terça-feira, 27 de julho de 2010

OS QUE SOBRARAM E OS QUE FAZEM FALTA (10)

MURICY RAMALHO PROVOU NÃO COMPACTUAR COM O LADO PODRE DO FUTEBOL
Sempre gostei do posicionamento do treinador de futebol, Muricy Ramalho. Um tanto turrão, em outras até mal-educado, mas sempre sincero e contundente. Desses a não perder o oportunidade e de expressar o que lhe vai no seu interior, sem tirar nem por. Na recusa dada ao oferecimento para ser treinador da Seleção Brasileira de Futebol, algo inimaginável, no passado, ou seja, a recusa de um treinador pelo cargo máximo no futebol nativo e com possibilidades de ser o treinador brasileiro na Copa de 2014, a realizada no Brasil. As justificativas foram perfeitas. Primeiro, para dar exemplo aos filhos, pois não se rasga um contrato assim (o dinheiro nem sempre está no melhor lugar para se trabalhar), depois para honrar o compromisso assumido com o clube que lhe abriu as portas quando estava desempregado. A melhor, talvez embutida, a de não fazer parte de um staff pernicioso, onde vinga o pior jeito no nefasto do mundo dos negócios atual, o do lucro a qualquer custo. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, impondo condições desfavoráveis ao país para a realização da Copa 2014, querendo que o país patrocine o banquete dessas entidades sanguessugas (CBF e FIFA), é um patrão nos moldes de tudo o que se deve repudiar hoje em dia. Isso também deve ter pesado na recusa de Muricy.

Dele, além da admiração já existente, algumas frases, de uma antológica entrevista dada para a revista Brasileiros, edição 19, de fevereiro de 2009 (tenho aqui no mafuá), com título na capa, “Um trabalhador dos gramados”. Leiam o pensamento de um homem de bem, dessa linhagem dos que sobraram, num mundo onde todos pensam e agem mais ou menos iguais, como gado:

- “Não existe nada sem o trabalho. Aqui no Brasil as pessoas têm um pouco de vergonha de elogiar um bom trabalho. Não só no futebol, em qualquer lugar, o brasileiro tem vergonha de elogiar o cara. Você escreve pra cacete, é demais no que faz, mas o cara tem vergonha de falar isso. Então, em vez deles falarem isso para você, falam que a sua revista é muito boa, a sua revista vende muito, não é porque você é bom escritor, é porque a revista é boa. Ou o time é bom, ou a esteira é boa, o campo é bom, ou a raquete é boa. No Brasil nós temos um pouco essa dificuldade de elogiar o cara, o trabalho dele. (...) No futebol o que as pessoas mais usam é a paixão, a emoção. No futebol o amor e o ódio estão por um fio. De manhã os caras amam o jogador, à tarde odeiam o cara. É por causa do emocional, só que eu não posso entrar nessa. (...) No futebol, poucos, mas muito poucos, você conta nos dedos aqueles que dividem a derrota. A maioria foge mesmo, você fica sozinho mesmo. Eu já passei muita coisa do futebol, nada para mim é mais novidade. A derrota é solitária. É, mas eu não fico aí pelos cantinhos reclamando. Eu trabalho, depois vou para casa e procuro saber no que posso melhorar. (...) Alguns caras da imprensa estão ali e não sabem do que estão falando. Eles foram numa escola que tinha uma matéria do ‘quanto pior melhor’. Eu não gosto dessa matéria. Se você pega os melhores caras do esporte, esses caras que são bons, que entendem de futebol, não brigo com eles. Porque são técnicos, sabem do que falam. Agora molequinho igual tem por aí que quer aproveitar uma brecha para aparecer. (...) Eu sou melhor na derrota, quando o cara me pressiona eu sou melhor, e sou pior para a pessoa me enfrentar”.

São falas simples, objetivas e ditas com sinceridade. Um cara assim não daria certo dentro do esquemão da CBF. Será que existe carta-branca para se trabalhar dentro da CBF? Muricy não aceitaria trabalhar se não fosse dessa forma e mais, não agencia jogadores, como a maioria faz hoje. Fez bem em cair fora e cresceu seu prestígio, pelo menos junto a mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Leio voce por aqui quase todos os dias e ao iniciar o texto sobre o Muricy Ramalho, foi inevitável a comparação com o tal do Marcão, o seu amigo Marcos Paulo, que está envolvido numa polêmica lá sobre se o Che passou ou não aí por Bauru (afirmo que não passou).Uma frase logo no começo do texto é de grande semelhança com o que você mesmo diz sobre ele. Confira:

"Um tanto turrão, em outras até mal-educado, mas sempre sincero e contundente. Desses a não perder o oportunidade e de expressar o que lhe vai no seu interior, sem tirar nem por".

Não conheço o tal do Marcão pessoalmente (deve ser grandão), mas pelo que vejo das polêmicas com ele, nesse ponto se parece muito com o Muricy. Será que ele não vai ficar chateado da comparação?

Boi bater o olho no seu texto e imaginar que havia escrito de um pensando no outro. Foi isso mesmo?

Pascoal Macariello

Mafuá do HPA disse...

Caro Pascoal
Você sempre a me surpreender...
De início nem sei se o fiz pensando nisso, mas hoje cedo, após a postagem, o próprio Marcos me liga e diz da semelhança e agora você me escreve exatamente sobre isso. Tenha certeza, não foi uma simples coincidência, pois ambos são turrões e dizem o que pensam, sem medir às consequências. Pessoas assim sofrem mais, mas não deixam a oportunidade passar.

Enfim, eles sofrem mais ou nós, os que engolimos sapos e mais sapos é que estamos a sofrer?

Obrigado por me acompanhar.
Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Camarada Pascoal, fico na verdade muito orgulhoso com a comparação ao Muricy Ramalho. Adoro demais este personagem do futebol brasileiro, jogou muita bola e é um sujeito autentico que fala o que sente.

Hasta Siempre.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação