sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

FRASES DE UM LIVRO LIDO (76)


O QUE LEIO PUBLICADO SOBRE O “NÃO VAI TER COPA”, “BLACK BLOCKS” E MINHA OPINIÃO
A) “Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento. A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro. Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico”, professor de Comunicação da UNESP Bauru, Dino Magnoni.

B) “Ontem a noite por volta das 23hs, a rua Estados Unidos estava congestionada, fechada na altura da rua Augusta por policiais, causando muito tumulto. Fiquei muito triste ao assistir noticiário sobre manifestações com violência, vândalos ateando fogo em carros. Nossa cidade, que deveria estar em festa pelos 460 anos, parecia uma concentração de guerra. Se você quer dizer NÃO à Copa, chegou tarde. Ela acontecerá, em meio a obras superfaturadas e infraestrutura da cidade deficiente e insuficiente para atender à quantidade de turistas que aqui chegarão. Diga NÃO à violência, NÃO ao vandalismo, NÃO compre ingressos, NÃO Fale outro idioma, NÃO assistindo ao jogos, NÃO dando audiência aos meios de comunicação que irão narrar e televisionar os jogos. Mas acima de tudo, NÃO À VIOLÊNCIA. Vamos cuidar da melhor maneira possível da nossa cidade!!!!!”, cantora bauruense radicada em São Paulo, Paulo Velozo.

C) “Dono de fusca incendiado: um serralheiro de 55 anos que o usava para entregar portões (quatro pessoas no carro, dentre elas uma criança de quatro anos). E se aparecer calhorda na minha TL defendendo esses vagabundos black bloc, dizendo que eles defendem os pobres, vai tomar xingamento e block em seguida. (...) E o panaca diz "se não tiver direitos não vai ter Copa". Nada trouxe mais direitos que minha casa minha vida, luz para todos, prouni, emprego”, artista plástico e diretor teatral Silvio Selva.

D) “De uma vez por todas: esperei acontecer duas coisas para emitir minha opinião DEFINITIVA sobre esses Black Blocks, Anonymous, MPL, Mídia Ninja, Fora do Eixo e similares: o ato de ontem contra a ação da polícia na Cracolândia e essa coisa doNãoVaiterCopa e tal. Para ‘movimentos’ que se dizem tão preocupados com ‘direitos’, por que esse pessoal não foi protestar contra o desrespeito que houve contra os nóias da Cracolândia? A resposta é simples: eles não estão do lado de quem realmente precisa. Eles querem é aparecer e causar o maior dano possível por absolutamente nada, e para que alguns poucos espertalhões lucrem com isso. Por isso, agora é definitivo mesmo: nada que vier dessa turma terá a menor credibilidade pra mim”, Maristela Alves, Diretora de Conteúdo na empresa JumpEducation

E) “Nada tenho contra a realização da Copa no Brasil. Será a segunda em nosso País, desde a criação deste evento. Nos campeonatos realizados fora daqui, nossa qualidade de vida não melhorou. Os corruptos não deixaram de ganhar dinheiro por que a copa foi na Suécia ou em qualquer outro pais ou continente. Feliz, para mim, será o dia, que o Esporte, não seja considerado supérfluo. Uma nação desenvolvida de fato, oferece a possibilidade esportiva a todos seus cidadãos. Que venha a copa, e quem sabe, sejamos campeões”, Tatiana Calmon.

F) “O Brasil quer entrar no "primeiro mundo", mas não quer que existam manifestações. Tem é que preparar a polícia, isso é ser "primeiro mundo". A polícia e o governo têm que aprender a lidar com os protestos, que existem em qualquer país desenvolvido. Sejam contra a Copa ou rolezinhos. Protestar é demonstrar indignação, inconformismo. Isso é positivo numa sociedade. ruim é aceitar as injustiças passivamente. Mas os manifestantes têm que usar a inteligência, também, não só os coturnos. senão se igualam à polícia. Da minha parte, prefiro protestos como esse, na Ucrânia (e, diga-se de passagem, lá também rolaram confrontos). (...) É tão legítimo protestar contra a Copa quanto protestar contra os protestos. 29 anos após o fim da ditadura e ainda não nos acostumamos com a democracia”, blogueira Socialista Morena.

G) Quando um padre como Julio Lancellotti tem uma visão mais à esquerda que muitos que se consideram de esquerda podemos medir o nível de envelhecimento e ida ao centro desta esquerda: “É uma resposta à violência que está aí. Eles destroem os símbolos do poder. Você acha que eles dão prejuízo para os bancos por quebrar uma agência? Os jovens se expressam de muitas maneiras. Não adianta só combatê-los, é preciso entendê-los. O Papa Francisco disse algo interessante nesse sentido: “Eu não gosto de uma juventude que não se manifesta, apática, amorfa.” É preciso agitar. Jesus era mais para Black Bloc”

H) "Querem transporte coletivo de qualidade, mas depredam pontos de ônibus e colocam fogo nos coletivos. São contra a especulação financeira internacional e depredam agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Reclamam do custo das ligações telefônicas, mas arrebentam com os orelhões. Pedem mais investimentos em cultura e educação e invadem teatros e shows. São contra os grandes magazines, mas saqueiam pequenas lojas do comércio. Dizem defender os direitos do cidadão humilde, mas colocam fogo em carros populares com a família dentro. São contra a Copa do Mundo, mas não fizeram nada para evitar que ela viesse para o Brasil", economista Emir Sader.

I) "Emir, acho que vc não vai lembrar: eu tive o grande prazer de te conhecer numa noite de janeiro de 2001, numa sala da Policia Federal em Porto Alegre. Eu era advogada a Renap e nos encontramos por ocasião da prisáo do ativista francês José Bové, depois da ação junto com MST para destruir 2 hectares de soja transgênica de uma fazenda da Monsanto. Vc deve lembrar: baderneiros, vândalos, desocupados e terroristas eram as expressões correntes na boca da polícia, do governo federal da época (FHC) e da imprensa. A ação arbitrária da Polícia continua a mesma, mas a leitura de parte da esquerda sobre ações diretas de movimentos e coletivos parece que mudou um tanto desde então", de Andressa Caldas, respondendo para Emir Sader.

AGORA EU: Muito mais poderia continuar reproduzindo nessa linha. Paro por aqui. Posto agora duas opiniões minhas em dois textos publicados hoje via facebook, respondendo sobre crítica sobre capa da revista Carta Capital que sai às bancas amanhã. Alguns pegaram no pé da revista por aparentemente fazer a defesa do Governo e não estar ao lado dos manifestantes, depois por inicialmente ter apoiado as manifestações nas ruas e hoje não mais apoiar. Minhas duas respostas, lado a lado: “POIS EU ADOREI A CAPA E EXPLICO. Não existe nada de revolucionário no que vejo sendo feito pelos blacks e muito menos pelos que gritam slogans do tipo "Não vai ter Copa". Na verdade, são uns que acreditam no quanto pior melhor. Essa parada que querem dar ao Brasil é bancada por uma oposição que faz de tudo e mais um pouco para tentar diminuir as chances eleitorais de Dilma e não consegue. Daí se agarram até em fio desencapado para conseguir seus objetivos. Os que estão nas ruas não querem um país novo, não estão propondo revolução nenhuma e possuem embutido, escondido, sem revelar, mas escancarado e só não vendo quem não quer mesmo ver nada, que querem simplesmente a troca de poder, com a saída do grupo atual e dar um jeitinho do retorno da tucanada. Ou seja, se está ruim agora, pior ficará. Atentam contra tudo e todos para atingir seus objetivos, só isso. Daí a capa tem um sentido de escancarar isso, quem está por trás desses movimentos nas ruas, fazendo-se passar por moderninhos, mas financiados por tudo de ruim que tivemos na história do Brasil. Mino está certo na capa, na avaliação e na denúncia desses. Essa oposição brasileira na verdade é incompetente e está se revelando cada vez mais preconceituosa e cada vez mais conservadora. Não é esse o movimento que gostaria de ver nas ruas e sim, um transformando o regime político, mas isso aí não tem nada disso. Essa luta não está nas ruas. A Carta Capital continua antenada com essa linha de pensamento, a minha”.

Depois publico outro: “NÃO VEJO DESONESTIDADE NENHUMA COMPARANDO AS DUAS CAPAS - Quem num primeiro momento, quando viu o povo nas ruas ano passado não se entusiasmou? Todos. Depois a desilusão. A revista também foi na onda, como eu e a maioria da nação. A ficha caiu para mim e para todos os que passaram a observar o que de fato estava embutido na pratica e discurso de alguns grupos que se apossaram das ruas. Perceba a capa dessa última edição. Acha que algum povo lutando por revolução, por transformação social faria algo com aquele fusca e com seus ocupantes lá dentro? Só bestiais fariam o que foi feito. nenhum revolucionário consciente teria coragem para isso. Hoje, até as pedras do reino mineral sabem que os movimentos que estão nas ruas propondo o Não vai ter Copa e os Blacks possuem conotação fascista, conservadora, direitista, assim como os que dominam as ruas na Ucrania hoje, até com bandeiras nazistas. A revista está fazendo sua matéria denunciando isso e isso não tem nada a ver com eleição. Tem a ver com observação isenta e sensata. Me diga o que está enxergando do povo nas ruas? Acha revolucionário o que fazem? Não, nem um pouco ideológico, nada transformador, mas algo sendo feito bancado por alguém. A revista já fez o mea culpa dela, eu o meu. O que não dá mais é para tapar o sol com a peneira, tem grupos organizados por trás da baderna e isso precisa ser explicitado. Tomara que na matéria da revista isso esteja bem latente”.

Recebo uma provocação de um tal de Movimento Pró-Corrupção: “Hoje, até as pedras do reino mineral sabem que os movimentos que estão nas ruas propondo o Não vai ter Copa e os Blacks possuem conotação fascista’. Apenas as pedras que se informam pelas mídias governistas!”. Minha resposta: “Nada disso meu caro. Me diga o que existe enrustido no seu movimento e lhe direi quem és? Não existem santos nessa história, todos o são do pau oco, inclusive vocês. Não precisa ser governista, nem bidu para perceber isso, está escrito nas ações e reações que estão tendo. Me diga o que existe de revolucionário no que fazem hoje, na forma como fazem, contribuindo para desestabilizar o país e nada mudar. Estaria com vocês se vislumbrasse algo contestador, revolucionário, transformador, propondo o fim do sistema de exploração do capital, mas isso nem é aventado por nenhum de vocês”. E fui fazer outra coisa.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

BEIRA DE ESTRADA (31)


BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS DO LADO B DE BAURU (02) – publicado no jornal mensal Metrópole News (do Vinicius Burda), nº 7, janeiro 2014.
HILDA SE SOUZA, A CATADORA A MERECER UMA JUSTA HOMENAGEM
Janeiro é mês emblemático dentro do ano, que pelo visto começa a partir de março, depois do Carnaval.  Ano passado, uma das ocorrências repetidas quase que semanalmente na Casa de Leis bauruense foi a entrega de MOÇÕES DE APLAUSO para pastores evangélicos, todos com ligação umbilical com o que pensa e age o atual e o anterior presidentes. Fizeram da Câmara uma extensão de suas atividades como pastores. Isso causou transtornos, malentendidos, fuxicos e muito descontentamento. Afinal, por que só pastores seriam os merecedores dessa honraria...

Ao invés da repetição dessas Moções somente para pastores, afinal, acredita-se que todos já foram agraciados, a Câmara de forma edificante poderia homenagear as pessoas mais simples, as "carregadores de piano", que são muitas e na maioria das vezes esquecidas e até menosprezadas. Imaginem a cada semana (ou até com um espaçamento maior), uma homenagem renovada, uma MOÇÃO DE APLAUSO PARA OS QUE REALMENTE DIGNIFICAM BAURU.

Na ideia inicial (encampada pelo vereador Roque Ferreira), pessoas das mais dignas, dessas que trabalham muito, são vistas pela cidade inteira e dão seu quinhão de contribuição para Bauru ser o que é. Penso inicialmente em DONA HILDA DE SOUZA, a famosa catadora de papéis do centro da cidade. Essa senhora, com seu carrinho de mão ajuda de forma substancial a limpar o centro de nossa cidade, teve sua residência incendiada recentemente, sustenta toda sua família com o que arrebanha na porta dos estabelecimentos comerciais, está sempre a sorrir e com os seus mais de 60 anos, se mostra alguém a merecer uma honraria e o reconhecimento dessa cidade. Hilda personifica o trabalhador que carrega seu instrumento de trabalho com a força do próprio punho. Com ela poderia ser dado o pontapé inicial para um projeto grandioso, o de valorizar essas pessoas a circular por nossas ruas. Depois, muitas outras e as sugestões ficam em aberto, pois nomes é o que não nos faltam.

A seguir um pouco mais dessa valorosa batalhadora. O nome dessa batalhadora deveria ser Desbravadora, Guerreira e Persistência, pois sua vida toda foi uma intensa luta pela sobrevivência. Criou todos os seus filhos com a força do seu braço, coletando objetos pelas ruas da cidade, sem dó e piedade, levantando seu lar e dando de comer aos seus. Aos 67 anos, figura muito conhecida de nossas ruas, forte como tem que continuar sendo, busca forças diárias para empurrar o seu carrinho pelas ruas e ganhar o seu sustento. Há 35 anos está catando reciclados e vivendo disso. Possui um vozeirão de impressionar, forte e contundente, daqueles que fere quem está ao seu lado, pela imponência. É uma mulher decidida, líder comunitária onde mora, no Fortunato Rocha Lima, de onde não sai de casa para quase nada, a não ser o trabalho e ir à igreja. Possui uma risada e uns dentes de fazer inveja e uma conversa envolvente, como todas as pessoas que não têm nada a esconder. É de uma sinceridade impressionante, não gosta de fotos, muito menos as tiradas quando está com o seu objeto de trabalho, o carrinho. No seu rosto as marcas do último embate, dessa vez com uma panela de pressão que explodiu perto de sua face. Não permite concessões ao seu modo de viver. Quem a conhece sabe o que quero dizer, ela é desse jeito e pronto. Uma mulher de fibra, numa atividade aviltante, como a grande maioria dos desvalidos desse país.

OUTRAS BIOGRAFIAS, TODAS PERSONAGENS LADO B DE BAURU:
MARINA GIORDANO é uma senhora de fino trato, trabalhou a vida toda em diversos e variados lugares, como a Drogasil, Sampaio, Mappin e outros, até conseguir a justa aposentadoria. Aos 72 anos, moradora do Mary Dota, goza do benefício de não mais pagar ônibus circular urbano e assim vem para o centro fazer o que gosta. Mas de que gosta dona Mariana? Ele possui uma coleção de aproximadamente mil discos, que ouve regularmente em sua vitrolinha e está sempre a cata de novidades. Sua preferência, mambo, salsa e os do Rolando Boldrin. Coleciona xícaras e circula pela Feira do Rolo em busca de novidades, trazendo sempre outras para troca. Ali naquele reduto, traz livros já lidos e vai os trocando pelos ainda não lidos. Na bolsa, diz sempre manter um, o que lê no momento. Viúva há 25 anos, esses seus passatempos, essa sua forma de encarar a vida e pelo sorriso ostentado, aparenta ser feliz e fazer o que gosta. Irmã do famoso Marron, lá do Pé de Valsa, ela ainda revende Avon nas horas vagas e de sombrinha em punho, para enfrentar as agruras do calor bauruense, diz sem medo de ser feliz, que a vida não tem lhe sido ingrata. Lépida, fagueira, dona Marina sabe o que faz.

CLAÚDIO DE SOUZA é um sujeito com a cara da felicidade estampada no sua face (como é fácil fazer com que as pessoas possam ser felizes). É o personagem representando o juiz na peça, todo de preto, algo surreal (talvez um Joaquim Barbosa dos tempos idos), estripulias mil no palco. Aos 48 anos, Cláudio diz amar o teatro. Mora longe, lá no Santa Edwirges e trabalha num suado batente na empresa Nova Era Empreendimentos Industriais, lá no Distrito Industrial I, defronte a Sukest. Sua função é a jardinagem, ofício aprendido ao longo dos anos e desenvolvido com maestria e sapiência. Bolou esquetes de 15 minutos cada, texto dele mesmo e não tendo onde apresenta-los, pede ao patrão se não pode fazê-lo no horário de intervalo, mostrando aos seus colegas de trabalho um bocadinho de sua arte. Licença concedida, ele diz que no início foi motivo de olhos atravessados, mas hoje, não querem que ele pare mais. E ele continua. Meses atrás foi atrás de Paulo Neves, mostrou a gravação de alguns deles e disse que queria fazer teatro de verdade, ter o registro da categoria. Essa foi sua estreia e a alegria o invadiu por inteiro. Deu o melhor de si. Suou a cântaros. Contou sua história para todos que tiveram a disposição de ouvi-lo e agora, gelo quebrado, quer expor suas gravações no youtube, facebook e buscar outras formas de reconhecimento. Cláudio é a esperança em pessoa, cheio de sonhos,
crendo que após conseguir chegar até aqui, poderá ir muito mais longe. E quero muito que vá.

Seu SALVADOR MOURA é um distinto senhor, morador do Geisel e tendo por ofício de vida o de pintor. Pinta e borda, paredes mil, casas uma atrás da outra, esse seu sustento. Aos 59 anos, bem vividos, já fez de tudo na vida, mas dentre as coisas que gosta de relembrar com imensa saudade é a de cantar. Sim, foi (alguém deixa de ser?) cantor. E para provar, abre o gogó sempre que solicitado. O apelido, que carrega pro resto da vida é VAGALUME e explica: “Eu pegava serviços à noite, coisa que poucos queriam fazer e em algumas vezes usava um farolete para clarear as paredes. Começaram me chamar de Vagalume e o apelido fincou em mim”. Pois bem, esse Vagalume trabalhou por mais de dez anos na Bauru Painéis, depois outro tempo como decorador e continua pintando por aí, cantando pouco, infelizmente. Pai da cantora Joelma, do grupo Balaio de Sinhá, tem orgulho em dizer que ela já cantarolava desde os dois anos, influência paterna total. Um retinto senhor, magro, esbelto e cheio de muito charme, inclusive nos momentos em que circula com um cigarro (apagado, viu!) atrás da orelha. A simpatia em pessoa, um ser de bem com a vida e sabendo leva-la a contento, como deve mesmo ser as nossas relações com essa distinta senhora. Vagalume é desses a clarear trilhos para os desalumiados.

