REVISTA “PIAUÍ” DEIXA CLARO SUAS PREFERÊNCIAS, MESMO SEM O FAZÊ-LO
Leio essa revista desde o seu número 1 e o faço, em primeiro lugar por gostar do formato e da boa diagramação, mas quando a abro para a leitura, dificilmente não esbarro em algo a me inquietar. Ela quer aparentar ser moderninha, avançada, com temas de vanguarda e muitos bons nomes assinando suas matérias e artigos, mas não consegue escapar da pecha de “meio direitosa” (alguém poderia me corrigir: “existe meio viado? Não. Pois, direitoso também não. Ou se é ou não se é”). Piauí engana aos incautos. Só eles, no mais deixa claro possuir um lado e contenta a grande maioria dos seus leitores. Nada contra, pois leio uma revista que nas duas últimas eleições, declarou que o melhor para o país era apoiar uma das candidaturas e assim o fez. Piauí não age assim, ela tenta se mostrar imparcial, mas não o é. Quem como eu, a lê desde os cueiros, sabe do que estou falando.
Vamos aos fatos. A revista fez questão de fazer uma matéria com a ministra Dilma, ressaltando seu lado guerrilheiro, ter lutado com armas na mão contra um governo (não se importando se era uma ditadura ou não). O fato é que foi “guerrilheira” e daí para ser taxada de “terrorista” e “bandida” é um mero pulo. Muitos a denominam dessa forma. Na matéria isso ficou evidenciado. E isso faz a diferença (eles sabem disso), pois num país onde impera uma legião de iletrados (os letrados, em sua maioria, torcem pelo adversário), só o fato de ter pegado em armas impõe medo, repulsa. E suga votos.
Na última edição, a de outubro, nº 37, uma reportagem sobre Serra, essa com dez páginas. Titulo ameno, “Serra na hora da decisão”. Na da Dilma, edição nº 34 (julho 2009), “Dilma do presídio ao Planalto” (sentiram a diferença de tratamento?), oito páginas. Comento algumas observações da matéria feita com o Serra. Fica evidente uma tentativa de passar uma imagem de homem austero, letrado, cheio de citações de livros já lidos, reflexões variadas e frases de efeito. Contornam por desvios incontornáveis os ditos calos, ou o calcanhar de Aquiles do governador paulista, como a imagem de antipático e arrogante. Só uma citação desairosa, o uso desenfreado de álcool após qualquer tipo de cumprimento popular. Do Chile, nada sobre o fato de assim como no Brasil ter fugido do pau, pois tão logo o golpe ocorre por lá, em 1973, bate em retirada, como um fujão, igualzinho o ocorrido aqui. Quando saiu a reportagem da Dilma, escrevi carta para a revista. Ela foi publicada, mas omitiram isso, o fato deles ressaltarem o lado guerrilheiro dela e não o fujão dele. Um interessava, outro não. Num outro momento, Daniela Pinheiro, a jornalista que escreveu a matéria, demonstra um lado positivo, por ele ser controlador e até por se sentir perseguido e injustiçado pela grande imprensa (imagina como poderíamos qualificar o tratamento dado à Lula e Dilma?). Na mesma edição, um artigo desancando Lula, o "O avesso do avesso". Elogios para este e pau naquele. Esse é o método, entenda ou caia nele se seu paraqueda despencar bem em cima de alguma edição, dirigida, nada mais nada menos por Mário Sérgio Conti (preciso dizer mais algo?).
Por fim, algo a me intrigar, num trecho a jornalista escreve que Serra, após lhe passar um conto de Machado de Assis, confirma que a matéria foi escrita com um prazo dilatado: “... mais de um ano depois de ter me dado o conto de...”. O texto foi parido com muita calma e veio para marcar definitivamente que a revista está do lado de Serra. E quais seriam os motivos dela não assumir isso publicamente? Mino Carta, em editorial recente, diz que estará divulgando em breve o lado que a revista Carta Capital irá assumir no próximo pleito presidencial. Uma declara em editorial e a outra finge não possuir um lado. Continuo lendo ambas, Carta Capital, por ser uma das únicas na busca incessante pela verdade factual dos fatos, já Piauí, continuo somente para me certificar, a cada nova edição, da capacidade de contorcionismo e do malabarismo circense de sua equipe. Sou a favor do escrachamento imediato (uma provável e antecipada Declaração de Amor) e por não tentarem mais continuar enganando (ou fingindo enganar, onde um finge que engana e o outro finge que é enganado) o leitor. Não preciso dizer aqui qual das duas revistas possui a minha preferência, né!
3 comentários:
Comprei a Piauí até o seu número oito e depois desisti. Cheguei nessa conclusão de que ela não estava à serviço do que acreditava, bem antes de ti e fui em busca de leituras mais palatáveis. Esse negócio de projetinho bonito não me encanta mais não. Leia lá que é o Conselho Editorial da revista, tem até banqueiro. Eles caminham numadireção e nós, o povo, noutra.
Orlando
HENRIQUE
Você cita o Mino Carta e a revista Carta Capital, que ambos gostamos muito e a posição da revista expressa em editorial. Leia o que ele escreveu na edição de 21/10:
"Trato, tão somente, de aproveitar a oportunidade para informar que, no momento oportuno, definiremos a nossa escolha em relação ao pleito do ano próximo, como, de resto, se dá em países democráticos dotados de uma imprensa livre, ainda que sujeita, eventualmente, às pressões do poder. Enquanto isso, o resto da nossa mídia fingirá, com a desfaçatez useira e sua inesgotável aposta no alheamento popular, equil´´ibrio, isenção e quidistância".
Paulo Lima
Henrique, será que sou uma besta ou a Humanidade é repleta de gênios? ao que eu saiba, não existe um Departamento de Publicações Democráticas em nenhuma grande editora do país. Piauí é igualzim a Folha: camaleão. Com a cabeça diz que sim, com o rabinho faz que não....
Postar um comentário