BEIRA DE ESTRADA (20)
DIVAGAÇÕES DE AMÂNCIO, AMIGO DO BOANERGES – publicado na Revista do Caminhoneiro, ano 28 - edição 291, maio 2012, tiragem de 100 mil exemplares, distribuídos pelos postos de combustível Brasil afora.
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O caminhoneiro é antes de tudo um forte. Nunca vi essa frase estampada no para-choque de nenhum caminhão. Ouvia ela sempre da boca do meu companheiro de estrada, o Boanerges. Achava ter ele a copiado de algum lugar. Um pressentimento, confirmado quando passei a repeti-la por aí e ouvi num posto a explicação de sua origem. Foi um famoso escritor brasileiro, Euclides da Cunha quem a proferiu no livro “Os Sertões” e não em homenagem ao caminhoneiro, mas ao sertanejo.
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Essa história é velha. Desde que comecei a trabalhar no trecho ouço algo parecido. O que não acontece é a solução. E olha que não sou novo no ramo, os problemas é que são velhos. Deveriam ter caducado, mas os vejo renovados. Os do Boanerges só estancaram com a chegada da estiagem, estradas mais secas e uns puxando os outros. O bom do nosso negócio é a solidariedade. Pelo menos nisso somos unidos uns aos outros. Temos nossas correrias, prazos a cumprir, problemas no banco, família longe. Para aplacar tudo, um acaba se escorando no outro e o barco é tocado com mais facilidade.
Da última vez que o Boanerges me falou disso, pensei cá com os meus botões: o sertanejo lá descrito pelo Euclides, hoje parece viver com a problemática diminuída. O Nordeste vive outro momento, com mais empregos e muitos retornando para sua terra natal. Não sou reclamão. A maioria das estradas está bem melhor que dantes. Persiste algo crônico em rincões meio que esquecidos. Minha conclusão é a de que o sertanejo continua sendo um forte, como sempre foi, mas teve sua situação aliviada. É nessas regiões esquecidas, como as onde meu amigo trabalha, onde ainda falta esse algo mais. O Boanerges vai ser sempre um forte, um touro enfrentando o trabalho a unha, mas podia ter tudo facilitado. O que não sei é como resolver isso. Conto o causo aqui e se alguém tiver a solução, me digam.
Sou o Amâncio, caminhoneiro do Brejão mineiro, recanto onde as estradas andam bem conservadas, mas podiam melhorar um bocadinho mais. E disso eu ia gostar muito.
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