ATENÇÃO, MUITA ATENÇÃO, QUEM VAI ESTAR AQUI NO 53º LADO B É NADA MENOS QUE PAULO NEVES, HOMEM DO TEATRO, JORNALISMO E DOCÊNCIA, TUDO JUNTO E MISTURADOEste projeto sui generis de apresentar a cada semana uma surpresa em forma de Bate Papo, denominado por mim de LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES é instigante, exatamente pelas suas possibilidades. Quando comecei, um dileto amigo me disse ao pé da orelha: “Em breve, não vai ter mais pessoas interessantes pra você entrevistas e vai perder o interesse”. O desminto a cada semana, pois pessoas interessantes e com belas histórias é o que não falta. Faltava sim, quem as abordasse e com temáticas diferentes, ousadas e como dizia um amigo lá do passado, de forma “prafentex”. Eu não sei ser a pessoa mais preparada para tanto, mas prometo e insisto em algo, eu tento. Este entrevistado dessa semana, por exemplo, deu muitas entrevistas ao longo de sua vida, mais ainda nesta semana quando lança seu livro autobiográfico, o “Memórias – 50 anos de teatro e luta, autobiografia comentada de PAULO NEVES” e diante desse dilema, a proposta é fazer algo ainda não feito, por vertentes não trilhadas. Enfim, a possibilidade de extrair do entrevistado o algo a mais, uma prosa pra lá de instigadora e provocadora. Estarão juntados, este mafuento HPA e ele, o homem que respira e transpira teatro por todos os poros, ambos de cabelos e barbas brancas, óculos grossos perdurados no pescoço e dentro de cada cachola, histórias inebriantes de vidas vividas intensamente.
Escrever de Paulo Neves não é fácil e requer um certo pisar em ovos. Ele, quer queira ou não, é uma das poucas unanimidades destas plagas. Muito querido por muitos e também odiado por outros, ela navega no seu barco, tentando não se deixar levar por isso ou aquilo, enfim, possui luz mais que própria e apronta das suas nessa aldeia desde que veio ao mundo. Ele mesmo, na apresentação do seu livro, editado pela ótima editora bauruense Miraveja, diz ser uma pessoa difícil. “Costumo ser passado por antipático, tímido, de poucos amigos. Infelizmente, é isto o que se apresenta: setenta e poucos anos de muita transparência, solidão em boa parte da vida, ética. E sendo alguém que sempre defendeu os desesperançados, que não pode ser o patrão pisando nos mais pobres que fica puto! Deve ser por isso que passei a vida de cara séria”. Vai ser uma delícia a gente falar exatamente desse seu lado, o de querer transformar o mundo. Ontem mesmo me dizia na apresentação, no aperitivo para a entrevista que, “talvez a gente não presencie essa transformação, mas uma pedra nós colocamos nessa construção”. Paulo, com certeza, colocou várias e sobre ela trataremos numa conversa de velhos amigos, camaradas de longa data.
O Paulo escreveu seu livro na primeira pessoa e abordando três grandes temas envolvendo toda sua vida, o teatro, o jornalismo e a docência, essa como professor de História. Na maioria dos lugares por onde vá, falam muito com ele sobre o teatro. Falaremos também, mas quero muito esmiuçar algo mais dos dois outros tópicos, o jornalismo, quando trabalhou no Jornal da Cidade por mais de uma década e depois o magistério. Dias atrás ele fez uma live do lançamento do livro e lá estava este HPA, quando disse a ele sobre isso, o fato de já ter sido demitido ao longo da vida inúmeras vezes e mesmo assim, não ter arriado da ideia de continuar dando murro em ponta de faca, insistindo e persistindo. Ele riu, enfim, a gente ri pra não chorar e diante disso, contaremos também nossas histórias nesse quesito. Tenho dele lembranças mais que boas, talvez uma de suas últimas experiências como professor, no Colégio D’Incao, quando por sua ideia ali vicejou enquanto por lá esteve de uma anual Semana Latinoamericana, onde a a cada edição nomes e mais nomes famosos por ali passaram falando dessa parte do mundo abaixo da linha do Equador e também sua parte caribenha. Todo ano, papos ótimos com Beto Maringoni e Carlos Latuff, só para ter uma ideia de quem Paulo trazia para conversar com seus alunos.
