A OFICINA CULTURAL DE BAURU RESISTE E COM O SHOW DE MANU MOSTRA SUA CARA - UMA "ODE" À RESISTÊNCIA CULTURAL
Eu, nos meus 50 anos aprendi a gostar de atividades culturais com algo presenciado na antiga Oficina Cultural de Bauru, quando essa estava localizada lá pelas bandas da rua Pedro de Toledo. Presenciei shows homéricos por lá, desde Vânia Bastos, Ná Ozetti, Suzana Salles, Eduardo Gudin, Eliete Negreiros, etc. Era uma diversidade cultural de dar gosto. Depois deles veio o SESC e continuamos recepcionando uma pá de gente boa por aqui. Nos dezesseis anos de governo tucano as Oficinas estaduais passaram por variados momentos. Continuaram com seu trabalho, mas nunca reviveram o que presenciei décadas atrás. É outro momento. Porém, nunca deixaram de atender culturalmente Bauru e região, com oficinas variadas e recepcionando/expondo um bocadinho de uma imensidão de coisas boas. Hoje, está diante de uma encruzilhada. Muito se fala sobre mudanças, algumas ocorreram no governo Serra. Nomes novos no comando, mas a ameaça maior veio da boca de uma pessoa que nada fez e nunca se interessou por cultura na região, o deputado estadual tucano PEDRO TOBIAS. "Seria bom que as Oficinas acabassem e o dinheiro fosse repassado diretamente para os municípios", disse o mesmo, com certeza, repetindo algo que já vem sendo engenhosamente costurado nos bastidores. E o que isso quer dizer. Para mim, nada mais do que, o Governo estadual tucano mostrando como atua com sua política mais famosa, a da MUNICIPALIZAÇÃO DAS COISAS. Quer fazer isso com tudo, tirando o seu da reta e repassando para as cidades. Fez isso com a Educação, Saúde... e agora, quer o mesmo com a Cultura. Dará um dinheirinho para as cidades e encerra sua responsabilidade de promoção cultural. Simples, pois gastará menos e entregando tudo na mão de pessoas, que nem sempre estão preparadas para assumir um papel vanguardista, promoverão algo bem ao seu gosto pessoal. E pior, quando realizarem, pois meios de desviar o tal dinheirinho para outros fins é o que não faltará. Desde já, assim como no caso da Saúde e da Educação, deixo aqui meu grito em alto e bom som, SOU TOTALMENTE CONTRA.
E não sou contra só porque não coaduno com a forma de governar dos tucanos. O buraco é mais embaixo. As Oficinas tiveram seu "boom", depois sobreviveram e agora, quando instigadas podem renascer das cinzas. Em todas, principalmente nos cargos de direção lá na Capital, muita gente que entende do negócio de promoção cultural. Despejar isso tudo numa vala e deixar os prefeitos promoverem cultura ao seu bel prazer é mais uma IRRESPONSABILIDADE, dentre tantas que vejo hoje em dia. E mais, escrevo isso com a emoção me remoendo por dentro, pois acabo de voltar de uma das melhores apresentações culturais que presenciei em Bauru nesse ano. O espetáculo "A PRIMAVERA DA CONTRACULTURA", quinta, 11/11/2010, concebido e encenado por MANU SAGGIORO e uma trupe de arrepiar. Na chamada algo que já me despertou a curiosidade: "Um repertório pautado em alguns dos nomes que marcaram a história da música no Brasil e propondo uma reflexão sobre o papel da produção artística contemporânea".
Fui, vi e fiquei de queixo mais do que caído. Manu superou todas as expectativas. Já vi muita coisa dela, mas dessa vez passou dos limites. Estava simplesmente DIVINA E MARAVILHOSA. Ela e todo o pessoal no seu entorno, escolhidos todos a dedo. Do repertório (Secos & Molhados, Doces Bárbaros, Mutantes, Raul...), todo cantante, produzindo boas lembranças em todos e algo mais quando afirma que "mais importante do que saber o que foi o movimento da contracultura é o que ela representa, que lições deixou para a atualidade e se ainda há necessidade de resgatar o viés da contracultura com base no agora" (entrevista a Karla Beraldo, do JC). A contracultura foi um das formas artísticas de enfrentamento ao período ditatorial e o que ela propõe de verdade é "mostrar que hoje nós também temos que enfrentar a cultura massificada e sugestionada em vigor". E o que ela apresentou tem um sentido danado, pois cutuca, instiga e nos faz tirar a bunda da cadeira. Ela faz, mostra isso, envolve as pessoas e clama por uma reviravolta. Não só gostei, AMEI DE PAIXÃO.
