domingo, 4 de maio de 2014

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (65)


MINHAS DESAVENÇAS COM O “MMA” - IRRECONCILIÁVEIS
Conto Primeiro duas breves histórias. Tempos atrás fui num bar novo que inaugurou lá pelos lados da Bernardino. Fui ver o músico Issac cantar. MPB da melhor qualidade. Naquele dia havia uma luta de MMA com o Anderson Silva, dos tempos quando ainda ganhava lutas e houve uma transformação no bar que me assustou. Momentos antes de começar a luta, o Issac foi sacado do palco e começou uma catarse entre os presentes, pois num telão a luta foi ampliada aos olhos de todos. Gente enlouquecida pelo alheio sangue jorrando ali diante dos olhos de todos. Perdi a fome e fomos todos embora, eu e mais três pessoas que me acompanhavam. Ontem, eu e Ana fomos num belo barzinho da moda, ambiente saudável, clima tranquilo no ar, fotos de ídolos da MPB espalhadas pelas paredes. Tudo muito bom, só algo destoando de tudo isso. Numa TV de plasma ligada sob nossas cabeças lutas contínuas e ininterruptas de MMA e novamente sangue quase pingando dentro de nossos pratos. Sentamos num lugar onde não havia nenhuma possibilidade de nossos olhos alcançarem aqueles fratricidas enfrentamentos.

Disso tudo, me chega às mãos a nova edição da melhor revista semanal brasileira, a Carta Capital (edição798 nas bancas) e na coluna QI, assinada pelo brilhante jornalista Nirlando Beirão, um texto recheado de fotos, “O MMA vai a nocaute – O boxe inspira cineastas e escritores. O MMA inspira só brutalidade”. Concordo em gênero, numero e grau. Alguns trechos da matéria: “É possível enxergar beleza, algum lirismo em dois homens se esmurrando, se enganchando entre as cordas de um ringue? Não, nunca, se a gente está falando de MMA – ou seja, o velho e desprezível vale-tudo fantasiado em roupagem moderninha de Las Vegas e arredores. Aquilo lá é uma selvageria torpe, comercial, incapaz de produzir, por mais que o patrocinador insista e o locutor se esgoele, um ídolo de carisma duradouro, um lutador com um pingo de estofo humano. (...) Anderson Silva nunca chegará aos pés de um Eder Jofre. (...) O que dizer, então, de cotejar os brutamenontes do tal octógono com um Muhammad Ali, um Rock Marciano, um Sugar Ray Robinson? O MMA jamais produzirá uma lenda em que a bravura se encontre com a elegância. O máximo a que poderá aspirar, com esse tosco elenco de Minotauros, Belforts, Aldos, Sonnens, Cyborgs, Pitbuls condenados ao anonimato, é alimentar por fugaz momentos a pulsão sádica de uma plateia com sangue nos olhos. O boxe tem todos os ingredientes de drama, triunfo, ambiguidade, estratégia, inteligência, surpresa. Não por acaso os escritores se submeteram ao fascínio dos murros e do clinch, no enternecimento de frases que embelezam o que pode ser feio e sórdido”.

Não consigo assistir nenhum round dessa tal de MMA e assistia regularmente boxe. Com essa MMA e UFC o império de joanetes, pernadas e orelhas tortas, além do sangue jorrando do início ao fim da contenda. Carnificina pura. Pior que tudo é ver os bares expondo isso enquanto quero jantar ou comer algo, bebericar minha cerveja. MMA não combina com esses lugares e seus proprietários precisam ficar atentos. Cito só alguns dos filmes com a temática do boxe: “Punhos de Campeão” (1949 com Robert Wise), “Réquiem para um lutador” (1962 com Anthony Quinn), “Rocco e seus irmãos” (1960 com Alain Delon), “Cidade das Ilusões” (1972 com Stacy Keach), “Touro Indomável” (1980 com Robert de Niro), “Rock” (1976 com Sylvester Stalone), “Quando éramos reis” (1996 documentário sobre Ali e Foreman) e “Menina de Ouro” (2004 do Clint Eastwood). Alguém consegue se lembrar de algo de valor tendo como pano de fundo a MMA? Nada.

