terça-feira, 16 de agosto de 2011

MEMÓRIA ORAL (107)

A MÚSICA CAIPIRA E UM DOS SEUS MUITOS FESTIVAIS
Enquanto perdura nas mais variadas Exposições Agropecuárias espalhadas país afora algo no sentido contrário ao da preservação da música sertaneja de raiz (lá só prevalecem serta-brega, serta-nojo e o universitário), ela resiste bravamente em pequenas cidades e em festivais, onde violeiros de variadas estampas surgem de todos os cantos e tentam a todo custo mostrar que a modalidade resiste e sobrevive. Um desses eventos foi o 3º Festival de Música Sertaneja de Reginópolis, ocorrido em 14 de agosto, após quase uma década de interrupção.

Reginópolis é uma pequena cidade do interior paulista, 7 mil habitantes, sendo 2 mil de presidiários (dois presídios localizados em sua área rural), 80 km de Bauru e vivendo quase que exclusivamente da agricultura. Um falar bem acaipirado, assumido por todos e um reduto de chapéus de quase todos os modelos possíveis e imagináveis, além de botinas variadas e medalhões e fivelas cravados em cintos. Um visual característico de um modo bem simples de tocar a vida. Os da velha guarda guardam algo para si e dele não se afastam, a música sertaneja de raiz, algo já um tanto perdido dentre os da nova, influenciados pelos modismos vistos e distribuídos pelos meios de comunicação. Todos se dizem rurais e, principalmente, caipiras.

Dia 15 de agosto é o da padroeira da cidade, Nossa Senhora Rainha dos Anjos do Batalha. Batalha, por causa do rio, que já deu nome à cidade e sempre cortou a cidade. Em cidade pequena dias como esse são comemorados com grande pompa e com variação de apresentações na praça da matriz. Por lá, dentre elas, uma idéia velha, com cara renovada e a atrair e movimentar gente do local e de fora. “Reviver a festival sertanejo foi algo amadurecido aos poucos. Consegui patrocínios junto ao Governo do Estado para trazer uma dupla famosa e a divulgação ficou por conta do locutor da cidade, o Zé Rolinha, que pela rádio local espalhou a novidade. Fez o mesmo junto aos conhecidos das cidades vizinhas e o negócio se espalhou”, conta o prefeito Marco Antonio Martins Bastos.

O dia escolhido foi um domingo e o local definido o mesmo onde nos outros dias ocorre a quermesse. Uma imensa cobertura toma conta dos 100 metros diante da igreja e numa ponta um palco, com um cartaz anunciando a festança. Tudo na sombra, para um típico dia de calor interiorano. As inscrições feitas na hora e o meio dia definido como horário para começar a contenda. Jurados da cidade e outros da vizinhança, gente ligado à tradição sertaneja. O locutor, Carlos Roberto de Souza Lima, o popular Zé Rolinha é voz conhecida na cidade e acompanha junto do pessoal da Comissão Organizadora o recebimento das inscrições. O tempo estoura e não para de chegar inscritos. Quase duas horas da tarde tudo tem início e são 18 os inscritos.

Do microfone ele explica aos concorrentes as leis do festival, jurados e muitos populares, espalhados pelas mesas e a comer churrasco e beber uma cerveja na tarde quente daquele dia. “Cada concorrente cantará duas músicas, uma para aquecer e a outra valendo. Livre escolha. Dez serão classificados e daí nova apresentação, uma música só. Daí sairão os cinco, que ganharão os prêmios, R$ 1 mil reais para o primeiro colocado. Antes de divulgar o campeão, entrará no palco a dupla Cacique e Pajé para um show raiz e só depois será anunciando os vitoriosos, com a cantoria deste novamente”, explica o locutor.

Tem competidor para todos os gostos. Alguns mais preparados, outros nem tanto. Tem quem cante sozinho, mas a maioria prefere cantar em dupla, tem gente mais nova e mais velha, teve até a ousada Banda Ranger, dois garotos de Bauru, que vieram para cantar algo diferente do proposto, um sertanejo universitário. Deu para perceber os olhares retorcidos de reprovação, mas foram até o fim e não receberam nenhuma vaia. No intervalo para desespero de todos, o som que saia dos alto-falantes era exatamente igual a dos garotos de Bauru. “Mas como protestar pelos garotos terem cantado do jeito deles se a própria organização toca isso nos intervalos?”, questionava um gaiato, já com algumas cervejas na cabeça.