MAURO DIAS BORBOREMA é seu nome de batismo, mas com o passar do tempo ficou só BORBOREMA, como todos o conhecem. Nasceu em Garça, mas ganhou a estrada logo cedo, de um lado para outro, aportando em Bauru e por aqui se estabelecendo. Com 50 e lá vai fumaça de idade, uma das tantas coisas que faz por gosto é o amor pelo futebol. Fundou um time amador na cidade e na querência de homenagear o falecido BAC, aproveitou o B de Bauru e o do seu nome, assim nascendo o Borborema Futebol Clube, um desses tantos que vive sem patrocínio, buscando forças aqui e ali, sobrevivendo só deus lá sabe como. Estamos a poucos dias de mais um torneio amador ter início, tudo ainda está embrionário lá pelos lados do time, mas ele não se perturba, pois sabe que a luz virá e o time entrará em campo. Borborema é um místico, teve famoso templo de umbanda em Garça, sua terra natal e hoje tenta reviver outro por aqui, algo que deve acontecer tão logo a luz baixe e lhe inspire onde, como e por que. Enquanto isso não acontece, festeja a vida ao lado de gente do samba, do futebol, da umbanda e os que compreendem sua forma de ser e agir. Bonachão, bate bola em várias posições, tudo ao mesmo tempo, trabalhando, crendo e curtindo o lazer pelas quebradas do mundaréu. No último domingo gravou vários vídeos, um de 48 minutos com o pessoal do samba lá na Escola de Samba Coroa Imperial e quer que o ajudemos a espalhar a festa. Eis aqui seu vídeo, entregando todos que por lá estiveram:https://www.facebook.com/photo.php?v=244682635712567&set=vb.100005124964140&type=2&theater 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (82)


O DISCURSO DO FRANKLIN É CONCILIADOR – SERÁ QUE NEM ISSO O OUTRO LADO ACEITA DISCUTIR?
Ontem no final do dia publiquei nas redes sociais um texto marcando várias pessoas. Era um CONVITE para algo que ocorreria hoje na cidade:Quarta-feira (29/01) às 9h AULA PÚBLICA NA UNESP BAURU - VAMOS??????? Franklin Martins, jornalista, cientista político e ex-ministro da Comunicação Social, responde: “por que a mídia deve ser regularizada? Praticamente todas as sociedades democráticas do mundo têm mecanismos de regulação dos meios de difusão. Salta aos olhos, então, a necessidade de avançar nessa área e promover o debate na esfera pública", afirma Franklin”. Um tema que nossa mídia foge de discutir e é inconcebível uma mesma empresa ter tanta influência, tanto poder, querer atuar em todas as frentes, achar isso normal e quando vão falar de leis a eles, dizem que isso é falta de liberdade de expressão. Quem ainda confunde as bolas, eis uma rara oportunidade de amanhã cedo esclarecer tudinho. No meu carro cabem mais quatro... Quem vai? Coisas do HPA”.

Lá estava às 9h e da fala dele, toda gravada pela TV Unesp, eis o que consegui extrair:

“Todos sabemos que o verdadeiro dono dos meios de comunicação no Brasil é o Governo Federal. É necessário que ele dê autorização de funcionamento no setor. E por que dá a um e não a outro? E se dá, quais as regras de controle? O Estado precisa fazer valer algumas regras, o cumprimento de algumas básicas obrigações. Regras claras de funcionamento e fiscalização. Tudo deve ter um prazo determinado. Precisa existir freios para impedir oligopólios e monopólios no trabalho de levar a informação à pessoa interessada nela. Hoje pequenos grupos manipulam e fazem o que querem com a informação. Dessa forma não existe como evitar a manipulação e a concentração. No mundo todo existe esse controle estatal, tudo acompanhado por agências reguladoras. O Brasil precisa desesperadamente dessa regulação. Não temos regulação nenhuma. A Lei vigente é de 1962, muito antes da existência das TVs ao modo de hoje e do mundo virtual. O setor mudou muito em 50 anos e possuímos uma legislação de 50 anos atrás. Ela não responde pelos nossos problemas atuais. Hoje existe um festival de regulação no país, uma gambiarra onde cada um faz o quer, ganhando muito dinheiro com isso e fazendo tudo ao seu bel prazer. São grande oligopólios que puxam a sociedade para os seus interesses. Escondem, sentam em cima de canais, manipulam. Quando alguém levanta a voz e tenta falar em regular o setor, logo levantam a voz e dizem que estão atentando contra a liberdade de expressão. Dessa forma querem interditar o debate. Querem impedir a discussão. Existe uma clara satanização de todos que querem discutir seriamente o tema.

O que se busca na verdade são tempos novos, onde todos possamos sair juntos do cercadinho de como a tema ainda é discutido hoje. Qualquer coisa que diminua o oligopólio é para eles abuso e afronta à liberdade de imprensa. Essa questão interessa a toda sociedade, inclusive aos que bloqueiam a discussão. Eles sabem muito bem disso. Não somos a Argentina e não queremos copiar o que foi feito na Argentina. Temos é que aprender com a Argentina, não fazer como ela. Eles formam e perdem maiorias políticas muito rapidamente. Eles são um potro fogoso, nós somos um elefante, que jamais tira mais do que uma pata de cada vez do chão e se o fizer, quebra-se todo. Não nos esqueçamos que Lula só foi eleito na quarta tentativa. Aqui tudo se consolida de uma forma mais demorada, lenta e quando se chega lá é muito mais difícil uma volta para trás. Perceba que as conquistas que tivemos são sem volta. Olhamos sempre para a frente. E dessa forma, voltando para o tema da conversa, por que temos que comer na mão de 4 ou 5 grupos? Hoje pela América Latina toda vemos uma superação de suas contas com o passado, contas essas que não batem com o futuro vislumbrado na nossa frente. É mais do que necessário a abertura de um debate público, aberto e franco, ou o elefante vai acabar passando por cima de nós todos.

O outro lado da questão, os grupos de poder sabem da necessidade desse debate. Fogem dele, mas sabem. Analisem hoje junto comigo o deslocamento dos anúncios feitos nesses meios. O que o Google recebe hoje está se aproximando muito do que a Globo recebe. Na somatória o Google já recebe mais do que a somatória de todas as outras emissoras. Esse dinheiro não fica aqui, vai todo para fora. O mercado precisa limitar isso, os prejudicados são os próprios barões brasileiros que vem isso acontecendo e estão perdendo a rica oportunidade de fazer uma discussão séria sobre o assunto. Precisa alguém determinar um caminho, as empresas querem assim, o mercado propõe isso. Só que eles já sentem o prejuízo no bolso, mas não querem um debate público, aberto e transparente. Querem decidir entre eles, numa mesa e sem mais ninguém. Assim não dá.

A regulação não tem nada diferente do que reza hoje a Constituição. Aqueles artigos que já estão lá dizendo que político não deve ter concessão, espectro dividido, essas coisas. Faz 25 anos que não sai nada de novo no papel. Mesmo eles sabendo estarem entre a cruz e a espada, continuam satanizando todos que levantam a voz. E daí os políticos nada fazem, pois se algum levanta a voz, a mídia cai de pau e o sataniza. E assim eles recuam e vão fazer outras coisas, cuidar de outros temas. Inevitável ocorrer essa discussão, não podemos mais perder tempo. Não dá mais para suportar algo além desses 25 anos de espera. O dinheiro é a mola mestra da conduta de todos eles. Não sabem andar mais para a frente e estão precisando de um sonoro empurrão. O que resolve isso tudo é a disputa política dentro da sociedade. Ninguém está querendo acertar contas com o passado. O que ser quer é criar condições para o futuro, pondo fim aos conluios hoje existentes. Muita coisa já foi conquistada, mas é necessário encarar e viver os desafios propostos para o futuro. Mais do que nunca se faz necessário pensar, compor, fazer alianças e resolver. Ficar nesse impasse não dá mais. O Brasil é o tal elefante, ele é pesado e corre. Pode passar por cima de todos, os de um lado e do outro. Precisamos saber o que ele quer conquistar e estar junto nessa caminhada. O momento é agora”.

De tudo o que ouvi, algo muito simples, que até dá título para meu texto, o discurso do Franklin é conciliador, não propõe nenhuma brutal ruptura. Alguém tem que ceder em algum momento, pois os absurdos no setor consolidaram monopólios disformes e brutos. Essa adequação aos novos tempos ou vai acontecer a fórceps, ou diante desse impasse, o que vejo é uma perda coletiva, de ambos os lados. Será que nem isso os tais dos “Donos da Mídia” aceitam discutir? Foi isso o que extrai de sua fala, ouvida atentamente por muitos alunos do Curso de Comunicações - Jornalismo e por alguns dinossauros (sic) bauruenses, dentre os quais cito alguns dos seus nomes: Gilberto Maringoni, Juarez Xavier, Dino Magnoni, Darcy Rodrigues, Wellington Leite, Francisco Machado, Cleide Portes, Angelo Sotovia e eu, todos muito interessados na continuação desse debate.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (67)


GUARDIÃO DESCOBRE QUE QUEM NÃO PAGA ÁGUA SÃO AS “FORÇAS VIVAS” BAURUENSES

Guardião, o super-herói de Bauru, folheando o Jornal da Cidade, edição de hoje, em sua página 2, lá está a charge do competente cartunista Fernando, com uma baita de uma lista, a de material escolar. “Ótima sacada do artista, pois ela é mesma interminável. Daí, foi quase imediato, me veio à mente outra lista, a dos devedores de água do DAE, uma que ninguém sabe, ninguém viu”, começa seu relato Guardião. Ainda mais porque dias atrás pelas redes sociais, o vereador Roque Ferreira PT, havia divulgado isso sobre ter recebido a tal lista, a dos maiores devedores de água na cidade, uma que está guardada sob segredo de justiça: “O departamento de Água e Esgoto remeteu oficialmente na data de hoje, resposta ao requerimento que efetuamos com base no Artigo 18º da Lei Orgânica do Município, para apresentar oficialmente os nomes dos 100 maiores devedores de água, e dos 50 maiores devedores da taxa de esgoto”. Escreveu mais: “Entre os maiores devedores de água esgoto, estão associações que administram recintos de eventos, fundações hospitalares, hospitais privados, universidades privadas, condomínios e residenciais, órgãos públicos municipais, estaduais e federais, hotéis, construtoras, clubes, empresas de transporte, postos, escolas privadas, redes de supermercados, restaurantes e grandes indústrias. (...) O que chama mais atenção, é que entre os devedores existem empresas, instituições e pessoas que integram o círculo das tais “forças vivas da cidade”, outras com grande poder de pressão junto aos órgãos públicos, o que faz com que muito agentes públicos pratiquem a vassalagem nas relações com as mesmas”.

“Um horror, isso das tais forças vivas serem os tais maiores devedores”, se diz surpreso o super-herói. Mais horrorizado fica quando toma conhecimento da fala do presidente do DAE, Giasone Candia, que o montante dessa dívida chega perto de R$ 13 milhões de reais. Como sabem todos os amantes de HQ, super-herói acaba tomando conhecimento de tudo (“não se sabe como, não me perguntem isso, pois não sabemos”, dizem HPA e Gonçalez) e diante da lista, tão grande como a do material escolar, faz alguns questionamentos: “Se o DAE tem conhecimento dos nomes de todos, por que não cobra judicialmente eles todos? Fica evidente que sendo esses pertencentes as tais Forças Vivas, gente graúda, poderosa, não vai me dizer que é por esse motivo que não cobram? E mais, se o DAE não cobra, tendo os nomes deles todos, o consumidor pode querer enquadrar a autarquia por não estar fazendo o que deve ser feito. Qual o motivo da cobrança ser incisiva com o pobre e leniente com o rico? Queremos explicações para isso?”. Como podem perceber, Guardião está um tanto bravo e quando nesse estado, irritadiço, quer sempre saber do algo a mais e clama por ajuda. Na sequência o link do texto do vereador Roque: http://www.roquevereador.com.br/noticias.php?id=586

Daí, acaba tendo uma luminosa ideia, a colocando em prática imediatamente: “Além dos estardalhaço de praxe feito desde que tomei conhecimento da lista, conclamo para que uma entidade de Bauru, tão prestativa e ligada nas coisas de Bauru, a ONG BATRA, também tenha procedimentos de querer saber os tais nomes e exigir que esses cruéis devedores paguem o que devem para a autarquia. Com eles junto na cobrança e fazendo uso de sua reconhecida e ilibada ação, tudo poderá acontecer com maior rapidez”. Sim, Guardião fez uma ótima sacada, buscou além de sua força e a de toda a comunidade, algo junto a BATRA, para juntos, com o mesmo objetivo, apressarem a solução do problema. “Com certeza, dessa vez tudo será esclarecido e rapidamente, afinal, a BATRA sabe como executar cobrança para os percalços dessa cidade, tendo já obtido resultados com bastante repercussão em outros questionamentos”, conclui o esperançoso Guardião. Para finalizar mesmo, deixa mais uma pergunta assim no ar, algo não bem entendido por ele e pela Bauru num todo: “Mas as tais Forças Vivas não são as que alavancam nosso progresso? Se são, não entendo por que dão o mal exemplo?”. O pano é abaixado rapidamente, as luzes se apagam, as portas são fechadas, a água continua faltando nas torneiras da periferia bauruense e os pobres pagando suas contas regularmente.


