sábado, 19 de abril de 2014
MEUS TEXTOS DO BOM DIA BAURU (271, 272, 273 e 274)
GABO E OS QUE RESTARAM – 274º publicado em 19/04/2014
Impactante notícia dias atrás, Gabo faleceu. Gabriel Garcia Marquez, o escritor colombiano, desses a encher de orgulho esse continente. O mesmo que um dia deu um belo de um pontapé inicial para que deixássemos de ser penalizados por essa praga incutida por séculos na mente latina, a de que somos dotados de uma espécie de “complexo de vira-latas” (Nelson Rodrigues explica). Seus textos libertários, cheios de um realismo fantástico, viagens sobrenaturais e só nossas, bem possíveis para quem vive extremos bem plausíveis abaixo da fronteira do Grande Irmão do Norte. Viajamos com sua obra, sonhos possíveis e não possíveis. Ele nos ensinou que precisamos ir além do negócio de só ousar, precisamos é fazer acontecer, botar o bloco na rua e enfrentar nosso pesadelo com uma força pra lá de imaginativa. O caminho vislumbrado em sua obra ampliou caminhos, tornou possível a libertação de muitos dos grilhões nos mantendo como elefantes de circo, presos com uma cordinha a um mero toco, desconhecendo nossa força. Instigava a desatar todos os nós que nos mantiveram atados a uma cruel elite, século após século nos dirigindo da área de sua casa grande, como se fossemos meros gados. Tudo que se lê dele é contagiante. “Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma”, disse e quem entendeu o recado foi à luta e dela nunca mais saiu. Doutra feita vaticinou: “Los seres humanos no nacen para siempre el día en que sus madres los alumbran, sino que la vida los obliga a parirse a sí mismos una y otra vez", transcrito aqui em espanhol, a língua desse continente, do livro ‘Amor em Tempos de Cólera’, outro clássico. Hoje me ponho a pensar: Mas quem nessa América ainda continua na lida e cheio desse gás abridor de mentes? Hugo Chávez já se foi, Cortázar e Mercedes Sosa idem. Restam alguns. Lá do Norte penso em dois, no pensador Noam Chomsky e depois no cineasta Michael Moore. Do Caribe, Fidel Castro, hour concours. Lá do Sul, mais precisamente do Uruguai outros dois, o presidente Mujica e o escritor Eduardo Galeano. Quem mais mesmo?
O LIXO DOS FALSEADORES DA VERDADE – 273º publicado em 11/04/2014 Não acredite em tudo o que você lê, vê ou ouve na imprensa. Desconfiar faz parte do negócio e quem confirma isso é um dos próprios barões da mídia atual, o diretor de redação do jornal Folha de SP, Otavio Frias Filho, em recente texto para a revista Piauí. Num longo ensaio, o “Tribuno da Imprensa”, sobre a trajetória de Carlos Lacerda, ex-governador do Rio de Janeiro, uma espécie de paladino da direita brasileira, pinçadas aqui e ali em nove páginas, duas afirmações para lá de instigantes. Na primeira, quando comenta sobre a norma padrão de Lacerda, insinua que o mesmo procedimento é usado ad eternum, tanto em tempos idos, como em tempos atuais. “...definiu o que seria um padrão: o martelar diário de denúncias de corrupção expressas na mais injuriosa virulência”, escreve. Esse padrão, infelizmente, persiste. É um tal de propalar denúncias de corrupção só de um dos lados da questão, o dos declarados adversários desses que se intitulam os “donos do poder”. Com o poder da caneta na mão, culpabilizar por todos os males da nação somente uma sigla partidária e isentar as demais, favorecendo assim os seus interesses é só a ponta do iceberg da escandalosa manipulação. A palavra é essa mesma: manipulação descarada e contínua. Num outro trecho solta essa: “Há quem considere o jornalismo dos nossos dias engajado, parcial, faccioso, mas a imprensa do século passado não somente incidia nesses atributos, como costumava ostentá-los com desenvoltura. As apurações eram mais levianas, as reportagens eram opinativas, os jornais tomavam partido acintosamente e admitiam pouca ou nenhuma divergência em suas páginas”. Barata, insossa, inodora e insípida ironia. Primeiro porque o passado se repete hoje, de forma acintosa, em piores circunstâncias, como farsa. Parte da dita grande imprensa escolheu um dos lados e sonega, escamoteia e mente sobre a verdade factual dos fatos. Algo não só lamentável, como criminoso. Come-se gato por lebre e na maioria das vezes tudo é repetido como verdade absoluta. Abusos merecedores de punição.
