quinta-feira, 23 de julho de 2009

MEMÓRIA ORAL (69)

ARAPONGAS, 50 ANOS DE ALEGRIAS NA VILA CARDIA
No mesmo dia da comemoração do aniversário de Bauru uma outra data festiva está sendo um tanto esquecida. Trata-se dos 50 anos da Sociedade Esportiva Arapongas, que fundada em 01/08/1959, traz muita alegria para seus freqüentadores. Instalados em sede própria, na rua Presidente Kennedy, nº 14-30, quatro quadras acima da Nações Unidas, muito conhecida no meio dos admiradores da bocha e malha, o clube é muito mais do que isso, proporcionando uma rara oportunidade de lazer para uma legião de fiéis seguidores. São 50 anos, de um declarado amor, externado por seus sócios e algo raro entre os clubes, nenhuma dívida na conta bancária.

Encravada no meio de um dos bairros mais tradicionais da cidade, a vila Cardia, em uma região quase que estritamente residencial, o local abre diariamente das 13 às 22h e nos finais de semana, das 8h30 às 20h. As cores do clube são o azul e o branco e isso remete a um dos seus fundadores, Antonio Goliardo Stoppa, pois eram as cores de sua firma. O Arapongas começou num outro local, numa casa na rua Marcondes Salgado. O espaço ficou pequeno e alguns sócios, dentre eles Goliardo e Alécio Sparapanni, após aprovarem a compra em reunião, juntaram forças e adquiram a área onde está instalada a sede própria, hoje totalmente quitada. O clube sobrevive bem e nem funcionários possui. Tudo lá é realizado pelos próprios associados.

O ponto alto das comemorações será um fraternal almoço no dia do cinqüentenário, 01/08, onde a grande homenageada será dona Marisa Stoppa, esposa do falecido diretor. No dia, uma infinidade de atividades e torneios. O torneio de malha começa às 8h30, o de sinuca às 9h30, o de truco às 10h00 e o de bocha às 14h00. “O que faz esse clube resistir ao tempo é a união dos seus associados. Todos são importantes e todos os que gostam da vila Cardia estão aqui representados. Isso aqui é igual ao Juventus lá da Mooca paulistana. O lazer da nossa vila é o Arapongas e o time do Nacional, o famoso Galo da Cardia”, conta o emocionado Mineiro, ou melhor, Emilson Pedro de Mello, 56 anos, no clube desde 1987, dono da Padaria Nossa Senhora Aparecida, uma das tantas empresas do bairro a apoiar o clube.

Entrando no espaço do clube, o que mais chama a atenção são as pistas de bocha e malha, o motivo da fama espalhada pela cidade. Porém, existe uma diversidade de outras atividades, que vão desde o jogo de cartas, dominó, sinuca e algo que é o grande ponto aglutinador das pessoas por lá, as rodas de bate papo. O que mais se faz lá é bater papo. Ouvi histórias de gente que num domingo sentou numa mesa logo ao abrir das portas e ficou a papear até fechar o estabelecimento. “É verdade. Isso aqui é ponto de encontro de alegria. Um clube familiar, sem brigas e desafetos. Quem vem só para conhecer acaba gostando e fica sócio. Aqui não se discute problemas, aqui se vive a vida, de uma forma gostosa. E outra coisa, pensam que aqui é local de gente velha, só aposentados. Nada disso, muita moçada nova é sócia”, conta seu Zezinho, o cearense José de Oliveira do Nascimento, 66 anos, que cuida do bar do clube e é uma espécie de zelador e fiel guardião do local.

“Eu vim de Minas. Passava aqui para vender queijos, gostei e voltava sempre. Mudei para Bauru há uns 5 anos, escolhi casa aqui perto só para ficar mais fácil de vir todos os dias. Isso aqui faz parte da minha vida. Eu não piso na bola, pois sei que as regras são duras para os que aprontam”, conta o popular Queijeiro, Michel Rodrigues, um da nova geração, que completa 33 anos no mesmo dia do aniversário do cinqüentenário. Muitos outros não abrem mão da vinda diária e de seguir à risca as regras do clube, afinal, “lugar bagunçado, ninguém gosta de freqüentar”, completa Michel.