O Paulo é uma cara mais do que sincero nas coisas que faz. Não mede as consequências e isso eu percebi sempre pelos seus escritos. Ele, como eu, frequentamos muito o espaço da Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade e ali o via nu, totalmente exposto. São muito poucos os que não tem receio da exposição, até mesmo de ser comparado com algo ridículo. Enquanto a maioria se esconde, Paulo abre o jogo e seu coração. Tempos atrás escreveu estar precisando trabalhar e pagar suas contas, pois desempregado estava difícil manter em dia seus compromissos. Chegou a colocar à venda sua coleção de jornais d’O Pasquim e o fez numa matéria no mesmo JC. Eu e Paulo, bebemos na mesma fonte, pasquineiros desde a mais tenra idade e assim, falamos a mesma língua, talvez de forma diferente, pois ninguém é igual ao outro, mas buscando o mesmo fim. Somos inquietos e isso nos move. A inquietude é salutar, se padece muito por causa dela, mas quem é assim, não esmorece e nem arrefece. A gente sabe que, quem é assim sofre mais, pois conhece os males do país, luta contra, combate, daí adoece mais e assim, tem até encurtada a vida. Mas, já que não é possível ser diferente, que se continue, pois esse é o gás para continuar sonhando, trilhando e buscando uma libertação, que no caso de gente como o Paulo, só se dará coletivamente. De nada resolve o Paulo ter só a sua vida resolvida, ele sabe disso e luta, o envolvimento de toda uma vida, pelos demais. Esse o caráter transformador embutido dentro de gente como Paulo e do qual não se afastará enquanto viver.
Impossível falar do Paulo sem falar muito do teatro em Bauru. Isso vem de berço e a coisa seguirá em frente. Antes com sua mãe, Celina Neves, hoje nome do teatro municipal, amanhã com seus filhos, Talita e Thiago Neves, já mais do que enfronhados na continuidade da coisa teatral. São tantas histórias. Eu fui macaco de auditório e assisti a quase todos os Festivais de Teatro dele, sempre em janeiro de cada ano, com dezenas de peças e reunindo desde os muito jovens aos mais velhotes, todos no palco. Falem o que quiserem dele, mas ele fez e continuará fazendo enquanto tiver forças. E seus temas levados aos palcos são mais que ótimos, só autores a convulsionar a mente humana, portanto, como querer criticar alguém deste naipe? Impossível. Sua aparência hoje é de um cidadão cansado. Longe de vergado, mas ciente de todas as dificuldades do momento atual. O vejo constantemente reclamando dessa insólita Bauru, que dá pouco apoio para as transformações. Ele sempre conseguiu tirar leite de pedra e mesmo assim, muitos lhe viraram as costas. Enfim, como acabo de ver nessa semana numa postagem pelas redes sociais, comerciante de roupas da cidade diz que precisa de muitos profissionais, mas nada ligado à Cultura. Vivemos num mundo assim, doente, caduco e caolho, cego das ideias. Paulo navega neste mundo e dele tenta extrair seu néctar. A conversa com ele se faz necessária, pois ele sempre tem muito a contar.
Revejo aqui algumas poucas coisas que dele publiquei ao longo do tempo no blog Mafua do HPA:
- Em 18/01/2012 escrevi: “Paulo Neves, nosso irrequieto, inquieto e imodesto maior agitador da cena teatral na cidade está à frente, juntos dos filhos Thiago e Talita Neves de algo que Bauru já está acostumada a começar o ano. Sem reclamações, a festa terá seu início hoje. Aliás, como começar o ano sem a Mostra? Faltaria algo no cenário bauruense. Já é uma espécie de costume, praxe na cena bauruense a estréia anual do nosso maior palco ocorrer com os alunos do Curso de Teatro Paulo Neves. Alunos de todas as faixas etárias, as possíveis e as imagináveis. Sou um saudosista e amante dos palcos bauruenses. Não vivo do passado, mas respeito quem tem história, que tem currículo a apresentar e nas paredes da CASA CELINA NEVES, lá na rua Gerson França, um pouco a relembrar o muito que já foi feito por esse Homem (com H maiúsculo). Das dez mostras, nove cartazes estão emoldurados lá na parede da sala principal daquele espaço cultural. Em cada um a história sendo relembrada e revivida. Do primeiro, só a lembrança, pois começou de forma incipiente, com apenas duas peças e nem cartaz teve. Nos demais, tudo imortalizado e relembrado aqui”.
