Tenho acompanhado com a devida atenção a polêmica envolvendo a questão de livros adquiridos por algumas Secretarias Estaduais de Educação. Alguns títulos têm sido recusados pelas auxiliares pedagógicas sob a alegação de que, pelo entendimento literário delas, atentam contra “apreciação do leitor imberbe”. Não falo dos casos dos livros com erros ortográficos e sim daqueles com conteúdo polêmico. No epicentro do vulcão está o livro “O Contrato com Deus”, um clássico do desenhista norte-americano Will Eisner. A compra foi avaliada e efetuada pelo Governo mineiro, mas não deverá chegar aos alunos. Para muitos, o que ocorre é pura censura e uma avaliação inadequada de quem está na ponta, junto aos alunos, pois não conseguem entender que “um bom livro não precisa mostrar o que é bom o tempo todo”. Meio que oculto está o cerne dessa questão, ou seja, a sociedade brasileira está cada vez mais conservadora culturalmente. Nem os próprios professores lêem como antes e o politicamente correto parece dominar o pensamento dominante. Diante disso, quem sempre sai perdendo são os alunos. Pais de alunos chegam a tirar alunos da escola, pelo simples fato de contrariar suas convicções. Aqueles que acompanham o segmento há anos percebem que à censura às publicações está ocorrendo de forma mais pesada que durante a ditadura militar e muitos dos livros, quando discutidos em sala de aula, necessitam de um maior preparo do professor no debate do tema com a classe.
OBS.: Não sabia que o Bom Dia reproduzia meus textos em outras edições regionais (nada contra, viu!). É que hoje recebi um e-mail de um senhor irado de São José do Rio Preto (reproduzo nos Comentários) e uma ligação do bom e velho amigo, seu Arcôncio, 92 anos, hoje morador daquela cidade me informando do texto lá publicado. A polêmica segue em frente e o que fiz foi só colocar o dedo na ferida, mais do exposta.
5 comentários:
RECEBI POR EMAIL DE UM LEITOR DE SJRP:
Sr Henrique Perazzi,
Cordiais saudações "chupa aqui" "chupa a minha rola" ( estas são apenas algumas expressões nos livros que a "nova ditadura" ignorante e conservadora esta censurando ) segundo seu artigo.
Devido ao seu artigo publicado no Jornal Bom Dia, 14 de Julho de 2009, venho me manifestar, ainda que respeitando sua liberdade de expressão, que NÃO POSSO CONCORDAR de forma alguma.
Os Livros paradidáticos contendo expressões pornográficas, de duplo sentido e palavrões distribuídos pela Secretaria Estadual da Educação para alunos do ensino fundamental, os quais estão situados na faixa etária de 9 anos. São de um mal gosto sem precedente. É o estupro da inocência das crianças, esse material transmite preconceito, caricatura, palavrão, uma visão deturpada da sexualidade, então o lugar dele não é na escola
Já não basta a TV que tem o prazer de sodomizar as crianças por meio de novelas, seriados, e até desenhos? Agora na sala de aula mais esta aberração? Claro que não! Graças a Deus que ainda existe uma sociedade organizada e decente, nas suas palavras Prof Henrique 'ignorante e conservadora'. Se erotizar, somizar é progresso inelectual, prefiro uma sociedade mais burra.
Prof henrique não sei se o Sr é professor da Rede Pública, mas se fosse da Privada não estaria mais lecionando com uma cabeça dessas com certeza! Na sua casa o Sr ensina o que quiser para seus filhos, com os filhos dos outros é diferente! Se o sr acredita mesmo que a sociedade é burra, monte sua escola e coloque suas "preferencias" lá numa placa na porta, para ver quanta matrícula o sr terá caro professsor Henrique, e qual tipo de gente se interessa em educar seus filhos com expressões como: CHUPA MINHA ROLA..
O livro Dez na área, um na banheira e ninguém no gol é uma coletânea de histórias em quadrinhos de vários autores sobre futebol. Até aqui tudo bem. Mas nas histórias, desenhos de mulheres semi-nuas, expressões de duplo sentido, agressões físicas e verbais com forte conotação sexual. ISSO É INACEITÁVEL ! Claro que eu não estou questionando o direito artístico dos autores, nem a qualidade do material quanto o aspecto físico.
