DIÁRIO DE CUBA (69) e FRASE (117)

CARTA ABERTA CONTRA O PRECONCEITO, O QUERER CONTINUAR NÃO ENTENDENDO NADA, OLHOS FECHADOS DOS QUE ACHAM O CAPITALISMO O MELHOR E ÚNICO DOS MUNDOS

Cara TELMA GOBBI
Programa “Auri-Verde e Você”– Bauru SP

Irresistível te escrever nesse momento. Ouço de vez em quando o seu programa junto com a Camila Ravanelli, das 13 à 14h, segunda à sexta, pelas ondas da Auri-Verde. Na última terça, 01/04, justamente no Dia da Mentira, não me seguro nas calças, pois sei que o proferido nos microfones não foi em tom de chacota, mentira, mas afirmações refletindo bem como pensa e age. Recordemos: “Não consigo entender como nesse Programa do Mais Médicos os médicos cubanos recebem um valor e tudo não é deles, a maior parte vai para o governo cubano. Escravidão? Como isso? Agora morreu um e qual será as condições em que estão trabalhando. Não entendo isso”, foram suas palavras.

A repetição disso em vários programas, de forma até acintosa demonstra várias coisas. Quero enumerá-las:

Claro preconceito e uma clara dificuldade em atuar ao lado desses nos vários lugares onde atuem. A Sra já chefiou equipes médicas e em suas declarações demonstra sempre algo favorável ao lado patronal dessa categoria. Nem no uso da Tribuna da Câmara vejo uma defesa das necessidades da população no quesito médico. Em Bauru vivemos situações calamitosas na questão de saúde pública e as soluções advindas dos médicos vereadores, infelizmente deixou muito a desejar, demonstrando uma inconteste afinação com o pensamento tacanho de uma cúpula médica e quase nada com a solução definitiva da questão. Isso ficou claro nos posicionamentos assumidos.

Na questão salarial dos médicos cubanos, algo muito simples, mas de difícil entendimento para quem vive assumidamente com os olhos voltados somente tendo o capitalismo como solução para tudo. Cuba é uma ilha comunista, um mundo bem diferente do que vivemos. Para quem entende o comunismo como uma anormalidade, entendível sua dúvida. No comunismo o dinheiro não é o eixo central das decisões, da vida em si e sim, o ser humano e o atendimento básico de suas necessidades e anseios. Por aqui, o deus dinheiro move tudo e não movemos uma palha sem ele estar metido nas nossas ações. Lá não. Isso o básico. Depois, um algo mais. O cidadão dentro do regime comunista não tem a mesma visão de mundo que nós temos, ele é humanista por formação, tem convicção disso, acredita nas ações coletivas e não nas pessoais, principalmente nas de enriquecimento.

O que fazem é algo muito simples. Seu país vive uma dificuldade, principalmente pelo bloqueio comercial imposto há mais de 50 anos pelos EUA, Nem por isso se vergaram. Investem o que tem e o que não tem na formação de seu povo, tudo feito de forma gratuita, sem nenhum custo aos seus. Isso em tudo, o lazer é gratuito, o transporte, a saúde, a educação, a cultura, etc. Eles não pagam para ter acesso a isso como estamos acostumados. A pessoa é criada dentro dessa concepção e aposta na continuidade disso. Ele quando vem exercer a medicina fora do seu país, como o faz mundo afora, vem em primeiro lugar ajudar humanitariamente seu semelhante (relembremos do Haiti), depois com o que o governo brasileiro paga, parte disso é naturalmente para sua subsistência pessoal e outra parte é revertida ao seu governo, para que dê continuidade nesse trabalho. Não existe mágica, tudo tem um custo e ele demonstra dessa forma, algo pouco entendível para muitos daqui, dentre os quais lhe incluo: “Mas como não querem dinheiro?”. Incompreensível isso, não Telma? Imagina o capitalista doar parte do seu salário para sua formação. Aqui, todos os que se formam gratuitamente nas escolas públicas, no dia seguinte já estão dando uma banana para quem os formou e pensando somente no tal do “mercado”.

A pior das respostas dada nesse momento para analisar o Mais Médicos e para Cuba é usando exemplos de que um ou outro desertou, outro se matou, outro quis retornar por não se adaptar. Isso não poderia em hipótese alguma vir de alguém como a senhora, conhecedora como poucos do que são índices de aprovação e reprovação, critérios, essas coisas. Num universo de dez mil pessoas, o que representam cinco, dez pessoas com problemas? Algo mais do que normal. Vejo quando usa desse argumento uma dificuldade em aceitar o programa Mais Médicos, em reconhecer que temos problemas e que os estrangeiros podem escancarara-los e demonstrar o quanto uma classe atuou e atua erroneamente junto da população. O debate sério não é feito dessa forma. Muito menos com a reprodução desse discurso tacanho e pobre pelas ondas do rádio, possibilitando mínima resposta. Dessa forma a vejo utilizando o seu espaço na rádio para reproduzir inverdades com interesses que ainda estou tentando entender, mas que num primeiro momento demonstra preconceito e dificuldade em reconhecer os erros de sua categoria profissional.

Finalizo expondo aqui algo que ainda não digeri e onde contou com sua participação, fazendo com que definisse bem um perfil de sua pessoa, o lado onde se encontra nas relações humanas, pessoais e políticas. Foi quando um grupo defenestrou numa eleição das mais esquisitas o grupo atuante no Conselho da Condição Feminina de Bauru, lá colocando outro, que até agora não disse a que veio, pois as ações daquele conselho foram estagnadas a partir de então, tudo para reacomodar uma situação política naquela instância de luta na cidade. Sua participação lá naquele momento, o uso feito do seu mandato de vereadora e agora, o que vejo sendo difundido pelas ondas do rádio, me faz tornar-se a cada dia que passa uma pessoa convicta de que não és uma boa política, pelo menos para mim, pois representa os interesses de uma classe dominante e não a da maioria da população. Vejo que poderia ser muito mais útil como médica e não como política, pois de conservadores estamos mais que cheios, ainda mais agora após as reflexões todas sobre os desmandos de 50 anos do nefasto golpe militar.

Era o que tinha para lhe dizer. Não sou dono da verdade e adoraria ser convencido do contrário, pois em tudo onde opino, o faço na esperança de surgir algo que me convença estar equivocado. Sempre aguardo por isso. Atenciosamente.
Henrique Perazzi de Aquino – Bauru SP