sábado, 3 de julho de 2021

REGISTROS LADO B (52)


NO 52º LADO B, CACIQUE CHICÃO TERENA E A RESISTÊNCIA INDÍGENA EM AVAÍ, BAURU E BRASÍLIA
Durante mais de três semanas o cacique CHICÃO TERENA esteve acampado junto de aproximadamente dois índios e na última quarta-feira, 30/06, realização após protestos durante todo o período, uma última, essa tentando sensibilizar os juízes do STF - Supremo Tribunal Federal em Brasília, tudo para tentar reverter o já percebem despontando no horizonte, a derrota de seus interesses na Câmara dos Deputados. Uma tribo da nação Terena está localizada aqui bem junto de Bauru, em Avaí, aproximadamente 30 km daqui e sempre estes se mostraram muito ativos na defesa dos seus interesses. Depois de um longo tempo com alguma calmaria, quando seus direitos mínimos estavam garantidos, inclusive o do território, hoje não mais e dentro deste desGoverno do ex-capitão, existem projetos em discussão e na iminência de serem aprovados a toque de caixa, permitindo que as terras antes amparadas por lei, sejam devassadas e com isso, uma invasão de grileiros e predadores de toda natureza. Essa luta é apenas mais uma dos tantos hoje em vias de perder direitos, dentro da concepção de Bolsonaro e seus ministros, o de “passar a boiada”, que nada mais é do que aprovar tudo em detrimento da perda de direitos tão duramente conquistados ao longo do tempo.

Neste 52º LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, mais um capítulo dentre tantos aqui já relatados de algo de uma incessante e inclemente luta, a dos do lado de cá, os trabalhadores e envolvidos na grandes questões sociais deste país. Trazer aqui o cacique Chicão e resgatar sua história é não só reviver algo de como se deu tanta resistência, tanta luta, tanta abnegação, mas também da persistência dos que não desistem. Contar um bocadinho disso é produzir história, uma que ainda é pouco encontrada nos livros de História. Dentro da História Oficial da ocupação deste território onde hoje se encontra Bauru e Avaí, algo mais precisa ser contado e em detalhes, até para desmistificar a ocupação do passado e o surgimento das cidades como algo tranquilo, sem embates. Pelo contrário, Bauru nasceu e tocou seus primeiros anos, talvez décadas sob extrema violência. A própria chegada das ferrovias, que tanto “progresso” (sic) trouxe para a região, só foi conseguida, pelo modal da época, o da ocupação com a retirada e expulsão de quem nela vivia. Como quem aqui vivia não saiu por livre e espontânea vontade – e nem deveria fazê-lo -, a violência e o massacre fizeram parte de relatos que precisam ser resgatados. Chicão começará seu relato nos revelando algo desses tempos.

Importante também tomar conhecimento de como se deu a chegada de seu povo e a instalação onde está localizada a aldeia. Quantas etnias, representando que povos, ali se concentram. Como se deu tudo nos primórdios e das conquistas, uma a uma. Ele próprio nos conta que, durante uma parte de sua vida, nos índios participaram ativamente dessa transformação, com todos sendo ouvidos em discussões dentro do organismo criado para defender os interesses dos índios, a FUNAI – Fundação Nacional do Índio, que hoje, infelizmente, totalmente desviada de suas funções, ao invés de defender, está a serviço da destruição. Os tempos não são fáceis para ninguém, tanto que, hoje não são somente os índios a perderem com o genocídio de tanta gente, massacre de culturas e desrespeito para conquistas. Chicão sabe muito bem que, sem luta nada será mantido, daí está em constante estado de guerra. Ouvi-lo após seu retorno nessa semana de Brasília é mais que dar voz para quem mais dela precisa, todos os em constante luta. Mas como essa história vem de longe, nada como revivê-la nos seus mínimos detalhes.

