segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

AMIGOS DO PEITO (76)

O BLOCO DO EU SOZINHO EM BAURU É O ESSO MACIEL E SÓ

Adoro reverenciar a irreverência e criatividade do Carnaval carioca em vários quesitos. Um deles é algo a resistir bravamente. Acreditava que só lá ainda persistissem os foliões que, predispostos a bolar uma fantasia única, só para ele, depois desfilando com ela garbosamente pelas ruas e praças. Necessariamente não desfilam em blocos e escolas de samba, mas o fazem no espaço dedicado aos que circulam nas ruas. Na metade do século passado esse tal BLOCO DO EU SOZINHO (foto ao lado) era muito comum, depois foi amainando até quase desaparecer. No Rio devem perdurar alguns pelas ruas, aqui em Bauru, até tempos atrás conhecia dois, hoje somente um, ESSO MACIEL.

É dele que falo. Um retinto senhor, nada comum, 72 anos, morador da vila Falcão, aposentado como servidor público municipal, onde atuou por muitos anos lotado no Gabinete de vários prefeitos. Figura marcante, homossexual assumido, muitos o evitaram e até hoje o evitam, pois sempre teve uma personalidade forte. Um diferenciado poeta, seguidor dos Dizzie Croquetes, permanece vestindo a indumentária desses e com elas sai vestido pelas ruas bauruense em cada carnaval. Nesse ano foi visto em três momentos. Primeiro no baile de quinta à tarde na Associação do Aposentados, depois no desfile do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto (com X mesmo) e por fim ontem, no primeiro dia do desfile das Escolas de Samba e Blocos no Sambódromo.

A fantasia, segundo ele é a de uma onça morrendo, asas enfraquecidas (sic). “É o último ano da onça alada. Vejam agora, pois ela está morrendo e se sair pelas ruas ano que vem, terei que pensar em outra coisa”, me diz defronte sua casa, quando o pego para atendendo um pedido, leva-lo ao local do samba no asfalto. Sua casa por si só é algo sui generis, pois colado ao lado do portão, recados para não ser perturbado por pedintes, religiosos, cobradores, interessados em sexo, etc. Não gosta de ser perturbado com baboseiras e escolhe as pessoas com quem conversa: “Só me predisponho a falar com quem vejo possuir violino mágico. Só dou minha atenção e meu sorriso para quem possua isso, do contrário, finjo não mais vê-los”.

Esso diz demorar quatro horas na preparação da onça, com pinturas pelo corpo todo, colagem e adereços, todos comprados em R$ 1,99, desde a sandália até o colorido dos cabelos. Circula ele e seu personagem com uma desenvoltura divinal pela pista, sendo um dos mais fotografados na noite. Esso vive só, numa casa rodeada por oito cães (já foram 22), seus guardiões, protetores. É uma pessoa irresistível e, quando o vejo vou logo parando para um papo. Ontem sai de lá feliz da vida, pois ao apresenta-lo ao Valter Tomas Ferreira, o Valtinho da Biblioteca e Gibiteca Municipal, definimos preparar algo com as poesias e escritos do Esse e juntos montarmos uma exposição para o segundo semestre desse ano, expondo isso para que Bauru conheça um pouco desse personagem único, mais do que um tipo popular, mais do que um tipo do nosso Lado B, enfim, Esso é um ser ainda sem definição, objeto de difícil catalogação, peça rara, digno e único representante na Bauru de hoje do Bloco do Eu Sózinho. Tem mais, eu já prometi infinitas vezes contar toda sua história num livro, mas me falta tempo e não sei quando irei cumprir o prometido, mas sei que um dia o farei e com louvor.

11 comentários:

Anônimo disse...

Esso é um grande artista e uma pessoa adorável. Um ser humano incomum. Ótimo você ter recuperado um pouco de suas historias, Henrique!
Gilberto Maringoni

Anônimo disse...

Meu.. vi ele no carnaval.. caramba ele ainda existe. Esso é um resistente mesmo!! merece todo o reconhecimento!
Camys Fernandes

Anônimo disse...

Arrasou meu querido Esso, estou com saudade dos lobisomens que voce sabe entender tão bem................arte!!!!!!!
Marisa Oliveira

Anônimo disse...

O ESSO Maciel, ainda tem a coragem de desfilar só,pois fale mais um gosto do que dinheiro no bolso,tem muitos que queria ter um pouquinho da coragem dele,mais se esconde em uma lata de cerva,e outras coisas mais, e depois fica criticando o folião solitário. Eu fico contente de saber que ele ainda tem esta alegria.
Ana Maria Bueno

Anônimo disse...

Há não muito tempo atrás, Esso fez algumas incursões pelo mundo do vídeo e cheguei a ver essas experiências no youtube. O nosso Buñuel. Tenho enorme carinho por ele e sei que esse carinho é recíproco. Por favor, Henrique Perazzi, caso você esteja com ele, transmita-lhe um grande abraço
Marta Caputo

Anônimo disse...

Vai pro Secos e Molhados substituir Ney Matogrosso que está ajuizado demais.
Renato Senis Cardoso

Helena Aquino disse...

Amo os anônimos, os corajosos, sem pensamentos em vil metal ....
Esso ...figura autêntica, não tem vergonha de si mesmo , assume sua personalidade e suas predileções ...
Grande homenagem irmão e faça-nos o favor de escrever esse livro sobre essa figura com ele vivo ainda ..... queremos muito saber saber de suas estripulias ...

Helena Aquino

Anônimo disse...

Esso Maciel ... Nosso maior tributo à verdadeira diversidade, não aquela só política!!!!
Beto Grandini

Anônimo disse...

Henrique

Voce diz que até pouco tempo atrás existiam dois a sair pelas ruas bauruenses no tal do Eu Sózinho? Fiquei curiosa, quem seria esse outro?

Valéia

Joaonicodemos disse...

Grande abraço ao amigo Esso Maciel. Ele tem uma história única de criação artística e autenticidade incomum, não só em Bauru... Se cada cidade tivesse um Esso Maciel, o mundo seria muito melhor!!
Parabéns pela matéria, caro Henrique.
Se vc. quer escrever a vida de Esso, saiba que não será fácil!!! Seu pensamento é de uma lucidez impressionante e sua vida não dá apenas um livro... Seria preciso uma equipe de antropologos de várias especialidades... Mas não desista, nem deixe pra amanhã... comece ontem!! Acredito e admiro seu trabalho!!

abracitos!!

João Nicodemos.

Anônimo disse...

E viva o Esso! Evoé!
Luiz Vitor Martinello