CARTAS (97) e PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (55)
O BLOG QUE NÃO MOVE A ILHA DE FIDEL – carta de minha lavra e responsabilidade, publicada na edição de hoje do Jornal da Cidade Bauru SP, seção Tribuna do Leitor:
O texto de minha carta está na integra publicado lá embaixo (e aqui: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227606) , mas antes para entender o imbróglio se faz necessário a leitura de mais duas missivas. Na primeira, texto dominical do jornalista Zarcillo Barbosa, publicado edição domingo passado, 24/02, seção Opinião, gerando a minha, com o título O BLOG QUE MOVE A ILHA DE FIDEL (leiam clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227557). Dois dias depois, edição de terça, 26/02, Marcos Paulo Casalequi Resende tem carta publicada na Tribuna com o título ZARCILLO, CUBA E A BLOGUEIRA (leiam clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227576). Meu texto foi o último (outros deverão vir):
Caro Zarcillo. Esse blog da Yoani, do qual participo há mais de três anos, sempre a criticando, passa longe de mover algo em Cuba. Ele só move gente fora da ilha, os que insistem em tentar enfiar goela abaixo a cultura capitalista como a única solução para tudo e todos. Experimentemos perguntar aos cubanos se eles querem outra vida, se estariam interessados na busca desenfreada pelo vil metal. Nós precisamos é resolver primeiro os nossos problemas, depois os dos outros. E entender mais os processos vigentes no mundo. Eu também lá estive, por um mês e os vi felizes, poucas filas e podendo fazer de tudo, comendo bem, saúde idem, circulando de um lado a outro no país. Recebi muitos nos hotéis onde me hospedei e tanto lá como cá só vai nesses lugares quem tem motivo e dinheiro para tanto. A felicidade pode ocorrer sem que para isso tenham que frequentar Varadero, por exemplo. Passei longe desse lugar, necessário para captar algo a mover o país, preferindo andar com os cubanos, bater perna em cada canto e ouvi-los nos mais diferentes lugares. Inebriante esse contato de mútua felicidade, algo raro ao perambular por qualquer periferia capitalista, império da tristeza.
Seria muito triste ver aquele quase paraíso (sim ele existe, é lá) tendo o mesmo destino que a China e a Rússia. De onde tirou que a modernidade está nesses países? Baseado em qual teoria? A que defende, com certeza. O cubano não quer andar para trás se já deu passos sólidos noutra direção. E por que o faria? Só porque os de fora querem isso? Besteira. Pessoas desprezíveis como Yoani existem por todos os lugares. Vejam os que aqui entre nós não reconhecem o momento vivido pelo país, quando o mundo se afunda em turbulência. São do mesmo naipe. De forma simplista comparo-a a Judas. Lá nada representa, já aqui serve aos interesses dos que se incomodam com a existência de um oásis, onde o dinheiro não seja o deus de tudo e de todos.
O ministro Barbosa já serviu aos mesmos interesses. O pior questionamento que recebo é “por que então não se muda para lá?”. Lá já existe algo estabelecido, prefiro ser pedra no sapato e levar atrevimento a esse lado do mundo. Não sou missionário de nada, mas espezinhar a vida dos poderosos é algo a me encher de prazer e contentamento.
Por fim, caro colega, estamos nesse momento nos indagando sobre os altos salários de uma casta médica enfiada dentro do serviço público municipal e a receber salários inimagináveis. Algo inaceitável. Sabe quem resolveria isso num piscar de olhos? Os médicos cubanos. Deixando se estabelecerem aqui, veríamos uma reviravolta nas ações, mentes e costumes. A intenção dos de lá não é a de enricar, nem tirar proveito, muito menos se locupletar. Onde vão resolvem. Exemplos disso não faltam. Seria uma boa oportunidade para na comparação ver como o capitalismo produz monstros e monstruosidades. Mas por aqui ninguém quer isso e sim por fim a quem acerta. Isso incomoda, sendo necessário extirpar a pedrinha no sapato, a que demonstra a existência de algo muito errado no tal mundo livre, império da aplicação da mais justa e solene liberdade de expressão. Basta disso, seu Zarcillo, Cuba está em outra. Não seríamos nós os na contramão da história e do benfazejo do ser humano na sua passagem enquanto ser vivo e pensante?
10 comentários:
Henrique, eu concordo em parte. Penso que Cuba precisa de um autoquestionamento urgente. Porque nenhum sistema se justifica sob uma ditadura, seja de esquerda ou de direita. Não há argumentos para dois irmãos ocuparem por décadas o poder. Lembre-se de que sou uma histórica eleitora do PT. Um abraço.
