domingo, 28 de agosto de 2011

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (140)

DIVERSIDADE NA PAUTA DO DIA – publicado no diário bauruense BOM DIA, edição de 27/08/2011
Semana da Diversidade culmina em Bauru com a IV Parada GLBT. A diversidade é ótima em quase todos os sentidos, o próprio nome já diz. Caminho único nem sempre dá em uma boa saída. Gosto desse evento por tudo o que ele representa e o que não gosto muito é vê-lo quase que totalmente bancado pelo poder público. Abrem-se brechas para que sejam bancadas outras iniciativas, não tão louváveis. Mas a semana vai além e isso é o que me interessa. Assumir a diversidade é um ato de coragem, num país onde ainda predomina a ironia e o desmerecimento ao diferente. Detesto ver essa luta desgarrada de tantas outras. Essa causa deve estar incorporada a dos direitos humanos, liberdades individuais, causas ecológicas, etc. Todas limítrofes e necessárias. Juntos sempre somos mais fortes.Gosto mais ainda dos corajosos. Uma frase circula por aí: “Para ser travesti tem que ser macho”. Imaginem a coragem de Paulo Coelho ao assumir na biografia escrita por Fernando Morais, revelações das suas experiências homossexuais. Não me peçam para ler um livro dele, mas seu feito foi importante para a defesa de uma causa. Relembro também o sociólogo Gilberto Freyre, em trecho extraído do livro “De menino a Homem”, escrito nos anos 30: “...chamei de aventuras sexuais em que eu tinha incorrido em várias ocasiões: as homossexuais”. Na página seguinte prossegue com a pergunta: “Será que havia em mim tendência para essa afinidade, da minha parte, sempre máscula, com efebos esteticamente atraentes?”. Responde a seguir: “Suponho que nenhuma”. O belo é exatamente isso, o não constrangimento. Não fugir do tema e nem ter receio de tocar em assunto remediado pela maioria dos ditos “machos”. Importaria tão pouco a opção sexual das pessoas num mundo normal, mas no nosso, onde as religiões insistem em chamar de desvio ou até mesmo doença essa prática, valorizo cada vez mais os que fora ou dentro do armário, respeitam a opção do outro, sem ter necessidade de combatê-la ou invocar orações na sua cura (sic). Já deveríamos estar em outra, mas continuamos mais arcaicos que nossos pais.

O texto que saiu no BOM DIA de ontem é esse aí em cima e hoje nas ruas de Bauru a IV Parada da Diversidade, um dos acontecimentos a decididamente colocar o povo nas ruas.Adoro ver o povo nas ruas. Tudo será encerrado com um show de Preta Gil, que representa bem um pouco da discriminação sofrida pelo diferente (digo do ocorrido com o bestial Bolsonaro). Discuto pouco a música dela, pois não conheço nada. Meu gosto musical é totalmente outro, mas valorizo a luta empreendida. E gosto muito de eventos como o de hoje, por tudo o que representa e a festa da diversidade diz muito respeito a como toco minha vida, dentro da maior pluralidade possível. Só não abro mão das convicções, confirmadas por mim como as mais acertadas ao longo da vida. Uma pena estar longe de Bauru e não pode fazer a festa na rua junto de pessoas queridas e lutando contra o preconceito às diferenças. Afinal, sou um diferente, luto desmedidamente contra o pensamento único a querer dominar o mundo. Não pude comparecer durante a semana nas palestras, não marquei presença nas discussões, não estive na festa anual com a premiação do “Eu faço a diferença”, muito menos estive na posse do Conselho da Diversidade, etc. O único local onde fiz questão de bater cartão foi na Galeria do Teatro Municipal e reproduzo aqui o que presenciei na Exposição “VOZ TRAVESTIDA” (Francine Esqueda e Marcos Leandro). Os dois fotógrafos foram muito felizes na forma como conseguiram captar um pouco do clima vivido pelas drags e, principalmente, as travestis, batalhadoras de nossas ruas. Estigmatizadas por muitos, quando conhecidas mais de perto, a certeza de serem tão diferentes (ou seriam iguais?) como qualquer um de nós. Brinco que ali na Casa Ponce Paz, no cruzamento das ruas Ezequiel Ramos com Antonio Alves, naquela esquina, algumas delas fazem ponto e são as maiores colaboradoras do local em frente. Servem como guardiãs não remuneradas de um espaço público que ainda um dia vai se transformar num verdadeiro ponto de encontro cultural da cidade de Bauru. Deixo as fotos aqui e como pitaco final, uma opinião bem pessoal. Todas ficam muito bem fotografas em estúdio, bem produzidas, brilhantes, mas as fotos tiradas na labuta da rua me são mais gratas, mais expressivas, sentidas e com algo mais embutido e muito forte. João do Rio, nas suas crônicas no início do século passado deixou algo registrado sobre isso e a cair como uma luva para elas todas: personificam a “alma encantadora das ruas”.

Um comentário:

Marcos Souza disse...

Valeu Aquino, sempre com ótimos textos. É muito bom poder contar com sua sabedoria e sensibilidade. Forte abraço amigo.