- Em 22/01/2013 escrevi: “Quando escrevo de Paulo Neves enquanto homem de teatro, o faço quase de automaticamente (ou seria umbilicalmente) lembrando também de seus partners, Thiago e Talita Neves, seus filhos, discípulos e fiéis seguidores. Desse trio, ninguém escapa de ter acumulado conhecimentos e se guiado em passos outros. Paulo aprendeu tudo de sua mãe, seus filhos com ele. Uma família teatral e teatralizante, nada teatralizada. Conhecer o envolvimento de cada um com a causa é coisa para alguma antenada pessoa, dessas munidas com uma idéia e uma câmera na mão. Já vejo essa saga toda merecendo ser filmada, intrépida aventura propiciada pela ação do trio (quarteto, quando incluída a mãe e avó). Reviveram no espaço onde foi a casa de dona Celina, antiga e famosa escola de datilografia, hoje uma Escola de Teatro, ambiente lúdico, quintal com fruta no pé, palco ao ar livre e platéia em arquibancada debaixo de frondosa árvore. Ali tudo é preparado, arquitetado e depois solto, espalhado e a frutificar, como nesse momento, com os atores espalhados em peças de temas variados, múltiplas possibilidades. (...) Professores de História quando movidos por essa possibilidade de transformar as pessoas em seres mais palatáveis, promovem maravilhas e instigam seus semelhantes a serem mais pensantes, questionadores, entendendo e não se conformando com os que buscam nos engambelar. Paulo tem isso embutido dentro de si, consegue passar isso para seus alunos e os que passaram pelas suas mãos nunca mais serão os mesmos. Essa junção de Diretor Teatral e Professor de História possibilita uma combustão única, rica e explosiva. Quando juntadas essas duas divinais especialidades, com alguém de caráter transformador, o estrago é inevitável. Um estrago maravilhoso, a provocar rombos de grande proporção, miolos expostos, mentes abertas e postas para funcionar. Quem convive e recebe ensinamentos de pessoas assim nunca mais vai conseguir seguir pacificamente e de cabeça baixa como numa manada, vai é querer se perder, ser o elemento a propor caminhos outros. Boi desgarrado seguindo caminhos opostos aos do que pensam e agem como se alternativas não existissem. Ele não prepara pessoas para serem inseridas no mercado, mas a prepara para a vida, com sensibilidade e conhecimento de causa. Elemento mais do que perigoso, pernicioso, diria. Não sei nem como ainda continua solto”.
- Em 23/01/2011 escrevi: “O cenário cultural bauruense em janeiro acompanha o modorrento clima. Pouco ou nada em evidência. Uma coisinha aqui e outra ali. O imponente Teatro Municipal de Bauru, antes palco de apresentações mil, anda entregue às moscas ou a meras apresentações de formandos. Uma ignóbil utilização. Difícil conseguir escapar disso. Algo ocorre em janeiro a renovar os ares, dando vida, luz e brilho para palco e platéia a clamarem por utilização mais condizente com sua importância. Uma tsunami cultural varre Bauru. Nesse ar modorrento, poucos arriscam vôos em ares desconhecidos. Adoro aves que voam no sentido contrário, insistem no caminho do novo, buscam novos horizontes. Dentre uns poucos por aqui, um alça vôo mais do que significativo. Paulo Neves é seu nome e sobrenome. Não se faz necessário escrevinhar currículo de tão magnânima pessoa. Esse é aroeira pura, um a resistir como pode. Ciente ser necessário continuar na lida, trilhando sempre pelo caminho começado lá atrás. Um professor de História a abrir mentes e produzir entendimentos nunca dantes navegados. Com professores assim alguns nunca mais serão os mesmos. Serão sim, os diferenciais nessa estabelecida balbúrdia reinante. Mas Paulo não é só professor de bancos escolares. Faz muito mais que isso. Ocupa seu tempo maravilhosamente. Transforma pessoas comuns, garotada querendo ser, fazer e acontecer em gente com luminosidade própria. Seu curso de teatro é algo para mover essa cidade. Gente de todas as gerações estão envolvidas com sua verve criativa. Imantada pessoa”.