OUTRA COISA 
PROFESSOR ODAIR MACHADO JÁ NÃO ESTÁ MAIS ENTRE NÓS

Escrever de gente querida que se vai é algo muito triste. A morte para mim é o fim de tudo, pois depois dela, por mais que queiramos divag
ar, nada existe de concreto. Encerra-se o ciclo sob a face da Terra e ponto. A partir dela amainamos prováveis críticas até então feitas, imbróglios existentes são superados e dizem que até os mais desumanos passam a ser vistos com outros olhos. Mas quando o que se vai é um ser querido, próximo, companheiro de lutas, idas e vindas, a perda é muito mais sentida. É sofrida.

ODAIR MACHADO fez uma pá de coisas em sua existência, mas ficou marcado mesmo por uma delas, a de professor. Uma de suas alunas deixa um recado hoje na internet: “Triste pessoal... faleceu nosso antigo professor de geografia”. Isso mesmo, Odair perdeu a batalha para algo que o acometeu em abril, levou-o ao hospital e de lá não mais saiu com vida. Ele foi mais que um militante político e religioso. Buscou na sua fé, junto dela e com ela promover algo transformador, pois não acreditava na religião pela religião, mas sim nela tornando as pessoas mais solidárias umas com as outras. Fez escola desde os tempos em que atuou na Comunidade de Jovens Católicos e daí nunca mais parou de atuar politicamente. Pelas escolhas feitas, padeceu um bocado, mas não arredou pé. Lembro-me dele morando em poucos cômodos lá nos altos do Vista Alegre, décadas atrás, emprego minguado, resistindo. Deu a volta por cima, atuou depois nas hostes da Saúde Municipal e esse foi um tema que o fazia palpitar muitos nos últimos tempos. Aqui em casa, guardo com carinho, documentos com diálogos dele impressos, feitos ainda em abril com gente graúda da Saúde e esses fazendo pouco caso do atendimento coletivo. Ele queria denunciar aquilo, buscar um meio e pensávamos em fazer algo juntos. Inesquecível seu desmedido amor pela ferrovia, assim como eu, laços eternos aos trilhos. Odair sempre esteve do lado dos justos, dos sofridos, dos trabalhadores, dos injustiçados e dos invisíveis desse mundo. Sua luta hoje se findou por aqui, mas muitos a continuarão por ele. Quando descobria seus amigos no facebook soltava logo um: “Tenha um ótimo dia”, sua marca pelas redes sociais. Faleceu hoje em Bauru às 1h40.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu um praticante a vida toda de uma arte marcial Henrique, compartilho da mesma ideia.

A violência faz parte da natureza mas ela não pode ser estúpida como é esta do MMA, ela tem sim que ser uma arte transformadora, caráter, assim somente para poder combater o péssimo mundo violento aos povos.

O Professor Cyborg também tem essa mesma opinião, esta arte foi e é muito importante em minha vida, estes filmes que você citou são inspiradores demais, Rocky Balboa é um baita aprendizado, Karatê Kid com o Sr. Miyagi, esta foto do Stallone com o De Niro é de um filme recente que saiu esse ano, o Ajuste de Contas, um filme muito bacana, inspirador aos velhos praticantes ao mesmo tempo que garante muitas boas risadas.

Pode ver que desses caras de hoje da pura brutalidade, nada sai de inspirador, de sabedoria, nem cavalo xucro é tão vazio da cabeça como os deste meio, e fora a grana que corre de lavagens também.

Infelizmente é mais uma merda que vem tomando conta culturalmente das novas gerações, fico imaginando quando os poucos bons que sobraram se forem de vez, que futuro totalmente vazio esta nação terá nas mãos desta nova geração incapaz de pensar.

Camarada Insurgente Marcos

Anônimo disse...

SE ATÉ briga de galo É PROIBIDA PORQUE PERMITIREM ESSAS ONDE TIRAR SANGUE DO ROSTO UM DO OUTRO É TRATADO COMO ARTE? ARREBENTAR O NARIZ E OS LÁBIOS ATÉ NECESSITAR DE HOSPITALIZAÇÃO...ISSO É ARTE? ISSO É O FIM, ISSO SIM!
JOSÉ SCHUBERT

Anônimo disse...

Porque os galos não são absolutamente capazes de escolher.. kkkk... Henrique aqui é o Júnior da Nível Brasil ... beleza? vou concordar em relação a violência apreciada no mundo do MMA, sou totalmente contra, porém sou contra o boxe profissional, veja o Ali, Maguila e diversos outros lutadores que estão com sequelas gravíssimas, sendo assim não concordo em aplaudir o boxe profissional onde só existem interesses monetários. desculpe pela grafia pois estou no celular, passa la para tomar un café, abraços

Mafuá do HPA disse...

