O LIVRO DO PONTO CHIC, O NOSSO “BAURU” E O ESQUECIDO RECONHECIMENTO
Quem tem verdadeiros amigos não fica nunca chupando o dedo. Algo que deixei de comparecer (por motivo de viagem) e gostaria de ter estado foi no lançamento do livro “PONTO CHIC – Um bar na história de São Paulo”, do jornalista italo/brasileiro ANGELO IACOCCA, ocorrido na hall do Teatro Municipal na última terça, 29/05 aqui em Bauru. Ao chegar de viagem recebo ligação de Sivaldo Camargo, mestre coordenador da Cia Estável de Dança da Secretaria Municipal de Cultura e me diz
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Esse assunto me empolga. Escrevo só mais dois parágrafos. No primeiro comento do livro. Devorei de cara o texto da orelha, escrito pelo José Carlos, depois o da contracapa e a magnífica apresentação, “Um local de vivas recordações”, feita pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, araraquarense e amante de trilhos e trens, como esse que vos escreve, além de degustador do “bauru” original e frequentador do Ponto Chic. Loyola é primoroso quando escreve: “O
Ponto Chic foi a instituição mais democrática que conheci. Igualava classes sociais. Promovia a solidariedade. Dia e noite, cheio. Barulhento. Com o cheiro do queijo derretido se esparramando pelo ar”. No livro, muito mais do que a famosa história do sanduíche levando o nome dessa cidade onde nasci e moro, mas algo sobre um elo perdido, o dos cada vez mais raros bares de congraçamento humano. O livro deve ser tão saboroso quanto o original “Bauru” e aproveitarei esse tempo chuvoso, final de semana, trabalho em baixa para devorá-lo igual faço com o sanduíche, que aqui em Bauru ainda o faço no Skinão e no Bar
Aeroporto (que saudade do Bauru Chic, do amigo Egberto, um que cansou de dar murro em ponta de faca e deixa irreparável saudade em quem gosta de saborear um elaborado com o máximo de requinte - olha a foto dele aí ao lado). Primoroso trabalho da editora Senac, ricas ilustrações e uma impecável apresentação. Esse livro tem cheiro de coisa boa e isso você sente ao pegá-lo nas mãos. Quer coisa mais saborosa que essa?
Nesse último parágrafo a reclamação. Não do bar, muito menos do livro, mas do pouco caso em algo iniciado e não concluído. Padecemos disso em Bauru. Quando estava lá na Cultura Municipal, comandada por José Vinagre, fizemos e acontecemos junto com a
Secretaria do Desenvolvimento Econômico, comandada por Wallace Sampaio (Sueli Lima acompanhou tudo) para fazer vingar o reconhecimento da receita original do famoso “bauru” junto ao IPHAN. O acarajé e o queijo mineiro tiveram suas receitas eternizadas como patrimônio imaterial. Faltava o nacionalmente conhecido “bauru”. A Cynthia Bombini lá da Cultura deve ter até hoje guardado todo o imenso material que coletou, as inúmeras correspondências travadas entre as partes. Fez entrevistas primorosas, uma até com a viúva do Casimiro. Até a graduada funcionária do IPHAN, Cláudia Vasques veio de Brasília até Bauru dar continuidade no que fazíamos e Simone Toji, antropóloga do mesmo órgão, lotada em São Paulo orientava os trabalhos de
transformação do sanduíche num bem patrimonial, podendo ser transformado em Patrimônio Histórico Nacional. Fomos embora e tudo parou. Até a Certificação que era feita nos locais onde a receita original fosse mantida foi abolida. Foi criado um vistoso blog, com o designer Petraglia formatando sua identidade. Ninguém parece se interessar mais por essas coisas. E por quê?, me pergunto. Não sei. Que gaveta esconderia essa papelada toda? O Desenvolvimento Econômico parece estar em outro mundo, pois engavetou nosso sanduba e fechou também o restaurado vagão ferroviário que até poucos meses era uma das atrações do Poupatempo. Faltava tão pouco para os "píncaros da glória". Acredito num empurrãozinho como algo necessário, lembrando a todos os que ainda podem fazer algo, para que o façam. O “bauru” ainda não é patrimônio imaterial brasileiro por puro desleixo. Aproveitemos o livro do Iacocca para lembrar e clamar pelo resgate de alguém interessado em dar continuidade naquilo tudo.
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4 comentários:
Oi Henrique!!!
Que saudades de ti, cara!!!...
Vou ler depois os comentários, mas me deu uma vontade tão grande de comer o BAURU do Bar do Ulisses, lembra???? Era o melhor Bauru de Bariri.
Como vai a vida?
Beijos
Iraci
HENRIQUE,
concordo plenamente.
Uma vez desejaram me servir um Bauru em prato, com garfo e faca, na cidade de Caxias do Sul. Perguntei por quê?
Pedi que chamasse o cozinheiro e mostrei meu RG dizendo de onde era. O que fiz ? Ensinei-o a fazer o verdadeiro Bauru...O dele era pão, presunto, queijo, um misto quente no prato.
Continue a luta.
Abs.
MURICY DOMINGUES
Olá Henrique,
Inclusive depois que sai da presidência do COMTUR tudo parou... inclusiva o processo de certificação dos estabelecimentos que buscam fazer o Bauru tradicional. É realmente lamentável ver isso!
Abraços
Helerson de Almeida Balderramas - ex-presidente do COMTUR - Conselho Municipal de Turismo
Caro Henrique - parabéns pelos belos textos, obrigatórios de se ler. Esse do Bauru tá legal. Um abraço - Isaias
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