NESSA RELOJOARIA A SUCESSÃO SERÁ DE SOGRO PARA GENRO
Olhando para o pulso das pessoas nos tempos atuais, principalmente os da nova geração, se percebe que poucos usam relógios, mas dos antigos, poucos são os que não os usam. Essa é mais uma das profissões que tiveram seu auge anos atrás e hoje já não vive na bonança de antanho. Em Bauru são muitas as relojoarias, mas na sua maioria, por pura questão de sobrevivência, o serviço foi diversificado. Elias Batista, 62 anos é um desses, atuando na profissão desde os 9 anos e há 10 anos no mesmo ponto. Antes disso, foram mais 38 anos na vila Falcão, rua Alfredo Maia, próximo da praça Espanha, numa época que o comércio dos bairros tinha de tudo um pouco. Com uma enchente no local não resistiu, saiu de lá e veio para o centro da cidade.
Olhando para o pulso das pessoas nos tempos atuais, principalmente os da nova geração, se percebe que poucos usam relógios, mas dos antigos, poucos são os que não os usam. Essa é mais uma das profissões que tiveram seu auge anos atrás e hoje já não vive na bonança de antanho. Em Bauru são muitas as relojoarias, mas na sua maioria, por pura questão de sobrevivência, o serviço foi diversificado. Elias Batista, 62 anos é um desses, atuando na profissão desde os 9 anos e há 10 anos no mesmo ponto. Antes disso, foram mais 38 anos na vila Falcão, rua Alfredo Maia, próximo da praça Espanha, numa época que o comércio dos bairros tinha de tudo um pouco. Com uma enchente no local não resistiu, saiu de lá e veio para o centro da cidade.
Anteriormente na fachada estava o nome “Relojoaria Eduardo”, mas com a mudança trocou de nome e hoje é “Oficina das Jóias”, quando faz de tudo um pouco, desde conserto de relógios, jóias e até uma máquina para copiar chaves. “No negócio de jóias e relógios tem sempre bastante serviço. Na parte de conserto de relógio quase não tenho concorrência, pois sou muito conhecido”, começa relatando seu Elias, ladeado numa manhã de sábado, da filha Elaine Batista, 32 anos, uma espécie de balconista e caixa e do marido desta, genro do seu Elias, Paulo Corrales, 29 anos, que trabalha numa revenda de automóveis na cidade e quase diariamente passa depois do expediente para ir se inteirando da profissão.
“Ele se interessou sozinho. Perguntou se podia aprender, consenti e já foi mexendo. Não parou mais. Olha lá, ele tá mexendo num complicado cronômetro. Tá aprendendo rápido”, me diz, olhando o serviço do genro pelo canto dos olhos. “Tentei incentivar o filho, mas não deu. Quando ele tinha uns onze anos, ainda na vila Falcão, pedia para ele me acompanhar, mas vi que ele nunca se interessou. Seguiu outro rumo, nem mora em Bauru, foi ser vendedor de autopeças”, prossegue seus Elias. Elaine dá sua versão: “A profissão é para quem tem muita paciência. Agitado não dá se bem na profissão, tudo aqui é minucioso. Ele percebeu isso e foi fazer outra coisa”. Do outro lado, um trabalhando quase de costas para o outro, Paulo completa: “Passava sempre na loja, perguntei se ele me ensinava. Fui olhando e aprendendo. Isso pode ser uma segunda profissão para mim. Sábado eu passo o dia inteiro aqui”.
Com mais de cinqüenta anos de profissão, ver seu Elias com uma lente na testa, para aproximar mais a boa visualização do trabalho executado, me faz perguntar sobre sua vista. “Com relógio você tem que trabalhar com aproximadamente 30 cm de distância na minha faixa de idade. E minha vista já está um tanto cansada. Olhe para o menino aí, nem lente usa. Para mim já não dá, preciso da lente”, conta. E me conta como tudo começou: “Foi por acaso. Entrei numa fabriqueta nos anos 60, final dos 50, mexendo primeiro com jóias e só nos anos 70 fui trabalhar com relógio, quando montei a loja e aí já fui obrigado a aprender isso junto. Comecei com um japonês lá na Baixada do Silvino, ficava de lado só olhando, não falava que queria aprender. No fim do dia levava sucata para casa e treinava. E assim fui aprendendo”, prossegue seu relato.
