terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (155)


AREALVA, O PARAÍSO DO NOVO MOMENTO DO TRABALHO NO PAÍS - MASSACREMOS OS POBRES
Que o país mudou para pior isso é mais do que consenso. Com a derrocada das leis trabalhistas, olhando por esse viés, o desamparo e um retorno ao passado medieval, onde o pobre labutava sem parar, sem nenhum amparo e consideração, isso hoje se repetindo como farsa, vã tentativa dos ditos "modernos" empresários disfarçar a forma como encontraram para ganhar muito grana nesses novos tempos, dando sonora "banana" para os trabalhadores. Cito um caso como exemplo, algo pelo qual vi com meus próprios olhos e estarrecido, imagino seja o mesmo se repetindo no restante do país.

Arealva é uma pequena cidade nas imediações de Bauru, pouco mais de 20 km daqui e com um pequeno polo industrial na entrada da cidade. O Distrito Industrial abriga poucas fábricas e numa delas, a que cito aqui, sem citar nome, mas exemplificando a prática, algo estarrecedor. Uma fábrica de roupas de cama, mesa e banho vendendo para as grandes magazines do país e do exterior, produção em alta, envolvendo muitos trabalhadores, a maioria sem amparo na legislação trabalhista, ou seja, sem registro de carteira. Pelo que ouço, não existe mais fiscalização e desde o advento do conluio golpista de 2016, quem manda em tudo são os empresários, aqui, ali e acolá. Registram quem querem e desquerem. Mas isso não é o pior. Os trabalhadores atuam por produção, seja na confecção, preparação das embalagens, ou seja, todas as etapas e ganham pelo que conseguem produzir. Muitas vezes mal conseguem chegar ao salário mínimo. A pressão é grande e ontem, circulando pela cidade no começo da noite vejo um barracão aceso e lá dentro muitos trabalhadores. Na praça central me contam: "Eles ficam lá até conseguirem chegar na produção estabelecida, muitas vezes vão em turno até 1h, 2h da manhã e no dia seguinte, tem que cumprir o horário normal, começar bem cedo. Nem sei como descansam. Você viu um, mas são vários barracões".

Esses são os tais patrões modernos, esses os empregos disponíveis no mercado atual, é pegar ou largar. Reclamar está cada vez difícil, pois nem sindicato, quanto menos fiscalização, enfim, como diz e quer o presidente miliciano Bolsonaro, "pegavam muito no pé dos empresários". Hoje, pelo que se vê não se pega mais no pé desses e desde então, fazem tudo ao seu modo e jeito, sem dó e piedade. Pelo relato do senhor lá na praça o que ocorre na cidade em algumas empresas é o mesmo que ocorria na Idade Medieval, quando o trabalhador penava de 12 a 16 horas diárias, recebendo o que o patrão achava que devia pagar. Essa a modernidade não só em Arealva, mas no país num todo. Quando a burguesia brasileira não está toda unida em torno de um projeto rentista, o faz por essa forma desumana no trato para com o semelhante. Na verdade, isso nada mais é do que a guerra decretada contra o povo brasileiro, sendo esse quem paga a conta da saída da tal crise.

Em poucos minutos ouvi histórias de arrepiar os cabelos e, tomara não seja esse o procedimento usual, normal e rotineiro de toda a cadeia empresarial na cidade, quiçá país. Onde estariam os empresários ainda atuando dentro da antiga legislação, ganhando o seu, mas respeitando os direitos dos trabalhadores? Resta ao trabalhador, num desamparo de dar pena, a resignação, pois esse mesmo senhor me conta dos poucos empregos oferecidos na cidade e quando o trabalhador não aceita as condições agora impostas, se vê desempregado e na rua da amargura. Senti a cidade mais triste, macambuzia, sorumbática e uns poucos, os que ganham muito com a nova situação e condição, esses cada vez mais senhores de si, impolutos cidadãos, futuros políticos da cidade e pela influência, os tais donos do pedaço. Saio de lá e volto pensando pela estrada sobre o país que tínhamos e o que temos. Será isso mesmo o melhor para o país? Com o trabalhador cada mais miserável, acuado e menosprezado, com seu poder de consumo muito reduzido, qual o resultado disso tudo?

Escrevo como forma de denúncia dos que nada podem fazer, dos que acordam e trabalham, suam o dia inteiro e no final do dia, voltam para suas casas, ouvem o que a TV lhes mostra como certo, dormem e reiniciam tudo no dia seguinte. Não possuem tempo nenhum para contestar, pensar, agir, pois até o tempo hoje lhes é escasso. Sei que, a mesma situação se repete por todos os lugares, sendo esse tipo de empresário os apoiadores do desGoverno atual, os que dão sustentação para o que aí está, apostando na modernidade que, na verdade é um revival ao de pior já tivemos. 

Pioramos em tudo, inclusive no trato para com os trabalhadores, pois nem respeitar a legislação existente já é mais possível. Pois então, que se tenha início ao novo lema: "Massacremos os pobres".

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