quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

MÚSICA (230)

EU ROLANDO NA CAMA, SONO PERDIDO DIANTE DO QUE VEJO ACONTECER NA ARGENTINA

Perdi o sono, literalmente, após ler e ouvir tudo o que ouvi da noite de hoje na Argentina. 

Isto tudo é muito pior do que tudo o que poderíamos imaginar. Havia um grande ato contra o desGoverno de Javier Milei marcado para acontecer hoje e à noite ele, o ditador iria se pronunciar em rede nacional.

E a imprensa massiva apóia integralmente isso tudo que vi ocorrer? A Suprema Corte apóia integralmente isto tudo? Mesmo a direita, os menos inseridos dentro do desGoverno apóiam isso tudo? Isto é mais do que uma ditadura? 

A Argentina fechou e vai se isolar do mundo livre. Foi uma triste opção. A pior possível. Eu que ia todo ano, enquanto perdurar isso, temo que ao ir poderei ter o mesmo destino daquele violinista do Vinicius de Moraes que duarante a ditadura militar desapareceu por sair do hotel à noite para espairecer e por ser barbudo, foi confundido com um terrorista e nem teve tempo de se explicar, sumiram com ele. 

Vejo algo até mais tenebroso do que aquele período. Ou se estanca já ou depois será muito mais difícil. Mas como reagir e se contrapor quando as medidas são tão enérgicas e impedem qualquer movimento? 

1984 é fichinha perto do que está acontecendo, com policiais perguntando nas estações de trem o que irão fazer na região onde havia protesto e se diziam ir pra lá eram fotografados, ou seja, a intimidação será daqui por diante algo criminoso. Estão totalmente fora da lei, mas como reagir se a lei está sendo posta em prática através de um cruel decreto presidencial, amplos poderes para fazer e desfazer do que lhe convier e com apoio das ditas instituições?

Gente como cristina Kirchner corre sério risco de vida a partir de agora. E olha que ela, nem é assim tão contundente no radicalismo. Ela só é peronista e por ser o nome mais em evidência na oposição, é o alvo principal de tudo. Ser presa, diante de tudo o que vi e sem nenhuma prova será algo trivial, pois inventarão uma mera desculpa, esfarrapada como todas feitas nestes momentos e se bobear, não só a prenderão, mas darão um jeito de sumir. 

Quero ler o que o tal do Clarin vai dar sobre isso amanhã. Será terão coragem de endossar tudo isso assim sem nenhum questionamento? Nem sei se consigo dormir hoje. Passa um filme na minha cabeça. Assim como o argentino sempre teve um poder de manifestação muito maior que o nosso, brasileiro, também o outro lado, o repressivo sempre foi muito mais violento que o nosso. Lá, a ditadura foi muito mais cruel que a nossa. São impiedosos quando querem e executam sem dó e piedade. E Maurício Macri referendando isso tudo. Temos pela vida de meu amigo Adham Marim, estudando Medicina por lá e além de todos os riscos, o de perder o curso, de não ter mais garantido vaga para lá estudar, pelo que sei, ele deve estar reagindo de forma contestadora e isso é um perigo por lá hoje.

Não liguei a TV um só momento com medo de ver a TV brasileira ousando defender algo deste maníaco Milei. Permaneci com a rádio que regularmente ouço, a 750 AM, ligada o tempo todo e parei tudo para ouvir a fala do ditador em cadeia nacional. Foi escabroso e me lembrei de imediato do ditador do livro do Orwell, o 1984 e seus asseclas. Deixou claro, vai governar por decreto e vai fazer tudo o que sua mente insana prega. Um cara desses não possui limites, é mais do que um louco perigoso, pois sua perversidade é doentia. Ele sabe o que quer e vai destruir o que ainda resta de uma Argentina que aprendi a admirar desde a primeira vez que lá estive, em 1997, quando fui com o Marcão Resende ver Hugo Chávez discursar no campo do Ferrocarril. Conheci o Página 12, quedesde então leio diariamente pelo modal virtual, não ficando um só dia sem abrir seus textos. E depois Victor Hugo Morales, que ouço diariamente pela 750 AM. Sabem o que aconteceu com ele? Adoeceu e reconheceu em público, numa breve fala, pois lhe deram férias para descansar. Ele disse e sofri ouvindo ele dizer ter adoecido, enfraquecido pelos últimos acontecimentos. Seu corpo não aguentou e ele decaiu.

O que será destes todos? O que será de quem ousar contestar e se contrapor ao baú de perversidade sendo colocado em prática por lá? Que falta faz um Che Guevara nos dias de hoje para desde já propor e estar á frente de um levante. Vou tentar dormir, mas sei será uma missão quase impossível, pois sei exatamente o que está em curso no querido país vizinho. Como pensar em um natal cheio de paz e amor diante destes acontecimentos? Como viajar, como o farei daqui alguns dias tendo mais essa na cabeça? Depois do bestial ditador da Ucrânia, do que Israel faz com os palestinos em Gaza, agora essa, bem aqui pertinho da gente. Sei não, mas se escapamos do Bolsonaro fazer tudo isso no Brasil é por ainda termosalgum resquício de Judiciário decente, algo não mais encontrado na Suprema Corte argentina. A resistência aqui não se deu nas ruas e sim pela ação do STF e lá, quando todos comprometido, quem fará  algo pelo meio legal? Só mesmo o povo organizado e combatendo nas ruas as ações ditatoriais. Do contrário, derrocada de longa duração. Tenham certeza, meu Natal e passagem do Ano Novo já totalmente comprometidos. Não dá pra ser feliz deste jeito. de onde sai gente tão despirocada e maluca desse jeito? Como pode um ser humano reunir tanta bestialidade numa só cabeça? Estou desolado e totalmente sem sono.

BAITA HISTÓRIA A DE JOÃO DO VALE - “EU ASSUBO NOS ARO E VOU BRINCAR NO VENTO LESTE”
- João, de onde você tirou esse “vento leste”?

- Ah, Luiz, de noite eu liguei o rádio na Hora do Brasil e ouvi: “Aviso aos navegantes: vento leste soprando pra sudoeste”.

O diálogo foi entre João do Vale, maranhense, e Luiz Vieira, pernambucano, autores da clássica “Na asa do vento”, de 1956, gravada inicialmente por Dolores Duran, anos depois por eles, por Caetano Veloso, Ednardo, Fagner, Flávia Bittencourt...

João do Vale, de origem simples e semianalfabeto, achava que tinha que colocar umas “palavras difíceis” para impressionar em suas composições. E tudo fazia sentido. Muito espirituoso em seus comentários, dizia que “Parceria com gente que já tem nome não é bom, não”, referindo-se ao seu trabalho com Vieira. Sempre escutava os locutores das rádios anunciando: “Ouviremos na voz de Marlene, o xote ‘Estrela miúda’, de Luiz Vieira”.

No começo da década de 50, quando trabalhava como pedreiro numa obra na rua Barão de Ipanema, no Rio de Janeiro, ouviu a canção vinda de um rádio numa casa vizinha. O sorridente operário da construção e da poesia, apressou-se e falou para o colega ao lado:

- Tá ouvindo essa música?

- Tô. É a Marlene que tá cantando.

- E sabe quem é o autor? Sou eu.

- Conversa, neguinho. Você tá é delirando. Faz mais massa aí, vai!

“Até 1964 quase ninguém sabia que as minhas músicas eram minhas”, revelou numa entrevista para o encarte de um exemplar da Nova História da Música Popular Brasileira, coleção da Abril Cultural de 1977. A pontuação da data é relevante, foi quando compôs “Carcará” para o Show Opinião, dirigido por Augusto Boal. Zé Kéti e João do Vale integravam o musical, mas a interpretação coube à estreante Maria Bethânia, que substituiu Nara Leão. É o momento marcante do show-manifesto que estreou nove meses depois do Golpe Militar, no Teatro de Arena, Rio.

João do Vale faleceu no começo da tarde de 6 de dezembro de 1992, aos 62 anos, em São Luis, depois de cinco anos numa cadeira de rodas, com fortes sequelas de locomoção e fala, consequentes de dois derrames cerebrais.

A foto abaixo, de acervo familiar, foi utilizada na capa do livro “O jovem João do Vale”, ótima pesquisa do seu conterrâneo Wilson Marques, jornalista. Lançada em 2013 pela Editora Nova Alexandria, a biografia narra a trajetória do compositor com foco em sua infância e juventude no povoado Lago da Onça, em Pedreiras, até largar tudo e partir para o Brasil dos contrastes e brincar no vento leste."
Do Nirton Venâncio

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