terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (108)


A EXALTAÇÃO DAS ESCOLAS BAURUENSES E A CRÍTICA SOCIAL DA TUIUTI

O Carnaval em Bauru já acabou e todos os olhos se voltam agora para a apuração. Naveguei pelas redes sociais durante esta terça e me espanta algo da disputa entre as duas escolas de samba com maiores condições de levar o troféu de Campeã na cidade. Não me atenho a essa briga de bastidores, estocadas de lado a lado, muita coisa fora do contexto carnavalesco. Diriam que isso é normal e que, no calor dos acontecimentos, o couro come de verdade. Come mesmo e para quem conhece e frequentou o Sambódromo bauruense, a tensão entre integrantes da Cartola e Mocidade Unida é mais que visível, mesmo muitos integrantes fazendo questão de continuar demonstrando amizade para gente do lado de lá. Tem cada olhar enviezado de um lado pro outro que, por si só, seca a pimenteira inteira e mais um pouco.

Adoro a festa carnavalesca e mantenho amigos e gente conhecida, de reconhecido valor e consideração em ambas as escolas, mas não saio em nenhuma delas, apesar de convidado por ambas. Prefiro as de menor porte, as que desbragadamente enfrentam mais o touro a unha e produtoras de um Carnaval no limite do possível. Além do bloco onde atuo diretamente, o Bauru Sem Tomate é MiXto, desci por três vezes o Sambódromo e no mais observei atentamente o que se desenrolava nos bastidores da festa. Circulei nos dois lados da avenida, tanto nas arquibancadas como nos camarotes e da junção disso tudo lanço uma pergunta e questionamento que não quer calar, para ampla reflexão coletiva de carnavalescos, diretores de agremiações, foliões e interessados de uma forma geral.

O que mais movimentou o Carnaval no quesito comentários externos no país foi o desfile da Acadêmicos do Tuiuti no Rio de Janeiro e a ousadia de falar de escravidão, jogando tudo também para os dias atuais, com a manipulaçao da mídia, o caso dos patos amarelos da FIESP, o Drácula Temerário, o tucano enjaulado e refrões com o sentido de dar mais do que um toque nas massas. Mesmo conhecendo quem dirige as escolas cariocas, não faltou ousadia, coragem e ótimo senso crítico na proposta colocada em prática.



Dito isto, volto meus olhos com o que vi do desfile da Tuiuti e tento vislumbrar algo parecido aqui em Bauru, daí meu questionamento: Seria possível algo de igual teor, um enredo dessa natureza nas duas grandes de Bauru, a Cartola e a Mocidade? Respondo: Não. Conheço a estrutura da Diretoria de ambas e afirmo categoricamente, elas somente promoverão desfiles exaltativos, nunca contestatórios e em tom de crítica social. Nem preciso explicar dos motivos, mais do que evidentes. Alguns blocos o fizeram em Bauru e destaco o Pé de Varsa e o Esquadra do Indepa, mas nenhuma escola de samba bauruense ousou fazer o que décadas atrás a Império da Vila, lá da Nova Esperança fez com muito brilhantismo por exatos 18 anos (estariam na frente do tempo e espaço?). Volto a perguntar: As nossas atuais (todas elas) irão um dia levar pra avenida a crítica social ou vão permanecer na exaltação? E por que? 
Qual o impedimento em adentrar esse viés?

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