BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS DO LADO B DE BAURU (05)
JOAQUIM PEREIRA, UM EX DO RÁDIO NÃO ESQUECE O IMORTAL WALTER NETO*
* Texto publicado no jornal mensal Metrópole News, abril 2014, edição nº 10, dirigido por Vinicius Burda
Como gosto demais da conta de rádio, principalmente do AM, sempre me pego rememorando nomes e mais nomes de gente que já passaram pelos microfones bauruenses. São tantos, muitos hoje nas mais diversas atividades. O que é mais triste e estou sempre trombando é com histórias daqueles que, um dia por lá estiveram e hoje, do outro lado continuam nutrindo uma baita de uma saudade do dito cujo microfone. Hoje rememoro a história de um desses.
JOAQUIM PEREIRA é cria da vila Independência, tendo ali vivido desde os anos de 1964 até nove anos atrás, quando foi morar no Geisel. Tem a cara do seu reduto inicial e toda vez que bato os olhos nele, lembro-me de algo da Independência. São 56 anos, muitos deles como radialista em várias emissoras da cidade. Seu pontapé inicial foi na Bauru Rádio Clube, com um timaço onde ao seu lado estavam Darci da Luz, Gualberto Carrijo, Sílvio Rodrigues e Tio Pedroso. Passou também pelo 710, no plantão esportivo do Sistema Globo de Rádio, sempre no noticiarismo, nunca na animação. Nutre um carinho mais do que especial por Walter Neto, seu padrinho no rádio, que o tratava como filho. Passou cinco anos vendendo propaganda para seus programas, depois rodou em outras paragens: 12 anos no Bradesco, 12 na Disbauto, 8 na Padaria Elétrica e um outro tanto comandando uma banca de jornais e revistas. Hoje, a saudade ainda bate forte no peito, mas está mais do que com os pés no chão, com oito anos atuando nas hostes da Edipro, a editora da Jalovi. Continua com o mesmo jeitão, simples, alegre e trazendo sempre consigo a carteira de Radialista, com MTB é tudo, fazendo questão de repetir sua inscrição para quem não acredita no que diz: 11510. Vai continuar se considerando um eterno radialista.
Vejo muitos como ele pela cidade e escrevo ex-radialistas, porque muitos estão na mesma situação de Joaquim, a de um dia terem atuado em alguma rádio local e cheios de vontade de voltarem, mas sem nenhuma possibilidade de espaço. O mercado radiofônico em Bauru está mais do que estrangulado e para constatar isso basta dar uma espiada na quantidade de rádios que tínhamos no passado e na quantidade que temos hoje. Quando escrevo dessas rés desgarradas, penso também em algo quase em fim de carreira hoje, o dial AM. Infelizmente, o tempo do radinho de pilha com ondas curtas está com os dias contados e todas elas passarão a ser FMs. A transformação ainda não foi bem entendida, mas de uma coisa tenham certeza, pessoas como Joaquim Pereira continuarão tocando suas vidas fora do ambiente radiofônico.
Impossível pensar nisso tudo, nas transformações todas, sem lembrar personagens que marcaram época no rádio bauruense. Na impossibilidade de citar todos, pois seria fácil esquecer muitos, faço menção a um, justamente o citado por Joaquim, o nome até hoje mais famoso dentro do universo da música sertaneja, WALTER NETO. Esse homem acordava a cidade de uma maneira peculiar e conseguia expressar uma caipirice até hoje copiada por muitos, mas não alcançada por nenhum outro. Era único no que fazia. Espontâneo, assumido caipira, botava o galo pra cantar, contava piadas, fazia sorteios, repetia a hora a todo instante, dava as primeiras informações para uma cidade ainda dormente e tinha algo bem peculiar, adorava vestir uma camisa vermelha, sua cor preferida. Antológicos os programas ao vivo dominicais, sempre pela Auri-Verde onde sorteava frangos e em algumas ocasiões o fez até com cabeças de gado. E tocava a música sertaneja autêntica, a raiz. Por sorte não veio a conhecer esse tal de sertanejo universitário, que certamente repudiaria.
Joaquim atuou com Walter e as recordações daquele período são as que mais marcaram sua vida. “Ele é meu segundo pai. Fez coisas por mim que só um pai faz pelo seu filho. Fui seu assessor, ele falando e eu atendendo e fazendo de tudo nos bastidores. Aprendi muita coisa boa com ele”, conta Joaquim. Walter é do tempo do radinho de pilha, assim como Joaquim, esse vivendo dessas lembranças, do caboclo que lá do seu sítio ou de sua casinha enfiada na periferia acordava e uma das primeiras coisas que fazia, até antes de urinar era ligar o rádio e dele não mais se separava o dia todo. O rádio mudou, mas ainda não perdeu de todo esse traço de empatia com as pessoas. Joaquim continua ouvindo rádio, mas para aqueles que costumam sintonizar sua rádio preferida pelo celular, diz que não pegou bem o espírito da coisa, pois ali não tem como fazê-lo com rádio AM, mas é justamente delas que gosta. Essas modernidades vão demorar a serem assimiladas por gente cheia de saudade de um tempo que não volta mais. Essa dupla faz parte desse tempo.
E para encerrar com chave de ouro, algo da história pessoal do Joaquim, contado por ele mesmo, ótimo para ser reproduzido nesse momento quando falam de uma minissérie na televisão sobre o prostíbulo da Eni: “A dona Eni Cesarino morava na quadra 23 da rua Antonio Alves, esquina com a Capitão Gomes Duarte e passava todos os dias pela Padaria Elétrica, na quadra 22, onde eu trabalhava. Por volta das 7h30 chegava com seu motorista particular, táxi exclusivo, sendo deixada na porta. Ela descia do carro com uma cestinha de vime e perguntava: ‘Cadê o moreninho?’. Aí pedia pro moreninho, que no caso era eu, uma cibalena, um sonrisal e um doril, junto de um copo com água. Enquanto tomava aquilo tudo, por causa de suas enxaquecas, ela pedia presunto, mussarela, mortadela, salame, doces e uma quantidade de pães de forma. Eu colocava tudo na cestinha e ela me perguntava: “Moreninho, você leva para mim?’. Ela seguia na frente, rebolando como uma perfeita dama e eu atrás com a cestinha de vime cheia de guloseimas. Não tinha malícia nenhuma, devia ter lá pelos 14 anos e ao chegar na sua casa, ganhava um gorjeta. Isso se repetiu durante uns oito anos, essa minha única história dela comigo, eu o seu Moreninho”.
2 comentários:
Varti Netooooooo saudades de sair as 6 da manhã ouvindo ele.
Maria Inês Faneco
Ehe, Joaquim, cachorrão! Meu irmãozinho!
Duílio Duka
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