Tudo transcorreu de forma normal e várias foram as homenagens. Tião Carrero e Pardinho, um clássico, lembrado por muitos, além de outros, como Lourenço e Lourival. Teve até o ex-prefeito da cidade, Tião do Zeca, que subiu ao palco junto do amigo Piazza e acabou sendo classificado para a segunda fase. Dentre as cidades que tinham por lá representantes, destacava-se a própria Reginópolis, Iacanga, Bauru, Jaú, Pirajuí, Aparecida do Taboado, Cabrália Paulista, Mirassol, José Bonifácio, Balbinos, Itápolis e Ibitinga. A dupla Imigrante e Rio Pretense vendia CDs nos intervalos sob a alegação de ser para ajudar nas despesas. Uma única mulher se apresentou, foi a Darlene, que junto do irmão Rafael formam o grupo Os Irmãos Caipiras.



Mais de 18h acaba a primeira parte, onde foram cantadas 36 músicas, um breve intervalo e mais dez músicas. O destaque fica para a dupla de violeiros da própria cidade, José Vitor e Luís, ganhadores da primeira fase. Mas a segunda é nova competição e todos renovam o repertório, afinam o gogó, o dedilhar das violas e violões. Uma beleza e muitos aplausos. Novo intervalo e Zé Rolinha circula entre as mesas, entrevista até o padre Geraldo, que não se esquece de lembrar a todos que a festa é da padroeira. Por volta das 20h, com o encerramento dessa fase sobem ao palco a famosa dupla de violeiros, Cacique e Pajé, já da segunda geração da dupla. Agitação nas mesas e nas torcidas já estabelecidas de cada concorrente.

Mais de 21h30, após muitos apupos, Zé Rolinha começa a divulgar o nome dos vencedores e para surpresa geral, que esperava a dupla da cidade ser a ganhadora, quem leva o prêmio são Os Irmãos Caipiras, de Cabrália Paulista. “Esses aí estão acostumados a ganhar algo por onde passam. Vejam o esmero da vestimenta e também o preparo no repertório, merecem”, diz seu Paulo, que esteve até o fim observando tudo. Cara feia teve alguma, mas a maioria se abraçam no final e todos foram comer o que restou de churrasco. Quando as luzes se apagaram já era mais de 23h e tinha gente querendo prolongar a conversa até perder de vista, pois assunto é o que não faltava. Enfim, ganhou um sertanejo raiz, fruto da terra e contando uma história bem ao estilo das que todos gostam de ouvir, dessas sentidas. Tem sempre alguns apregoando que deviam ser outros os ganhadores, mas isso é outra história, fruto de qualquer competição. O que valeu mesmo foi conseguir o compromisso do prefeito de que no ano que vem tem mais e com uma premiação melhorada.

OBS.: Festivais como esse são a prova de que, garimpando se encontra algo de grande valor por esses caminhos interioranos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Henrique,fizeste um belo trabalho, linda reportagem.
só falta mesmo a gente arrumar grana e fazer um jornal que veicule essas coisas tão nossa que acabaram ficando alternativas.
um forte abraço LAZARO CARNEIRO

Anônimo disse...

olá, Henrique...vc q gosta da boa música não sabe o q perdeu nesse
sábado passado...
O Maestro Berbel, depois de 8 anos, caçando talentos e ensaiando
retornou com a parceria no IESB PREVÊ e apresentou no Teatro Edson
Celulare a BIG BAND BRASIL...
Meu amigo, foi fantástico...Músicas da melhor qualidade, na maioria
nacionais, num estilo de Big Band ficou fantástico...
Eu amei...senti falta dos amigos queridos apreciadores da boa música...
Beijão
MADÊ CORRÊA.

Anônimo disse...

Parabéns, Henrique ficou jóia.
Damião Maffei - Reginópolis

Anônimo disse...

Viva a resistência cultural!!
Preservar nossa cultura é a melhor maneira de vencer a globalização idiotizante!!!

nicos

MAURÍLIO disse...

PREZADO HENRIQUE. OBRIGADO POR ESTAR DIVULGANDO A VERDADEIRA MÚSICA SERTANEJA E A NOSSA QUERIDA REGINÓPOLIS.O FESTIVAL, REALMENTE, FOI BOM, COM VIOLEIROS DE QUALIDADE.PARABÉNS. MAURÍLIO.