“OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA”, JÚLIO JOSÉ CHIAVENATO, GLOBAL
EDITORA, 1983
Fui um devorador de livros nos anos 80. Entusiasmado pelos
novos rumos da História do Brasil, desvendando segredos ocultados pelo regime
militar, esse um dos meus temas preferidos na época da leitura desse livro,
1990, a Guerra do Paraguai. Naquelas 250 páginas, não só o escancaramento das
mazelas do país ao adentrar uma guerra que nunca foi sua (e sim, de interesses
ingleses), mas mostrando claramente que a corrupção foi a norma no nascente
Exército brasileiro. Belas comparações podem ser feitas com algumas das guerras
propostas nos dias atuais, a da Síria uma delas (Líbia, Iraque...). Uns são
instigados a fazer a luta para outros. Algumas das frases selecionadas:
- “Negros escravos e brancos pobres – os mulatos alvos – iam
como gado para o Paraguai, núcleo do nosso Exército. Tremiam e fugiam do
inimigo sempre que podiam”.
- “Não se deve esquecer que a herança legada pela Guerra do
Paraguai agudizou a luta pela libertação dos escravos, plasmou na jovem
oficialidade do Exército os ideais reprublicanos, atrelou o Império aos
empréstimos e agiotagem da Inglaterra, acentuando sua decadência e antecipando
a proclamação da República”.
- “Até a Guerra do Paraguai, entrar para o Exército era uma
desonra. (...) Provando-se ser um bom homem, escapava-se do Exército”.
- “a Marinha do Brasil, reformada após a independência, com
a exclusão da oficialidade portuguesa, era toda estrangeira”.
- “Os voluntários estavam longe de ser patriotas
apresentando-se espontaneamente para defender a pátria”.
- “Qualquer cidadão descuidado poderia ser arrebanhado na rua
e à força conduzido a um quartel. (...) Valia tudo para o recrutamento”.
- “Deus é grande mas o mato é maior”. (...) Cair no mato era
a solução dos pobres”.
- “A guerra do Paraguai foi, principalmente, uma luta pela
sobrevivência, antes de ser a aplicação da arte militar”.
- “...nunca houve tanto roubo de cavalos no mundo, como no
Rio Grande do Sul às vésperas do Brasil invadir o Paraguai. (...) Mas ninguém
respondeu pelos roubos. E a historiografia oficial cuida de escondê-los. Até
com relativo sucesso”.
- “Deserções, fugas e covardias foram o comportamento normal
desse exército, até o fim da guerra”.
- “...mantem-se o mito da integridade de velhos chefes,
meros caudilhos, e não se atreve a examinar os atos de Osório – herói intocável,
mito sempre a mão”.
- “A maioria dos voluntários eram os raquíticos nordestinos,
enfrentando um clima duro para eles e uma alimentação inadequada para todos.
(...) Caxias encontra um terço do exército doente, incapaz sequer de marchar. (...)
O cólera foi trazido do Rio de Janeiro pelos voluntários contaminados. (...) Os
paraguaios sofreram o contágio, através dos prisioneiros ou pelo envio
deliberado de doentes pelo comando da Tríplice Aliança até seus acampamentos,
para levar-lhes a epidemia”.
- “O grande inimigo não era o Paraguai: eram os frutos
apodrecendo durante a guerra, da triste herança da tradição militar brasileira.
Tradição oriunda de Portugal, marcando um verdadeiro horror aoi serviço das
armas”.
- “Sobrava dinheiro para tudo, menos para alimentar e vestir
a tropa”.
- “Enquanto o Império importava agulhas e alfinetes, o
Paraguai fundia diariamente uma tonelada de ferro. Essa independência econômica
tinha que ser destruída. (...) A sua indústria, proporcionalmente à população,
era muito superior à do Brasil e Argentina”.
- “...não bastava vencer o Exército paraguaio, era
necessário liquidar o seu governo, ou seja, Francisco Solano López”.
- “...a guerra destruiu toda a possibilidade de
sobrevivência de um país livre, com a posse da terra mais ou menos comunitária e
socializada. (...) É sintomático que o último tiro da guerra do Paraguai seja
nas costas do marechal moribundo. (...) O imperialismo inglês, destruindo o
Paraguai, mantém o status quo na América meridional, impedindo a ascensão de
seu único país livre”.
- “Todo poder no Brasil identifica-se no culto dos mitos
históricos, produto das distorções na interpretação da sociedade e enganos
dolosos sobre os fatos. (...) Alguns intelectuais dóceis ao Poder, no geral,
foram criaturas do próprio Poder. (...) Não existe uma Universidade Popular no
Brasil. Existe uma espécie de cumplicidade entre os acadêmicos que elude essa
realidade”.
- “Hoje, a permanência do mito não se faz pela falsificação
dos fatos históricos, mas pela omissão quanto a eles. (...) Absorvendo os mitos
científicos do seu tempo – a ciência cria seus mitos, a serviço dos grupos
dominantes”.
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