O cacique Chicão Terena tem algo a mais para nos contar. Ele mesmo soube galgar e ocupar os espaços e possibilidades, quando essas apareciam. É hoje o primeiro professor de Geografia dentre os seus, ministrando aulas lá na aldeia para os seus e falando fora para quem quiser tomar conhecimento dessa luta e um pouco da verdadeira história. E por quase um mês, abdicou de estar junto aos seus na aldeia, para representar seu povo e permaneceu em Brasília, protestando diariamente, instalado numa barraca de lona e plástico, tudo para dar continuidade a essa luta, que ele bem sabe é infindável. Assim, sempre presente Chicão toca o barco adiante e se mostra um valente guerreiro, verdadeiramente ao lado de seu povo e da luta destes. Está junto de tantos outros no panteão dos imprescindíveis. Entrevistá-lo é baita orgulho para mim.

Em 07/08/2020 publiquei sobre ele no blog Mafuá do HPA, dentre outros indígenas que conheci isso: “Tive o prazer de conhecer pessoalmente o índio Tibúrcio e dele fiz, mais de uma década atrás, belo ensaio fotográfico, onde pude ouvir suas histórias, inclusive dos tempos quando foi maquinista nas NOB. Aqui em Bauru a luta continua. Estamos muito próximos da aldeia de Avaí, reserva indígena distante 20km de nós, daí muitos índios estão aqui residindo, nos visitando frequentemente, nós a eles e dessa proximidade, ressalto duas pessoas, hoje tão próximos de nós, ou seja, nós da luta deles e eles da nossa, numa integração necessária para uma defesa coletiva de interesses em conjunto. Irineu Nje'a Terena (Werá Jekupé), aldeia Kopenoti, do Araci Cultura Indígena, idealizador do Espaço Terena Koixomuneti, com objetivo de orientar as pessoas a nível energético e espiritual por meio do conhecimento e das práticas do Xamanismo terena, além de estar envolvido também o Ateliê Terena de Artes Indígenas e do espetáculo teatral “A Dança da Ema”, junto com Mariza Basso. Aqui curta fala sua: https://www.facebook.com/chicao.terena/posts/3123081231046334. O cacique desta aldeia, Chicão Terena, pessoa querida de todos os na luta social, trava neste momento uma árdua luta contra o coronavírus na aldeia, com um caso já confirmado dentre eles e, a partir daí, isolando mais a reserva, para não propagação. Vê-lo dias atrás, junto dos seus, empunhando arco e flecha na porteira de entrada da reserva é a certeza dele cumprir seu papel com o máximo afinco e dedicação. Chicão não é mero cacique, possuindo formação em Geografia pela USC Bauru, atuando também como professor na rede pública estadual. Ele é muito mais que prefeito da aldeia, sendo também seu atuante representante, voz ativa na defesa dos seus, grito forte e feroz, se preciso for, intransigente e usando da sapiência secular indígena para auxiliar seu povo neste delicado momento do país e do mundo”.

Hoje algo mais dessa história será a nós revelada a partir das 19h. Vamos juntos? Hoje tem manifestação FORA BOLSONARO e FORA SUÉLLEN nas ruas de Bauru pela manhã e depois, final da tarde, começo da noite, 19h, essa reveladora conversa com a cacique Chicão Terena. Dia para ótimas reflexões...

Eis o link do Bate Papo, duração de 1h19minutos: 

https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/353700049594195

COMENTÁRIOS FINAIS: Chicão é cacique, também professor em sua aldeia, local com aproximadamente 700 habitantes, quatro etnias diferentes e, portanto, quatro caciques. Ele nos contou algo da história da chegada do Terena na região, trazido por volta de 1910, para ocupar um espaço, após praticamente o extermínio dos kaigang na região. Faz um histórico dos mais interessantes da FUNAI - Fundação Nacional do Índio, do antes e do depois, culminando dos prejuízos para todos os índios da região, quando foi extinta o escritório regional de Bauru, hoje transferido para o litoral paulista, ou seja, toda demanda tendo que ser levada até lá, numa distância de mais de 500 quilômetros. Explica como alguém chega a se tornar cacique e no caso dele, foi por consenso, uma ampla reunião de sua comunidade. Conta mais detalhes do relacionamento deles com Avaí e com Bauru, principalmente do segmento religioso, primeiro com a intromissão dos católicos, tempos atrás, quando praticamente existia uma obrigação pela aceitação da igreja, para não se tornarem pagãos e hoje, com os evangélicos neopentecostais, que em muitos casos chegam e preenchem espaços antes ocupados pelo poder público. Fala também da Educação, antes com professores vindos dos brancos e hoje, quase todos os postos ocupados pelos próprios índios, os muitos formados morando na aldeia. Na parte final, Chicão conta como foi a estadia de três semanas em Brasília, acampado em barracas de lona, quando antes o próprio CIMI, entidade indígena possui alojamentos, mas neste desGoverno, nada disponibilizado para a população indígena. Fala da luta lá empreendida, ainda não terminada, com prosseguimento contínuo e mais precisamente em agosto, quando deverá ser votado pelo Congresso Nacional o Marco Temporal, a legislação a prejudicar sobremaneira a questão indígena. Num certo momento diz uma frase contundente: "O índio não está preocupado se por acaso morrer de covid neste momento, pois muitos mais poderão morrer pelo descaso deste governo". Por fim, afirma hoje estar morando em Bauru quase cem indígenas, 70 famílias, constituindo um agrupamento elevado e representativo.