- Em 31/01/2018 escrevi: “Paulo é uma INSTITUIÇÃO nesta cidade e poucos o entendem deste jeito. Criticá-lo é fácil, mas entendê-lo é para os que sacam de fato como se processam os caminhos nos desvãos de quem arregaça as mangas, sua a camisa e vai à luta. Ele sempre foi e hoje o vejo com uma fisionomia que me assutou. Ouvi atentamente sua fala (a destaco dos demais por um único motivo, o de querer escrever dele, mas poderia fazê-lo dos outros três participantes da mesa) e dela algo me fez pegar o bloquinho de anotações e registrar para não esquecer de fazer posteriormente a citação: "Eu dou aula numa das melhores escolas de Bauru, senão a melhor e ao comentar pela primeira vez com meus alunos, confesso, ninguém nem sabia o que vinha a ser isso de Tropicália. Se eles não sabem, os que possuem um ensino de ponta, chegaram até agora sem nada terem ouvido disso e tanta coisa importante, imagino o restante dos estudantes desta cidade". Isso me calou fundo. O vi com a fisionomia distante, cansado e de um jeito como querendo desistir da labuta. Percebi isso nos lentos movimentos e credito isso não só a idade, inexorável para todos nós (sinto dores incuráveis no lombo). Sua tristeza era outra, também a minha. Fui ter com ele no final do debate e dele ouvi a confirmação. Primeiro me disse não ter conseguido patrocínio para sua Mostra, algo inédito nessa quase duas décadas. Mesmo assim ela saiu e cheia de pompa e gabaritada, esquentando o janeiro bauruense, que sem ela, seria mortinha da silva. Mesmo com suas dores e lamentações, junto dos dois filhos ele fez e o resultado está aí para quem quiser ver (corra, pois 4 de fevereiro está logo aí). Pois bem, sua tristeza vem também dos destinos deste país, depois de tanta luta, labuta, enfrentamentos e agora o desembocar nesse atual estado de coisas, totalmente desanimador, principalmente para um aplicado professor de História. Gente como Paulo, com um passado inteiro de resistência sente mais que todos o que se sucede com o país. Impossível não ficar debilitado, pois diante de toda essa reviravolta, a certeza de não se ter mais forças para fazer tudo o fez no passado, pois para a imensa maioria dos que enfrentaram de peito aberto o Golpe de 1964, enfrentar tudo o que ainda virá deste Golpe de 2016, falatará tempo. De que adianta, ele perto dos 70, eu perto dos 60 ter a ciência de que os heróis de hoje serão os vilões de amanhã, se talvez não estejamos mais lá quando tudo isso se confirmar. Nós, os professores de História (assim como tantos outros bravos resistentes) sabemos muito bem o que está em curso. A tristeza do Paulo não é só pela idade, dores provenientes da passagem do tempo, mas tem muito disso. Nosso país piorou a olhos vistos e não estamos tendo quase nenhuma esperança de que algo ocorrerá num curto espaço de tempo para reverter isto. Sofremos em triplicidade. Paulo resiste, ao seu modo e jeito, assim como tantos outros, mas na fisionomia desses todos, algo que só quem olha fundo no fundo em seus olhos sabe do que se trata. Eu olhei ontem e confirmei também o que se passa comigo”.
Gente, eu escrevi muito mais dele, ano após ano e mais que quiserem saber terão que assistir o Bate Papo de hoje, o 53º destes tantos arruaceiros e aprontadores de caso desta varonil e nada usual “cidade totalmente sem limites”.
HPA tentando domar a fera e o jogo dentro das quatro linhas. O papo seria de uma hora, mas o assunto estava tão bom que, no final, ficamos mais meia hora. Creio ter valido muito a pena e da conversa, aquele gostinho de ter ficado algo para trás, daí a pergunta: por que não outros continuarem a prosa ou até eu mesmo? Assunto não nos falta. Eis o link: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/525603711833642
COMENTÁRIO FINAL: Sem palavras. Creio ter sido uma das melhores entrevistas que fiz ao longo dessa trajetória. Estou pegando traquejo na coisa. E o mestre Paulo tinha muito pra falar e soube fazê-lo contar suas histórias. Memorável bate papo. Só mesmo assistindo.
