quarta-feira, 29 de outubro de 2014

FRASES DE UM LIVRO LIDO (84)


GALEANO NO “NÓS DIZEMOS NÃO” RENOVA AS ESPERANÇAS DAS POSSIBILIDADES DE OUTRO MUNDO
Num momento onde viceja país afora a intolerância e o preconceito bate as raias da anormalidade mórbida, nada melhor do que ir aos alfarrábios em busca de leitura palatável. Para esses momentos recorro a um dos maiores escritores da América Latina, o uruguaio EDUARDO GALEANO e num velho caderno guardado aqui no mafuá, vou revendo uma a uma frases anotadas por mim do livro, “NÓS DIZEMOS NÃO” (EDITORA Revan, RJ, 1990), que tive o prazer de ler em 2008, quando o emprestei (e devolvi, viu!) de uma biblioteca pouco conhecida, a do antigo Centro de Memória RFFSA/UNESP, hoje só Centro de Memória Ferroviária. Eis as frases, que quando lidas com os olhos voltados para nossos dias, caem como uma luva nessas ávidas mãos em busca de uma explicação dos motivos de tanta iniqüidade:

- “A cultura dominante, que os grandes meios de comunicação irradiam em escala universal, nos convida a confundir o mundo com um supermercado ou uma pista de corrida, onde o próximo pode ser uma mercadoria ou um competidor, mas jamais um irmão. Essa cultura mentirosa, que grotescamente especula com o amor humano para arrancar-lhe mais-valia, é na realidade a cultura do desvinculo: tem por deuses os ganhadores, os exitosos donos do dinheiro e do poder, e por heróis os rambos fardados que cuidam de suas costas aplicando a Doutrina de Segurança Nacional”.
- “A banca internacional se preocupa com a liberdade do dinheiro, não com a liberdade das pessoas. (...) Fecham-se os cofres aos governos do Terceiro Mundo que querem transformar a realidade em lugar de administrá-la”.
- “Quem cria o doente vende o remédio. Duvidosa receita, essa sangria que diz curar a anemia. O remédio é outro nome da mesma doença: novos empréstimos pagam velhos empréstimos, e a dívida se multiplica misteriosamente”.
- “Assim estamos: cegos de nós, cegos do mundo. Desde que nascemos, somos treinados para não ver mais que pedacinhos. A cultura dominante, cultura do desvinculo, quebra a história passada como quebra a realidade presente; e proíbe que o quebra-cabeças seja armado”.
- “Cada pessoa pode morrer uma vez só, pelo que se sabe, mas as bombas nucleares armazenadas permitiriam matar cada ser humano doze vezes”.
- “A burocracia está empenhada em transformar a vida cotidiana das pessoas numa subida ao Gólgota”.
- “Cada vez é maior a distância entre a imensa maioria que necessita muito mais do que consome e a mínima minoria que consome muito mais do que necessita”.
- “A cada dia nos ensinam a resignação. A cada dia aprendemos a resignarmos para poder sobreviver. Faz pouco tempo, numa parede de um bairro de Lima, um aluno rebelde escreveu: ‘Não queremos sobreviver. Queremos viver!’. Ele falava por muitos”.
- “Os pobres vendem jornais que não sabem ler, costuram roupas que não podem vestir, lavam e polem carros que nunca serão seus e erguem edifícios onde jamais irão morar. Com seus braços baratos, eles oferecem produtos baratos ao mercado mundial”.
- “No mercado livre é natural a vitória do forte, e é legítima a aniquilação do fraco”.
- “Somos todos convidados ao enterro mundial do socialismo. O cortejo fúnebre abriga, pelo que se diz, a humanidade inteira. Confesso não acreditar nisso. Esses funerais se enganaram de morto”.
- “O sistema imperial de poder não quer países democráticos. Quer países humilhados. (...) Simetricamente, com razão dizem por aí que os EUA estão a salvo de golpes e ditaduras militares porque nos EUA não existe embaixada dos EUA”.
- "Este é o meu depoimento. De alguém que crê que a condição humana não está condenada ao egoísmo e à obscena caça ao dinheiro, e que o socialismo não morreu, porque ainda não era: que hoje é o primeiro dia de uma longa vida que se tem para viver”.

QUER COISA MAIS ESTIMULANTE PARA AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS QUE LER ALGO DESSA NATUREZA?

MUJICA CONTINUA DANDO O TOM...
A eleição do Uruguai também terá 2º Turno. Mujica não pode concorrer, pois no país vizinho não existe reeleição. Ele, o "mais pobre presidente em exercício", o mais liberal, o menos pragmático, o mais simples, o menos bestificado, demonstra continuar mais lúcido que nunca. Continuará na vida pública, como senador e diante da campanha já iniciada para o 2º turno demonstra preocupação com algo bem em evidência por lá, como por aqui, nesse torrão tropical brasileiro: "A imprensa não pode se achar acima do bem e do mal. Não pode querer escapar da aplicação da lei". Essa sua fala pode muito bem ser trazida para cá e demonstra que isso não tem nada a ver com fim da liberdade de expressão ou de imprensa, mas diz muito sobre a responsabilidade do que se publica, como se publica, com quais interesses e a mando de quem. Ler a entrevista dele ao jornal diário Página 12 e publicada na edição de hoje é para lavar a alma e constatar que, tanto lá como cá, está chegada a hora de uma bela de uma revisão na licenciosidade promovida de forma irresponsável pelos detentores da maioria dos meios de comunicação. Leiam a entrevista clicando a seguir:
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-258591-2014-10-29.html

5 comentários:

Anônimo disse...