“Hoje os relógios são mais fáceis de arrumar, pois tem tudo fácil. Antes tinha que adaptar, diminuir altura, afinar pivô. Tudo era mais complicado com os de corda, depois os automáticos. Pior que tudo são os descartáveis de hoje. Dos antigos, tinha os de eixo cilindro que não usavam âncora. O próprio eixo já tinha os pivôs. Esse era o mais complicado. Não cravando certinho não funcionava de jeito nenhum. Antes tinha muito colecionador. Os mais velhos vão morrendo e os filhos perdem o interesse. Lembro de quando comecei, tinha muito relógio de bolso. Conheci um colecionador com mais de duzentos relógios. Ele gostava tanto que aprendeu até a consertar”, segue seu relato sem interromper o trabalho.
Nisso entra na loja Darli Aparecida Machuca Rossotti, cliente desde a loja na vila Falcão. Veio buscar uma jóia, que havia trazido para uns reparos e acaba contando ter feito com ele o seu anel de formatura e a aliança de casamento. Lembra que precisa trazer o anel para apertar e chama seu marido para dentro da loja, pedindo a esse para mostrar seu relógio de pulso, também comprado ali. “Clientes como esses eu tenho bastante, mas eles demoram em voltar. Relógio demora a ter problema, jóias também. Veja aquele senhor que você viu aqui, o relógio dele estava até travando, pois fazia uns vinte anos que não limpava. Dei uma geral e vai funcionar outro tanto. Pedi para ele, como um senhor de idade, com movimentos lentos, que todo dia ao deitar-se chacoalhe um pouco o relógio, pois esse não funciona quando parado num lugar, precisa de movimentação. O auge do movimento das relojoarias foi por volta dos anos 50 até 70. Esse da minha parte, pois relógios tiveram seu auge no século passado”, continua seu relato.
Vendo que o expediente está para se encerrar e sua bancada de trabalho cheia de pedidos, todos envelopados, pergunto se leva serviço para fazer em casa. “Tem dias da semana que acabo ficando por aqui até 9h da noite, até um pouco mais e levo sim, tenho outra bancada em casa. A esposa reclama, mas não posso deixar o cliente esperando muito”, responde. Levanta e me mostra umas caixas com peças minúsculas. “Essas são verdadeiras raridades. Eixos e cordas de vários modelos, tudo parado. Aqui tenho desde cordas de Roscoff até outras coisas que poucos ainda possuem. Nem em São Paulo você acha coisas que tenho aqui. Tendo serviço eu conserto”, diz. Não resisto e vendo a filha atendendo no balcão e o genro de cabeça baixa concentrado num reparo, pergunto se não pensa em parar. “Nem penso nisso. E vou fazer o que parado? Se parar adoeço”, conclui.
7 comentários:
Olá Henrique!
Ficou bem bacana o documentário, parabéns pelo seu trabalho e que você consiga mostrar mais pessoas que fizeram e fazem do seu trabalho sua história de vida.
Elaine
Ih! sou freguesa!!!
Rosangela Maria Barrenha
Henrique que legal esta sua abordagem/reportagem.
Como amante de relógios antigos, entenda por antigos, os relógios fabricados até a decada de 70, anterior a revolução dos quartz (os chamados de "bateria" ou "à pilha"), realmente esta profissão esta acabando e muito me preocupa quem fará as revisões nestas máquinas maravilhosas que marcam o tempo.
Conheço muito o Elias e fiquei feliz em vê-lo trabalhando firme e forte na sua relojoaria.
- Parabéns!
Abraços!
AC Pavanato
Henrique
Adoro essas suas histórias de resgate de pessoas anônimas da cidade de Bauru e do Brasil. Leio todas de cabo a rabo. Sempre fico com vontade de conhecê-las. Seu texto propicia isso.
Aurora
Conheço muito bem o Elias, sei de sua dedicação e proficionalismo.
Parabens pela reportagem
Parabens Pela reportagem
Conhecemos este proficional
e sabemos de sua competência
Dr Neves
São poucos proficionais que tem conhecimento de causa
Este é um grande exemplo
Parabens
Laercio
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