domingo, 31 de agosto de 2008

DIÁRIO DE CUBA (9)
DOMINGO: ALMOÇO COM FAMÍLIA CUBANA (09/03/2008)
Às 12h30, no horário combinado, VICTOR SERRA adentra o hotel Vedado e somos avisados pelo interfone. Descemos ansiosos. Íamos almoçar na casa de HILDA MARIN, a mãe da professora de música ROSA TOLON (dá aulas na USC, em Bauru). Victor é casado com a irmã de Rosa. Na chegada dele, outro mito de esvai e é desmascarado. Circula na imprensa brasileira a falácia de que cubano não adentra hotel de turista em Cuba. Entram e saem a toda hora, quando querem. Quem não o faz são os jineteros. Iria me impressionar muito mais com a liberalização do país, bem diferente do que lia ou ouvia no Brasil. Continuam fazendo questão de desmerecer tudo o que provém da ilha.

Descemos e após uma rápida apresentação, seguimos de carro até a casa de Hilda. O caminho já é nosso conhecido, pela avenida 23, sempre em frente. Primeiro, tentamos nos entender, depois vamos quebrando o gelo, falando de Bauru e de Rosa. Ambos, marido e mulher são um tanto fechados. Sentimos uma certa precaução, até natural, pois nada sabe a nosso respeito. Na chegada, diante de um prédio de quatro andares, a impressão é de ser um tanto feio por fora, mas muito confortável por dentro. Tudo modesto, não diferindo muito do que vivenciamos no Brasil. Hilda mora só aos 79 anos, na copa mantém um piano, pouco usado, pertencente a filha no Brasil. A decoração é das mais simples, a divisão dos cômodos é feita por blocos e placas, porém, tudo me atrai, além da hospitalidade, presente em todos os instantes. Quem também estava por lá era Indira, neta de Hilda.

Ficamos na sala por um bom tempo, numa conversa interminável. Queríamos saber de tudo. Por quase duas horas, ficamos nessa. Victor se mantém reservado, observador. Disse trabalhar para uma empresa espanhola, há quase trinta anos, de maquinário hidráulico para indústrias. Já esteve no Brasil, na Usiminas e nos fala de Itapira, a terra do Drummond. Muitas fotos da família pela casa. O almoço foi ótimo. Um arroz escuro já misturado ao arroz, carne de porco com cebola, banana frita e salada de tomate com pepino. Repetimos tudo. Havíamos trazido as bebidas, refrigerantes, que lá eles chamam de refresco. Saio da linha e tomo duas cervejas. Marcos não bebe, só come, e muito.

Foi durante o almoço que Victor, após ouvir o discurso revolucionário de Marcos acaba se abrindo e diz ser filiado ao PCC – Partido Comunista Cubano há 32 anos. Uma filha reside em Bauru, com Rosa e o outro nos EUA. Esse ele não reve há cinco anos. Se voltar para Cuba, não poderá retornar aos EUA. Nos dá várias explicações sobre o país, os jovens e a prostituição no entorno dos hotéis, a Associação Nacional de Pequenos Agricultores, os Comitês de Defesa da Revolução e os escritórios da União da Juventude Comunista. “E one ficam esses”, pergunta Marcos. “Experimente perguntar para o porteiro do hotel e ele te dirá onde encontrá-los”, nos diz. Explica também sobre as duas moedas e os estudos do Governo para unificá-las (“Um peso convertível vale 24 do cubano e para nós vale muito, pois tudo aqui nos é vendido nessa moeda”). Fala muito sobre a saúde e a educação e quase ao fim quand lhe perguntamos sobre Raul e o futuro, foi claro: “Estamos bem, não queremos e não precisamos passar para o outro lado”.

Ficamos com uma ótima impressão da verdadeira aula ali ministrada. Ela seria de grande serventia para os futuros contatos. Hilda relata sua passagem por Bauru, as aulas na Faculdade da Terceira Idade do SESC e os clubes onde foi dançar. Não aceitamos a carona até o hotel. Queríamos caminhar. Victor nos deixa defronte o Teatro Karl Marx. Tínhamos um longo caminho pela frente. Era nossa intenção andar, vasculhar, fotografar, se perder, perguntar, olhar, cheirar, ver e ser visto. Fizemos isso tudo a cada contato. Por volta das 16h conseguimos chegar na famosa Praça da Revolução e dá-lhe fotos. Na volta para a avenida 23, dois jineteros nos abordam e começamos um longo papo. Comunicativos, vamos dando corda e acabamos num restaurante popular, daqueles instalados em residências. Tomamos morritos, compramos charutos e pagamos muito acima do que valia o que consumimos. Foram convincentes, queríamos ver até onde chegariam, um deles nos disse que o filho havia nascido, comemoramos juntos. Pela simpatia, se dizendo estudantes, fomos todos até o hotel e acabaram ganhando camisetas. Eu dei uma do Azulão do Morro e Marcos, uma do São Paulo FC. Na despedida, na mão de um deles, um folheto de uma igreja evengélica. Quando questionado, me diz que os pastores cubanos são revolucionários. Finjo acreditar e não me atrevo a debater antes de me inteirar melhor.

Escrever sobre Cuba é muito fácil e gratificante. Escrever mal, mais fácil ainda. Bastaria olhar para tudo o que presenciamos com os olhos da maldade. Cuba possui erros mil, defeitos também, como todos os países desse planeta. Não tenho dúvidas de que os acertos superam os erros, compensando tudo, todas as pisadas na bola. É dentro dessa perspectiva que escrevo esse diário. E é com esse pensamento que começaríamos a semana, com um agendamento logo pela manhã.

Continua...

14 comentários:

Anônimo disse...

Empresa espanhola? Prostituição?Quem é o presidente do país, FHC?
Não é olhar com maldade, é não olhar como fanáticos que vocês são.
Você só esqueceu de esclarecer que o filho do cidadão não volta para Cuba para não ser morto.

Celso C. - Professor

Mafuá do HPA disse...

Caro professor Celso C., também Professor

Sabe de uma coisa, estou cheio de ladainhas. Você promoveu mais uma, um tanto sem sentido e fácil de ser respondida. Nem sei se vale a pena, pois quem tem cabeça feita, mesmo diante de fatos, dificilmente muda de opinião.
Vamos por etapas:
1. Cuba sempre teve apoio de empresas estrangeiras. Qual o estranhamento nisso? Emprsas amigas, que fazem negócios com a ilha em condições financeiras totalmente favoráveis.
2. Prostituição? Citei isso... Me refresque as idéias. Ainda citarei, mas acredito que não o fiz ainda. Alguns males do capitalismo estão presentes por lá e são combatidos, sem repressão.
3. O filho do cidadão não volta porque se o fizer, não mais poderá voltar para os EUA, só isso. Não vejo motivos para ser preso em Cuba, lá não é o estado policial que parte da imprnsa divulga. Os EUA não aceitaria que ele voltasse. Vejo procedimento errado nisso.
4. Em tempo: Eu sou fanático? Aonde viu isso. Me conhece? Como pode afirmar uma coisa dessas. cho que mistura as coisas e está querendo confundir a cabeça das pessoas.

Falta-nos informação e a isso me proponho.
Henrique - direto do Mafuá

Anônimo disse...

Celso C., nota-se que vc nunca esteve em Cuba. Lá existem empresas estrangeiras sim, mas são parceiras do estado, é o governo quem paga os salários dos trabalhadores e detém mais de 50% da sociedade da empresa, parceria sem perder a soberania do país. Quanto a prostituição, saiba que ela além de ser combatida(em Cuba é proibido prostibulos) a maioria das mulheres que o fazem são vindas de paises da america central que entram lá como turistas, mas na verdade querem o dinheiro dos turistas. Esse sem dúvida é um mal sim, mas do capitalismo. Sem mais o que dizer para o senhor que poderia ser mais homem e publicar o nome completo.

Cynthia Ferreira

Anônimo disse...

Olha a cara de alegria do Marcão na ultima foto hahahaha, marcão e cuba tudo a ver - Diego G. Silva

Anônimo disse...

Meu caro, leia seu artigo novamente e verá a parte que citou a prostituição entorno dos hotéis, precisa ser mais atento ao que escreve. Comunista tem o ego de falar que é honesto, mas no fundo só querem mamar, eu sou professor de universidade particular e por méritos, não mamo nas tetas públicas. Diga-me com quem andas e lhe direi quem és, não sou eu quem anda com a pessoa mais tranqueira da cidade que nem a familia aguenta mais tal sujeito.
Quanto a cidadã acima, vocês atacam o setor privado, mas quando o maravilhoso regime comunista ferra com tudo, correm para pedir ajuda aos empresários e tenho todo o direito de deixar meu sobrenome reservado, minha importancia está naquilo que faço cumprindo com as obrigações e pagando meus impostos em dia.

Celso C.
Professor do setor privado

Mafuá do HPA disse...

caro professor Celso C. - setor privado
Citei sim, a prostiuição e como foi só a menção da palavra, havia até me esquecido. Volto ao tema, em breve, em muitas linhas e podemos discutir com mais afinco a questão. Não fujo dela, mas não sou hipócrita de usá-la para criticar Cuba. Aonde ela não existe e por que não existiria por lá?
Quanto a algumas alfinetadas, não me sinto atingido. Me orgulho do que faço, pois faço bem feito. Ficaria todo envergonhado se o fizesse meia-boca. Me dedico, vou a fundo e até, mesmo não devendo, deixo de lado tudo o mais. Vou deixar o serviço público ao final do ano tendo a certeza do dever cumprido. Só isso.
No mais, não critico nada somente por criticar. Busque fundamentar melhor suas opiniões e verá, assim como eu, que elas podem sofrer alteração. Questão fechada em tudo, sem aprofundamentos e sem nem ao menos reconhecer erros e acertos é coisa que não faço.
Henrique, direto do mafuá

Anônimo disse...

Viva Cuba!
Diante de um mundo dominado por Busch, nos EUA, Putin, na Rússia, Sarkozy, na França, Berlusconi, na Itália, sou mais a Cuba de Fidel e Raul.
Continue com esse diário, pois o mundo existente em Cuba é algo inimaginável do lado de cá.
Parabésn.
Conceição

Anônimo disse...

sr professor privado, o blogueiro já disse tudo e nem vou perder meu tempo com uma pessoa lunática como o sr. Quanto a pessoa tranqueira a quem se refere? Ao Marcos? Saiba que o senhor não chega nem aos pés dele no quesito homem, idealista. Talvez para a felicidade de gente como você e infelicidade para os que realmente sofrem em nosso país, o Marcos, penso ser, um sujeito único nos dias de hoje. Como disse a Conceição, Viva Cuba.

Cynthia

Anônimo disse...

Uma atenção para os criticos que se utilizam das velhas ladainhas, a melhor forma de notar a eficiencia de um país é ver os numeros da qualidade de vida e isso não tem como esconder a propria unesco reconhece o anafalbetismo zero, a educação e saúde 100% garantidos, coisa que nenhum país rico capitalista incluindo os Estado Unidos não chega nem perto de Cuba. As pessoas não andam de carros importados, nem compram roupas caras, mas e daí? Aqui quantos podem ter isso? E as custas de que suor? A verdade é que os que criticam são os que sempre pensam no seu proprio meio de vida, criticam mas não fazem nada pelas pessoas, nisso sou muito mais a ilha caribenha, sou muito mais a sinceridade de Fidel Castro.
Desculpe se escrevi muito neste espaço, mas não consegui me conter ao ler certas criticas. Obrigado pelo espaço dos comentarios.
Nicolas Fraga, Unesp/Botucatu

Anônimo disse...

Estou com o professor Celso, chega de mentiras, torturas e mortes. Liberdade já.
Fernando
Colégio Seta

Anônimo disse...

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