OBS.: Guardião é criação do artista Leandro Gonçalez, tendo aqui no mafuá a decisiva participação do mafuento HPA no levantamento de temas apresentados. No de hoje, o reconhecimento do belo trabalho do Fernando, cartunista do JC, pela bela charge de hoje, gileteada aqui com citação de fonte.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (40)


EXPERIÊNCIAS DE COMO IR DESATANDO ALGUNS NÓS... – ANDANDO NA CONTRAMÃO E PELAS VICINAIS
Outra vez uma pessoa chegada recentemente à Bauru me faz a mesma pergunta feita por Ana anos atrás: “Mas o que existe de fato para se fazer nessa cidade? Gosto muito de sair, mas não vejo assim tantas possibilidades...” ( estudante Lili). Existir elas existem, diria que até aos borbotões, mas necessitando serem escavadas, algumas vezes até com as próprias unhas. Diante do que nos apresenta jornais, TVs e rádios como Agendas de atividades, existe um algo mais, ainda escrito nas entrelinhas e é por essa linha que sigo e não me arrependo. Conto aqui, nas próximas linhas somente três atividades pelas quais tive o prazer de botar o “bloco na rua” nesse final de semana. Segunda talvez seja um dia propício para começarmos com falatório mais sério, centrado, mas como ainda não conseguei me desvencilhar por completo de tudo o que me aconteceu no final de semana, acredito que para desatarraxar esse nó terei que por para fora um bocadinho do vivenciado nesses dias. Vamos aos relatos:

EXPERIÊNCIA 1 – O TEATRO DE RUA DO SILVIO SELVA – No convite  feito por Silvio Selva estava embutido um algo mais. A peça que ele dirige chama-se “A farsa do advogado Pathelin”, baseada na fábula “A raposa e o corvo” e seria apresentado ao ar livre, mais exatamente debaixo das árvores do parque Vitória Régia, sábado e domingo, sempre às 17h e com elencos distintos nos dois dias. Ter a possibilidade de assistir algo baseado no teatro feito nas praças da Idade Média, aquele que viajava de cidade em cidade, chapéu na mão a recolher dinheiro, tudo instigante. Na sinopse isso: “O texto critica e satiriza os costumes de duas das mais fortes classes sociais da França do século XV, os comerciantes, os homens de leis e o fanatismo religioso, apesar de medieval, se destaca pela sua atualidade. Os personagens são todos canalhas e mentem descaradamente para conseguir vantagens”. Levei o filho, que lá encontrou vários amigos. Assisti ao lado de duas pessoas especiais, Geraldo Bergamo e Roque Ferreira, contando com um agradável papo com Paulo neves e também de Silvio Selva. Não podia esperar nada mais agradável. Da peça em si, o que já esperava, uma similaridade muito grande com as injustiças provenientes da convivência com o viver hoje dentro de um estado neoliberal, onde o deus dinheiro está acima do bem e do mal, tudo pode e tudo permite, desde que para atender seus interesses. Impossível não fazer comparações com a atuação inescrupulosa vislumbrada em muitas ações de poder espalhadas por todos os cantos. Cobra comendo cobra, um deus nos acuda, pega pra capar, terra do “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.

O Silvio parece ter escolhido o texto a dedo, pois padece dos mesmos males que eu. O ter consciência de classe hoje em dia é mesmo algo muito doloroso, sofrimento ampliado, dilacerando os que ainda insistem em lutar, em lançar suas lanças contra inexpugnáveis moinhos. Mesmo assim continuamos insistindo. A montagem passou a mensagem a que se destina. Deu o toque. Os atores deram o máximo de si, alguns se iniciando no mundo das artes cênicas, muitos de outras cidades espalhadas pela região e algo que muito me tocou. O juiz foi interpretado por um ator, que durante o dia exerce a função de jardineiro, um operário na acepção da palavra. Um amante das artes, que tudo fez para ali estar naquele dia e realizar seu sonho. Nada mais gratificante do que numa modorrenta tarde de sábado, a existência de um algo assim, um acontecimento sui generis dentro de tudo o que estava programado para acontecer em Bauru naquele dia. Umas cem pessoas, todas saindo de suas casas com o intuito de ver algo diferente, algo que não teriam mais a possibilidade de ser visto com frequência em outras oportunidades. De tudo, para mim, além do papo com o diretor e o ator no final do espetáculo, um algo mais, papo debaixo das árvores com nada menos que Bergamo e Roque. “Saio cada vez menos de casa, pois encontro cada vez menos possibilidades como essas, onde flui um papo com assuntos específicos, agradáveis”, confessa Roque, referendado por Bergamo. Isso, ainda bem, é possível em certos lugares, com certas pessoas, muitos ao acaso, como o ocorrido entre nós.

EXPERIÊNCIA 2 – UMA GRAVAÇÃO DE FILME COM SAMBA UMBANDISTA – Sábado à noite, quando a roda de conversa do Convívio se desfaz, Ana me convida para irmos numa gravação de um documentário feito por alunos do 2º ano de Rádio e TV, curso de Comunicação Social FAAC Unesp Bauru. Havíamos participado semana passado no bar La Pinguetta de algo com eles, tendo como pano de fundo a apresentação do grupo de samba eminentemente umbandista, o Balaio de Sinhá. O repertório deles é daqueles preparados com o maior afinco, cuidado, esmero, só músicas que tem algo mesmo a ver com o sentido da existência do grupo. Pois não é que, ao chegarmos ao local da gravação, o arborizado recanto do bar Aldeia, onde atuaríamos como figurantes, quem está se apresentando no palco é o grupo Balaio de Sinhá, tendo como cantora a Joelma Moura, toda paramentada com as vestimentas brancas de praxe. Uma bela recepção pelo grupo de jovens estudantes, um cenário de bar, gente conversando enquanto rolavam as cenas no balcão e no meio do salão. E a divina possibilidade de desfrutar novamente de um samba tocado e cantado com dignidade, empenho e algo buscado lá do fundo de cada um dos integrantes. Fico ali embasbacado com cada detalhe, cada gesto, o refino nos trajes e na sensibilidade do repertório. Impossível não cantar junto nas mais conhecidas.

Uma interação com os jovens, pouco vista em outros ambientes. Tenho meus 53 e sei que por ser de uma geração diferente, muita coisa não bate, empatias mais lentas. Ali nada disso aconteceu. Tudo foi tão rápido, aproximações assustadoramente rápidas e papos fluindo como se tivéssemos todos a mesma idade. Ninguém estava ali para dar aula para ninguém, mas sim, trocar experiências, ouvir, ver e sentir. Revi Alberto da Casa da Capoeira, também atento ao toque dos tambores e atabaques, papeamos com Liz e Ricardo, donos do Aldeia e cheios de novidades para esse ano, tudo depois do Carnaval. Dos jovens, um deles, Tulio José, de Paraibuna, ali por causa de sua namorada, a estudante Lili. Pela forma como se aproximou e fincou raízes de papo leve, suave e bom, disse ser ele um sujeito “dado”. Ele gostou, espalhou para todos sua “dadice”, nada mais do que uma generosidade à flor da pele. Conheci mais gente, um senhor sessentão, cantor e pintor de paredes, Vagalume, pai da cantora Joelma, outra generosa pessoa, encantante quando com o microfone nas mãos e muito mais no papear nas rodas formadas no entorno da festa. Ficamos sabendo particularidades da vida de todos, algo apaixonante, dessas coisas que já tornam próximos uns dos outros assim logo no primeiro encontro. Vagalumearam todos por ali, lindo ver a troca de papeizinhos com endereços anotados, telefones registrados em celulares e promessas de encontros outros em outros lugares e situações. Muitos do que ali estiveram voltaram a se encontrar no domingo à tarde.

