Também foi legal rever o Marcos nestas fotos, faz muito tempo que não o vejo, continua bonitão e inteligente, continua solteiro? : )

Parabéns pelo blog
Cynthia Ferreira