sexta-feira, 30 de julho de 2010

DIÁRIO DE CUBA (54)

AEROPORTOS, DESPEDIDA, CHARUTOS E ALGO PARA RIR NO DERRADEIRO MOMENTO
Despedidas são muito tristes, pelo menos para mim e após a realização da viagem de minha vida, para a ilha de Cuba, 19 dias, iniciada em 08/03/2010 e terminando em 27/03/2008, uma quinta, com uma angústia tomando conta de mim e de meu parceiro de viagem, o Marcos Paulo. Já estávamos no Aeroporto Internacional José Marti, como relatado no post anterior. Por lá, tudo no seu devido lugar e sem aquela pomposidade, tão desnecessária e em maior evidência nos países capitalistas. Tudo o que os outros aeroportos possuem, o de Havana também os tem e na medida exata. Sem tirar, nem por. E precisaria de mais? Não, respondo sem pestanejar. Estávamos por lá pouco antes das 13h e muito tempo para esperar. Circulo por todos os cantos, trago refrescos, sorvetes, compro dois copos de Havana Club como souveniers e assim foi desaparecendo nossos últimos sete pesos (o troco do táxi). Marcos permanece sentado e lendo o tempo todo, eu circulando. Bato fotos muito belas de um senhor a enrolar charutos, numa banca da lateral, ao lado da lanchonete principal(fotos já publicadas no primeiro post deste Diário, o de nº Zero, em 01/04/2008). Foi lindo ficar presenciando esse profissional trabalhando, com sua imensa habilidade com as mãos. E muito bom de papo.

Por volta das 16h vamos para o Check-In de nosso vôo, o de nº 437. Imensa fila, tendo que permanecer nela bem uns 40 minutos. Inicialmente marcado para as 16h50, devido ao horário de verão havia sido transferido para uma hora mais tarde. A primeira etapa foi feita sem problemas, malas despachadas e passagens para os dois vôos em mãos. O problema foi uma palavrinha que ouvi de um funcionário no balcão: “Passem naquele guichê para recolher a taxa de embarque”. Gelei por inteiro, pois o valor da mesma estava fixado em 25 pesos para cada um, como anunciava uma tabuleta e tínhamos somente 3 míseros pesos. Torramos tudo e nos bolsos, somente dinheiro brasileiro. Na apresentação do passaporte e carimbos nas passagens, faltando quarenta minutos para o vôo não dava para esconder o nervosismo. Passamos por ali e Marcos tentou mostrar que todas as taxas haviam sido pagas no Brasil, na agência de viagem. Foi um vai-e-vem de funcionários até que um mais graduado terminou por nos liberar, após receber autorização pelo rádio. Momentos de tensão, quando já pensava em pernoitar na casa de Hilda Marin, pois nem para o hotel tínhamos mais. Na verdade, nossos papéis comprovaram o pagamento antecipado. Tudo não passou de um susto, com muitas risadas posteriores e um cagaço no momento dos acontecimentos.

Adentramos o portão 11, sem ao menos uma parada nas lojas daquele setor. Numa delas, tudo sobre o Festival de Cinema de Havana me chamava a atenção. Passamos batido. Sentamos nos assentos 12D e 12E. Lembramos que o funcionário foi tão solícito, chegando a nos pedir desculpas pela demora. Abri a revista “Panorama de las Américas”, cortesia da empresa Copa Airlaines, relaxei, tirei as últimas fotos da janela do avião e mergulhamos na viagem. No Canal 11, algo brasileiro, um samba com Teresa Cristina e o primeiro sinal de que voltaríamos ao Brasil. Faço o lanche e tomo uma Panamá, a cerveja do país onde faríamos a transferência de vôo. Duas horas no ares e fiquei a relembrar as pessoas que conhecemos nos dias por lá, dentre eles Victor Serra, Omar do Mundo Latino, Fábio do ICAP, o engenheiro Orti Ceda, Yosbany da UJC, Machado dos Los Mambizes, o barbeiro Alberto, o segurança Maquíades, Ana Delia e Judith professoras de Santa Clara, Pedro Espinosa da rodoviária de Cienfuegos, Ramón Palleiro um diretor de escola, Gonzalo que trabalhou na Alemanha Oriental, o ex-combatente Alberto, Gladys Tomay do cemitério de Santiago, Seu Alberto no Moncada, Hilda Marin com laços bauruenses, o balconista Alberto e tantos outros. Nunca mais me esquecerei de suas fisionomias.

Descemos na Ciudad do Panamá e não saímos na área internacional. De lá para o portão 17, embarque para São Paulo. No avião ao nosso lado um norueguês, residente numa pequena cidade do interior de Goiás, muito parecido, pelo traje, com o Willie Nelson. Vinha dos EUA e levou um susto quando dissemos termos vindo de Havana. "Muito perigoso lá, não?", diz. Lembro de algo dito a nós pelo Fábio, do ICAP, de que o "neoliberal desconhece o que venha a ser o comunismo e quando toma contato, pode até se transformar". Tento lhe explicar, ouve e resmunga: "Então você acha que Castro é um bom governante?". A resposta é simples: "Sim, pois lá presenciamos algo inimaginável no seu e no meu país. Saúde, educação, cultura, tudo gratuito, de ótima qualidade e para todos. Povo culto, onde um motorista de táxi, um atendente de hotel, um balconista de bar falam três línguas. As liberdades que eles possuem não diferem nada das nossas". Ele aproveita para falar da violência no Brasil e das vezes que foi assaltado no país. Ainda tento lhe dizer que em Cuba isso não existe, mas logo durmo e só acordo chegando em São Paulo. O sonho acabou e estávamos de volta à realidade.

Amanhecia uma sexta, 28/03/2008, um ônibus para o terminal Barra Funda e um para Bauru. Marcos segue para acertar os detalhes da devolução da aparelhagem de gravação utilizada na viagem, permanecendo em Sampa e eu volto para casa. Venho pensando em tudo e o saldo é totalmente positivo. Nunca mais serei o mesmo e não será fácil me conter quando vierem me dizer as barbaridades que costumo ouvir e ler sobre Cuba. O país é uma experiência única dentro do comunismo. Certamente não é o ideal de perfeição, mas supera em muito tudo o que já vivenciei aqui do lado capitalista e neoliberal, onde o dinheiro manda e desmanda. Chego em Bauru por volta das 14h20 e vou ao encontro dos meus pais e do filho. Muitas histórias, a distribuição de pequenas lembranças e uma baita saudade, que nunca irá desaparecer.

OBS.: Termino aqui esse prolongado Diário de Cuba, não sem antes renovar as expectativas de um breve retorno (os planos juntamente com o Marcos estão em plena execução). Falar e escrever de Cuba continuarei ad eternum, pois tudo aquilo que sonhava encontrar por lá, pude presenciar in loco. Cuba é um sonho, uma real possibilidade, uma constatação de que um outro mundo é mais do que possível, basta querer e ir à luta. Por causa disso, não desisto nunca dos meus sonhos. Existem possibilidades.

Um comentário:

Anônimo disse...

A pior sensação da minha vida foi o regresso, quando voltamos a ver coisas que lá tinhamos esquecido.
Felizes os que podem viver em Cuba.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação