MEMÓRIA ORAL (174)

CARNAVAL CHEGANDO, EIS ALGUNS PERSONAGENS E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA E DE FOLIA

1. CARLOS SILVA é inspetor de alunos no Preve Objetivo, onde sorrindo executa suas funções, mesmo nas horas mais duras, onde precisa chamar a atenção dos alunos e fazer valer sua autoridade. Sabe o que faz e faz bem feito. Como no Carnaval passado quando foi eleito Rei da Melhor Idade, num pleito que todo ano ocorre na Associação dos Aposentados de Bauru e Região. Reinou maravilhosamente ao lado da simpática rainha, membro da família Fumaça, também alegre por natureza. Ama a dança, samba muito e beirando os 62 anos, pai de seis filhos, descobriu a folia como um hobby para extravasar os problemas dessa vida. Mora lá no Parque Industrial, numa nova morada conquistada junto ao projeto Minha Casa Minha Vida, um reduto só seu, seu porto seguro, de onde sai diariamente para esbanjar e irradiar alegria por onde passe. Carlos é dessas pessoas mais do que simples, mas dentro da sua simplicidade, uma enormidade humana, fortaleza para os seus e exemplo de que ficar trancado entre quatro paredes, ainda mais com esse calor, não deve ser lá um bom negócio. Daí ele festar muito.

2. MÁRCIO KABEL é daquelas pessoas que transpiram samba por todos os seus poros. Aliás, do jeito que samba, não para um só minuto de suar. Samba muito o gajo, rei da malemolência e esbanjador de simpatia. Casado, safra de 1979, esse já experiente sambista bauruense, ralou muito para conquistar o posto hoje lhe outorgado, o de autoridade no quesito saber dançar e encantar. Pudera, foram anos de muito ensaio, nos mais diferentes lugares e ao lado dos mais experientes bambas dessa cidade. Fez fama na Cartola, ganhou tarimba, experiência e fluidez no equilíbrio e na sapiência do requebro das pernas. Mostrou sua arte pela aí e nesse ano acabou preferindo sair pelo bloco carnavalesco Lagoa do Sapo, lá da vila Falcão, reduto de sambistas de comunidade. Morando lá no Beija Flor, local de seu frequentado salão, Márcio quando o assunto é Carnaval, não consegue parar quieto e nem permanecer num só lugar. Na imensa galeria de fotos suas rolando por aí, duas especialidades, o sorriso de orelha a orelha e os requebros todos registrados, passadas certeiras e abusadas. Sabe o momento certo da passada e onde pisa. Falou em samba e sambistas, impossível não relembrar seu nome e onde já esteve metido. O samba para ele está na veia e nas pernas (teria seguro delas?). E duvido ter cara mais bem escanhoada que a sua em toda Grande Bauru. Será que os recortes todos do impecável barbeados são executados por ele mesmo?

3. CELSO CHERMONT é radialista, tendo completado recentemente o feito de estar no ar, trabalhando em algum dial por contínuos 27 anos. Hoje empresta sua voz (ou seria força de trabalho?) para a rádio Unesp FM, em programas onde o conhecido vozeirão está em alguns conhecidos programas: “Esse Tal de Rock’n’Roll”, “Balanço Brasil” (samba e swingue aos domingos das 14 às 16hs), “Unesp Notícias”, “Conjuntos & Orquestras” e o “Happy Hour”. Tempos atrás foi assessor parlamentar da ex-vereadora Chiara Ranieri, estando até hoje ligado ao DEM. 45 anos, pai de um filho, cria jingles, compõe musicas e já foi vocalista em bandas de rock. Ou seja, joga um bolão em diversas posições, sendo corintiano fanático, mas gosta mesmo de relembrar com saudosismo ter sido uma espécie de “office-boy de luxo”, de nada menos que um dos personagens mais instigantes do rádio bauruense, Tobias Ferreira. Vive metido nos meios futebolísticos da cidade, mas nesse período de antevéspera do Carnaval, está enfurnado até o pescoço em algo do qual não mais consegue se separar, o de ser intérprete de escola de samba. Desce o Sambódromo como microfone na mão pela Mocidade e pela Águia de Ouro, além do novíssimo bloco, o Esquadra da Indepa, representando seu bairro do coração. Um polivalente, que revela algo sui generis lá das hostes da Rádio Unesp nesse ano: “A Rádio Unesp terá 4 puxadores de samba, eu nos três, Ulisses Frazão (Águia de Ouro), Érica Ferreira (Esquadra da Indepa) e Sylvestre Oliveira (Cartola)”. No momento, Chermont está com o gogó de molho, tudo para inscrever seu nome nos píncaros da glória.