ABSURDA DISPARIDADE – 272º publicado em 05/04/2014 Na abertura da sessão passada da Câmara dos Vereadores de Bauru, espaço da Tribuna Livre cedido por dez minutos à Comissão da Verdade, seu coordenador Carlos Roberto Pittoli disse algo intrigante. Cita algo percebido décadas atrás na vizinha Iacanga, pequena cidade de 10 mil habitantes, área de 547 kms quadrados, quando por lá trabalhava sua esposa e visitava frequentemente suas praças e bares. “O município possuía entre grandes e pequenas, aproximadamente 700 propriedades. Num salto de 30 anos, recente levantamento, o número atual é de 300”, afirmou. A disparidade da comparação merece uma tese, estudo aprofundado e reflete não só o que lá ocorre, como no país num todo. A concentração de renda foi acelerada. Preocupante, pois o pequeno proprietário, seja ele rural ou mesmo o de um pequeno imóvel na área urbana está sendo ano após ano engolido. Sufocado, sem espaço, sem condições de continuar mantendo algo seu, esse abre mão, vende o que até então possuía e na maioria das vezes na denominada “bacia das almas”. O grande cada vez engorda mais seu patrimônio e o pequeno emagrece. Novidade nisso? Nenhuma. Tanto que o Brasil é hoje campeão no quesito desigualdade social, índices alarmantes de concentração de renda. Uns poucos possuem demais e a imensa maioria de menos. Absurdo merecedor de rígido combate, escárnio público. Não temos mais como avançar, obter índices de crescimento positivos sustentando no colo uma situação de disparidade e injustiça social tão alarmante. Daí quando se observa os Sem Terra, Sem Tetos e os Sem Condições ocupando ruas e praças alguns ficam de orelha em pé. Eles estão somente atrás do seu perdido quinhão, de direito e de fato, nesse bolo todo. Na força da união algumas reconquistas ocorrem, sob muita pressão, uma linguagem entendida por todos. Se o restabelecimento do ordenamento distributivo não ocorre por bem, que se faça com mobilização, organização de objetivos, estratégia, luta e ação. Do contrário, a disparidade hoje observada em Iacanga continuará sendo o padrão no hoje e no amanhã.
MENTIRA GOLPISTA AINDA INSEPULTA – 271º publicado em 29/03/2013 Aldir Blanc e Cristovão Bastos lapidaram linda letra, samba cantado magistralmente por Paulinho da Viola, “50 Anos”. Reparem nisso: “Eu vim aqui prestar contas/ De poucos acertos/ De erros sem fim/ Eu tropecei tanto as tontas/ Que acabei chegando no fundo de mim/ O filme da vida não quer despedida/ E me indica: ache a saída/ E pede socorro onde a lua/ Que encanta o alto do morro/ Que gane que nem cachorro/ Correndo atrás do momento que foi vivido...”. Isso, cantado por eles para comemorar um aniversário, cai como uma luva para uma data sendo lembrada no dia 1º de Abril, exatamente no Dia da Mentira, a dos 50 Anos do Golpe Militar. Todos nós devemos em certos momentos de nossas vidas, mais que tudo, prestar contas, enxergar os tropeções, as pisadas na bola, chegar ao fundo de si mesmo e de lá achar a saída, a mais honrosa possível. Não há demérito nisso. Fazer um “mea culpa” de erros e acertos é algo mais do que necessário, honroso, coisa de gente briosa, que não quer mais errar, nem continuar pisando na bola a vida toda. Pois os militares brasileiros erraram feio no que fizeram e propiciaram ao país em 64 e até hoje não tiveram a hombridade de ao menos reconhecer alguns dos seus erros. A história cobra isso deles e continuam fazendo ouvidos de mercador. Certo que nada fizeram sozinhos, pois foram instigados, instrumentalizados por uma cruel elite, a mesma que tentou reviver uma triste marcha, a da Família com Deus e pela Propriedade. Dessa inconsequente união, tivemos quase 20 anos de desmandos, exercício pleno do autoritarismo, prepotência e descalabro em todos os níveis possíveis e imagináveis. Atroz retrocesso. Enquanto não se desvencilharem desse peso sobre os seus ombros não estarão quites com o país. A tropa atual das Forças Armadas possui pensamento mais arejado, jovial e menos carcomido pelo tempo, pensam diferente de uma elite militar envelhecida em todos os aspectos, principalmente nesse de se fechar em copas. O país precisa avançar e seus militares reconhecerem erros cometidos no passado. Essa uma ferida ainda não cicatrizada, chaga aberta, defunto insepulto e só eles podem resolver de vez a questão.
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