EXPERIÊNCIA 3 – A FESTA DA ESCOLA DE SAMBA COROA IMPERIAL – A festa ocorreria num outro lugar e no convite estava impresso, “presença de DJs”. Reclamei que esse momento é só de samba e carnaval. Fui ouvido, o tema gerou debate e a festa foi transferida para o próprio bairro, nada menos que na sede da Associação de Moradores, enfincada no centro do Geisel. Um amplo salão, palco montado, espaço para bar ao fundo e um amplo salão, muitas mesas e espaço para danças variadas e múltiplas. O ambiente estava criado e ali ocorreria mais uma das muitas aberturas do carnaval 2014 de uma das escolas de samba de bairro (existem duas só ali), a Coroa Imperial. A Coroa é uma escola familiar, criada e mantida pela família do patriarca Avelino. Esse ano ele foi incitado a fazer uma nova aposta em termos de parceria e algo de muito novo está despontando, botando as asas da criação e da imaginação para voar. Sei que muito disso tudo ainda é segredo, respeito e não escrevo ainda de quem está por detrás do carnaval da escola. Descrevo só a festa, as pessoas alegres cantando o samba, casa cheia e um batuque para endoidecer gente sã. Eu, Ana e a mana Helena, chegamos cedo, quando alguns jovens estudantes ainda preparavam a festa, arrumavam os detalhes, pincelavam o cenário. Curtimos cada detalhe, cevada à mão e olhos atentos. Detalhes em verde e rosa, igual as cores da Mangueira por todos os lados. Potentes caixas espalhando samba de verdade por todos lugares, poros à flor da pele. Calor de torrar mamona, samba quente pela frente.

O frenesi ocorre perto das 18h, quando quase que ao mesmo tempo ocorre um boom no local. Chegam os instrumentos e juntos deles seus manuseadores, alguns mestres orientadores e tudo é montado. Nei do Rasi, fez a letra do samba e junto de mais dois puxadores sobem ao palco e detonam o samba, letra gostosa, tema sobre o “Voar”, desde o sonho de Ícaro até o brasileiro que foi levado ao espaço. Não quero revelar nomes de gente conhecida que por lá esteve, pois ainda não li isso em lugar nenhum. Não sei se ainda devo fazê-lo, mas o que presenciei foi uma entrega ao frisson emanado pelo som dos tambores, que raros foram os que permaneceram em suas mesas. Até quem não dançava faz muito tempo foi visto dançando e muito no salão. Sei que gente dançou tanto, que ao chegar em suas casa, não sei também como, desmaiaram com toda a certeza desse mundo. Clima dos mais agradáveis, gente nova para mim esbarrando a cada instante, papos dos mais agradáveis (que ainda conto por aqui) e no final, só para demonstrar como é gostoso mesmo esse negócio de entrelaçamentos mil pela música, um senhor me bate às costa e diz: “Quero falar contigo, mas lá fora”. Levo um susto, o que teria para me falar um desconhecido. Não queria nada de mais, só me conhecer e dizer que havia gravado 48 minutos (lembro-me bem disso) do samba comendo solto, que publicaria por aí e queria ver se não ajudava a difundir isso. Um vidente do subúbio, cheio de histórias prontinhas para escaparem e ganharem o mundo. Isso tudo me encanta de um jeito, que nem o manhoso do “dado” do Túlio, também ali presente, me foi possibilitado altos papos. Faltou tempo. Quando me dei conta já era 22h e daí, barriga roncando, terminamos a noite comendo um lanche lá do Bar do Bode, no Redentor.
Ufa! Isso tudo já está mais do que bom por hoje. Fiquem com a fotos, cinco de cada evento e haja folego para os que conseguiram chegar até aqui. Morro um pouco mais a cada dia, mas morrerei feliz da vida. Fiz (quase) tudo o que sempre quis.

domingo, 26 de janeiro de 2014

OS QUE FAZEM FALTA E OS QUE SOBRARAM (55)


ALGO SOBRE O MELANCÓLICO FIM DO PROGRAMA DO “PADRE” BETO NA RÁDIO AURI-VERDE BAURU
No começo da noite de ontem, eu já mafuando pelas ruas, recebo uma ligação de indignada pessoa, versando sobre o fim do programa radiofônico do “padre” Beto. Os ouvintes ficaram sabendo pela forma mais insólita possível. Ligaram seus aparelhos e ouviram outra coisa no lugar. Esse que me ligou disse ter ligado para a rádio e a resposta não foi conclusiva, muito menos elucidativa. É praxe hoje as demissões serem assim, com programas sendo retirados do ar, sem qualquer tipo de explicação ao ouvinte/telespectador. Isso não é exclusividade da Auri-Verde, mesmo ela já possuindo know hall no assunto: lembram-se do Márcio Bateria? O fato é que o horário cedido ao Beto (prefiro chamá-lo sem o padre na frente), pago, por sinal, era uma pedra no sapato na emissora. O motivo é simples: ele abria espaço para o ouvinte, quem quer que fosse, sem nenhuma triagem, para adentrar o horário e falar o que quisesse, sem nenhum tipo de censura. Ouvia-se de tudo e mais um pouco nas ondas betianas. Nos últimos tempos a ladainha dos descontentes cresceu e resvalou em algo mais perigoso, o ataque frontal a alguns poderosos de plantão. Não sei se a gota d’água foi isso, mas tudo leva a crer que sim. Confesso que não ouvia regularmente o programa, achava-o espaço cativo de poucas pessoas, essas disputando quem ligava primeiro e daí, essas produziam repetidamente algo que não soava bem aos meus ouvidos. Não posso negar existir ali total liberdade de expressão, sem interrupções e admoestações por parte do Beto. Ele deixava o barco rolar e no final, pouco comentário de sua parte. Quando o fazia, nem sempre agradava a gregos e troianos. Sendo um dos únicos canais existentes na rádio hoje para dar vazão a tanta insatisfação, normal que o bicho pegasse por ali. E pegava. Ou melhor, pegou para o Beto. Nem pagando regiamente pelo espaço vai poder fazer o que fazia até dias atrás. De tudo isso, deixo aqui como conclusão de minha lavra, o que ouvi de um famoso jornalista local essa semana. Disse a ele que a rádio poderia fazer um programa de jornalismo investigativo, profundo, tomando conta das manhãs. Ele riu e me disse o seguinte: “Vocês são uns bobões. Não esperem espaço nesse sentido vindo deles. O que falta para todos os que querem esses espaços é vocês mesmos os criarem. De outra forma ele não virá de jeito nenhum”. Está aí a prova cabal do que me disse. E agora, Beto, além de não ser mais padre, está também órfão de microfone.

