domingo, 18 de novembro de 2012

MEMÓRIA ORAL (130)

HISTÓRIAS DOMINICAIS E A DA BARRACA QUE NÃO QUER SER DESMONTADA
O domingo sempre é um dia especial quando passo pela Feira do Rolo, dominical ponto de encontro no centro de Bauru. Não existe nada igual em congraçamento humano na cidade do que aquela babilônia. Nesse acordo mais cedo do que nos demais domingos, passo pela Banca do Carioca, meu livreiro de plantão e ele me dá a dica do domingo: “Trouxe uns livros extras hoje só para trocar na Feira de Trocas ali dentro do espaço da Estação Arte”. A Estação Arte começou ainda no meu tempo de Secretaria Municipal de Cultura, coisa de uns cinco anos e perdurará para sempre, pois une o público da feira dominical e o da do Rolo, dentro do espaço da antiga Estação da Cia Paulista e hoje abrigando o MIS e o Museu Histórico. Tudo isso junto (e misturado) vira algo indescritível.

A passada por lá tem um motivo, livros. Tinha outros bons para lá estar, como a Maria Fumaça apitando desde muito cedo e os artesãos vendendo seus produtos, junto com barracas de quitutes, essas com característica beneficente. Encrustado ali no meio disso tudo uma banca de livros, nesse domingo debaixo de uma frondosa árvore, pois a banca original havia apresentado um problema na porta. Sob o comando de Walter Tomaz Ferreira Jr, funcionário da Cultura a movimentação ocorria e fervia o local. O esquema é fazer a troca, deixando um e levando outro, mas ninguém sai sem levar algo que lhe interesse. Walter permite que levem o livro mesmo não havendo o escambo, afinal a leitura é o que interessa. Ele é um entusiasta disso tudo e fala da expansão do projeto: “Para o ano que vem serão mais seis bancas, espalhadas Bauru afora e o grande problema para viabilizar tudo será o aparecimento de mais voluntários. Surgindo montaremos até mais bancas”, diz um emocionado servidor. Trago o meu, "Morte e Vida Severina", do João Cabral de Melo Neto.

A passagem pela feira nesse domingo tinha hora para começar e terminar, pois o Noroeste jogaria no Alfredão às 10h e no primeiro joga da decisão da Copa Paulista (vaga para a Copa do Brasil do ano que vem), contra o Audax da capital e do outro lado da cidade. Vou só e logo de cara encontro do assessor parlamentar Fabrício, depois o ex-cunhado Agrício e o vereador Roque Ferreira. Com esse time assistimos o Noroeste vencer por 2 x 1. Casa cheia com aproximadamente 5 mil pessoas e a felicidade de ver o Noroeste ir se reerguendo aos poucos, com propostas de rejuvenescimento para seu futuro e com um time com muita sorte em campo. Dois gols meio que achados, mas que fizeram a felicidade de todos que por lá estiveram. Domingo que vem, a decisão será no campo do adversário, quase neutro (o time é de empresários e não possui torcedores), no do Nacional, beira dos trilhos e no coração da capital paulista.

De lá, paro para comprar meu almoço matinal, um galeto e quem me indica um bem tostadinho é o vereador. Ali pertinho de sua casa paramos no mini-mercado Cheiro Maneiro, propriedade do Valdeci e da Eleide, boca de entrada (ou de saída, sei lá!!) do parque São João e por meros R$ 15 reais levo um com batatas assadas, farofa e um algo mais, pois fico sabendo que era o que o dono levaria para casa. Almoço com os de casa, descanso um bocadinho e vou conhecer um local dos mais falados na região da feira (sempre ela).

Feira, sabemos, tem hora para começar e para acabar. Em Bauru não é bem assim, pois tem feirante que chega no meio da noite para atender os que saem dos bailes e passam para degustar uma comidinha antes de dormir. Tem desde pastéis e produtos com milho. E agora, no encerramento, de uns tempos para cá, tem também os que não querem mais ir embora. Isso mesmo, quando tudo é desmontado lá na Feira do Rolo, bem no meio dela tem uma barraca que insiste em permanecer no local. É a L&L Espetinhos, do trio familiar Marcelo (filho), Sônia (mãe dele) e o Marcelo (pai), que descobriram esse novo filão possibilitado pelo ajuntamento de pessoas no local. Foram ficando mais um pouco e quando se deram conta, dia desses, desmontaram tudo depois de oito da noite. Passaram e muito de algo como uma normal prorrogação.

Passo lá por volta das 15h30, quase duas horas e meia depois de tudo encerrado e ainda um grupo animado de umas dez pessoas permanece debaixo da barraca, mesmo com um solão de rachar mamona fritando o paralelepípedo em volta. Resistentes e persistentes, bebem umas geladas e comem os derradeiros espetinhos. Cada um ali tem história para contar. Tem a do morador da quadra 4 da Gustavo, que não tendo coisa melhor para fazer em casa vai ficando, ficando e esquece de tudo o mais. Tem um japa, que guardou na camionete tudo o que sobrou da venda do dia e fica ali proseando, numa espécie de recarregamento de energias. Tem o próprio seu Marcelo, que também foi ao jogo e fica agora contando vantagem sobre o que viu e maldizendo com um palmeirense ao seu lado.

Marcelo Filho tira fotos para mim do movimento todo e me mostra um algo mais. Na esquina da Gustavo com a Júlio Prestes permanece armado um toldo amarelo e do barracão aos fundos, antes uma igreja, hoje um depósito, um barulho de gente fazendo festa. “São outros feirantes, que também ficam festando até mais tarde. Tudo gente amiga, que aproveita a união para o trabalho e quando tudo chega ao fim, aproveitam para estender o papo. Quando encerro as atividades na minha ali no meio, vou para lá com minha família e devemos ficar até umas oito da noite. A festa sempre vai longe. Feirante é muito alegre e unido”, explica. Olho para os lados e vejo tudo já limpo, os funcionários da Emdurb, responsáveis pela limpeza do local já terminaram seu serviço de coleta do lixo e esses insistem em continuar no local.

Antes de deixar o local, Marcelo Filho ainda me diz um algo mais: “Eu vivo disso aqui e de outra barraca que tenho montada em frente à Faculdade Anhanguera, ali na Moussa Tobias. E mais, gosto do que faço”. Eu não digo a ele, mas também gosto muito de ver como algo surge naturalmente e vai se estendendo, ganhando corpo, crescendo, cheio de vigor. Essa barraca isolada no meio de uma feira já toda desmontada é como uma ilhota isolada no meio do mar e esse é o seu encantamento. Ao me afastar, o morador da quadra 4 da Gustavo me diz: “Te conheço dos jornais. Gosto do que escreve e seria muito te pedir para falar da gente num deles”. Seu pedido está atendido (não via jornal, mas blog) e aqui está explicado um bocadinho do porque muita gente gosta cada vez mais de lugares como esses e desgostam de permanecer dentro de casa curtindo calor, poltrona e facebook num dia como esse. Ali está se tornando o point dos feirantes que se recusam a voltar rapidamente para casa. .

8 comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS AO PALMEIRAS PELO ACESSO A SÉRIE B.

CIAO CIAO BAMBINA

Mafuá do HPA disse...

Apesar do Perazzi no sobrenome não sou palmeirense. Já o fui em passado remoto. Hoje, corintiano e influenciado por um avô, corintianíssimo, José Perazzi. Porém, torci pelo não rebaixamento do Palestra para a Segundona, apesar de levar em consideração que minha torcida deveria ser calada, para não tornar as coisas mais difíceis. Meus primos, todos palmeirenses não viam com bons olhos um corintiano torcendo a favor do Palmeiras. Fiquei quieto, entendi seus motivos. Se querem saber ou mesmo não querendo, digo: estou triste. Não me verão fazendo chacota do momento triste em nenhum lugar. Gosto é do futebol bem jogado onde ele existir. Hoje o que me move mesmo, o me faz ainda ir ver futebol é o NOROESTE, que ontem gloriosamente ganhou a primeira partida na decisão da Copa Paulista e no domingo que vem iré decidir o título na capital paulista, provavelmente com a minha presença.

Um abracito do Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Parabéns, Henrique. Posso dizer que seria uma verdadeira crônica? Você que é mais douto pode me dizer. Gostei de tudo o que você disse, pois retrata a verdade especialmente sobre aquele local. Um abraço. Célio

Anônimo disse...

amigo Henrique,
As estórias e curiosidades de sua cidade, nós um dia iremos conhecer e vicenciá-las com vocês, é claro.É uma vida despretenciosa e promove o encontro de pessoas, que moradores, não se deixam conhecer pela faina do cotidiano, mas que vez por outra, como o jogo do Norusca,(sangue rubro) segundo a filósofa ANABIA que tive oportunidade de ver, movimentam e faz com que a cidade tenha uma dinâmica pulsante dentro do seu conceito.
É bom conhecer particularidades de alguns lugares e essa sua cidade, me desperta a curiosidade em conhecê-la, o que faremos em um período sem atrapalhar a vida de vocês.
No mais um forte abraço carioca em todos e até breve por aqui.
Paulo Humberto Loureiro - Rio de Janeiro

Anônimo disse...

Ó ... agora é sério, super dica aí pros amigos ...
Nem tentem entrar no site do Palmeiras, viu ! Não entrem, não, porque um amigo meu aqui entrou e a internet caiu ...
rerere ...

Gavião Fiel

Reynaldo disse...

Parabens Henrique por esta sempre comentando sobre o cotidiano de Bauru e e claro sobre o nosso Norusca.Pudera estar na final la em Sao Paulo no proximo domingo. Abracos.

Anônimo disse...

Henrique

Essa sua percepção das coisas pelas ruas de Bauru é que te faz uma pessoa diferenciada. Continue sempre assim, pois do contrário não ficaríamos sabendo de nada disso. Na simplicidade do homem comum de nossas ruas está uma riqueza incomensurável e você enxerga isso.

Paulo Lima

Anônimo disse...

Domingo passado alguns amigos comentaram comigo
à respeito do ex-juiz de futebol e narrador esportivo da Rede TV,
Silvio Luiz, sobre a sua narração do jogo do Norusca frente ao
Audax. Disseram-me eles que no segundo tempo depois do
Audax ter um gol anulado pelo juiz da partida, este narrador esportivo
em pauta, disse "assintosamente" que o Audax acabava de ser
escandalosamente roubado em Bauru. Engraçado, ele se esquece que
1961 o nosso Norusca fora "garfado" justamente por ele, Silvio Luiz,
no jogaço Noroeste 2x3 Santos, onde aos 43' do segundo tempo,
na cobrança de um escanteio cobrado pelo Pepe, subiram na bola
o "muralha" Ademar do Noroeste, e o "rei" do futebol, Pelé, deveras malicioso,
segurando o "ademarzinho" pela camisa onde ambos vieram
ao chão, e o juiz, no caso o narrador citado, marcou penalti contra
o Noroeste com a maior cara-de-pau, onde veio o Santos FC à
anotar o seu terceiro gol e saindo-se vencedor do espetáculo.
No final da partida o citado juiz só conseguiu sair de campo escoltado
pela Força Pública do Estado de São Paulo, a Policia Militar da época,
escapando de levar a maior "coça de couro", mas...que
levou uns belos de uns "supapos" ele levou, pois eu ví. (Aldo Wellichan)