A BOLÍVIA E COMO A IMPRENSA DAQUI ENXERGA O MOMENTO LÁ DELES
Um referendo ratifica de forma esmagadora a permanência de Evo Morales na presidência da Bolívia, sendo obtidos mais de 66% de aprovação para que continue na presidência do país até o final do mandato. Vitória da democracia. Por outro lado, o país, apesar do bom momento econômico, vive um momento dos mais delicados, praticamente à beira da ruptura. “Economicamente a Bolívia nunca esteve tão bem, graças aos recursos trazidos aos programas sociais pela nacionalização do gás e do petróleo, as exportações mais que duplicaram e o país acumula mais da metade do PIB em reservas”, informa a semanal Carta Capital. No entanto, o país continua dividido entre três poderes: o legítimo de Evo, o da elite branca direitista e o da Central Obrera Boliviana (COB) de extrema-esquerda.
Esse é o quadro. E como estamos enxergando tudo isso? Se para entender a questão boliviana, tivéssemos que recorrer somente à imprensa brasileira, estaríamos num mato sem cachorro. Ela, desmerece o feito de Evo e parece torcer pelos caos no vizinho país. Digo isso, baseado nas manchetes de nossos jornalões. O mesmo não acontece com a manchete da imprensa de países vizinhos, como os da Argentina, onde nos dias 11 e 12, respectivamente, o fato mereceu notícia em 1ª página, com o devido destaque para a vitória da democracia, contra os que pretendem impingir à Bolívia um regime elitista, tipo os que alijam o povo de tudo. Vide as capas do diário Página 12. Por que isso acontece? O Brasil sempre interessou-se pouco pelas questões latinas e pouco se lixa para seus vizinhos (faldo de nossa imprensa, viu!). Escreve-se pouco sobre a América Latina e muito sobre o Grande Irmão do Norte. E quando o fazemos, o intuito é cutucar, principalmente quando a questão envolve governos populares, os mais ligados à esquerda, voltados decisivamente para a solução dos sérios problemas sociais. Para parte de nossa grande imprensa, a simples menção de mudança social, conquista de direitos dos menos favorecidos é questão de segurança nacional, populismo e tentativas de perpetuação no poder. Até parece que a imprensa daqui está do lado do algoz. Se faz necessário, mais do que nunca, olharmos com mais carinho para todos os povos latinos (sua luta e resistência) e saber entender o que está escrito nas entrelinhas de nossa imprensa. Precisamos gostar e entender melhor nossa realidade latino-americana. Falta-nos integração.
Um comentário:
É verdade, pouco sabemos sobre a realidade de nossos vizinhos paraguaios, colombianos, equatorianos, venezuelanos, aregentinos, peruanos... Sabemos tudo sobre os norte-americanos e europeus. Talvez, nosso país, em toda a América Latina, seja o país mais desentrosado com o restante dos povos irmãos. Nossa imprensa não ajuda muito. Quando produz matérias, o faz no sentido de menosprezar e enaltecer as diferenças. Querem que sejamos imperialistas com o Paraguai, a Venezuela, a Bolívia e não povos irmãos. Gostei do que li.
Parabéns
Carlos Silva
Postar um comentário