sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (68)


EU E OS CUSPIDORES DE FOGO - JÁ SEI ONDE ME ESCONDER
Sexta, 20/02, Carnaval acabou na quarta, mas seus resquícios ainda pairam no ar. Sigo respirando algo dele, sintonizado nessa estação, como quem não quer começar a pensar em coisa séria. Percebo um retorno, ainda lento, mas eivado de muito ódio, pairando no ar versando sobre a situação atual do país. Fui trocar a bateria do carro na quarta pela manhã e na loja um clima tenso. O dono ouviu, recebeu uma ligação e transmitia a todos que a poupança havia sido confiscada. Disse ser mentira. Ele me olhou de esgueio, como se ainda fosse possível a existência de alguém que acreditasse que ela não o seria. Ele todo nervoso, cuspindo fogo e eu calmamente lhe pergunto: “O sr possui algum guardado na poupança?”. Disse que não e emendei na lata: “Não conheço mais ninguém que o tenha. Então me faça o favor, troque minha bateria e esqueçamos isso, pois tudo continua como dantes nesse varonil país”. Enfezado e contrariado, fez seu serviço, como que torcendo para que a poupança tivesse sido mesmo confiscada para poder gritar em alto e bom som. O grito que na verdade nem é o dele, mas insuflado por outros, quem grita é ele.

Os CUSPIDORES DE FOGO parece que estão botando as asinhas de fora novamente. Nem esperam a gente acabar de tirar os confetes da boca e já estão procurando sarna para se coçar. Tem um aqui no botequim perto da linha que já perdi a paciência com ele. Quer me convencer e ao distinto público no balcão que, Dilma foi quem secou a Cantareira, tudo para gorar a imagem do Alckmin. Não adianta querer explicar o contrário. Para ele só o “impitimão” vai resolver a pendenga. Tentei uma só vez insinuar sobre essa perigosa arma de insinuação sem o apoio de provas e o cara queria quebrar uma garrafa de cerva na minha testa. Sai de perto. Vale tudo, especulação total. Cabeça feita pelo avesso é pouco para explicar o clima de quase paranoia tomando conta de quem não deveria estar fazendo um jogo que, decididamente não é o seu. Querer explicar que esse é o país da impunidade, onde uns vão presos e outros nem a julgamento irão é o mesmo que comprar briga.

Querer falar que essa dita crise não começou aqui e nem vai acabar aqui é como querer secar o oceano com um conta gotas. Poucos se interessam por isso. Falar em consequências de um neoliberalismo globalizado e tudo sendo propagado e amparado pela evidente desonestidade orgânica da mídia nativa é querer muito. “Então o sr não acredita no que diz os jornais?”, me diz o gaiato na fila do banco. Eu peço licença e digo que tenho que acabar de ler um artigo na revista e lhe viro as costas. Não discuto mais nessas circunstâncias. Nela está lá uma frase para se pensar: “triste sina a de um país que parecia tão perto da apoteose e hoje flerta com o rebaixamento para o segundo grupo”. E por que disso? Pudera, me diz Jean Wyllys, hoje o melhor deputado dentro do parlamento: “Estão reforçando a bancada do BBB –bíblia (evangélicos), bala (indústria armamentista) e boi (agronegócio). É terrível ter que conviver diariamente com parlamentares cada vez mais agressivos”. Aqui fora está a mesma coisa.

A mídia não perdeu tempo esse tempo todo. Como reais opositores, perderam, mas tentam ganhar a partida no tapetão e agora insuflam a criação de um movimento. Ainda na minha revista mais uma frase de efeito: “Quando eu vejo o mercado satisfeito, tenho arrepios” e mais outra, essa profética: “Os golpes, não é de hoje, costumam ser fabricados no meio jurídico”. Claro que o impeachment é golpismo, mas isso pouco importa para alguns, pois os meios justificam os fins (ou seria o contrário?). Se não vai por bem, vai por mal e tudo bem, o meio jurídico vai dar um jeito de dar uma bela conotação de legalidade no final das contas. Na banca de revistas, levo um petardo. O jornaleiro me diz que tudo são favas contadas e que devo me esconder. Falou que quem defende o que aí está vai ser cassado, perseguido e até judiado em praça pública. Pregava contra o comunismo e lhe perguntei assim do nada: “Me diga, eu não sei, o que é mesmo socialismo?”. No meio de tantas revistas, não lê nenhuma, só as manchetes das de sempre. Já decidi, arrumo as malas e fujo domingo cedo, indo me amoitar na REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DA FEIRA DO ROLO. “Lá sou amigo do rei/ Aqui eu não sou feliz/ Lá a existência é uma aventura/ Na Feira do Rolo tem tudo/ É outra civilização”.

OBS.: Minhas escusas aos profissionais cuspidores de fogo, atuando em praças e circos variados. Nenhuma referências a tão digna profissão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tal qual... este é o clima vigente, replay saudoso e indigesto da Marcha da Família de meio século atrás...
Margarida Mendes - Botucatu