Fernanda Villas Boas
Henrique
Tenho acompanhado o que rola de discussão no facebook, tudo por intermédio de uma amiga em comum, pois me recuso ainda a ter um facebook. A discussão da esquerda que não se entende é algo inconcebível. Criticar Cuba, sendo do PSTU e não criticar o neoliberalismo dos tucanos. Que nome ser pode dar a isso? Cai fora, pois eles não valem a pena a pura perda de tempo. Eles estão mais isolados que um ermitão vivendo lá no alto da montanha. Cuba é muito mais do que esse pessoal possa imaginar. É muito fácil discutir os problemas deles sem nunca ter ido lá e só diante de um computador, com as soluções para tudo na ponta do dedo. Esqueça eles e continue com seu blog, mas ciente de como agem os PSTU da vida.
Aurora
Fernanda boa noite. Gostaria apenas de fazer uma observação neste aspecto sobre o que é ditadura e a relatividade do que se possa entender como liberdade, fica aí como um autoquestionamento a se fazer também.
Se faz em nossa sociedade um falso entendimento a se colocar a palavra ditadura como algo apenas negativo.
Mas veja que em qualquer sociedade há ditadura, até nas casas, pelo simples fatos que exitem regras em todos esses aspectos, a natureza também tem suas regras, o ponto está no como e para quem são as regras estabelecidas num tipo de sociedade.
Nosso país capitalista obedece a ditadura das regras de mercado, ou seja, de uma minoria que detém o capital e a ciência social nos mostra o quanto isso acarreta em sérios problemas a massa trabalhadora, trazendo para o lado a relativizar a liberdade, podemos dizer que diante das enormes mazelas que vivemos, temos um povo livre e vivendo com dignidade??
Esses últimos dias tem sido de grandes embates sobre Cuba por causa da blogueira, e percebe-se que a maioria, mesmo os que se dizem de esquerda pouco conhecem da história e seus processos em Cuba, assim como desconhecem nosso próprio sistema onde enganados com a mudança de políticos não enxergam que os reais mandantes do país são os mesmos de sempre ditando as regras, diferente de Cuba que realmente tem uma liderança legitimada pelo povo e não imposta por outro país como os EUA fazem sempre com outras nações e nem por grandes corporações.
É muito bom falarmos sempre de Cuba para que as pessoas possam deixar certos preconceitos de lado e conhecer mais sobre este país que consegue de sua organização popular diante das adversidades impostas pelo mundo imperial garantir dignidade a cada um de seu povo.
Abraços
Marcos Paulo
Comunismo em Ação
MARCOS
Aprendi a te respeitar. Li as criticas todas que fizeram a ti, mas quando paramos para ler seus longos textos, vejo neles boa reflexão e bons argumentos. Posso discordar deles, alguns, mas tenho que admitir serem bem construídos. Você é um pensador e propõe isso nos seus escritos. Essa resposta de agora para Fernanda é um bom exemplo disso.
Valéria
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sinceramente eu gostaria de morar em cuba.
lá existe o buena vista social club. lá tem saude. lá tem cultura.
lá tem educação. e aqui país de gersons um deles é o trevizani...o que é que ele tem contra cuba?
abracitos mafuá.
Aldo Wellicham
meus caros e caras:
Duas cartas na Tribuna do Leitor do JC depois da minha:
Sobre a ilha de Fidel
Pergunta ao Henrique P. de Aquino: se existe esse paraíso na terra (Cuba), por que então não há liberdade de expressão? Será que é pelo fato desse paraíso ser contestado pela visão de outras pessoas? Se é de fato um paraíso, não se sustentaria mesmo que houvesse partidos de oposição concorrendo pelo governo? Que paraíso é esse que precisa manter-se a título de uma ditadura?
Mauricio Moura (ontem, 01/03)
AINDA CUBA - TRÉPLICA
Caro Maurício Moura. O paraíso é algo visionário, utópico, brincadeira. Impossível no capitalismo, onde as contas nunca batem e a maioria sempre padecerá. Tudo à vista, impossível para todos. Daí o pega pra capar e o garoto de rua arrancando a força o tênis de quem o possuir. Lá em Cuba, declaradamente pobres e no atendimento ampliado das necessidades básicas do povo, um diferencial não existente em nenhum outro lugar do planeta. O ser humano sempre valendo mais que o dinheiro e sendo atendido, respeitado e valorizado. Um péssimo exemplo, devendo ser combatido e eliminado. Ovelhas desgarradas são um perigo.
A liberdade de expressão é outra falácia, retórica que o papel aceita. Limites nos são impostos em tudo que fazemos e ao ultrapassá-los, by by. Ninguém é totalmente livre, regras existem dentro de nossas casas, depois a do patrão, dos que mandam no Calçadão, dos que proíbem que façamos de nossos corpos o que quisermos. O paraíso terrestre dos católicos não é cheio de regras impostas pelo dono do lugar? Quebrou dançou. A história da maçã não foi isso? Ditadura, não? Uma blogueira escreve o que quer, quando quer, anda livremente pelo seu país, recebe soldo externo, promove agitos mil, não possuiria liberdade semelhante com qualquer um daqui? Restrita, como aqui. Eleições temos as nossas, eles as deles. Parlamento por parlamento, na comparação, o deles é mais democrático. Eu sou mais pela dita que dura, com amplos e comprovados resultados, do que numa dita mole, que finge ser, mas na verdade nos ludibria a todos. Questão de escolha, preferência, cada um tem a sua. Que assim seja. Lá é só um estágio mais avançado de vivência humana, ampliação no atendimento de básicas necessidades. Eu acredito e luto por um novo mundo, mais palatável que esse. Sonhar é preciso.
