domingo, 18 de fevereiro de 2018
DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (152)
A FOTO QUE MAIS ME TOCA DA DESCIDA DO BLOCO DO TOMATE EM 2018 Essa foto me intriga. Digo dos motivos. Praticamente todos os anos, quando da descida do bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco, o BAURU SEM TOMATE É MIXTO pelo Calçadão da rua Batista de Carvalho, no sábado da folia, se juntam aos foliões vários personagens do centro bauruense. Adoramos quando acontece essa integração e a cada ano uma personagem nova é vista toda feliz da vida bailando junto de nós. Nesse ano foi essa simpática moça da foto e como tirei a foto, conto algo mais de como a fiz.
Eu a vi toda pimpona, alegre da vida, dançando conosco e já a havia visto nas ruas bauruenses, mas precisamente nas imediações da Baixada do Silvino. Fui tirar uma foto dela e ela se mostrou séria. Tirei e fui conversar, disse que todos estávamos muito felizes dela estar ali. Ela me deu um baita sorriso e disse se podia pular conosco. Dei um abraço nela e disse: "Claro, a rua é nossa". Ela sorriu e seguiu conosco até quase o fim do desfile, quando não mais a vi.
No dia seguinte, seguindo de carro pela avenida Nuno de Assis, quase perto do cruzamento com a Nações UNidas, paro no sinal e quem vem no meu vidro, a moça. OLho para ela e me assusto: "Você". Ela não entende nada e lhe digo: "Você pulou Carnaval ontem conosco lá no Calçadão. Gostou?". Ela se lembrou de mim, disse que morava ali perto, debaixo da ponte, mas estava tendo problemas. Eu vi os tais problemas dias atrás quando a Polícia Militar retirou moradores de rua debaixo da ponte e os expulsou do lugar, a parte coberta debaixo da ponte. Momentos depois, como todos voltaram, os mesmos policiais, percebendo ter bastado eles terem virado a esquina para todos voltarem pra debaixo da ponte, atiraram bombas de efeito moral no lugar. Foi uma correria. Assim dispersaram os sem teto do lugar.
Agora sei, dentre eles, a tal moça, que não tem moradia fixa. Mora como pode e a ponte era um desses lugares. Sua imagem não me sai da cabeça. São tantos na mesma situação, sem eira nem beira, sem abrigo, sem ter um lugar para chamar de seu e nem para poder encostar o corpo e descansar. Cada vez que olho para sua expressão, forte, resoluta, brava, dessas que nem um pouco resignadas, o coração fica apertado. O Brasil nunca vai dar certo enquanto tanta gente continuar morando nas ruas e sem esperanças de sair dessa vida.
Eu não mais a vi. Toda vez que passo por ali, olho pra debaixo da tal ponte, mas nada dela. Se foi impedida de ali permanecer, deve ter buscado outro lugar. Nem sei o que poderei fazer por um deles, quando vejo tantos, mais e mais gente pelas ruas, todos em andrajos, gente que poderia ter outro destino. Eu a queria ver feliz como naquele dia da descida do bloco de carnaval, mas sei que sua vida deve ser das mais duras e aquele foi um rompante, raro momento em que sorriu alegre. A moça que embelezou nosso desfile está sumida, perambulando pela aí, sabe-se lá onde. Como ser totalmente feliz diante da repetição de cenas como essas, cada vez mais comuns em países como o nosso, reinado capitalista? A gente tenta ser feliz e mesmo se considerando privilegiado, impossível o ser totalmente. Em cada esquina trombo com alguém na mesma situação, daí, o coração segue apertado.
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