sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (70)

GREVE DOS MOTORISTAS: MOCHILAS JOGADAS AO CHÃO, UM SINAL DE DESALINHO E DESCONEXÃO
Nessa chuvosa sexta Bauru é despertada com o anúncio de nova greve nos Transporte Coletivo e Urbano. Mas como, se ainda ontem foi selado um acordo minando essa possibilidade, entre o sindicato da categoria e os patrões? Não estava tudo resolvido, pois até os jornais de hoje davam tudo como sacramentado? Perguntas matinais sem imediata resposta.Todos foram pegos de surpresa, desde os patrões, o pessoal do Sindicato dos Condutores e a Emdurb, a empresa da Prefeitura Municipal que administra o setor. Sem tirar nem por, todos esses foram acordados com a notícia de nova greve e com ela em plena ocorrência.
Recapitulando, uma primeira greve havia ocorrido à revelia do Sindicato, depois esses se integraram e assumiram o papel de comando. Na Justiça foram dados trinta dias para uma decisão definitiva e até lá um provável acordo entre as partes. Sem entrar no mérito da questão, se justa ou não, o que fica evidenciado mais uma vez é o desalinho desse sindicato com os trabalhadores da categoria. E tudo voltou a ocorrer por um único e simples motivo: O SINDICATO FECHOU UM ACORDO COM OS PATRÕES SEM A ANUÊNCIA DOS TRABALHADORES. Simples assim, foram lá, sentaram-se à mesa com o patrão decidiram tudo e iriam somente comunicar ao trabalhador o acordo feito. Quando o fizeram, revoltados, esses partiram para o movimento grevista, como forma de repúdio, escárnio pela forma como tudo ocorreu.

O acordo até poderia ser aceito (e ocorreria), mas não empurrado goela abaixo, como quiseram fazer. O maior sinal desse total desencontro se deu em algo singular e bem representativo: OS TRABALHADORES CRUZARAM OS BRAÇOS E JOGARAM NO ASFALTO DEFRONTE ÀS EMPRESAS SUAS MOCHILAS COM O SÍMBOLO DO SINDICATO. Isso é um marco mais do que simbólico dessa dissonância e de que esse sindicato não os representa, pois é como alguém TIRAR A CAMISA QUE USA E QUERER VESTIR OUTRA, NUM RECADO CLARO: A USADA NÃO LHE SERVE MAIS. Muito estranho um sindicato, já tendo passado por problemas similares há um mês, querer resolver tudo sem a presença do trabalhador. O que todo sindicato quer e busca é ter o trabalhador ao seu lado, conquistar sua confiança e aqui ocorre o contrário. Tem gato nessa tuba.

O retorno ao trabalho ocorreu antes do almoço, mas o racha está mais do declarado e muita coisa precisa ser elucidada:
- Será verdade que assessores representando o sindicato, como dizem, possuem trânsito livre junto ao diretor representante dos acionistas das empresas concessionários do transporte coletivo em Bauru?
- Nas plenárias que a CUT fez até agora é escancarado algo: assessores do sindicato não estão vinculados aos interesses dos trabalhadores. Quais os motivos? E daí, isso fica por isso mesmo? Faltam explicações de ambos os lados.
- Existe alguma possibilidade de um sindicato sobreviver sem o apoio dos seus associados, fazendo acordo sem a anuência do seu maior interessado? Teria alguma legitimidade se o fizesse?
- Existiria algum motivo extra para o sindicato agir dessa forma e promover acordo em nome do trabalhador, usando seu nome, mas sem seu aval?

Na resposta dessas questões, não existe a mínima possibilidade de um posicionamento contrário à causa e a luta dos trabalhadores por condições mais dignas de trabalho.
OBS.: Todas as fotos são meramente ilustrativas e foram gileteadas via internet.

7 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns!!!

Uma senhora reportagem esclarecedora. Realmente está muito esquisito isso tudo.

NEW TIME

duiliodukadesouza disse...