OUTDOOR ALTERNATIVO E O FUROR DA NECESSÁRIA OUSADIA*
* Saiu hoje publicado no semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo o meu 20º texto, inédito e exclusivo, aqui compartilhado neste momento:

“Nós oferecemos para colocar 10 outdoors em Bauru, para ver se com a quantidade eles se animavam por conta do valor. Mesmo assim, uma empresa alegou receio das estruturas serem vandalizadas e as outras simplesmente se negando dizendo que não fazem este tipo de propaganda”, Marcos Chagas, um dos diretores regionais da Apeoesp Bauru, o sindicato das escolas públicas estaduais paulista.

Diante do que li publicado num post que fiz essa semana pelas redes sociais, sobre a brilhante iniciativa de um grupo antifascista da vizinha cidade de Pederneiras, quando reuniram forças e criaram eles mesmo um outdoor, num lugar bem localizado naquela cidade, algo mais surgiu e a demonstrar não só do medo, mas uma espécie de conluio em curso. Vamos aos fatos. Bauru é cidade de aproximadamente 400 mil habitantes e em muitos locais da cidade, outdoors favoráveis a Bolsonaro, todos os lugares previamente demarcados para empresas deste ramo e nenhum contra o ex-capitão.

Conversei com o presidente do PT Bauru, Claudio Lago e ele me diz já ter tentado junto as empresas locais pagar para ter alguns, mas a resposta é sempre a mesma, se negam. “O principal motivo, me disseram ser os bolsonaristas, pois estes iriam destruir, ou seja, são pessoas que não suportam o diferente, não conseguem mais conviver com o outro, antidemocráticos, antissociais”, conclui. Primeiro que, quando ocorre de conseguir ser levantado valor para um, seria somente um ou alguns poucos e isso também se mostra como impedimento. O fato é que, existem muitos oudoors na cidade com data de vencimento mais que vencido, desgastados pelo tempo, mas como já deu pra perceber, em nenhum algo contra o capiroto ou desancando contra o genocídio em curso.

Liguei numa das empresas de Bauru para sondar e a resposta que obtive quando disse, seria somente um único outdoor e com dizeres contra o investigado presidente, conhecendo o interlocutor de longa data, me disse: “Meu caro, o negócio não está bom, seria bom ter essa receita em caixa, mas temo perder mais, pois existe hoje muitos que nos pressionariam e até não mais fariam os seus conosco, tudo por causa deste. Você me entende, né?”. Entendo. Enfim, isso é bem comum no Brasil de hoje, daí a iniciativa do pessoal lá de Pederneiras, mais do que criativa, objetiva e com resultados mais do que imediatos. Não sei como está a resistência lá deles para manter o outdoor em pé, mas pelas redes sociais bombaram e fazem o maior sucesso.

Neste mundo enveredando por caminhos tortuosos e dantescos, nada como fugir pela tangente e buscar meios alternativos para conseguir os objetivos pretendidos. Gosto demais dos ousados e cada vez menos dos que, fazem dos seus negócios, algo onde não é permitido nenhum risco incondicional fora dos padrões estabelecidos. Neste caso, um mero outdoor no centro da cidade de Pederneiras, feito artesanalmente, baixo custo, união coletiva de esforços, causa mais alvoroço do que todos os outros, favoráveis ao inqualificável. Estes são os tais sinais de que nem tudo está irremediavelmente perdido.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.

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