BAURU POR AÍ (104)

A ÁGUA FALTOU E A DO RIO BAURU PODE SER DISTRIBUIDA DE BALDE

O calor voltou com força total e com ele algo inevitável, a escassez da água. Racionamento é uma palavra que ainda não era plenamente entendida pelo bauruense, mas nesses últimos dias está sendo enfiada goela abaixo de todos e a fórceps. Por dois dias seguidos a água não está racionada, está simplesmente não existindo. Eu, sortudo como sempre tenho o privilégio de residir nas margens do famoso e caudaloso ribeirão Bauru e dele, além do cheiro, nada melhor do que desfrutar desse maravilhamento quase no portão de casa. Esquentou o dia posso andar cem metros e molhar as canelas dentro do rio. Hoje, quando as torneiras estavam soltando vento e o calor beirando os 40º, sabe o que fiz? Peguei um balde e fui até as margens do rio enchê-lo para consumo em minha residência. E mais, diante do agravamento da situação na cidade estarei montando uma barraca aqui na esquina e distribuindo água (quase) potável. É uma forma saudável e grande demonstração de solidariedade entre bauruenses, principalmente os daqui da beira do rio, privilegiados, oferecendo o seu quinhão para amenizar o sofrimento coletivo.

Dito isso, vejamos isso. O dileto governador Alckmin comprova ter mentido para a população sobre a falta de água na capital paulista. Conseguiu esconder e enganar os incautos até vencer o pleito, depois menos de uma semana vem alguém responsável pela água no estado e diz que em menos de um mês SP estará completamente sem água. Em Bauru, a situação talvez não seja tão crítica, mas beira o alarmante, pois acredito nunca se tenha chegado a uma situação como a dessa semana. O que falta para as cidades brasileiras? Planejamento a curto, médio e longo prazo é a resposta. Gostaria de conhecer o planejamento do estado de SP e o de Bauru para sanar e resolver essa questão. Eles existem? Existindo, o que foi feito para sua concretude? Cadê os catedráticos do DAE, os estudiosos da questão da água, os responsáveis pelo setor dentro da autarquia bauruense, regiamente pagos para prever e fazer algo exatamente para que a cidade não passe por situações como as ocorrendo nesse momento?

O brasileiro num todo é um povo que acaba se cansando das promessas e reage de forma até irônica para algumas situações. Na capital paulista recentemente foi vista diante do maior esgoto a céu aberto brasileiro, o rio Pinheiros, uma obra de arte com um trampolim de piscina e uma pessoa pronta para mergulhar dentro do rio. Quem passava às margens do rio tinha a nítida impressão de estar diante de uma pessoa em carne e osso e pronta para cometer um verdadeiro suicídio. A instalação do artista plástico Eduardo Srur demonstra ali com sua instalação uma maneira repugnante, mas eficaz de se despedir da vida. Vivo um momento aqui em casa onde a avenida Nuno de Assis está de pernas para o ar, tudo para que os novos emissários do esgoto sejam implantados. A cidade aplaude, mas aguarda ansioso também pelo tratamento de esgoto, tão prometido, verba já conseguida e obra nunca iniciada. O que ocorre na questão da água não pode e não deve seguir pelo mesmo caminho, pois do contrário teremos que ir além de distribuir água do rio Bauru para o povo bauruense. Aí teremos que, de fato fazê-lo.