Na sala dos troféus encontro o atual tesoureiro e ex-presidente, o advogado Amilton Alves Teixeira, um dos que não moram perto da sede, mas batem cartão diariamente. Naquele dia acabava de voltar de uma viagem, quando ficou longe do clube por uns dez dias. “Você está vendo a quantidade de associados que está me procurando nesse pouco tempo, com o valor da mensalidade na mão. Poucos são os inadimplentes. Eu sempre gostei de botequins e esse aqui reúne um monte de coisas boas, tudo junto. Isso aqui prolonga a vida das pessoas”, conta folheando álbuns de retratos de festas e de competições ali realizadas. “A média é de umas sessenta pessoas por aqui todo dia. Gente de tudo quanto é idade. Veja essa foto, esse é o seu José Maschietto, nosso mais velho associado”, me diz apontando para a foto.

No dia seguinte ao adentrar o clube a primeira pessoa que avisto é o associado Maschietto, tomando uma cervejinha e observando uma partida de sinuca. “Tenho 39 anos de Arapongas e é aqui que venho para tomar minha cerveja. Os de casa não se preocupam, pois sabem que aqui estarei sempre em boa companhia”, faz questão de afirmar segurando o copo. Outro com a mesma animação é seu Arlindo Ozanic, morador da casa em frente, sendo o clube uma quase extensão de sua casa. “Conheço cada detalhe da história do clube e de cada associado. Até quando ocorre algum barulho suspeito fico alerta e venho ver o que está ocorrendo”, me diz e na seqüência me puxa até a sala de troféus para mostrar o maior de todos. “Cada um tem uma história. Quer saber de qual? Muitos tivemos que colocar em outro lugar, pois faltou espaço. Esse é um clube vitrorioso”, conclui.

De todos ouvi a mesma resposta quando questionei o relacionamento com os vizinhos. “Certa feita ajudamos a mediar um pequeno incidente entre um vizinho e o barulho da igreja ao lado. Tudo aqui é resolvido na paz”, me diz seu Arlindo. “O relacionamento não é bom só com os vizinhos, mas com todo o bairro. Se quiser te faço uma relação de todos nossos colaboradores”, diz Mineiro. “Da igreja (a maior da Assembléia de Deus na cidade é vizinha, quase parede meia) nada a reclamar, eles cantam do lado de lá e nós do lado de cá. Cada um na sua”, me diz Sandão, Sanderlei Caçador, um ex-zagueiro da várzea e como todos os outros um fervoroso defensor do Arapongas. E o presidente, qual seria sua opinião. “Você está com azar. Toda vez que veio aqui ele está jogando e você educadamente não o quis interromper. Mas dizer mais o que, se todos que você conversou só falaram bem daqui. Ele vai gostar do que irá ler”, me diz um sorridente Zezinho, numa das vezes que saiu detrás do balcão para jogar uma partida de sinuca. Enfim um clube de bem com a vida, com as contas em dia e em festa, diante do seu cinquentenário.
OBS.: Na foto com quatro pessoas, pela ordem: José Nelson Almeida, 55 anos, Arlindo Ozanizh, 75 anos, Amilton Alves Teixeira e Ulisses José de Almeida, 40 anos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Henrique,

Foi uma surpresa emocionante para minha família,saber do cinquentenário da Associação Esportiva Arapongas.

Meu falecido esposo"José Ursolini",foi frequentador assíduo desse clube.Chegou a ganhar troféu de campeão no jogo de bocha,que até hoje guardo com muito carinho.

Quero parabenizar você,pela belíssima matéria e aos atuais diretores por manter esse local em plena atividade.


Um abraço.

Adelina A. Ursolini

Anônimo disse...

Meu pai ia muito ao Arapongas e lendo seu texto, percebo que ao deixar de ir, vivo mais triste, fechado em casa, sem muita opção de me alegrar junto aos amigos. é verdade, aquilo lá faz a gente viver mais.

