quarta-feira, 7 de julho de 2021

BEIRA DE ESTRADA (139)


O TELEFONE TOCA E DO OUTRO LADO ALGUÉM QUE CONHEÇO DE LONGA DATA: "EU ESTOU AQUI, NÃO QUERIA ESTAR, MAS..."
- Henrique, você me conhece muito bem, nem preciso te dizer nada a meu respeito. Eu li o que você escreveu ontem, o do "pito" que levou. Aquilo me calou fundo. Eu estou aqui, você sabe, aceitei trabalhar pra prefeita. Tinha outra saída, mas não sei se conseguiria neste momento. O salário aqui é bom, você sabe e aí fora, não existe mais nem salário. Eu faço aqui a minha parte e procuro não me comprometer com nada. Cumpro meu horário e tento passar batido, sem ser notado, mas é inevitável, eles te bancam, mas te usam. Eu sei disso e me calo, cumpro ordens. Não diga nada, deixa eu te contar, depois comenta o que quiser, mas precisava desabafar e o faço contigo, desse jeito, te ligando. Eu nem durmo pro causa disso, mas tenho que continuar. Assim como todo mundo, tenho contas, família, filhos estudando, compromissos assumidos e sem esse dinheiro no final de cada mês não conseguiria fechar a conta. Sou usado, sei disso, mas aceitei e assim faço parte do jogo. Errei e me penitencio, mas não sou o único. Vejo tantos outros iguais a mim por aqui, a maioria descontente, trabalhando de cabeça baixa, sem olhar direito um no olho do outro. Tudo pelo dinheiro no final do mês. Eu não gosto de estar aqui, queria ter a coragem que diz devemos ter, pensei muito nisso, mas não é fácil e depois na prática a coisa é diferente, o bicho pega. Não quero e nem vou me justificar. Só queria te dizer que, continuo o mesmo, mas no momento estou mais fraco e ficaria ainda mais se não tivesse essa retirada no final do mês. Não tenho que me desculpar, pois ao aceitar, sabia onde estava me metendo. Agora tenho que aplaudir, apupar, sorrir, enfim, fingir, ciente de que faço contrariado. Era isso. Continuo seu amigo, mesmo o que você escreveu ontem ter batido fundo em mim. Dormi mal e queria te ligar. Criei coragem. Não sou o único. Pense nisso, você sabe, a coisa está feia. Tomara melhore com as eleições do ano que vem, pois a esperança de dias melhores é tua, minha e da maioria do povo. Os calados e contidos como eu sofrem muito. Uma hora vamos poder voltar a gritar. Ainda não posso".

Sabe o que respondi a ele? Nada. Disse que não tinha nada pra dizer. E se fez bem a ele ter me ligado, fico contente pela confiança.

REUNINDO ESCRITOS DE INJUSTIÇAS TRABALHISTAS
Já contei aqui. Conto novamente. Reúno histórias contadas a mim por trabalhadores de grande empresa na região, cidade pequena, maior empregador da cidade, hoje fazendo o que quer de seus funcionários, registrando quando quer, pagando o que quer, com cada vez menos fiscalização, oprimindo até não mais poder. A cada novo relato recebido, quero denunciar, botar a boca no trombone e esses que me passam detalhes de suas vidas, pedem encarecidamente para que não faça nada, pois já foram ameaçados de "em casa de algo me acontecer, vocês todos estarão no olho da rua, sem emprego e sem onde arrumar outro". Conto o que ouvi ontem, diálogo travados pelo Whatts:

