segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

FRASES DE UM LIVRO LIDO (195)

SUFOCO

DUAS HISTÓRIAS COM A CARA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, ONDE ME ENCONTRO


HISTÓRIA UM -
Todos sensatos sabem que os Estados Unidos querem se passar como os donos do pedaço, mandando e impondo suas condições. Tudo bem que, para você querer ir lá tenha que se submeter às condições impostas por eles para adentrar aquele território, mas existem convenções universais e algumas eles extrapolam ao seu bem prazer, sem se importar se isso acarrete problemas ou algo parecido. Uma dela, dentre as mais singelas, dentre tantas outras mais escabrosas eu vivenciei dias atrás quando no Aeroporto de Guarulhos, estava pronto para embarcar num vôo da Latam, via Los Angeles. Todos perfilados, chamada sendo feita e um funcionário da empresa érea avisa que, antes do embarque, de forma aleatória seriam escolhidos algumas pessoas para nova vistoria, uma norma exclusiva dos EUA. Havíamos todos por alí acabado de passar pelo setor que executa este serviço, mas isso não basta para o norte-americano. Seu Governo exige um algo mais, mas quando isso é exigido deles no exterior, batem o pé e se bobear não cumprem nem que a vaca tussa. Estava no meio da fila e ia observando as escolhas. Chegaram em nós e como já esperava, Ana Bia, negra foi uma das escolhidas. Ela segue para o reservado e me pedem para esperar do lado de fora. Algo em torno de uns 5 a sete minutos e ela sai se ajeitando. Não reclama, diz não ser nada com os negros, mas o pisca alerta já estava mais do que ligado. Não sei como posso qualificar essa nova abordagem, feita creio eu, em aproximadamente umas 10 a 15 pessoas, dentre quase 200 naquele vôo, mas considero tudo um abuso, ou melhor, um acinte. Quero crer vivamos num país livre, porém, a liberdade para os EUA é bem ao seu modo e jeito. Isto é só o começo.

HISTÓRIA DOIS - Descemos em Los Angeles e o setor de imigração norte-americano foi impecável, sem nenhum problema para adentrar o país. No guichê onde nos apresentamos, eu e Ana, um baita negão, simpático e sorridente, finalizando tudo com um Merry Christmas. Achei até que havia pego pesado demais na consideração que fiz acima. Pois bem, isso durou pouco. Ficamos pouco tempo neste aeroporto, pois nosso destino final seria San Francisco e o vôo realizado pela empresa Delta. Entramos na fila e passaríamos por nova vistoria, inclusive com raio X nas malas de mão e bolsos. Achei tudo seria normal e fiz o procedimento elementar, pego uma bandeja, tiro o computador, celular, moedas, chaves, boné e começo a coisa. O cara, desta feita muito duto, implacável e rude, exige mais e mais. Quer espiar tudo o que tenho nos bolsos, pede para ir tirando tudo. Enquanto isso a bandeja já está longe, do outro lado e Ana, na minha frente, em nova inspeção de rotina, dentro daquelas ditas como normais. Eu fiquei para trás e o cara não me permitindo passar pelo Raio X. Descobre uma bolsinha no meu bolso traseiro e pede para colocar noutra bandeja. Asssustado, diria mesmo, desnorteado pela grosseria, coloco sem tirar seu conteúdo, dois cartões de crédito liberados para uso nos EUA. Coloco e só daí, entro no Raio X e lá mais uma demora, pois falo um inglês pífio. Consegui sair e fui em busca de minhas coisas. Ana já havia reunido quase tudo. Sentamos, me visto novamente e saímos em busca de algo para comer. Quando me dou conta, cadê meu carregador de celular. Sumiu. Logo a seguir o pior, cadê a carteira com os dois cartões de crédito. Sumiram. Voltamos, argumentamos e nada. Com os que nos inspecionaram, nada. Um outro, noutro setor, tenta nos ajudar, aciona aqui e ali mas já era tarde. Cancelamos a seguir os dois cartões e compro novo carregador, mas não me sai da memória o trato, o jeito peculiar como fomos tratados. E tudo não na entrada do país e sim, num vôo interno. Pode ser exista o mêdo de algo ocorrer, afinal quem apronta mundo afora, deve temer um retorno, porém, vivenciei excessos. Chego em San Francisco, tudo bem, pegamos nossas malas e vamos para o hotel, levados por um taxista, boca fechada e das poucas vezes em que tentamos fomos rejeitados. Na despedida, tentamos ser agradáveis e um cumprimento natalino. Ele nem desce para me ajudar tirar as malas, mal descemos acelera e some na curva da esquina. No mais, tudo anda muito bem por aqui. Nem todos agem do mesmo jeito e encontramos gente agindo do lado oposto, nos recepcionando muito bem. Se uma mão lava a outra, não sei, mas o que sei é da existência de uma soberba e um trato exagerado, passando dos limites. Todo ser humano gosta de ser bem tratado e quando não o é, isso pode gerar não só desconforto, mas reações negativas. Vida que segue. No momento, eu e Ana Bia desfrutando de quatro dias em San Francisco. Veremos o que vem pela frente. Toc toc toc.

E POR FALAR EM ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA...

“–Na nossa cidade distribuíram alguns papéis... laranja, que diziam que era preciso muita gente para trabalhar na colheita.

O jovem riu-se.
- Dizem que estamos aqui trezentos mil e aposto que todas as famílias já viram esses papéis.
- Sim, mas se eles não precisassem de pessoas, por que se dariam ao trabalho de distribuí-las? (... )
-Olha – disse o jovem. Suponha que você oferece um emprego e só tem um cara que quer trabalhar. Tens que pagar o que ele pedir. Mas coloque 100 homens (... ) interessados no emprego; tenham filhos e tenham fome. Que por dez míseráveis centavos possa comprar uma caixa de papas para as crianças. Imagina que com cinco centavos, pelo menos, você pode comprar algo para as crianças. E você tem 100 homens. Ofereça-lhes cinco cêntimos e eles matam-se uns aos outros pelo trabalho. (... ) Por isso eles distribuíram os papéis. Você pode imprimir uma burrada de papéis com o que você economiza pagando 15 centavos por hora por trabalho no campo.”
- John Steinbeck | “As uvas da raiva” (1939)
Faleceu em Nova Iorque em 20 de dezembro de 1968
Nota: "As uvas da raiva" é a obra que retratou a grave crise económica que atingiu os Estados Unidos nos anos 30. Ali Steinbeck relatou a pobreza, desigualdade e miséria do momento. Vemo-lo neste fragmento, que fala sobre como o excesso de mão-de-obra possibilitou contratos por salários ridículos. Desde Hermeneuta a recomendamos tanto pelo seu valor histórico como pela requintada prosa do seu autor. A propósito, por causa desta peça, Steinbeck foi ameaçado de morte e na sua cidade natal tornaram a vida tão difícil que decidiu emigrar. De vez em quando eles até se reuniam para queimar suas obras. Hoje em dia, porém, há um centro lá que honra sua memória.
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