Henrique Perazzi de Aquino - jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
hoje, 02/03
Mafuá
É meu amigo, até 31 de março de 64 a melhor política era a comunista, mas os impérios italiano/americano acabou com o sistema soviético.
Aldo Wellicham
Oi Henrique tudo bem??
Li sua resenha a respeito de Cuba , Yoani e tal , não conheço Cuba , li há muitos anos o livro de Orlando Moraes , e tenho amigos que já foram mais de uma vez pra lá , e me relataram algumas coisas.mas gostei do que disse a respeito dos médicos que querem enricar de imediato e não se sujeitam aos salários e gratificações públicas , há muito que queria falar isto e não tenho coragem pois tenho filhos pequenos e temo represálias no atendimento pós comentarío . O X da questão , saúde , e realmente ninguém precisa dessa busca desenfreada de conforto , mil celulares , Ipad , Iphone , etc , para ser feliz , assisti a um filme ontem "A Riviera Não é Aqui" que relata que as pessoas e o seu convívio em harmonia é que são importantes e que nos fazem felizes . Vivi algo parecido quando estive em Cacoal Rondônia , a falta de conforto e luxo faz com que o foco as pessoas . Gente tem que Tocar gente , Gente tem que comer gente . Abraço
MZ
UM ACALORADA TROCA DE CARTAS E CUTUCÕES PELAS PÁGINAS DO JC:
Domingo, 03/O3, Zarcillo Barbosa, decano jornalista, talvez pela primeira vez desde que o leio pelo JC, volta ao tema da semana anterior no seu texto dominical, Cuba, após cartas publicadas questionando-o sobre o que havia escrito na semanA anterior. Vem com o texto “Visões do Paraíso” (http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227658).
No mesmo dia, na Tribuna do Leitor, Márcio Carvalho, conhecido defensor dos benefícios de ser aliado ao tucanato (sempre só e tão somente isso), tem publicada carta endereçada a mim, “A patrulha peticastrista” (http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=227644).
Diante de tudo, nova cartinha minha, publicada hoje na Tribuna do Leitor, “
Cuba, Zarcillo e um irado missivista”. Eis seu conteúdo na íntegra:
"Ser criticado é uma dádiva. Imagine um mundo feito só de elogios. Pensamento único é reducionismo, limitador. Esquerdopatas e esquerdofrênicos devem ser tratados da mesma forma que os direitopatas e direitofrênicos. Padece-se hoje de uma doentia necessidade de querer enquadrar Cuba aos preceitos que alguns acham o único viável. Isso me lembra da criança, tão cheia de atrevimentos, irreverente por natureza, sendo induzida a enquadrar-se ao modo de vida escolhido pelos pais, sem lhe dar direito de escolha. Tolhida do que melhor possui, inserida desde cedo a um contexto, só muito mais tarde poderá rever isso. Vivemos todos num mundo doente e quando surgem opções de cura elas são irremediavelmente combatidas, pelo bem da sobrevivência de algo maior.
Zarcillo sabe que até os decanos devem ser questionados. Já fui petista, hoje livre das amarras partidárias, critico muito eles, mas não enxergo a realidade de forma caolha e assim sendo não tenho como desmerecer que nosso país é outro de dez anos atrás. Avanços que o povo percebe, mas direitopatas não. Márcio Carvalho não faz outra coisa que defender o indefensável, o tucanato, sem conseguir enxergar nada de bom além deles. Escrevo embasado em fatos, não em aleivosias, como falta de eleições, liberdade em Cuba, etc. Ela, sempre ela. Como incomoda essa pequena e resistente ilha, mostrando ao mundo, que nos erros e acertos, sempre existirá uma possibilidade de alternativa outra. Aguardo ansioso a tal vaquinha, não a citada por Zarcillo, a tal empalhada no Museu da Revolução, símbolo de uma saudável e criativa pobreza, mas a que Márcio poderia promover para meu retorno à Cuba. Ele não me proporcionaria maior prazer, mas acredito que esteja fazendo jogo de cena, o que considero uma pena, pois gostaria muito. Cuba é tão instigante que nas críticas a eles deixamos de enxergar o quanto somos piores, a começar pelas diferenças sociais tão evidentes aqui e tão superficiais lá".
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História - www.mafuadohpa.blogspot.com.
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