Esse texto é inédito aqui no blog, mas saiu publicado na revista Carta Capital, há exatos um ano, num pedido do amigo Mino Carta, para que enviasse algo sobre o famoso sanduíche, a certificação anunciada em nível nacional e a festa na cidade. Produzi isso aí. O texto foi reproduzido em vários lugares e num deles, no site do Vivendo Bauru, Renato Cardoso, seu idealizador, mantém ele até hoje, numa janela sobre o sanduíche. Lá, ele me cita como jornalista da Carta Capital, o que não é verdade (se Mino ler aquilo, me puxa a orelha). Sou leitor da revista e amigo de Mino, desde sua vinda aqui para uma palestra. Hoje, o texto sai aqui, para comemorar os 112 anos de Bauru:
BAURU DOCG* (*Denominação de origem controlada e garantida)
A história do famoso sanduíche, que leva o nome da cidade de Bauru é mais ou menos do conhecimento de todos. Sua comercialização está difundida pelos mais diferentes pontos comerciais, Brasil afora. Cardápios de restaurantes e letreiros internos de bares, por tudo quanto é canto oferecem o sanduíche. São tantas as mudanças que poucos conhecem como se faz o bauru original. Os puristas afirmam que o prato deve ser preparado com pão francês sem miolo, queijo derretido em banho-maria, rodelas de tomate, fatias de rosbife e de pepino em conserva.
O bauru foi criado na lanchonete do Ponto Chic, fundada em 1922. Em pouco tempo, a receita espalhou-se pelo Brasil e exterior. Hoje, o sanduíche pode ser apreciado em lanchonetes da Europa. A cidade homônima, envaidecida agradece, retribuindo à sua maneira tamanha benesse. Bauru, a cidade, a 350 quilômetros da capital paulista, berço do criador, Casemiro Pinto Neto, o reverencia anualmente numa festa de grande apelo popular, a Festa do Sanduíche Bauru. Ela ocorre simultaneamente com o aniversário da cidade, em 1º de Agosto, de 111 anos.
Uma grande tenda foi montada no parque Vitória Régia, o cartão-postal da cidade. Em dois dias, foram vendidos mais de 8000 lanches, elaborados a partir da receita original. Debaixo da lona, seis barracas, cada uma de uma instituição social, recebiam o lanche previamente preparado por uma cozinha piloto, Tudo "de acordo com os bons costumes do lugar". Um deleite, vendido por 5 reais. A festa teve o encerramento antecipado, pois o estoque de baurus se esgotou antes do previsto.
Quem ri de orelha a orelha é Helerson Balderramas, presidente do Comtur (Conselho Municipal de Turismo), que conseguiu tirar do papel uma antiga aspiração, acalentada há quatro anos: a de criar uma certificação para os estabelecimentos que revendem o bauru da receita original. "A idéia foi resgatar o modo de preparo e os ingredientes básicos, sempre respeitando o diferencial de cada estabelecimento. A certificação veio para preservar a identidade do sanduíche e sua tradição, credenciando os estabelecimentos que respeitem a forma correta de prepará-lo", afirma, orgulhoso, Balderramas.
A certificação foi sendo amadurecida nos últimos anos, até ganhar forma. E virou uma jogada de marketing não só para estimular a venda do sanduíche, mas para promover a cidade do interior paulista. Os cinco primeiros estabelecimentos a receberem a Certificação são as três lojas do Ponto Chic, em São Paulo e os bauruenses, Skinão Bar, que há 34 anos preserva a receita e Bar Aeroporto, há 14 anos no Aeroclube. "Tinha que estar por aqui, pois o Ponto Chic é a mais famosa cara do bauru, não dando para dissociar um do outro. Somos uma espécie de embaixada do bauru e de Bauru em São Paulo. Volto sempre que me convidam e nesse ano trouxe um presente para o museu e a cidade, uma placa contando nossa trajetória", conta José Carlos Alves de Souza, o proprietário do lendário Ponto Chic.
Marquinhos Sanches, filho do Zé do Skinão, que garantiu a venda do original na cidade por décadas, estava radiante: "A certificação, para nós, que há mais de 30 anos servimos o verdadeiro bauru, só credencia mais o serviço". Também certificado, Fernando Improta, diz que o lanche é o carro-chefe no Bar Aeroporto: "Por lá passam muitos aviadores que se assustam, pois o bauru não é o misto-quente que eles comem em outras cidades". Todos passaram pela avaliação do Comtur e receberam o Selo de Autenticidade, cobiçado por muitos outros estabelecimentos. Um comerciante de Feira de Santana BA, saiu dizendo: "Vim pensando em conseguir uma espécie de franquia e vi que a coisa não girava por aí. Contagiei-me ainda mais". Todo o processo de certificação devenecessariamente ser iniciado pelo site http://www.sanduiche.baurusp.com.br/. Para obter o certificado, o solicitante enfrenta cinco etapas, inclusive a visita in loco de uma comissão avaliadora do sanduíche. O certificado é publicado no Diário Oficial.
Paralelo à certificação e à festa, o secretário municipal de Cultura, José Augusto Ribeiro Vinagre, acompanha, com muita atenção, outra documentação, a enviada ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com o pedido de reconhecimento como bem imaterial e patrimônio cultural do país. "Inicialmente pedimos o registro, mas ele não é patente de origem. O que importa são os rituais valorizados e, se possível preservados. É isso que buscamos preservar", afirmaVinagre.
Também de olho na difusão da marca e na atração de turistas para o município, o supermercadista Jad Zogheib tornou-se um dos idealizadores do Projeto Bauruzinho, que revende camisetas e bonés, com renda revertida para entidades assistenciais. Zogheib circula pela festa a planejar novos saltos. "Criamos um personagem, o Bauruzinho, de grande poder de convencimento. A marca lembra a cidade e essa fusão é benéfica para todos. Os dois Baurus são ótimos filões", explica o comerciante.
No documento recebido do IPHAN, assinado por Ciane Feitosa Soares consta que "tal como o cachorro-quente, de origem alemã, o hambúrguer, criação americana, situa-se o bauru. E em oposição aos sanduíches e refrigerantes americanos, o bauru é muitas vezes associado ao guaraná, no sentido da valorização dos produtos nacionais. É uma expressão do multiculturalismo nas megacidades".
Durante a festa, o músico Bitenka entoava "Parabéns, meu Bauru/ És grande cidade/ Parabéns, meu bauru/Confiabilidade", misturando os dois Baurus, em algo já feito lá atrás por Cazuza e João Rebouças, na música Garota de Bauru, quando dizia que "A garota de Bauru/ Não é um sanduíche/ A garota de Bauru/ Não é um personagem triste". Não escapou a lembrança de um deputado carioca, a conclamar tempos atrás: "Valorizemos nossos produtos nacionais.Vamos comer a broa de milho, o bauru, o pão de queijo...". O bauru agora é grife.
3 comentários:
Oi,Henrique...
Não havia lido sua reportagem...
Mto boa...simples e direta...como o sanduíche Bauru...simples e delicioso...
Beijos
MADÊ CORRÊA
Henricão
Bauru precisa de um local próprio para eventos dessa natureza. Achei tudo muito lindo, mas pensa bem... Já imaginou aquilo tudo num local específico para shows. Será que os prefeitáveis não pensam nisso.
ZICO, O PESCADOR
Henrique.
Boa lembrança. Parabéns. Irineu Bastos
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