domingo, 10 de dezembro de 2023

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (181)


COMEÇA A ERA MILEI NA ARGENTINA, UMA CARTA RECEBIDA E COMO ESTE HPA ENCARA O AINDA IMPRESSO JORNAL DA ALDEIA BAURUENSE.
Vamos por partes, como muito bem fazia Jack, o Estripador.

Primeiro a carta recebida de um amigo e leitor de todas as horas, o professor Jeferson Barbosa da Silva, o Garoeiro, lá da distante Natal RN, onde acertadamente se auto exilou, após se cansar das coisas como se sucediam aqui pela terra, dita e vista como Sem Limites. Eis a carta:

Caríssimo HPA,
A extraordinária capa do Jornal Página 12 deste domingo, 10 de dezembro trata, ilustrativamente, de nossos sentimentos diante desse ameaçador início da Era Milei.
Observe, com generosa atenção, a ilustração magnífica do cartunista Daniel Paz.
Ainda resistindo, mãos firmes, ao vendaval que a tudo arrasta, ali naquele nosso peito da camiseta, lê-se: Não desista!
Sete enraizamentos que matemos vivos na Esquerda, vêm lembrados: força, consciência, inteligência, temperamento, memória, solidariedade e amor.
Se você quiser encontrar melhor mensagem para o horror argentino que se inicia, tudo bem, pode procurar.
Para o Garoeiro, está tudo, aqui:
(e me envia o link e a reprodução da primeira página do Página 12)

https://www.pagina12.com.ar/edicion-impresa/10-12-2023

Achei ótima a carta de meu amigo, o chargista do Página 12, Daniel Paz. Estou na fase de apreensão e comedimento, diante de tantas ameaças desferidas pelo truculento Javier Milei. Veremos se, o nefasto cidadão, terá mesmo coragem para executá-las de bate pronto. Enquanto isso não acontece, tenho em mãos a edição deste final de semana do único órgão impresso, ainda a resistir aqui em Bauru, o não mais diário Jornal da Cidade, tratado também como JC. Não circula mais os sete dias da semana e sim, em cinco. Na edição mais gorda, a do final de semana, sexta/sábado/ domingo, 80% de textos desprezíveis, deste que só servem mesmo para embrulhar peixe. Quando tenta se passar por revista, entra numa temática trivial, besta, desprezível e supérflua. Ou seja, deixa de ser jornal e passa ao largo de ser revista. No jargão jornalístico, come bronha, gasta papel à toa, pois duvido tenha algum leitor fiel ao que ali sai impresso. Seria muito mais útil se o fizesse com crônicas, reportagens e colunistas. Do jeito que está, puro dinheiro jogado fora, ainda mais num momento de crise.

Escrevo do nosso JC, para diante da posse de Milei e lendo em PDF, no modal virtual, a edição diária do melhor jornal do nosso mundo, o argentino Página 12, vejo ele saindo hoje – sai todos os sete dias da semana -, edição quase com o mesmo número de páginas do JC e dando um banho em matéria de textos mais que bons, verdadeiras obras primas para verdadeiros leitores do modal impresso. Não dá para publicar abobrinhas e manter leitores fiéis. O JC precisa cair em si e ver que o desperdício continuado o levará à falência. O Página 12, feito para quem gosta de ler, investe exatamente no contrário do que faz nosso bauruense JC. Na edição de hoje do jornal argentino, gostei tanto, imprimi algumas de suas páginas e as leio grifando, mas na do nosso JC, infelizmente, uma edição dominical, onde li, no máximo, umas cinco aproveitáveis páginas e as demais, folheei uma só vez, para nunca mais. Tanto lá, com o advento Milei, como aqui com o advento Suéllen, creio eu, o que precisa ser feito e impresso são páginas de leitura e não de entretenimento. O JC perdeu o bonde da história e se voltasse no tempo, revendo tempos áureos do Diário de Bauru, poderíamos até ajuda-lo a ter sobre vida por mais tempo. Dá gosto ler um Página 12, mas no JC atual, duas ou no máximo três páginas, nada mais. Encheríamos páginas e mais páginas sobre o desvirtuamento do desgoverno de Suéllen Rosim, mas até isso o fazem um poucas linhas, sem grande aprofundamento. Já no Página 12, um dissecar maravilhoso da situação de um país adentrando a partir de hoje, mais um de seus momentos de maior conflito e o jornal seguindo com sua missão jornalística de incomensurável valia.