- Recebi meu salário ontem. Não me registrou por mais um mês e agora neste último, durante o mês todo me enganou, pediu para exercer umas atividades a mais, espécie de supervisão junto aos demais, pegar no pé deles para aumentar a produção, fiscalizar e comandar. Fiz o que pude, pois algo a mais me entraria no final do mês. Não entrou. A gente pega um vale no meio do mês e o que veio de salário é o mesmo valor do vale, ou seja menos do que recebi mês passado. Fui falar e não me ouviram. Minhas mensagens não são respondidas e me pediram para calar a boca, pois se continuar perderei o emprego. Não fui reconhecido em nada que fiz durante o mês todo. Não tem como conversar com eles. Quando querem algo, chegam de mansinho pra gente, pedem e prometem. A gente faz e depois não cumprem, fica tudo por isso mesmo. Não tenho onde reclamar. Veja lá o que vai fazer com meu relato, pois o que ouço aqui é a mais pura verdade, se perder esse pouco, não terei onde ganhar nem isso por aqui. Durante o mês todo eles me fizeram aumentar a produção. Foi uma loucura, corremos todos e cumprimos as metas. Agora, vejo eles de carrões novos, construções novas e pro lado da gente, tudo igual. Eles mentem descaradamente pra gente, nos usam e nada podemos fazer. Essa a situação de todos os meus colegas de trabalho. Metade é registrado e a outra, eu incluído, vivemos de promessas. Eu queria muito ter outra vida, mas não posso. Vou ter quer comer esse mês na casa de parentes próximos que sabem o que vivo, mas tem outros em situação muito pior que a minha".
Junto os escritos todos e nem sei o que fazer. Minha vontade é expor o patrão doente, explorador cruel. Mas no momento faço nada, escrevo e faço de tudo para que não o identifiquem, pois sei teria coragem para fechar tudo e danar com a vida de todos por lá. Reabriria em qualquer outro lugar deste país.

Em tempo: Esse patrão é totalmente bolsonarista, apoia todas as medidas impostas por este no país e diz aos quatro ventos que, agora sim o país é pujante, forte e vitorioso. Tudo mudou pra melhor, pra estes impiedosos e perversos.

A GENTE OUVE CADA UMA
Sentadinho na sala de espera de oficina mecânica, aguardando trocar óleo - do carro, não o meu -, o funcionário chega e se desculpa por interromper minha leitura. Pergunta o que leio. Digo ser a biografia do homem de teatro bauruense Paulo Neves. Ele não conhece e se dirigindo onde está meu carro, pergunta se estou por dentro do assunto vacina. Digo que sim e lhe mostro a capa da CartaCapital com o título "Vacinogate". Daí ele me sai com essa: "Que bom, então o senhor deve saber o que acabou de ser revelado lá da China. Essas coisas não ficam escondidas por muito tempo. Vi ontem, foi descoberto que os chineses fabricaram o vírus e espalharam em cem pessoas. Tudo veio daí". 

Não me segurei, o interrompi para dizer: "Isso não pode ser verdade. Onde viu isso? Tenha contigo algo a lhe servir pra vida toda: nunca acredite em algo que viu num lugar só. Compare com outras fontes. Cheque, vá mais a fundo antes de afirmar. Isso é despropositado e o que de fato ocorreu não é bem isso". Pergunta o que faço e minha resposta é que, dentre outras coisas sou professor de História. Me olha mais assustado e enquanto diz o quanto ficará a brincadeira no carro, pergunta se já tomei vacina. Digo que sim e antes que esbocasse algo, falo ser loucura isso de gente querer escolher vacina. Relembrando das de quando era jovem, tomava num negócio que mais parecia revólver e o máximo que nos acontecia era ficar com marca no braço. 

Ele me passou o valor e não me disse mais nada. Agora aguardo só o carro ficar pronto pra lhe perguntar como quem não quer nada se ele é neopentecostal.

O BAURUENSE SÓ URUBUSERVA, SABE O QUE DE FATO OCORRE...
Em foto e texto de Lucas da Silva, a apresentação de famoso prédio na esquina da avenida Rodrigues Alves com rua Azarias Leite, bem no centrão de Bauru: "Na igreja universal você pode comprar seu terreno no céu com a garantia que o dinheiro chegará lá, de helicóptero, direto da igreja. é pra isso que tem um heliponto em toda igreja, né? Ou será que Jesus vai voltar de helicóptero?".

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