UMA ALFINETADA (41)
AS POSSIBILIDADES BLOGUEIRAS
Tenho um amigo aqui em Bauru dos mais revoltados. Envia cartas e mais cartas para os jornais locais e nada é publicado. Quando seus textos não feriam ou não discordavam da linha adotada pelos da imprensa, ele não tinha problemas, tudo saia impresso. Quando começou a discordar, nunca mais foram publicadas. E o que fazer? Reclamar ao bispo? Não, o que existe como solução é agir como eu e milhares de outros brasileiros, transferindo para um blog pessoal a sua vontade de participar diretamente do debate público. Hoje, envio menos cartas e publico tudo o que quero, como quero e quando quero. Sinto falta de minhas cartas pelos órgãos da imprensa, mas escrevo muito mais do que antes.
Possibilidade única essa dos blogs. Muitos pensam como eu. De uma certa forma, sinto-me um cidadão ao extremo. Quando antes poderia agir dessa forma? Isso mostra a derrocada da hegemonia na formação de opinião. É claro que, sempre estive ciente de não estar atingindo o mesmo número de pessoas de quando saem publicadas nos jornais, mas me sinto contemplado.Divulgo meu pequeno negócio particular e quem quiser saber como penso, basta acessar meu endereço na rede mundial de computadores. Peguei gosto pela coisa.
Sempre fui um jornalista frustrado. Cursei História, quando deveria ter feito Jornalismo. Com o blog, de alguma maneira, compenso a frustração. Lá na internet todos são um pouco jornalistas. É assim que me sinto. Sei que o impacto da internet sobre a chamada “formação de opinião” ainda é reduzida. Quando algo sai no jornal sou abordado na rua e dos textos do blog, o alcance é questionável. No jornal você vai ler a minha opinião e a de muitos outros. No blog, o internauta terá que ter a disposição de me ler e acessar algo que só diz respeito à minha opinião. Porém, isso não me desanima.Na rede de computadores todos falam e são ouvidos (desde que acessados).
Só isso já é algo de um valor incomensurável, um caminho praticamente sem volta, mesmo que lenta. Mesmo que meu blog continue invisível, imperceptível e pouco acessado, me exponho para gente que nem imaginava. Recebo sinais vindos de longe e isso é um alento. Tenho uma certa reputação, uma linha, postura e quem possui a mesma, acaba se identificando. “Boi preto segue boi preto”, me ensinou uma amiga. Só a possibilidade de ter voz, sem qualquer barreira é algo grandioso. A esse meu amigo, fica a dica, siga esse mesmo caminho, pois as portas continuam mais abertas do que nunca.
Henrique Perazzi de Aquino, 48 anos, blogueiro amador, declarado, paramentado e juramentado. O Ministério Internético adverte: Acessar ainternet de forma saudável rejuvenesce o seu “eu”.
PS: Esse texto sai aqui hoje e sábado no semanário Alfinete, lá de Pirajuí.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
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11 comentários:
Olha, Henrique, que engraçado: sou jornalista, mas acho que deveria ter feito história. Na verdade, as duas áreas são muito próximas e muitas vezes se misturam. Ainda quero fazer o curso de história. E você pode fazer o de jornalismo. Um abraço.
Obrigada Cristina
Vc pegou o espírito da coisa.
Um dos meus mestres, Mino Carta, diz que para escrever em jornal não se faz necessário diploma, e sim, escrever bem. Hoje o colocam na parede. Eu sempre achei que História e o Jornalismo são irmãs sianesas. Um está enfronhado com o outro. Não é isso mesmo?
Abraços do mafuá
Henrique
Henrique acabo de ver no blog o texto que você fala sobre a questão que deveria ter feito jornalismo ao invés de história.
As pessoas que tem talento muitas vezes não se dão o devido valor, ficam presas nessa coisa da sociedade de que é necessário um determinado titulo para poder tem um valor, ou uma prática capaz.
Dentro do sistema que vivemos que faz do ensino uma deliquencia academica com muitos vicios do imperialismo, o curso de história é um dos poucos que se bem feito, pode encaminhar o individuo a passos grandiosos, assim como o curso de letras, claro que esses cursos também são colocados com a doutrina de nosso sistema, no seu caso, o curso de história aqui passa longe dos fatos para se contar a história e nós sabemos muito bem disso, mas o simples fato de você se envolver com livros e muita leitura abre um leque de possibilidades para um conhecimento maior e uma libertação.