Henrique, meu amigo.
Muito boa abordagem e muito oportunos os questionamentos.
Sabe, Henrique, eu tenho me irritado com essa postura da administração municipal (EMDURB, TRANSURB, PREFEITURA). Sabe por quê? Porque esses canalhas que dirigem esses setores deveriam andar de ônibus como a população usuária o faz. Ou ainda, deveriam sentar no banco do motorista e dirigir um ônibus, pelo menos durante uma semana, fazendo o que os motoristas de fato o fazem. Mas não. Ficam lá em seus gabinetes, com ar condicionado, cafezinho e água gelada e dizendo como os motoristas e os usuários têm que fazer. Quero lhe dizer, meu amigo, que a minha paciência com esses "agentes" públicos!
Outra coisa é em relação ao Sindicato.
Este é um problema também não menos sério e que precisa ser resolvido de vez. Veja: ontem à tarde (08/11/2012), portanto, às vésperas da greve, tomei o ônibus para ir para a escola onde trabalho e, conversando com o motorista a respeito da greve, perguntei-lhe se haveria mesmo ou não a paralisação? A resposta foi rápida e decisiva: “sim, vai parar tudo”. E continuou: “à noite haverá uma reunião e se até lá não resolver o problema da nossa escala, amanhã ninguém sai”… “Na negociação em Campinas, a Justiça deu trinta dias para eles acertarem a nossa escala e até agora eles não fizeram nada alegando que precisam contratar motoristas primeiro…”.
Com isso, meu amigo, quero fazer uma ressalva no seu texto, onde você diz que “Todos foram pegos de surpresa, desde os patrões, o pessoal do Sindicato dos Condutores e a Emdurb, a empresa da Prefeitura Municipal que administra o setor. Sem tirar nem por, todos esses foram acordados com a notícia de nova greve e com ela em plena ocorrência.” Não Henrique, nem todos! Os usuários que enxergam, que percebem, que respeitam o motorista que os levam de um lugar para outro, com a maior atenção e cuidado para a sua segurança, esses usuários sabiam que não haveria ônibus.
Mas, o pior vem agora para concordar com o seu texto: chegando no bairro e, ao descer no ponto aonde costumo descer para ir à escola, encontro um dos Diretores do Sindicato. Saudamos-nos e imediatamente lhe pergunto: “amanhã para tudo mesmo”? – Surpreso (ou fingindo de) ele me respondeu: “para o que”? “A greve” eu disse. “Não, não haverá greve coisa nenhuma. Ninguém vai parar não”. Eu ainda o provoquei mais um pouco: “mas o motorista acabou de me dizer que amanhã não sai nenhum ônibus, se não for resolvido logo mais à noite o problema da escala”. Percebi o maior constrangimento nele. Um misto de vergonha e covardia.
O que este Sindicato está fazendo, Henrique? Pelegou de vez, meu amigo! É um braço direito do Prefeito. Diretor não fala nada, quem fala é assessor. Assessor? E CUT? Como permite uma coisa dessa e fica calada?
A única resposta que eu vejo nisso tudo é que os sindicalistas de hoje, não se preocupam mais com a luta em defesa da categoria, seja da CUT ou não. Estão na direção do Sindicato há anos, muitos há décadas e se acomodaram nesse Bebeto. Eu que fui sindicalista, não posso aceitar isso, Henrique. Esse pessoal mancha a história do sindicalismo no Brasil.
E nesse ponto, a categoria dos motoristas está de parabéns porque eles atropelaram definitivamente esse sindicato que não os representa, que os trai, que se vendeu para os patrões empresários e para a administração pública municipal.
PRONTO, FALEI e quero que me constestem.
DUILIO DUKA DE SOUZA ZANNI

Mafuá do HPA disse...

Duílio, é isso que falta hj, esse contato com o trabalhador. Não vi isso nos textos dos dois jornais de Bauru de hoje. Tratam tudo deixando de lado o trabalhador. Ficou claro que tiveram uma reunião de cúpula, onde a parte interessada foi escanteada. E deu no que deu. Sua abordagem deixa claro mais um pouco do rabo já mais do que exposto de um problema ainda insolúvel. Abracitos do HPA - direto do mafuá

Mafuá do HPA disse...