4. ALVARO CÂNDIDO GONÇALVES foi funcionário antigo da Telefônica, tempos áureos da TELESP. Casado com a Silvana Gonçalves, 60 anos de idade e uma pessoa com a cara de estar sempre de bem a vida, família muito unida e também versátil no quesito cantorias coletivas. Boas recordações dos tempos de Stela Machado e depois na ITE – Instituição Toledo de Ensino, quando concluiu seu curso superior. Caladão, ou simplesmente desses que não fala pelos cotovelos, mede as palavras, mas quando o assunto é carnaval, sempre seu nome está entre os mais requisitados. Pelo que sei é Mocidade desde seu nascimento, pois suas raízes estão bem fincadas na vila Falcão. Passou bom tempo longe das coisas do Carnaval, mas com o aquecimento da festa na cidade, convite que não recusa é para participar como jurado dentro do programa do Tuba, o Casa de Bamba, no famoso Tamborim de Ouro. Daí, quando perguntado, fala que é uma maravilha, possui uma interpretação correta da festa, julgamentos feitos com a devida maestria de quem não só gosta, mas sabe do que fala, pois o vejo como um estudioso dessa matéria. E como a festa está se aproximando, nada melhor do que reverenciar um grande dentro dela e a poucos dias de vê-lo em plena atividade.

5. PASQUAL STORNIOLO é a cara do Parque Vista Alegre, lugar onde mora junto da família e estão reunidos os maiores amores de sua vida. Primeiro a Escola de Samba Acadêmicos do Cartola, do qual é presidente e também junto dos irmãos Madureira e outros abnegados, uma espécie de faz tudo. Um cidadão muito boa praça, bom de papo e de negociações, tanto que atua por mais de décadas como assessor parlamentar, primeiro do ex-vereador Paulão Madureira, hoje de Renato Purini. Fora essa vida política, sua outra vida está toda centrada no PVA. Tenho remotas lembranças dele numa loja de móveis na rua Floresta e depois tudo o que me vem à mente lembra as coisas do Carnaval, do bairro e também do time do amador bauruense entrelaçado nisso tudo, o Parquinho. Bonachão e irreverente, porém sério quando o negócio para uns é festa, para ele o Carnaval é algo de muita responsabilidade (muitas delas sob seu ombro). Como é também muito sério o negócio dos muitos colares que carrega consigo, todos pendurados no pescoço e reverenciando Nossa Senhora Aparecida, do qual é declarado devoto. Storniollo não é folclórico, é simplesmente um baita de um personagem a representar muito bem tudo o que defende e acredita. Se não é presidente, pode ser considerado uma espécie de primeiro ministro do PVA.

6. JAIR FIGUEIRA é o popular JAIR BARBEIRO, 65 anos e há exatos quarenta e seis atuando na profissão que é a alegria de sua vida, a com a antiga denominação de barbeiro. Nos tempos atuais, os mais novos não gostam, são engenheiros do cabelo e barba, mas seu Jair é da velha guarda. Seu salão, localizado na avenida Amapá, 2-4, vila Coralina, logo depois da Rodrigues com a Rondon é frequentado, por exemplo, por clientes que o acompanham há mais de quarenta anos. Um diferencial são aproximadamente 60 clientes que ele atende em casa, todos com algum tipo de impedimento para comparecer ao salão, desde idade, peso, doenças. Não atende mais nessas condições, porque segundo me diz, não daria tempo nem de abrir o salão. Morador do Geisel, sendo um dos fundadores da Escola de Samba Coroa Imperial, ele todo ano imprimi por puro contentamento uns dois mil folhetos com a letra do samba para sua escola do coração e distribui no bairro e nos ensaios. Essa semana estava todo pimpão no meio do ensaio noturno. Casado com dona Divanir, tem um filho, o Alex e leva a vida meio na flauta, sem pressa, usando da malemolência e experiência de décadas atendendo pessoas. Lá no salão um chocalho e um pandeiro, para as horas de samba com amigos e vizinhos. Hoje, me disse não mais poder fazer barba a navalha, impedido pela Saúde Pública, por causa das doenças da atualidade, mas continua fazendo, porém com uma tal de “navalhete”, totalmente descartável. Seus Jair é figura das mais conhecidas não só em sua região de trabalho, como no seu bairro. Dono de um baita de um sorriso.