O que escrevemos quase diariamente dá de mil a zero nos jornalecos de nossa cidade, pense bem, se você tivesse feito jornalismo, talvez hoje não teria um grande conhecimento histórico e estaria trabalhando nas censuradas redações prostituidas dos jornais burgueses, veja que sua carta contra o Ivan assim como as minhas não são publicadas quando destoam muito do ideal burgues.
O jornalismo Henrique, é história, é a informação dos fatos e compromisso com a razão, a ideologia da liberdade através do conhecimento, e isso a faculdade não ensina, ela ensina técnica, mas não pode ensinar talento, porque isso não se ensina, técnica qualquer um pode ter, mas não o talento, e ele combinado com o desenvolver do conhecimento histórico e cultural faz uma técnica incrivel que não é qualquer um que possa desenvolve-la, a sua cultura e conhecimento histórico é que são suficientes e necessários para se praticar o jornalismo e fazemos isso a cada texto que escrevemos, coisa que os jornalistas formados em Bauru não fazem, alguns por serem putas de redações e os outros por estarem presos a uma profissão no Brasil que é voltada ao sensacionalismo, a alienação.
Em nosso país mesmo, se pararmos para fazer uma lista dos caras que batemos palmas dentro do jornalismo, você sabe que serão poucos e desses poucos, vários não são formados, como é o caso do Trajano, ele não tem faculdade de nada, mas como dizer que ele não é um jornalista?? Ele é um grande jornalista, nos dá aula de jornalismo e sem desmerecer tantos outros bons que temos no Brasil, mas o Trajano é impressionante Henrique, eu o acompanho faz mais de 15 anos, e ele é o mais sincero que temos, independente, é um idealista romantico, apaixonado e por isso sofre muito, amante do Brizola e aprendiz de Darci Ribeiro, o acompanhou durante grande parte de sua vida, e tem algo que não pode faltar, a inteligencia, ele é um cara de uma cultura impressionante, nas manhas de segunda a sexta ele faz um programa na ESPN que você iria amar, ele mistura esporte, com música, muita MPB, cinema, literatura de montão e de qualidade, muitas pessoas não gostam dele, mas justamente por ser o grande cara que ele é, faz parte do sistema, assim como eu tenho a certeza que a maioria das pessoas aqui também me odeiam e não poderia ser diferente, mas isso jamais me desanima e tenho a certeza do valor que tenho pelo que sou.
Você também tem que valorizar o curso que fez, e a grandeza que a história em seu estudo te levou, você é jornalista pela cultura, pela história e não por um pedaço de papel que em muitos casos o cara limpa a bunda com ele.
Viva a história, viva o conhecimento para a revolução, sem ela, já pensou, você poderia ser um desses articulistas babacas das colunas de politica dos jornalecos, ainda bem que não é.
E só para finalizar, quanto a blog, emails, usamos para divulgar, para buscar um espaço que nos é negado na midia, correto, mas temos um grande problema, pois ficamos muito limitados, as pessoas que mais precisam ler essas idéias, que são as massas, conscientiza-las, não chegamos nelas, o que chega é claro são essas merdas de jornais, revistas, tvs que tanto condenamos por causar alienação para explorar o povo, quebro a cabeça todos os dias de pensar numa forma nova e barata para levar a informação a mais pessoas, os meus textos envio diretamente para mais de 600 nomes em minha lista, depois isso se multiplica pois muitos repassam os emails, mas a maioria que recebe, geralmente já são camaradas, simpatizantes que não precisam tanto desta informação pois já vivem dentro da ideologia, o duro é levar para outros e quebrar certos dogmas da exploração do capital.
M.
Marcos,
Acho meio chato discutir em blogs, mas vou escrever só para não ficar uma situação estranha: venha visitar a redação do BOM DIA, qualquer hora dessas. Vai ver que os jornalistas são muito mais operários do que imagina. Os jornais falham sim e quem trabalha neles sabe muito bem disso. Só para completar, você tem razão: não é preciso ter título nenhum para escrever bem. Um abraço,
AMIGOS
DEICXO CLARO A TODOS.
O "M" DO POST É O MARCOS PAULO, AQUI DE BAURU.
Olá Cristina, também não gosto muito de usar o espaço de comentários para debater, embora o debate seja sempre bom, por isso enviei o comentário no email do Henrique e o autorizei a colocar aqui e por isso até pedi que colocasse meu nome pois assino tudo que escrevo mesmo que seja algo polemico.
Quando me refiro a jornais burgueses, me refiro a quem comanda esses jornais e o que defendem, os jornalistas são operários sim, assim como nas fabricas os operários estão a serviço do patrão, devem seguir a linha determinada pelo chefe.