O local dos eventos na Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes, aqui em Bauru é adaptado, pois foi concebida para ser uma escola. Tudo acontece num palco erguido onde antes foi um pátio escolar, mas ladeado por algo cheio de verde, uma área livre, com árvores, grama, enfim, espaço livre e pedindo ocupação. Manu usou todos os espaços e convidou gente com propostas emergentes para preencher cada pedacinho. Ela no palco rodeada de gente competente, como Norba Motta, Fábio Lima, Andrezza Trentini, Luís Fernando Freitas, Lívia Cordeiro , um trio de backing vocal de responsa com Denise Amaral, Renata Wolf e Sílvia Ferreira. Arrasaram, pois tinham gente competente nos botões atrás das cortinas, Pêz no som e André Bazan, na iluminação, nossos mais competentes profissionais nessa área. A produção de tudo ficou a cargo de Janaína Macena. Isso aconteceu no palco, mas no restante do espaço algo para "endoidecer gente sã". Lú Capossi comandou um antigo retroprojetor voltado para um paredão caiado de branco e em cima dele uma bandeja de vidro, onde ela ia despejando água, bolinhas de silicone, manipulando gravetos e folhas, tudo refletindo na parede. O som instigando e aquilo tudo na parede fez com que as crianças, todas elas ali presentes bagunçassem o coreto. Junto disso a perfomance de Fernanda Vasconcelos, que vestida toda de branco, fez e aconteceu, culminando com o balançar com uma corda, sendo levada ao sabor de movimentos ágeis e perfeitos. Tudo sincronizado.
Sabe quem possibilitou isso? A Oficina Cultural na pessoa do Paulinho, o diretor local. Ele era só sorrisos diante de tudo o que ocorria ali no seu até então pacato local de trabalho. Na sua cabeça deve ter fervilhado mil possibilidades para o futuro de tudo aquilo sob suas mãos. Sim, Manu e sua trupe foi algo inusitado a reviver os bons tempos da Oficina, mas todas elas merecem sobreviver. Elas não devem ter seu ciclo encerrado e sim, valorizado e garantido. Poucos sabem disso que ponho pra fora aqui e agora, mas é uma nova luta que se inicia. Não podemos perder espaços valorosos, diante da insensibilidade governamental de gente a promover mudanças de gabinete movidos por interesses inconfessáveis. Ninguém me pediu para falar isso tudo, mas eu não me seguro e esse é o momento. Eu ouvi Pedro Tobias proclamando isso no mesmo dia em que anunciou o vereador Marcelo Borges como o que seguirá seu trabalho após uma anunciada aposentadoria. Esperava o momento para despejar isso. Nada melhor fazê-lo num dia onde a Oficina mostra, da melhor forma possível, a que veio, com um espetáculo a reviver áureos tempos e assim como Manu apregoa na sua fala para justificar seu espetáculo, ambos, a Contracultura e as Oficinas Culturais precisam ser entendidas. É preciso lutar contra o que está vindo de uma forma massificada, mostrando nossa cara, pondo a mesma para bater e lutando por aquilo que a gente acredita e entende como o certo. Essa é mais um briga que me envolverei dos pés à cabeça, pois com o que presenciei por lá, entendi o quanto é importante aquele espaço não cerrar as portas definitivamente. Sei o quanto é difícil falar em sensibilidade com tucanos no comando, mas estaremos encontrando uma linguagem que eles entendam. E mais, a união continua sendo uma força vencedora, sempre. Essa uma luta que tem início nesse exato momento.
OBS.: As fotos todas foram tiradas lá no evento tentam retratar fielmente um bocadinho do que apaixonadamente presenciei. De tudo o que me emocionou, deixo algo mais. O guardador de carros, um conhecido senhor de barbas não resistiu e também assistiu o show, abandonando seu posto. Dançamos juntos e no final, foi quem na frente do palco, no meio do salão, primeiro clamou por um "bis". E como não atender um pedido vindo de tão especial pessoa? Manu propiciou isso e muito mais. A Oficina pode render muito mais, basta não abandoná-la e como uma verdadeira ocupação cultural, fazer dela uma trincheira, um polo irradiador de muita cultura para um povo sedento de arte inovadora. Permanecer indiferente é aceitar tudo o que nos enfiam goela abaixo.
10 comentários:
Evento realmente maravilhoso, Manu estava impecável, perfeita, cantei e dancei muito ....relembrei velhos tempos, momentos inesquecíveis de boa música...
Realmente temos que levantar uma bandeira em prol da Oficina Cultural, não pode acabar, jamais...
Lá encontrei pessoas de todos os meios, todas no clima do espetáculo, maravilhadas...
Somente uma pessoa totalmente sem cultura pode querer que algo como o que presenciamos possa acabar...
Prefiro acreditar no bom senso e na razão de certos políticos que somente almejam votos ... acho que não preciso dizer mais nada ....
Helena Aquino
querido henrique
das muitas coisas que já vi na vida, e dos poucos shows que tive a oportunidade de estar presente em bauru, este foi um espetácul manu demonstrou maturidade artísitica e profissional, a lú me encantou e o local merece mesmo apoio de toda a galera da cultura bauruense - me incluindo - para florescer.
que façamos juntos a cultura ficar muito gostosa em bauru !
um beijo da ana bia
Grato Henrique por esta matéria tão rica. Foi a maneira como eu pude acompanhar tudo, de tão longe.
Manu, sempre maravilhosa, prima pela qualidade, apuro técnico e emoção.