* 21º texto deste mafuento HPA, exclusivo e inédito, para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição circulando hoje.
“Adoro feira livre! O único problema é que quero comer tudo kkkkkk Lembro das feiras em São Paulo, capital, que ia com meu pai aos domingos, quando criança. Ia na feira, na padaria buscar um frango assado e depois do almoço rumo ao Parque Antártica, Pacaembu e Morumbi assistir o Verdão (ele, porque eu naquela época ficava esperando passar o sorveteiro e o pipoqueiro kkkkkk)”, Ofélia Bravin.
O país ferve e até os militares estão incomodados quando pegos em fragrante delito e aqui em Bauru a administração municipal continua a merecer comentários os mais desairosos possíveis, mas assim mesmo quero tergiversar, divagar e escrever de algo das ruas. Sou um inveterado, inquebrantável e incontrolável “rueiro”. E dentro das coisas da rua, adoro feiras. Postei hoje pelas redes sociais algumas fotos de quatro anos atrás, em convescotes feitos nas rebarbas e entranhas da maior feira dominical de Bauru, a da rua Gustavo Maciel, centro da cidade, das ruas Júlio Prestes até a Primeiro de Agosto e logo a seguir, comentário compartilhado acima.
Eu vou pra rua pelos mesmos motivos da amiga Ofélia. O principal deles é bem diferente daquele que, um dia o presidente militar Figueiredo apregoou: “Prefiro cheiro de cavalo ao do povo”. O povo tem o cheiro das ruas e estar nela é não só sentir e usufruir desse cheiro, mas fazer parte dele. Poderia discorrer aqui muito de algo nas ruas de Bauru, mas me concentro nesta feira. Um dos feirantes do lugar, que durante certo tempo conseguiu manter um periódico mensal só com coisas do lugar, Moisés Bastos, presidente da Associação dos Feirantes, criou slogan hoje repetido por muitos: “Eu pratico feiraterapia”. Pratico desde os cueiros e desse vício não quero me privar. Só mesmo a pandemia para conseguir me afastar de aos domingos escapulir de casa e por ali permanecer até o arroz secar.
Feira é também lugar de revolução, conspirações, reencontros, paixões, negócios e também brigas, enfim, de tudo um pouco. Tenho cadeira cativa num botequim na entrada da Feira do Rolo – nosso Mercado das Pulgas – e ali, junto de outros da mesma laia, sentamos, proseamos e conspiramos. Muitos passam por nós e lançam olhares de soslaio, esgueio, viram o rosto, mas outro tanto se aproxima e a mesa está sempre cheia. De lá, saímos para comprar acepipes, muitos consumidos ali mesmo. Um deleite ter um comerciante, o Barba, cujo bar tem chopp e frita o peixe comprado na hora. Outro traz queijo, amendoim, rabanete, banana, pastel e na junção de tudo, a gastronomia do lugar.
Além dos feirantes todos, cada qual possuidor de bela história de vida e resistência, tem dentro da Feira do Rolo algo descrito por mim como inusitado nestes tempos de emburrecimento humano, um livreiro. Ele vive disso, sua casa tem livros até no banheiro e do chão até o teto. Carioca, na verdade de Vassouras RJ, portanto fluminense, mas o apelido pegou e revende livros no lugar. Acabou se transformando em ponto de encontro de todos os que ainda leem algo além de bula de remédio. Ali tem de tudo, até bíblias. Além dos livros, LPs, CDs e antiguidades. Ele reserva sempre algo para cada frequentador, pois conhece a todos. Certa feita, reclamava estar duro e em instantes um amigo chega com doação, caixa de livros, bons títulos. Olho e assim de cara me interesso por uns, mas ele me diz: “Desses só vendo depois de levar pra casa, alguns vou ler, depois disponibilizo”. E comprei outros. Histórias como essas só mesmo nas feiras, uma de minhas paixões.
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