Eu não imagino nada Cristina, procuro sempre me prender com fatos e uma profunda análise antes de escrever algo e vc sabe que esse negócio de imparcialidade que tentam sempre nos convencer que existe, essa conversa de espaço democrático, isso é balela, esta semana estarei enviando um artigo na lista falando sobre isso e comparando a imprensa daqui com a de Cuba que tanto se critica em nosso país e tb relatarei as perseguições e censuras que sofri na imprensa de Bauru, sim elas existem ainda e muito.
Tenho vários camaradas no movimento que são jornalistas e sofrem para buscar fazer algo independente pois não conseguem trabalhar na atmosfera das redações de nossos jornalões.
Gosto muito de vc Cristina, e vc sabe que por eu ser bocudo sou sincero no q falo, vc é a pessoa q mais me deu espaço até hoje na imprensa local, mas vc sabe que o jornal deu espaço por se tratar de uma polemica politica entre familiares, se fosse para fazer um profundo debate ideológico vc sabe que aí a coisa pega.
Veja os formadores de opinião dos jornais, inclusive no bomdia, dependemos de blogs para manifestar a ira contra caras como sr. Ivan Goffi como é um dos post desse blog e eu já escrevi muito tb sobre este reacionário cão raivoso, mas fazer um debate ideologico pelo jornal e criticar este senhor, não dá, porque o jornal não publica as cartas, no caso do bom dia eu mandei até hoje uma carta só, foi publicada, mas a critica que eu fazia a imprensa foi retirada, tirando todo o contexto da minha opinião.
Nós sabemos como funcionam as coisas em nosso sistema e tenho certeza que se um dia conseguirmos mudar isso vc estará ao nosso lado, tamanha é a sua grandeza como escritora, jornalista e tb como pessoa e quero q vc nos acompanhe nesta luta.
Falaremos mais sobre isso.
Um grande abraço camarada Cristina, com todo fervor revolucionário
Marcos Paulo "Guerrillero"
Mov. Comunismo em Ação
Células de Combatentes Comunistas
Oi Marcos,
A carta do Henrique saiu hoje. Também acho que deveria ter saído antes, mas nem sempre tudo o que a gente quer acontece.
Acho bobeira terem cortado a parte de sua carta que criticava a imprensa. É uma postura que não combina com a época em que vivemos. Não adianta cortar. Os blogs estão aí para opiniões de todos os formatos e cores. E, além do mais, aceitar críticas é, no mínimo, inteligente.
De minha parte, me comprometo a brigar para que as cartas de vocês dois sejam sempre publicadas, certo?
Olá Cristina, vc é uma boa jornalista e tem um bom coração e nós lutamos para que pessoas boas assim sejam a vanguarda para um estado revoulucionário. Infelizmente o sistema em que vivemos serve a um outro propósito e embora hoje ele tenha conseguido destruir uma estrutura que lutava por transformação, sempre que for preciso o sistema usa de seus meios maléficos para sufocar alguém que tente sair da cavernosa prisão capitalista e ser contrário a mesmice de sempre.
Leia o texto que envio hoje sobre os jornalões brasileiros e será um prazer continuar a debater essa questão tão polemica.
Abraço
Marcos
Marcos vc é um furacão, mas que nos traz bons ventos, vc lembra meu irmão que faleceu anos atrás.
Fico feliz de saber que existe ainda jovens que lutam por um nobre ideal, eu já estou velho para grandes agitações, mas vc meu caro é a continuidade de nossa juventude, parabens
Nicolas
Cristina eu concordo com o Marcos, o conheço desde os tempos de colégio e sei o quanto de apuros já passou tanto por suas criticas quanto por censura da imprensa.
A midia é movida por determinado ideal sim, existe na nossa imprensa mais coisas ruins do que boas, até entendo você defender o jornal em que trabalha, mas observe a facilidade de transitar coisas horriveis como o citado Ivan e outros, pessoas como o Marcos são evitadas justamente pelas criticas contundentes que fazem e pela sinceridade, você sabe bem disso e sabe também que o Marcos não é nenhum menino fantasioso, sabe o que fala e tem inteligencia inegável, posso parecer uma puxa-saco, mas por conhece-lo muito bem e diante de tudo que vejo me faz uma grande admiradora e defensora de seus ideais.
Melissa Maia
PUC
Melissa,
Não defendi o jornal não, isso não é do meu perfil. Só falei da realidade dos jornalistas, num bate-papo com o Marcos. Aliás, sou quase amiga dele. Costumo defendê-lo por aí, pode pesquisar. Abraços para os dois.
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