Nem tudo o que se prega na teoria é frutificado na prática, pois p/ se fazer valer uma condição é necessário, estudar, lutar, conquistar, trabalhar muito, investir, abrir mão de outras benesses pessoais para atingir um objetivo e isso pela regra geral da seleção natural do ser humano, só poucos se prestam a enfrentar, por isso o justo é cada qual conquistar por seus próprios méritos, não esperar que os outros os façam por nós, daí a diferença do progresso de uma nação com os EUA e da ruína de outras como URSS que se curvaram para a realidade, p/ mim o melhor regime é aquele que se tem governante honesto e que literalmente trabalhe para o bem estar de toda uma Nação, gostaria que me apresentassem só um exemplo de governante de regime autoritário, comunista/socialista que não vive em palacete em detrimento de condição desumana de seu povo, e por isso que entendo que o melhor caminho é dar oportunidade e meios de prosperar aos desfavorecidos socialmente, não com a hipotética ilusionista "distribuição de rendas", mas sim a distribuição de meios e condições sociais dignas e administrativas e por conseguinte a tranquilidade aos que já conquistaram algo!
CLAUDEMIR f. SANDRIN

Anônimo disse...

O que se vê na verdade, é que existem duas realidades para definirmos e distinguirmos boa parte dos eleitores simpatizantes do PT de seus governantes. O que pregam seus militantes mais ortodoxos é uma realidade ufanista de um modelo social e de governo, totalmente distante e antagônico do que, na prática realiza seu governo, ou seja, o discurso da militância moralista é o da Ineptocracia em face dos "menos favorecidos" em detrimento da verdadeira classe trabalhadora, aquela que produz, que gera divisas ao País,sem de fato, receber quase nada em troca, à custa de impostos extorsivos e abusivos, enquanto na prática, a vida da realeza, do alto clero, da cúpula do poder, em sua forma de viver e se enriquecer, isto sim é qualquer coisa semelhante aos mais abastados e tradicionais sistemas capitalistas do mundo. Fazer cortesia com chapéu alheio, ainda hoje, é uma prática rendosa e costumeira neste País.
J Antonio Parisi C Moreira

Mafuá do HPA disse...

Entendam alo, em algum momento não deixam de ter razão, mas no caso de quem ainda sonha com um mundo mais justo, sem todas as desigualdades mais do que evidentes nesse nosso falido modelo capitalista, seria muito mais difícil fazê-la dentro de um governo como o de Aécio, pois privilegiaria o neoliberalismo sádico, um que expropria a força de trabalho do trabalhador e não lhe dá em troco quase nada e faz tudo para a iniciativa privada, predatória e acumulativa. Já, num governo como o de Dilma, que já caminhou, já cumpriu algumas etapas sociais, bem mais fácil, palatável buscar conseguir conquistar mais e mais para essa imensa massa de desvalidos, de gente apartada, dos trabalhadores. Com Aécio o retrocesso seria algo doloroso demais para o país, com a interrupção de todos os projetos sociais em troca de favorecimento ao dito mercado financeiro e seus asseclas. Não existia nenhuma possibilidade de alguém pensando num outro mundo mais palatável em aderir a esse projeto elitista tendo o tucanato como seus expoentes. O Brasil segue mais liberto e com uma maior possibilidade de atender mais os anseios populares. Ler e refletir o que está embutido na escrita de alguém como o Galeano é mais do que um aprendizado. Só de discutirem isso já é um avanço.
Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

A intenção é boa caro Henrique, mas utópico, tão provadamente utópico que já deixou de existir esses regimes em boa parte, os que insistem estão quebrados e lesando o povo, com exceção da China que é a potência capitalista emergente às custas da exploração do seu povo e, não se pode afirmar que Aécio faria ou não isso ou aquilo, até pq apresentou seu plano de governo e insistentemente garantiu que continuaria e até aprimoraria os projetos sociais iniciados por FHC e intensificado por Lula e Dilma e ainda preocupado com a reestabilização econômica estagnada até então, o discurso agora da Presidente é estreitar relação com os EUA, e é óbvio, pois percebeu que já está em curso o retorno do crescimento por lá, e que isso reflete no mundo todo, então agora a bola da vez é ficarmos amiguinhos do poderoso, e não há outra saída, pq são competentes e sempre provaram isso, capitalismo não depende de condição geral, depende da vontade de cada um, uns preferem acomodarem-se e receberem bolsas( aí sim já é o resquício do socialismo), e outros vão à luta!
Claudemir F. Sandrin

Mafuá do HPA disse...

A utopia está aí para ser sonhada e em alguns casos superada, conquistada e é isso que faço nas 24h do meu dia. O capitalismo já provou mais de uma vez ser algo falido, onde as igualdades buscadas nunca serão possibilitadas. Daí, não me serve e nem aos interesses da maioria, ou seja, do dito zé povão.