sábado, 1 de fevereiro de 2020

COMENTÁRIO QUALQUER (199)


A CHUVA, O SORVETEIRO E SUA BUZINA
Choveu muito por esses dias na aldeia bauruense e numa das poucas tréguas, ainda garoando, pingos por todos os lados, tudo ainda molhado, eis que ouço uma buzina conhecida, anunciando um sorveteiro nas imediações. Saio na janela do 12º andar onde moro e o vejo cruzando a praça, essa vazia naquele momento. Ele insiste no aperto da buzina, vã tentativa de ser entendido, mensagem cifrada sendo passada e do outro lado, pouco improvável para os que ouvem o chamado, não o entenderem. Mesmo com toda adversidade ele continua insistindo e cruzando a cidade, buscando vender seu produto. Existe uma legião, cada vez maior, dos que não podem parar, mesmo diante de toda intempérie e adversidade, a roda de suas necessidades clama para que insista, saia à luta e se mostre. São tantas e tamanhas as diferenças nesse desigual pedaço de mundo, algo a corroer por dentro e por fora os ainda sensíveis, mesmo diante de tanta insensibilidade e perversidade, obra cada vez mais sendo aplicada como regra nos tempos atuais.
Eu não só o olho, como desço correndo e ao chegar lá embaixo na praça ele já não mais estava. O localizei pela buzina, essa já indo longe. Fui ao seu encontro, a garoa caia. Trago uma quantidade de sorvetes e tento puxar conversa, ele resoluto me diz:

- Eu sei que não deveria estar nas ruas hoje, mas tenho que estar, pois é o que faço, esse o meu sustento. Isso para mim não é um bico, é meu ganha pão. Buzino para ver se saem de suas casas gente como o senhor.

Esse o mundo onde vivemos, sem tirar nem por.

EMPRESÁRIO, SEUS IMÓVEIS DE PORTAS FECHADAS E A NEGOCIAÇÃO NO REAJUSTE DE ALUGUEL - ALGO EM CURSO
Conhecido empresário bauruense, este com mais de doze imóveis só na região central da cidade, pensamento e linha de ação conservadora, acaba de fazer uma negociação das mais pertinentes, dentro do novo momento econômico do país pós golpe de 2016 e desGoverno Bolsonaro. Tido e visto como dos que não negociavam em hipóteses nenhuma sobre rebaixar valores de aluguel, teve alguns dos seus fechados, pois inquilinos vieram lhe propor negociação dentro das dificuldades naturais do país de pernas para o ar, porém, sempre preferiu apostar em nunca permitir ter o valores dos alugueis reduzidos. Sentiu na pele por suas decisões e a maioria dos que deixou o inquilino ir sem concretizar a negociação estão hoje já há meses fechados e sem procura para aluguel. O mercado está retraído, contido e o que mais se vê hoje são portas fechadas e placas informando de imóveis disponíveis para aluguel. Por esses dias, diante da procura de mais um desses, pagando aluguel de R$ 4.500,00 na região central, chegam com a proposta de não ser mais possível manterem as portas abertas no local pagando esse valor.
Nas contas feitas o máximo que conseguiriam pagar seria R$ 3.000,00. O empresário muito matutou, de início ficou de pensar, juntou os pauzinhos, consultou os oráculos, dizem ter discutido esse assunto com amigos lá no Serpentário do BTC e a conclusão mais plausível foi a de, pela primeira vez e diante das circunstâncias futuras onde a recessão não tem previsão de nenhuma melhora, cedeu e desde então, novo contrato feito, o aluguel teve sua mensalidade rebaixada em R$ 1.500,00. E, assim, aquele que, apostava no novo momento do país com a chegada do seu Jair, o da casa 58 ao poder, da boca pra fora continua não dando o braço a torcer, mas quando o assunto são seus negócios, não teve outra saída, cedeu, pois já vislumbrava mais uma porta fechada e despesas correndo solta por sua conta e risco. Preferiu não arriscar, enfim, macaco velho, olhos de lince quando o assunto são seus negócios e já tendo arriscado demais, preferiu seguir o velho deitado: mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Até o momento não capitulou, mas a ficha já está caindo.

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