EU TENHO QUE CONTINUAR ACREDITANDO...
Por Frei Beto
Ensina a teu filho
“Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro.
Há neste país juízes justos, ainda que esta verdade soe como cacófato. Juízes que, como meu pai, nunca empregaram familiares, embora tivessem filhos advogados. Jamais fizeram da função um meio de angariar mordomias e, isentos, deram ganho de causa também a pobres, contrariando patrões gananciosos ou empresas que se viram obrigadas a aprender que, para certos homens, a honra é inegociável.
Ensina a teu filho que neste país há políticos íntegros como Antônio Pinheiro, pai do jornalista Chico Pinheiro, que revelou na mídia seu contracheque de parlamentar e devolveu aos cofres públicos jetons de procedência duvidosa.
Saiba o teu filho que, no monolito preto do Banco Central, em Brasília, onde trabalham cerca de 3 mil pessoas, a maioria é honrada e, porque não é cega, indignada ante maracutaias de autoridades que deveriam primar pela Ética no cargo que lhes foi confiado.
Ensina a teu filho que não ter talento esportivo ou rosto e corpo de modelo, e sentir-se feio diante dos padrões vigentes de beleza, não é motivo para ele perder a auto-estima. A felicidade não se compra nem é um troféu que se ganha vencendo a concorrência. Tece-se de valores e virtudes e desenha, em nossa existência, um sentido pelo qual vale a pena viver e morrer.
Ensina a teu filho que o Brasil possui dimensões continentais e as mais férteis terras do planeta. Não se justifica, pois, tanta terra sem gente e tanta gente sem terra. Assim como a liberdade dos escravos tardou, mas chegou, a reforma agraria haverá de se implantar. Tomara que regada com muito pouco sangue.
Saiba o teu filho que os sem-terra que ocupam áreas ociosas e prédios públicos são, hoje, chamados de “bandidos”, como outrora a pecha caiu sobre Gandhi sentado nos trilhos das ferrovias inglesas e Luther King ocupando escolas vetadas aos negros.
Ensina a teus filhos que pioneiros e profetas, de Jesus a Tiradentes, de Francisco de Assis a Nelson Mandela, são, invariavelmente, tratados, pela elite de seu tempo, como subversivos, malfeitores, visionários.
Ensina a teu filho que o Brasil é uma nação trabalhadora e criativa. Milhões de brasileiros levantam cedo todos os dias, comem aquém de suas necessidades e consomem a maior parcela de sua vida no trabalho, em troca de um salário que não lhes assegura sequer o acesso à casa própria. No entanto, essa gente é incapaz de furtar um lápis do escritório, tijolo da obra, uma ferramenta da fabrica. Sente-se honrada por não descer ao ralo que nivela bandidos de colarinho branco com os pés-de-chinelo. É gente feita daquela matéria-prima dos lixeiros de Vitoria que entregaram a policia sacolas recheadas de dinheiro que assaltantes de banco haviam escondido numa caçamba.
Ensina a teu filho a evitar a via preferencial dessa sociedade capitalista que nos tenta incutir que ser consumidor é mais importante que ser cidadão; incensa quem esbanja fortuna e realça mais a estética que a Ética.
Saiba o teu filho que o Brasil é a terra de índios que não se curvaram ao jugo português e de Zumbi, de Angelim e frei Caneca, de madre Joana Angélica a Anita Garibaldi, Dom Helder Câmara e Chico Mendes.
Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se se unir aqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto o legado da tua sabedoria.
Ensina teu filho a votar com consciência e jamais ter nojo de política, pois quem age assim é governado por quem não tem e, se a maioria tiver a mesma reação, será o fim da democracia. Que o teu voto e o dele sejam em prol da justiça social e dos direitos dos brasileiros, imerecidamente tão pobres e excluídos, por razoes políticas, dos dons da vida.”
Para Fernanda Castro Dirceu Silva Bruno Miranda Patrícia Cardoso Valquíria Valquiria Correa Ricardo Higa Bianca Chiquinho Garcia

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