quinta-feira, 4 de abril de 2024

MEMÓRIA ORAL (304)


EU DENTRO DO PROJETO "PASSADO E PRESENTE", GRAVAÇÃO HOJE NA PRAÇA MACHADO DE MELLO
Coisa de um mês atrás fui contatado por Thiago Secco sobre uma participação, sendo entrevistado dentro de projeto realizado através da Lei Paulo Gustavo na cidade de Guaiçara, região de Lins, versando sobre a importância das ferrovias em nossa região e da problematização criada com os indígenas que viviam na área onde hoje vivemos. Ele me explicou, tratar-se de um documentário aprovado e definimos a data para a entrevista em 04/04. Ele já havia contatado Luís Paulo Cesari Domingues e indiquei mais dois, completando quatro entrevistados, Fábio Paride Pallotta e Edson Fernandes.

Em Guaiçara a Lei Paulo Gustavo vingou, assim como na maioria das cidades brasileiras. Só mesmo em Bauru a coisa andra empacada, encruada e até a presente data ainda sem definição, tudo por causa da pauta travada, por imposição da alcaide municipal Suéllen Rosim e desta forma, recursos de aproximadamente 3 milhões de reais, que poderiam estar propiciando belos audiovisuais estão sem definição.

No caso deste documentário de Guaiçara, estão em Bauru desde ontem, Agnis Lorena, Fernando Macaco, Carlos Stattus e Victor Natureza, ou seja, uma equipe grandiosa, toda patrocinada pelos recursos disponibilizados pela lei, já atuando contemplados que foram para realizar o projeto sugerido e aprovado. Gravaram com o Luís Paulo ontem dentro do Museu Ferroviário, mais precisawmente na Praça Kaikang e hoje, comigo na praça e com o Fábio Pallota dentro da estação da NOB. A entrevista com o Edson ocorreu na tarde de hoje lá mesmo no entorno da estação.

É sempre muito bom falar sobre a historiografia destas plagas onde vivemos. Cada qual dos entrevistados leu muito a respeito e pode abordar alguns dos aspectos sugeridos em cada entrevista. Falar de ferrovia é sempre edificante, até porque, como Bauru inteira sabe, ela foi o principal motivador de seu progresso. Quando convidado e falando na praça, cujo nome homenageia alguém com um passado nada edificante, pois Machado de Mello foi o capataz, o encarregado de desbravar a mata e abrir a ferrovia, cuidando da mão de obra na execução da tarefa e tornando-se famoso por ter sido um dos responsáveis pela dizimação do índigena em nossa região.

Na praça, algumas surpresas. A primeira dela foi encontrar o busto do homenageado sem as placas de identificação. Existiam duas, uma de cada lado e ambas desapareceram. No local, sinais de terem sido arrancados. Como já tivemos na cidade, quem levou estátua para casa, para que a mesma não fosse roubada, não dá para imaginar se o mesmo ocorreu neste caso ou se foi levada e numa hora dessas já vendida, derretida e fundida em algum outro objeto. A praça, como quadras do Calçadão apresentam movimentação de reforma - não de restauro. Tapumes cobrem parte da mesma e as primeiras quadras do Calçadão já se encontram sem o piso. Do projeto, pouco se sabe, pois não foi discutido com a comunidade bauruense. Simplesmente está ocorrendo e tomara, tenha por detrás, ao menos um projeto consistente e valorizando o centro velho de Bauru.

Para minha entrevista, Agnis e Frenando Macaco, escolhem uma sombra ao lado do Hotel Milanesi, tendo ao fundo a famosa Estação, mesmo no estado de abandono atual, continuando toda majestosa e cheia de pompa. A padaria da praça empresta algumas cadeiras, sou acomodado e dou meu recado. Convido Roberto Pallu, que comigo realizou um trabalho através da Lei Paulo Gustavo em Cabrália Paulista para vir conhecer a equipe que nos visita. Trocar figurinhas entre profissionais atuando na região é sempre edificante. Ver e vivenciar a movimentação realizadora é vibrante.

Falo o que tinhaque falar. A ferrovia teve um vital importância para o desenvolvimento e progresso de todas as cidades pelas quais o trem passou. Facilitou a vida de tudo e todos. Porém, não dá para esconder ter sido por causa de sua chegada, o martírio dos índios, originais moradores da região. Enfim, o que não foi feito pelo tal do progresso, né!!! Ressalto algo considerado por mim mais do que importante dentro do cenário da historiografia atual. A feita no passado, em sua grande maioria foi escrita adotando a visão do vencedor. E na atual, não digo uma revisão, mas levando em conta a visão dos vencidos e assim apresentando um resultado de maior abrangência.

Eu tenho uma estante só com livros versando sobre Bauru. Levo alguns e eles são fotografados juntos, os escritos no passado e uma boa leva do que está sendo produzido atualmente. Li no meio da entrevista trecho de um dos livros escritos com a visão do passado, até para ilustrar como o índio foi por estes considerado. "Um elemento mais forte, os índios, viriam para combatê-lo, forçando a abandonar o fruto de tantos labores. De fato, esse elemento traicoeiro e perigoso, quea todo momento o fustigava, não lhe dando tréguas, sossegou quando consegui vê-lo fora de suas terras".

Hoje, felizmente, impossível num livro com a pesquisa como ocorre atualmente ainda ser concebido um texto tão eivado de conceitos, não só ultrapassado, como a denotar a clara intenção de desdizer do índio, ressaltando ter sido ele causador do atraso. O trabalho de Machado de Mello, na época realizado sem contestação, hoje merece ser entendido não como alguém atuando pelo dito progresso, mas como dizimador, cruel e insensível para com o índios - e também o trabalhador. Todos sofreram muito na construção da ferrovia, que como se sabe, não ocorreu as mil maravilhas.

Depois de mim, quando encerrava minha fala, chega Pallotta e dá prosseguimento, falando também sobre as doenças transmitidas no período e de outra, o Mal de Bauru, a hanseníase, um dos fatores da cidade ser muito conhecida nops meiso médicos. Ao final, Agnis me diz ter já gravado mais de dez horas de entrevistas e tudo, assim como no documentário de Cabrália Pta, tudo condensado em aproximadamemte meia hora. Este o produto final, porém todo o coletado, disponibilizado em breve para outras utilizações. 

E assim, tudo, pelo visto continau acontecendo pela aí, menos em Bauru. Num desGoverno fundamentalista e bolsonarista, tudo atravancado, parado e à espera de um milagre. O primeiro destes deve um dia ocorrer, mas só depois de concluída a votação da concessão do esgoto/água, travando a cidade. Enquanto isso, continuamos pela aí, ora participando aqui e ali, como faço neste momento.

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