UMA VELHA NOTÍCIA NOVA, “GABO” PARANDO DE ESCREVER
No JC da semana passada, numa nota com foto algo me faz ler a indefectível coluna “Conexão Biz”: “Gabriel Garcia Marquez vai parar de escrever: De acordo com o jornal espanhol El Pais, o escritor colombiano GGM, contemplado em 2008 com o Prêmio Nobel de Literatura, não vai mais escrever. A informação foi divulgada pelo irmão mais novo de Marquez, Jaime Garcia Marquez, devido ao estágio avançado de demência senil do autor de 85 anos. Marquez, que passa por um estágio avançado de doença mental e perdeu parte da memória, não tem mais condições de escrever, afirmou Jaime. Na nota: ‘Não haverá mais letras escritas por Gabo’, a colunista do jornal Elsa Garcia de Blas conversou com o irmão do autor, Jaime, sobre o atual estado de saúde do escritor de ‘Cem anos de Solidão’, ‘As Vezes Choro’. Mas sinto uma felicidade dolorosa de ainda ter o privilégio de falar com ele”, diz o irmão. Apesar da doença, Jaime diz que Marquez continua alegre. “Ainda assim ele segue com sua alegria, entusiasmo e cheio de humor”.
Gabo é uma pessoa humana em todos os sentidos. Tenho duas passagens recentes envolvendo sua pessoa e ambas em trechos de conversas travadas com o filho, HA, 18 anos. Na primeira, a passagem do livro de Fernando Morais sobre os cinco cubanos detidos irregularmente nos EUA. Gabo foi o mensageiro enviado por Fidel para entregar pessoalmente ao presidente Clinton uma proposta sobre o assunto. Se fosse qualquer outro, o quarto do hotel onde estava seria invadido, revistado e ele encostado na parede até entregar para o FBI o tal do bilhete. Gabo foi firme até o fim e mesmo com muitos querendo ler o conteúdo do tal bilhete antes do presidente, fez o mesmo chegar às mãos de quem de direito. Ele fez isso por Fidel, pelos cinco e pela causa humanitária a movimentar sua vida. Eu e o filho, que lemos o livro, discutimos isso quase uma tarde toda. No segundo algo hilário. Ele e eu somos frequentadores da feira dominicial e lá uma moça, observada por todos, atrás de uma das bancas mais movimentadas do lugar. Denominada de Miss Feira por uma legião de admiradores, mesmo um tanto obesa é cheia de predicados positivos e movimenta a fértil imaginação dos frequentadores. Ele faz lembrar de uma celebre personagem da imensa galeria de tipos do Cem Anos, a Elefanta. “Apesar do peso, ela era infinitamente sensual”, me diz. Seus personagens todos são inesquecíveis e na lembrança surge um novo debate, acalorado e desses intermináveis. Esses são apenas dois fragmentos das possibilidades de Gabo, uma dessas imprescindíveis pessoas, cada vez mais necessária num mundo onde predomina a omissão, o medo e a subserviência ao pensamento único, o do poder constituído pelos detentores do capital. Gabo sempre se opôs a isso.
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