Henrique Perazzi de Aquino, Duilio Duka, parte da direção do Sindicato se afastou completamente da categoria. Fui duramente atacado antes do processo eleitoral por ter apoiado a luta dos condutores. Como não tinha argumento a imprensa tentou desqualifica a ação dos condutores dizendo que era influência eleitoral. Agora, para desmerecer o ato de ontem dizem que foi um grupo de 40 funcionários que parou os outros. Uma bobagem. Dulio Duka, você como dirigente sindical sabe, que quando uma direção se desmoraliza junto à base, a base organizada atropela, foi isso que ocorreu. Neste 30 dias que antecederam a paralisação, alertamos e tentamos fazer com que o poder público que é o responsável pela gestão do sistema buscassem saídas positivas. Ignoraram. O problema não está resolvido, foi postergado. A saída é a jornada de seis horas de trabalho.
Roque Ferreira

Essa resposta do vereador e amigo Roque foi postada no facebook e reproduzida aqui por mim
HPA

Anônimo disse...

meu amigo Henrique
Quero encarar isso tudo por um outro ângulo. Pense comigo.
O trabalhador continua sendo o que mais padece nisso tudo.
Ouço comentários de que a partir de agora ele não sabe mais se terá ônibus para ir e nem para voltar ao trabalho.
O que os trabalhadores ganharam com essa paralisação? Qual o real sentido dessa última paralisação?
Encaro a luta dos trabalhadores como algo feito para se obter algo, uma conquista. Sou trabalhador e sei que a luta é árdua e feita dia a dia.
Não consigo encarar como positiva uma paralisação que não tem um benefício explícito. Uma disputa entre dois grupos dentro de um sindicato está gerando isso. Um grupo inoperante, fazendo acordos espúrios com o patrão sem que o trabalhador tome conhecimento e o outro que quer agir como de fato deve agir um sindicato.
E no meio do fogo cruzado a população.
Analisem isso tudo junto comigo.
Daniel

Mafuá do HPA disse...

Esse comentário é do João Andrade, da CUT Bauru e foi postando no facebook, no posto sobre o tema e reproduzido aqui por mim:

"Pra sincero fiquei indignado com a forma com que os jornais trataram a paralisação dos condutores. O Acordo é bom só pra empresa, já que com ele não será necessário nenhum centavo de investimento. Não foi uma negociação e sim uma forma de dar um olê na Ação do MPT. Nem sindicato, nem imprensa questionou os impáctos desta carga horária para a saúde dos trabalhadoes. A saída para os condutores são as 6 horas. De quebra melhoraria um pouco a qualidade do serviço".

Henrique - direto do mafuá

João Andrade disse...

Caros Henrique, Duilo e Roque. Todos pelos quais tenho imenso apreço. Duka foi meu coordenador aqui na CUT. Roque é uma grande liderança sindical, respeitado por todos em todas as instâncias da CUT. Além de se ter se tornado o Vereador da Classe Trabalhadora. Henrique, velho de guerra, pensador, intelectual,questionador. Deixo meu recado apenas para lembrá-los de 2 fatos que são públicos e que podem ajudar neste importante debate: Primeiro - A CUT se posicionou publicamente favorável à luta pela redução da jornada dos motoristas e cobradores. Contrária ao fortalecimento da mobilização, a imprensa local não deu nenhuma publicidade à este fato e esta postura será retórica. Não houve nenhuma decisão nova sobre isto, portanto a Central continua apoiando os trabalhadores, goste a diretoria do SINDTRAN, ou não. Com relação às atitudes dos diretores que comandam o sindicato, penso que os trabalhadores devem demontrar suas avaliações nas próximas eleições. A CUT e a categoria foram oficializadas de um grupo de oposição CUTista que deverá disputar o pleito. Na minha opinião, e tenho dito isto à todos que me questionam sobre a ótica da política sindical, qualquer que seja a decisão da CUT, de apoiar ou não um grupo de oposição, os trabalhadores já tomaram sua decisão em quem irão votar. Pese esta conjuntura de disputa pelo aparelho sindical, deixo um alerta: Minimizar esta mobilização à esfera de disputa sindical é exatamente o que os setores que não estão do lado dos trabalhadores querem. Esta foi a única forma encontrada para desqualificar a reivindicação e a organização da categoria. Insisto na tese de que atualmente não há comando algum. Trata-se de uma revolta por melhores condições de trabalho e de vida. Estes trabalhadores querem e merecem respeito e estão lutando para conquistá-lo.