OBS.: Uma necessária explicação. Não considero Beto dos que fazem falta e nem dos poucos que ainda sobraram nesse mundo, pois muitos outros mais incisivos que ele fazem melhor juz ao título. O que faz falta e o que quase não mais existe é a tal da Liberdade de Expressão. Essa anda sendo cassada por onde ainda circule.

sábado, 25 de janeiro de 2014

ALFINETADA (119)


CINCO TEXTOS DESSE HPA N'O ALFINETE - ANO 2001
Como venho fazendo há um certo tempo, mês a mês revivo aqui nesse espaço os textos já publicados n'O Alfinete, da vizinha Pirajuí SP, época do "Pica mas não fere", direção de Marcelo Pavanto. Hoje são os:
121 - 23/06/2001 - O apagão vai melar
122 - 30/06/2001 - DROPS - Pequenas historietas realmente acontecidas
123 - 07/07/2001 - O lixo de nossas cidades
124 - 14/07/2001 - Brincadeiras à moda antiga
125 - 21/07/2001 - A Feira do Rolo

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (51)


ONDE UM “PERAZZI” ENTRA NESSA HISTÓRIA DO DESMATAMENTO DO CERRADO
Leio pelos jornais que em duas seguidas ocasiões pessoas descabidas de propósitos altaneiros estão devastando até não mais poder o pouco que ainda nos resta de cerrado, uma vegetação pertencente a uma Reserva Ambiental aqui dentro do município de Bauru. O Jornal da Cidade deu em destaque na edição ode ontem, com o título “PM DESCOBRE SEGUNDO DESMATAMENTO NO CERRADO EM 15 DIAS”. Leiam clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/Policia/2014/01/pm-descobre-segundo-desmatamento-no-cerrado-em-15-dias.html. O caso é mesmo revoltante e demonstra a insensibilidade daqueles que só pensam no lucro acima de todas as coisas, os tais adoradores do deus dinheiro, que tudo fazem para amealhar, nunca para dividir. Dizem que numa cidade vizinha ocorre o mesmo e que quando um projeto de lei ambiental encontra dificuldades de aprovação em Bauru, naquele paraíso do dinheiro a todo custo, tudo é aprovado de um dia para outro. Esses são os tais que pensam no mundo hoje, nunca no amanhã. Precisam cada vez mais de leis coercitivas, rígidas e penalizações rápidas, coibindo o abuso.

Segundo a matéria do jornal a área devastada pertence a uma empresa administradora de empreendimentos imobiliários. Sempre eles, a especulação por detrás de tudo. Roque Ferreira, o intrépido vereador do PT em Bauru sacou isso nas redes sociais e corroboro em gênero, número e grau: “O que faltou informar na matéria? O nome das empresas imobiliárias que praticaram o delito”. De que vale uma matéria desse naipe sem a informação de quem é o infrator? Pouco. Informação pela metade é informação vazia. E por que não informar o nome da tal empresa? Seriam eles um dos bichos papões do setor, influentes no quesito antes denunciado pelo pecuarista Mobaid, qualificados como os “donos da cidade”? São perguntas que ainda continuam sem resposta, mas todos mais ou menos deduzem quem o sejam e o que querem fazer com a área depois de concluído o tal do desmatamento.

Fui ler a matéria com mais afinco e denodo e lá encontro citado um tal de JOÃO PERAZZI envolvido na questão. Não seria um tio meu, falecido há tempos atrás? Preocupado por nunca antes ter nenhum parente meu envolvido nessas questões de grilagens de terra, desmatamento em área de preservação ambiental, nunca tentamos manter oligarquias onde quer que fosse, ao estilo de Sarney e de Renan, pesquisei e descobri que o tal é o nome da rua lá na distante vila Aviação B, que segundo consta dos alfarrábios mapas de logradouros bauruenses está situada lá pelos lados de Aymorés. Um Perazzi tão distante da civilização, enfurnado na mata, plaquinha escondida pela íngreme vegetação e assim sem mais nem menos aparecem os tais especuladores e já querem acabar com a placa, rua e dessa forma fazer aquilo servir aos seus bestiais interesses. Não pensem que vou deixar esses profanadores de Perazzi’s incólumes e sem umas boas bordoadas. Vou enviar para lá pai Lulinha do Terreiro de Umbanda lá do Tangarás, meu dileto amigo e orientador espiritual para assuntos aleatórios, preparando uma boa de uma armadilha montada pelo invulnerável Oxóssi, algo inesquecível, do qual nunca mais irão se esquecer. Ou até entubarei esses com a pomada Perazzi? Conhecem? Ninguém profana assim um Perazzi e sai sem um escalpo. Estão todos avisados.
A "BARRIGA" DO ANO -
Essa o João Jabbour e o João Pedro Feza lá do plantão jornalístico do JC vão ter que engolir e se estiverem de bom humor rirão com a gente. Lindo mesmo foi a "barriga" dada no JC ontem, na sua primeira página, manchete com foto e tudo: "Janeiro sem chuvas - Pode até chover, mas índice ficará abaixo do esperado, segundo José Carlos Figueiredo". Antes do jornal chegar em casa estava tudo alagado. O negócio foi tão feio aqui pelos lados do rio Bauru, que o jornal acabou sendo levado pelas águas e só fui ler a manchete com a foto do Figueiredo no final da tarde. Só agora sei porque na hora do almoço a TV Tem fez uma matéria lá no IPMET e quem a deu foi um jovem meteorologista e não o velho guardião das águas bauruenses. Vale a piada, mas todos nós sabemos que essas medições tem variações e o que estranho é que ocorreu justo aqui, com a água invadindo (não seria lambendo?) meu mafuá. Podem até ficarem bravos comigo, mas essa vai entrar para o anedotário da imprensa bauruense.