Graças a Deus que o governo Paulista reconheceu o erro na distribuição dos exemplares e determinou o recolhimento das obras.
Atenciosamente
Afonso Martins Fernandes Neto
São José do Rio Preto-SP
caro sr Afonso
Instigante o debate sobre o assunto, não?
Não devemos nos achar os donos da verdade ao escrever textos publicados por aí. Sempre que os faço, penso dessa forma.
Não generalizo quando faço a citação repetida várias vezes por ti, a "ignorante e conservadora". Não me prendo a uma única obra, como a citada por ti. Essa, que desconhecia, pode até ter um termo chulo e grosseiro, mas antes de me pronunciar, faço questão de ir em busca de sua leitura. Outras eu fiz, como livro do curitibano Tezza e do desenhista norte-americano Eisner.
O que afirmo e disso não arredo pé é que estamos mais conservadores que antes, isso num todo, seguindo o que prescreve o "politicamente correto". Reafirmo também algo que citei entre aspas, pois não é de minha lavra: "um bom livro não precisa mostrar o que é bom o tempo todo".
Quanto a educação do meu filho, tenha certeza que primo pelo bom e do melhor. Ele lê de tudo um pouco e debate muito dentro de casa, tanto o que vê na TV, como nos livros, revistas e na internet. Terá uma ótima cabeça, pois não estará bitolado somente a uma linha de pensamento e de ação. Precisa conhecer várias para saber escolher a sua. Por outro lado, reafirmo, que os professores de hoje, muitos deles, deixam de poder debater textos novos com alunos, pois desconhecem novas possibilidades, por vários motivos: falta de interesse, falta de acesso, falta de grana para adquirir, falta de tempo para leitura, etc. Isso também merece discussão, não?
Não se irrite. Não foi essa minha intenção com o texto. Queria provocar o debate e isso consegui com sua resposta. Ela pode, e deve continuar, pois queremos o melhor para nossos filhos e alunos.
Considerações do
Henrique Perazzi de Aquino - Bauru SP
Prof Henrique, saudações
Não estou irritado, minha forma de me expressar é esta, mas sim indignado com a libertinagem em nome de uma tal liberdade que apenas macula as conciencias.
Agradeço pela sua pronta e esclarecedora resposta, acredito no debate dentro do campo das idéias, para uma maior compreensão dos fatos.
Para nossa reflexão:
"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor." Vladimir Maiakovski
" O amor não folga com a injustiça" Bíblia Sagrada
Atenciosamente
Afonso Martins
www.iecpriopreto.blogspot.com
Caríssimo:
A história é mais simples do que parece. A "cartilha pornográfica" é na verdade um livro de quadrinhos, editado pelo Orlando Pedroso, ilustrador da Folha, e dela fazem parte 11 cartunistas, entre eles Spacca, Lelis, Fabio Moon, Gabriel Bá, Osvaldo Pavanelli, Caco Galhardo e eu. Trata-se de um álbum, dirigido ao público adulto, lançado por ocasião da Copa de 2002.
A escolha e a compra pela Secretaria se deu totalmente à nossa revelia. Houve um claro equívoco da parte do governo estadual. O moralismo indignado da mídia é tão verdadeiro quanto uma nota de três reais.
A Globo, que se esmera em fazer o BBB, repleto de cenas de sexo, foi uma das mais moralistas.
De cerro, o seguinte: o livro não é e não deveria ter sido comprado para crianças.
Mas daí a fazer uma cruzada moralista, vai uma grande desiancia.
Envio anexo, a cópia de minha história lá publicada. Talvez vc já a conheça
Abraços,
Gilberto Maringoni
HENRIQUE
Pior do que a compra feita de forma inadequada é ter que aturar gente na defesa de um falso moralismo. Sempre tive comigo que osp iores são os falsos moralistas, esses sempre possuem muito a esconder por debaixo do tapete.
Fiquemos atentos com esses, que na maioria das vezes, são também vendilhões do templo, ou, lobos em pele de cordeiro.
Maria do Carmo Pavanello
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