quinta-feira, 30 de julho de 2009

UMA ALFINETADA (57)

MORTADELA: UMA PAIXÃO NACIONAL
O brasileiro adora comer mortadela, mas odeia que os outros fiquem sabendo dessa sua preferência. Escondido, no conforto do seu lar, todos degustam a tal mortadela, comendo-a de todas as formas; pura, com limão (num botequim, acompanhada de cerveja é ótima), com pão, enroladinha com queijo ou seja lá como for.

Quando nos perguntam sobre o assunto, vem a negativa, a fuga e o não costume em confirmar o gosto por alimento tão sem refinamento. “Imagine eu gostar de mortadela”, é a resposta. Não adianta despistar, a mortadela é uma das preferências nacionais. E além de tudo, possui um precinho convidativo. Muitos a renegam, porque gordurosa, pode elevar os índices de colesterol, mas mesmo assim, é inevitável o apelo daquele cheirinho inconfundível. Sigo desrespeitando a recomendação médica.

Isso mesmo. O cheirinho é mais do que peculiar. Bastou tocar para ficar impregnado. Comendo então, é a certeza de que o cheiro irá lhe acompanhar pelo resto do dia. Todos à sua volta irão saber que a degustou. Mas, como não é fácil resistir, mesmo com aquele complexo de culpa, enfrentamos garbosamente todas as conseqüências. A esposa é a primeira a evitar uma aproximação, pelo menos enquanto persistir o cheiro.

Falou-se muito que ela era feita de carne de cavalo, mas nem isso impediu sua popularização. Comprava-se às escondidas, no meio das compras do mês. O pedido de fatiamento era solicitado quando da padaria em dia de pouco movimento. Nunca deixei de comer mortadela. E como ela é gostosa. Dizem que em excesso é indigesta, mas como tudo em excesso é indigesto, não dou à mínima. Uma tentação.

Quero, nesse momento, externar minha declaração de amor a injustiçada mortadela. Uma rejeitada que na intimidade todos adoram, tanto que foi merecedora dessas linhas. Por falar nisso, acabo de ficar com uma vontade louca de comê-la e como não tenho em casa, serei obrigado a parar de escrever e ir até a padaria mais próxima em busca de tão precioso tesouro. Continuo escrevendo depois...

Obs.: Quero ir postando aqui meus velhos textos publicados n’O Alfinete de Pirajuí, como esse, meu 18 texto para aquele jornal, que saiu na edição impressa de 26/08/2000. Ela, esse objeto do nosso desejo já sofreu preconceito, hoje nem tanto, pois está tão refinada quanto um bom presunto. Na foto maior, uma comparação que recebi via internet, com um destaque para a fotinho e a pergunta: "Você reconhece essa morena?". Eu pensei bastante e errei. Era ela, a mortadela.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lá no Mercadão em SP é onde se come o sanduiche de mortadela mais saboroso que se possa imaginar.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Anônimo disse...

Aposto que essa vc não conhece. é do Mário Prata e foi escrita em 1994:

Quer coisa mais brasileira que a mortadela? Claro que ela veio lá da Itália. Mas tornou-se, talvez pelo baixo preço, o petisco do brasileiro. O nome vem de murta, uma plantinha italiana que Ihe valeu o nome. Infelizmente o brasileiro acha que mortadela é coisa de pobre, de faminto. E o que somos nós, cara-pálidas?

A cachaça e a mortadela são produtos do Brasil, do nosso querido terceiro mundo. Mas acontece que há um preconceito dos patrícios contra a cachaça e a mortadela. Contra a mortadela o caso é mais grave. Se você oferecer mortadela numa festa, vão te olhar feio. Você deve estar perto da falência.

Neste Natal e no Reveillon freqüentei várias mesas, e em nenhuma havia mortadela. Queijos de primeiro mundo, vinho de primeiro mundo, perfumes de primeiro mundo, até um peru argentino eu comi. Mas mortadela que é bom, nada. Nem uma fatiazinha.

Quando o brasileiro irá assumir que a mortadela é a melhor entrada do mundo? Quando você for para a Europa, não adianta pedir dead her que não vai encontrar. Nem muerta dela.

Mas nem tudo está perdido. No dia 1° do ano almocei com o casal Annette e Tenório de Oliveira Lima, e lá estava a mortadela, fresquinha no prato rósea. Um limãozinho em cima, um pedacinho de pão e viva o terceiro mundo, visto lá de cima do apartamento do Morumbi.

No mesmo dia, de noite, fui ao peemedebista Bar Nabuco, debaixo de frondosas sibipirunas da Praça Vilaboim e estava lá, no cardápio, toda sem-vergonha, a mortadela brasileira. Achei que estava começando bem o ano. Vai ser um Ano Bom, como se dizia antigamente. Se os novos-ricos do PMDB estão comendo mortadela, nem tudo está perdido. No Gargalhada Bar mais para PT, há um excelente sanduíche de mortadela.

E, nas boas padarias do ramo você ainda encontra a verdadeira mortadela, aquela que chega no balcão, feita na chapa, sem queimar muito, servida em pãezinhos saídos do forno.

Vamos deixar o primeiro mundo para lá. Vamos, este ano, tomar cachaça e comer mortadela. É muito mais barato ser pobre. Deixemos que o primeiro mundo exploda entre eles, mesmo tomando uísque escocês e comendo queijo fedido.

Por favor senhores brasileiros primeiro-mundistas, vamos deixar de frescura. Mortadela é o que há. É um barato.

Feliz 94 para todos vocês. Muita cachaça e muita mortadela. Apesar de tudo, o primeiro mundo é triste e melancólico. Continuemos felizes e alegres com a nossa cachaça e a nossa gostosa mortadela.

E que os candidatos à presidência deste nosso país do terceiro mundo não se esqueçam que o Jânio sempre se elegeu comendo "mortandela" e não caviar do primeiro mundo.

enviado pelo PAULO LIMA