EIS OS COMENTÁRIOS DO FACEBOOK:

Marisa Correa Silva Já não gosto de boxe. Técnico ou não, elegante ou não, não me desce.

Luiz Manaia Concordo em numero, gênero e grau!!

Rosangela Maria Barrenha Detesto os dois.

Humberto Carlos Biazon chamar isso de esporte é loucura, detesto isso

Kyn Junior O MMA (sigla para “mixed martial arts”) é o esporte número 2 do Brasil. A popularidade dessa luta, e até mesmo a transmissão comandada pelo Galvão Bueno, servem para coroar o tamanho que o MMA tem hoje no Brasil. Lutadores gostam de falar que o MMA já é o esporte número 2 do Brasil atualmente – atrás apenas do futebol.

Schubert José L R TEM GOSTO PRÁ TUDO POR CAUSA DISSO ALGUÉM TEM QUE IMPOR AS CONDIÇÕES E AUTORIZAÇÕES...

Kyn Junior Querido amigo não entendi IMPOR AS CONDIÇÕES E AUTORIZAÇÕES? É UM ESPORTE COM REGRAS E CONDIÇÕES BEM DEFINIDAS!

Schubert José L R irmão, é esporte que eu não praticaria nem assistirei NUNCA!.

Schubert José L R Desculpe a minha sinceridade mas não sou fã de brutalidade, nem no futebol.


Kyn Junior ok, seres humanos fazem escolhas e não cabe a mim fazer julgamento algum apenas respeitar as decisões...abraços.

Schubert José L R Saú8de, paz e muitas alegrias!

Henrique Perazzi de Aquino Kyn Junior e Schubert José L R: A minha opinião sobre o MMS já expressei. Assim como as rinhas de galo são proibidas acredito rinhas humanas também deveriam o ser. Pelo mesmo motivo que abomino o que fazem com os animais nos rodeios. Tem escolhas dos seres humanos que precisam ser brecadas, pois podemos voltar a jogar humanos às feras como no Império Romano e a platéia aplaudindo euforicamente. Para mim o limite desse MMA já venceu faz tempo.

Kyn Junior MEUS DEUSES BRECADAS... CADÊ O DEFENSOR DA DEMOCRACIA, MEU AMIGO ACHO QUE SOU MAIS DE ESQUERDA DO QUE VOCÊ QUE DEVE ESTAR VISITANDO MUITA A CENSURA...KKKKKKKKKKKK

Henrique Perazzi de Aquino Escreveu o que escreveu aqui sem ler o que havia escrito no texto. Leia novamente, Kyn Junior sobre as imensas diferenças existentes entre MMA e o Boxe. Não dá para apoiar, gostar ou simplesmente assistir algo igual a MMA. Ser de esquerda não tem nadica de nada com MMA, não misture as bolas. Isso é questão de foro íntimo e de sensibilidade humana.

Kyn Junior SOU SUPER FÃ DO ESPORTE APENAS.

Ademir Elias Bom, eu tenho uma opiniao formada ha tempos sobre o MMA: uma briga de rua legalizada e como eu nao gosto de briga de rua, nao assisto estas lutas.

Luana Cortez Henrique Perazzi de Aquino, sou mãe de 2 meninos e rezo todos os dias para que eles tenham saúde e caráter. Em seguida, que eles se afastem disso (que chamam de esporte). O q ensino a eles é o avesso dessa carnificina que é o MMA. Dar tapinha na bunda de crianças é proibido, mas arrebentar a cara de outra pessoa é valoroso??? Péssimo!

Luana Cortez A seu favor!

Isaac Ferraz de Camargo Sensacional Henrique Perazzi Aquino. Muito bem postado. Parabens meu amigo!!

Henrique Perazzi de Aquino Issac Isaac Ferraz de Camargo, lembra daquele dia da luta do Anderson lá no bar da Bernardino? O povo assistia uma MPB contigo e de repente começou a uivar e querer sangue. Levei o maior susto.

Adib Axcar Jr. Concordo plenamente contigo, já fomos nesse bar da bernardino somente uma vez e essa sanguera tava na tela. Fomos fazer uma comemoração mas nao teve jeito... ficou dificil... a globo trata esse "esporte" (esporte?) como normal, disseminando a violencia sem limites numa época tão complicada como a nossa, num pais sem leis, etc etc.... abraços....

Luana Cortez Eu me lembro desse dia, Henrique Perazzi de Aquino. Estava frio, o bar cheio. Saí de lá chocada com a reação das pessoas.