terça-feira, 23 de novembro de 2010

BAURU POR AÍ (47)

A PASTELARIA KADOYA ESTÁ VOLTANDO E A VÍDEO CIDADE NÃO ESTÁ RESISTINDO
Em 19/05/2010 publiquei aqui algo retratando um padecimento, o da Pastelaria Kadoya (clique a seguir para ler: http://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=pastelariaafuadohpa.blogspot.com/search?q=pastelaria ), que tentava manter as portas abertas na esquina das ruas Rio Branco com Ezequiel Ramos. Ficou sózinha, isolada como um dente a resistir numa boca banguela. Resistiu o quanto pode e o que ouvi do seu proprietário era o sofrimento dos que impediam o avanço do "progresso" e da nova ocupação dos espaço no local: "Não queria fechar as portas. São tantos anos, mas o aluguel de um imóvel novo é inviável para mim. Não sei o que vai ser da Kadoya". Durante meses, o Kadoya filho procurou um novo espaço dentro de suas possibilidades e hoje, passando pela mesma rua Rio Branco, quase na esquina de baixo, da rua Presidente Kennedy, uma reforma e uma faixa. A Kadoya reencontrou um caminho e vai voltar a funcionar. Quero lá estar nos primeiros dias e comer um pastel no velho e bom estilo que os orientais sabem muito bem produzir.

Essa uma feliz solução. Acompanho outra, essa nem tanto. GENILDO RODRIGUES SAVIAN, 50 anos, durante 20 anos mantém uma antes movimentada locadora de vídeo, a VÍDEO CIDADE, num prédio próprio na rua Primeiro de Agosto 9-69, centro da cidade. As locadoras, todos sabem, tiveram seu auge, depois declínio. A grande maioria fechou as portas. No centro só a do Genildo resistiu. Só ele bem sabe como, pois foi perdendo cada vez mais o poder de cacifar a continuidade do seu negócio. "O capital que eu possuo está desvalorizado. Não vale nada. Locadora não vale mais nada. Ouço isso todo dia. Sinto-me humilhado. Aos que ofereço comprar a locadora, todos se mostram economistas, pois me dão lições. Sinto pena de quem gosta de filmes. Queria achar uma pessoa que acreditasse numa reviravolta, investisse, com capital, colocando outras coisas, mas estou cada vez mais desanimado. Locadora hoje é um bom negócio nas vilas, onde algumas sobrevivem e bem", conta.

O local da locadora é privilegiado, mas isso pouco conta nesse momento. Genildo relata suas fases, primeiro com as fitas VHS, a fama na locação dos infantis, o drama para senhoras e até o pornô para um segmento definido. Diz que com a TV a cabo as crianças pararam de locar os infantis e com a chegada do DVD, quando achava que seria um ótimo momento para investir, deu com os burros n'água, pois a partir daí a pirataria proliferou. "A pirataria acabou comigo. Se tivesse mudado de ramo lá atrás, mas hoje não tenho mais condições. Vou reclamar do que? Hoje, segunda (22/11) aluguei duas fitas e o que me salvou foi vender dois pornôs por R$ 20 cada. Veja, são 19h, dá vontade de ir embora, mas espero sempre um pouco mais, pois pode chegar mais alguém. Abrindo vendo para manter as portas abertas e só", continua seu relato.

Todos nós sabemos muito bem que, com a falta de grana começam a aparecer todo tipo de problemas, inclusive os familiares. Com Genildo não é diferente, mas ele vai tirando de letra, ponderado que é. "Falta amigos nessa hora. Quero conversar, trocar idéias e nem isso a gente consegue. Meu capital é o prédio. Comigo aqui é difícil de alugar, mas se saio deixo de ganhar o pouco que entra. Tem momentos que acho melhor ter um empreguinho ganhando pouco do que sofrer aqui o dia inteiro. Eu tenho uma idéia, a de montar uma locadora só de filmes cult, mas sózinho e na situação atual, não consigo fazer nada", conclui. Essa aflição é a vivida por muitos. Com esse texto e a exposição de sua situação, sua intenção é levantar interessados, pois ao sair de lá ainda ouvi dele: "Tenho um belo acervo aqui, mesmo já tendo vendido alguns títulos. Está tudo montadinho, pronto para alguém com gás novo". Genildo busca uma solução, que no seu caso, segundo ele mesmo afirma, passa hoje pela falta de gás para tocar um negócio antes tão pujante. Vê-lo ali parado durante o dia, dedilhando um violão nos momentos de maior solidão é algo a retratar bem um outro lado da questão do dito "progresso e modernidade" do centro.


OUTRA COISA, ESSA PARA AMENIZAR NOSSO PADECIMENTO: Mês passado estive no Rio de Janeiro e lá presenciei dois belos shows gratuitos. Fiquei de postar os vídeos lá gravados. Faço hoje o primeiro deles. Foi feito no dia 27/10, na casa França Brasil, ao lado do cais do porto, dentro do Projeto "Música+", que naquele dia mostrava músicas relacionadas ao tema teatro, com os artistas Soraya Ravenie (voz), Flávio Marinho (locução sobre as interpretações) e Zé Renato (voz e pandeiro). Vê-los cantando um clássico de nossa música é um colírio, não só para os olhos, mas para aplacar uma ira sobre as injustiças deste mundo. Faço isso para me acalmar. Vejam se não tenho razão.

e

3 comentários:

Anônimo disse...

Conheço o Genildo já faz um tempão. É verdade, meu filho emprestava filmes lá, levados por mim. Confesso que já faz mais de seis meses que não empresto nenhum filme de locadora. Sou um dos culpados, pois também passei a comprar filmes piratas, como a grande maioria das pessoas. Também não refleti muito bem a falta de filmes, principalmente os lançamentos que ia vendo no Genildo. Com ele já faz mais de ano que não vou lá. E concordo com o que ele disse, que as locadoras de bairro continuam tendo um mercado bom. O morador de vila empresta mais filmes hoje do que os de bairro ricos. Isso dá até uma defesa de tese. Torço para que ele saia dessa e dê logo a volta por cima.

Laércio

Anônimo disse...

O que realmente acabou com as locadoras e lojas de discos foi o mundo virtual, hj os downloads e os filmes no pay per view são para não tirarem as pessoas de casa, com isso fecham-se portas, acabam-se com aquela relação legal que viviamos ao encontrar e fazer amigos nestes estabelecimentos.
E tb no caso do centro de Bauru, que era lindo, algo para se amar, temos que dar os "parabens" aos administradores da cidade que acabaram com o centro levando os pontos de encontro aos setores que interessam aos "investidores" do bairro de cima.
Que saudade dos grandes tempos do centrão, das grandes noites, o Genildo eu o acompanho desde que se estabeleceu como vizinho do professor Ciborg, uma pena mesmo ser mais uma vitima desta bosta de sistema.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Anônimo disse...

Henrique

Com relação ao vídeo que você postou, muito bom, mas bom mesmo.

Queria só complementar algo. Dos quatro que constam no palco você não citou um deles, talvez por não se lembrar do nome, trata-se do violonista JOÃO CASTILHO, um dos grandes já tendo tocado muito tempo com a Bethânia.

Fica o registro.


Pascoal - do Rio