quarta-feira, 20 de junho de 2012

FRASES DE UM LIVRO LIDO (60)
A SAGA DE 75 ANOS DOS SAMPAIO NA PRAÇA MACHADO DE MELLO
Encontro casualmente com o JUAREZ VIEIRA SAMPAIO no saguão do Banco do Brasil, agência da 1º de Agosto. Sempre fomos gentis um com o outro. Disse-lhe do livro dos 75 anos da Casa Sampaio e ele me surpreende, pois carrega sempre consigo alguns. Ganho o meu de presente e com direito a dedicatória: “Ao HA um professor da arte de escrever. Abraços do Juarez, 18/06/2012”. Antes de escrever do livro, lido de uma só talagada, desfio uma história compartilhada anos atrás com ele. De 2005 a 2008 fui Diretor dos Museus e responsável pela questão do patrimônio cultural na cidade. Juarez sabendo disso e acompanhando pelos jornais a história do rico acervo do jornalista Luciano Dias Pires (tudo guardado de forma indevida, mofando num sítio em lugar inadequado para acervo histórico), me procura e pede para intermediar uma sugestão ao memorialista. O andar superior da edificação da Casa Sampaio (rua Monsenhor Claro, entre a Rodrigues e a Batista) estava desocupado e tudo poderia ser ali colocado, sem nenhum custo, sendo oferecido até vaga na garagem para veículo do responsável. Luciano não aceitou e tudo continua até hoje no tal sítio, não se sabe em que condições (e hoje chove muito aqui na cidade). Dizem que o JC abrigará tudo numa Fundação, ainda em fase embrionária. Ótimo e uma coisa não inviabilizaria a outra, pois aceita a sugestão do Juarez, tudo estaria devidamente guardado até a solução final. Antes disso, ele me conheceu numa noite festiva no Automóvel Clube, evento da ACIB e desde então percebo ser uma pessoa realmente interessada em algo edificante para Bauru.
Comprovo isso com o lançamento do livro “Sampaio - 75 Anos”, lançado no início deste ano. Foi a forma de retribuir à cidade pelo que ela proporcionou para o empreendimento, hoje dirigido por ele. Juarez encerra a obra com um: “75 anos não se faz com facilidade”. Juarez contou na pesquisa com a ajuda do amigo Irineu Azevedo Bastos e em 72 páginas desfia algo inédito em relatos pessoais de histórias de firmas familiares. Ele não passa por cima dos entreveros, inevitáveis num período tão longo de existência. A leitura é saborosa e remonta os primórdios da família: “Os Sampaio são parentes de um governador da Índia, são descendentes do fidalgo espanhol Gutierrez e vieram para o Brasil representados por três irmãos". O patriarca foi José Ferraz Sampaio, nascido em 1904 e falecido em 1974. Muito do relatado é história do desenvolvimento da família, dentre os quais conheço três pessoas, o Juarez, o Wallace Sampaio (do Clube dos Dirigentes Lojistas, com quem trabalhei na Prefeitura) e Zeila Oppermann Sampaio (professora de francês e diretora da Aliança Francesa até a venda do prédio e seu fechamento).
Algumas peculiaridades. A Sampaio, como a Luzitana são de um tempo que os funcionários mais antigos podiam até se transformar em sócios da empresa. A coragem do dono em recusar pagar uma duplicata fria cobrada por um banco, publicando num jornal: “Com prazer pagamos o que devemos, mas de forma nenhuma o indevido. Pedimos a todos que se julgarem nossos credores, com prazo vencido, a se apresentarem para imediato pagamento, inclusive aos bancos portadores de títulos”. José é de uma época em que se tinham muitos filhos, tanto que ouviu certa vez de outro comerciante:“Se eu tivesse seis filhos, seria o maior comerciante do país”. Linda a passagem em que diz que o pai nunca leu um livro de economia ou administração em toda sua vida, mas incentivou todos aos filhos a estudarem, revelando não ter preconceito pelos que vencem sem estudos, como o ex-presidente Lula. A Casa Sampaio vendia de tudo, fez fama dessa forma e após a morte do fundador, alguns anos difíceis, muitas divergências entre os herdeiros, tanto que quando vinham lhe perguntar dos demais, dizia: “Estão no senadinho resolvendo problemas”. Explicar o que venha a ser o senadinho é desnecessário, mas vá lá, estavam no lazer. Interessante a versão dele para a solução das empresas com sucessão familiar: "O fundador deve preparar aquele que for sucedê-lo com bastante antecedência, mas não revelar isso aos demais herdeiros. Há um ditado popular que diz que os filhos são como os dedos da mão, uns são diferentes dos outros. Eu sempre procurei ser o polegar”. Experimente escrever sem usar o polegar, impossível. Por fim uma revelação boníssima: “Justiça seja feita, a empresa teve uma vida mais longa após a morte do fundador por mérito dos funcionários”. Juarez é um comerciante cheio de garra, batalhador e enfrentador de chuvas e trovoadas. Gosto de gente assim e hoje, ao seu lado, o único filho, José Ferraz Sampaio Neto. A “Sampaio” resiste na Praça Machado de Mello, pois de tudo o que ali existia só sobraram ela e o Hotel Cariani. Nem a praça é mais a mesma e a estação continua com a promessa de ser restaurada. Outra coisa, ele é um bom contador de histórias e numa aproximação, encontre tempo, pois assunto é o que nunca faltará. Relembrar o passado é algo inebriante. Juarez sabe disso e exercita quando e com quem tem tempo para escutá-lo. Eu sempre que o encontro, gosto muito.

8 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Tenho que confessar uma coisa. Te acompanho aqui no blog desde alguns anos. Gosto de sua linha de pensamento e dos seus escritos. Gosto mais por não ficar puxando o saco de um monte de gente ligada as tais das "forças vivas da cidade", que na verdade jogam somente a favor deles mesmos e contra o povo. Voce sabe o que quero e de quem escrevo quando digo isso. Eu sei que vc não elogia gente que joga contra os interesses dos menos favorecidos. é isso que me prende ao seu blog. Escrevo isso hoje nem sei porque, mas é porque ao ler o texto sobre o Sampaio e essse em particular que escreveu o livro, me bateu uma coisa lá dentro. Esse é um dos comerciantes dessa cidade que merece um justo elogio, outros tantos não. Hoje a ACIB está mais conservadora nas mãos do Cafeo, só pensando nos seus proprios botões e em nada mais. Uma elite retrógrada, a ACIB está com a cara do conservadorismo brasileiro. Nem sempre ela foi assim. Sou dos tempos do Rasi, o velho pai do Mauro, um cara que não tinha arrogância e empáfia estampada na cara. E não menosprezava quem quer que fosse. Para elogiar os da elite dessa cidade já existem os dois jornais, as televisões e as rádios. O Sampaio foi um batalhador, soube fincar o pé lá na praça abandonada da estação e dali não arredou pé. Mostrou mais, pois dentre tantos herdeiros, soube se impor pelo trabalho, por não querer viver de brisa. Esse merece, mas como sabes, são poucos os merecedores de justos elogios. Voce tem algo admirável por saber distinguir os que dentre a classe dos detentores do capital são diferentes dos demais. Adorei esse negócio dele elogiar os trabalhadores da loja como os grandes responsáveis pela mesma não ter fechado após a morte do fundador. Receba meu sincero abraço.

Ufa! Fazia tempo que não escrevia tanto.

Aurora

Anônimo disse...

Caro Henrique
Grato pela mensagem. Eu não conhecia essa faceta do Juarez e nem ssabia desse livro que gostaria de ve-lo, se possível. Na verdade eu me lembro da Casa Sampaio no predio antigo. Meu tio, Ernesto Milanez, finado, foi motorista e entregador de ''pedido'' da Casa Sampaio. Tenho registrado na memória as lojas e casas comerciais da quadra 0l da Rua Batista.

Grato e um abraço

Isaias Daibem

Anônimo disse...

Henrique
Voce em noite festiva da ACIB no Automóvel Clube. Explique isso para nós?
Valéria

Mafuá do HPA disse...

amigos novos e antigos,

respondo aos três.

Aurora - obrigado pelos elogios. tenho sim essa preocupação e também vislumbro isso no Juarez. Fique tranquila, nunca elogiarei a atual administração elitista da ACIB. Fui amigo pessoal do velho Rasi e também o entendo dessa forma.

Isaías - acredito que o Juarez e seu filho ao lerem isso aqui já te reservarão um livro.

Valéria - fique tranquila, pois minha ida no evento da ACIB ocorreu durante o período em que exercia o cargo dos museus e no patrimônio cultural, algo protocolar e eles estavam fazendo uma exposição de lançamento de um livrinho com a história da ACIB e encartadao um CD. Precisaria de mais detalhes? Você sabe como encaro tudo isso. Veja outra coisa. Lá no barracão defronte a Feira do Rolo existe algo rolando por aí de um memorial da Indústria em fase de captação de recursos junto aos industriais da cidade. Para mim, o que cairia como uma luva para aquele espaço era um Mercadão Popular e não algo que possa inclusive alterar a vida de uma feira, a mais popular da cidade.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Henrique

Parabéns pelo texto. Moro aqui perto deles e perto da casa onde ele no livro diz que o crime do Alcides aconteceu. Ela está aqui, intacta. Acredito que nem seus moradores sabem do ocorrido ali. Gosto muito de todos os Sampaio. A loja deles é muito boa.

Alvarenga

Anônimo disse...

Caro Henrique:

“Eu sempre que o encontro, gosto muito...”, a recíproca é verdadeira poucas vezes escrevi esta palavra com tanta sinceridade.

Sou agradecido pelas considerações elogiósas.

Walace é Presidente do Sincomércio, não do CDL, sem importância no contexto.

Grato

Juarez Vieira Sampaio, 68

Anônimo disse...

O Sampaio é a melhor loja de ferragens de Bauru. E com a cara de antigamente. Sem a pedância desse modernismo boboca, onde só o visual já é sinal de preço mai caro.

Me diga, o Luciano não aceitou ocupar aquele último andar, mas o que foi feito dele. É ocupado hoje? Pergunte para o Juarez. Só uma curiosidade.

Paulo Lima

Anônimo disse...

é heróico manter uma loja de ferragens por tanto tempo. parabéns a casa sampaio, na qual estive uma única vez buscando um alicate de unhas para henrique. me lembra o seu madeira que durante toda a minha vida teve uma loja assim no largo do verdun, grajaú - rio de janeiro. quando morreu, os filhos venderam. hoje, continua uma loja de ferragens daquelas que não tem nada do que se precisa.... infelizmente.
ana bia