Desejo que ela continue assim, desenvolvendo sempre mais seu talento e sua luz!!
Caro amigo Henrique,quero manifestar minha soliedariedade à campanha contra o fim das Oficinas Culturais, pois essa onda do Estado querer municipalizar tudo é "conversa pra boi dormir", esse tal do estado mínimo defendido e praticado em nosso Estado, acaba só repassando as obrigações aos municípios, pois esta esfera de poder, já está sobrecarregada de obrigações, sem receber a devida parte do "bolo tributário", ficando a maior parte para as esferas estadual e federal. Como já conversamos em outras oportunidades, os trabalhos da Secretaria Municipal de Cultura e da Oficina Cultural são, ou melhor, deveriam ser, partes de um mesmo processo, onde por exemplo, a entidade municipal age na formação, basicamente com oficinas e cursos de iniciação, tendo no calendário da Oficina Cultural, eventos que oportunizem a esses alunos que estão iniciando, aquele "segundo momento" de formação, e assim nas demais frentes de atuação da gestão cultural, ou seja, na preservação, nos projetos de difusão, de fomento, etc. Parceria e coordenação de ações me parecem ser uma eficaz e responsável forma de realizar auma gestão cultural transformadora em nossa sociedade, tanto para os cidadãos "consumidores" como para os produtores culturais de nossa cidade. Gde abraço a vc, e aproveito para externar meus parabéns ao Paulinho e sua equipe por viabilizar esta sensacional apresentação, com músicos fantásticos, que infelizmente eu não pude curtir por compromissos profissionais.
>Henrique!!!
Estamos juntos! Cara!? Foi de arrepiar,revoltar...se emocionar.
Seu texto fez minha pressão subir! Estava pensando,estes tipos de coisas que acontecem sempre com a CULTURA.
Vou repassar para os amigos.
Obrigado.
Renato Dias dos Passos
Oi Henrique
Muito bom que você encare mais essa batalha.
O que acontece com as Oficinas Culturais é apenas mais um dos infindáveis capítulos do "jeito tucano de ser". Primeiro desestruturam um determinado serviço público, até que haja uma percepção, mais ou menos generalizada, de que esse serviço "não atende aos interesses do povo paulista". Em seguida, apresentam a "solução tucana": destruam-no!
Parece aquela história do fulano que ateia fogo na casa do vizinho e aparece como o "salvador" com uma mangueira de jardim às mãos.
Há pouco tempo atrás o "grande acadêmico" FHC, enquanto presidente da Fundação OSESP, demitiu o maestro John Neschling, pois o mesmo recusava-se em transformar a OSESP em ponta de lança de politicagem tucana.
A mesma sorte não teve a TV Cultura, hoje degradada a um jornalismo partidário. A ditadura militar teve que assassinar o Vlado (Vladimir) Herzog, diretor de jornalismo de uma TV Cultura que não se dobrava frente aos poderosos de plantão. Já o "jeito tucano de ser" conseguiu degradar esse patrimônio público paulista.
Grande abraço.
Geraldo Bergamo
Realmente foi sensacional!
Aproveito para informar que o Show da Denise Amaral que seria dia 18/11, foi transferido para o dia 2/12.
Hoje, na coluna BASTIDORES do BOM DIA, assinada pela jornalista Cristina Camargo, uma repercussão em três notas:
1 - "PRIMAVERA - Muito elogiado, o espetáculo A Primavera da Contracultura, da cantora manu Saggioro, serve para os defensores da Oficina Cultural se posicionarem contra o fechamento do órgão, o que foi defendido em entrevista recente do deputado Pedro Tobias (PSDB). O show de Manu aconteceu justamente no palco da Oficina".
2 - "RADICAL - Defensor de repasse de recursos para os municípios, Tobias, aliás, foi mais longe. Pregou o fechamento inclusive da Secretaria de Estado da Cultura".
3 - "BRIGA - "Essa é mais uma briga em que me envolverei dos pés à cabeça, pois com o que presenciei por lá entendi como é importante aquele espaço não cerras as portas", avisa o blogueiro Henrique Perazzi de Aquino".
Reproduzido pelo próprio HPA, direto do mafuá
Logo depois da eleição do primeiro turno, a que elegeu os deputados, numa cartinha curta, a atual Secretária de Cultura de Bauru, dona Janira, assinando junto com o marido e a filha se diziam muito satisfeitas com a eleição do deputado Pedro Tobias e que Bauru estava novamente entregue a muito boas mãos. Será que eles pensam a mesma coisa agora, que o deputado disse que é a favor do fechamento das Oficinas Culturais espalhadas pelo interior e mais, pelo fim da própria Secretaria Estadual de Cultura? Será que pensam a mesma coisa? Queria muito ouvir a opinião deles agora.
Cláudia
Ainda mais do que feliz, sinto-me honrada com a postagem sobre nosso espetaculo... o fizemos pra isso mesmo: borbulhar e remexer!
Que caiam apenas as folhas mortas, secas.
Que cuidemos da terra e amemos seus frutos :-)
Abraços!
Manu
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