Antonio Leme

Anônimo disse...

Grande Henrique.
Mais uma vez parabéns pelo seu resgate histórico. Apesar de nunca ter entrado no Arapongas, sinto imenso orgulho dese cljube.
Trabalhei alguns anos com o Amilton, quando ele pertencia ao quadro dos funcionários da extinta Divisão Regional de Saúde de Bauru ( se não estiver enganado o mesmo era chefe dos Enfermeiros).
Você, desculpe a insistência, não pode deixar de lançar um livro sobre suas memórias, resgatar a nossa história é muito importante.
Um abraço
Professor Toka

Anônimo disse...

O Arapongas deve ser um ótimo lugar para fazer amizades e preservá-las.Vou aparecer por lá.
Um belo texto, uma bela história e um clube sem os problemas da quebradeira atual.

Jorge Henrique

Anônimo disse...

Caro Henrique
Parabens pela matéria que homengeia o Clube Arapongas na velha Vila Cardia, uma das mais antigas de Bauru.
Abraços
Isaias Daibem

Anônimo disse...

Oi, Henrique!!
Que legal!

Olha, fomos para o Paraná e descobrimos uma fazenda maravilhosa, um lugar perdido no tempo: Os hospedes ficam em casinhas de colonia antigas e conservadas ( sem luxo) com mobilia original, baixinhas, e que tem um museu muito diversificado com peças de fazenda, escravos, indígenas e naturais. Até pedras lascadas!!! O link do museu da fazenda é esse aí embaixo ,tirei varias fotos que o Robin perdeu mas que o dono da fazenda vai colocar nos albuns de fotos lá daqui há uns dias. O dono de lá é um personagem, parece um lenhador de estorias infantis, super sim´ples, mas que tb é aviador e tem até um campo de pouso de terra na fazenda. Eu falei do seu blog e da associação amigos dos museus p ele, pena que a fazenda seja longe de Bauru. O contato dele é eugeniobv@hotmail.com. O pai dele veio da Suécia . Já faleceu mas a mãe dele está vivíssima, com 76 anos e muita História para contar. Ela era de barra Bonita, de uma familia italiana - a arvore genealógica está exposta no museu - , o marido veio ao Brasil em um projeto de introdução de ovinos no Paraná, trabalhou em Barretos e comprou terras no Paraná. 44% da fazenda é mata preservada e o resto é milho, cana e a pousada. São pessoas que valem a pena conhecer e o museu deles é uma graça, apesar de tudo lá ter jeitão de museu, até a casinha de brinquedos só tem brinquedos antiquiquíssimos!

http://www.aguaazul.com.br/#museu/sobre.php

espero que seja util aí!

Abração,

Márcia Nuriah

Anônimo disse...

eu sou sócio do arapongas, inadimplente mais
sou sócio.
sabe onde estou? em campo novo do parecis MT
abraço meu amigo !

Hamilton Suaiden

encontregalpão disse...

Pessoal, muito legal esse club, lembro de ter ido com meus finados Pai e seu dileto amigo, que por sinal ja chegou meio quente e quase teve que ser carregado de glórias.
Mas, o mais legal é saber que isso tudo foi iniciativa do Goliardo e Alécio, eu estudei com o Goliardo filho no Ernesto Monte, naquele tempo que escola do Estado era mais forte que escola particular, aliás, que a turminha da nota baixa, alguns delese se mudavam para escolas particulares para conseguir passar de ano.
Pois é o tempo passa, o tempo voa e estou Eu aqui em Campinas à mais de 38 anos, é quando começa chegar aquela idade onde deixamos a poeira baixar e começamos a pensar mais no que se foi do que o que pode vir!!!!
Gostaria muito de poder contatar o Goliardo filho, tenho saudades daquele tempo, de ver as peixadas que a mãe dela fazia quando o O Sr. Goliardo trazia os peixes da pescaria. Se puderem colocar-me em contato com o Goliardo agradeço muito, meu telefone é 19 - 997-009-054 (Nextel e WhatsApp) Muito grato mesmo.