domingo, 8 de março de 2009

CHARGES ESCOLHIDAS À DEDO (14)

A CRIMINOSA REVISTA “VEJA” E AS CHARGES DE BETO MARINGONI
Semana passada postei aqui o texto sobre nosso estimado Roque Ferreira estar nas páginas da revista “Veja”. A matéria foi das mais interessantes, mas fiz questão de ressaltar o papel atual que a revista representa e a que se presta. Para estar em suas páginas, somente de duas formas: pensar e agir igual a ela ou em algum tema ter um posicionamento igual ao defendido pela revista. Roque, por uma dessas coincidências da vida, possui um ponto em comum (só um) com o da revista: são contrários às cotas. E dessa forma "Veja" lhe abriu espaço, para si e o grupo marxista onde atua. Sou obrigado a escrever novamente sobre a revista.

Ontem, acompanho uma nova polêmica e o delegado Protógenes na capa da edição dessa semana. O texto é vergonhoso e somente os muito abilolados acreditam naquilo e repetem aquele posicionamento, defendendo os mesmos interesses da revista. “A tenebrosa máquina de espionagem do dr Protógenes” é o título e lá constam prováveis “bisbilhotagens” contra senadores, ministros, governadores, FHC, o filho de Lula, Zé Dirceu e até a ministra Dilma. Lula e Dilma já desmereceram a matéria, pois a mesma não possui fundamento e nem credibilidade. Jogam no mesmo balaio os amigos, adversários, apaniguados, inimigos, tudo para confundir e tentar demonstrar credibilidade. Ali são divulgadas informações ditas sigilosas, portanto, em primeiro lugar, criminosas. A intenção é somente uma, a de desmoralizar o sério trabalho da Operação Satiagraha ou a própria Polícia Federal, para depois poderem questionar seu posicionamento. Eles teimam em proteger Daniel Dantas e acusar o delegado, tentando de todas as maneiras fazer com que o investigador passe a ser o investigado. O fato é que a tal Operação tocou no Ponto G da Nação, como li num blog nessa manhã. Fica claro a tentativa de prorrogar a CPI (do Itagiba) dos Grampos que não deu em nada. Escrevam o que digo: Esse vai ser mais um dos grandes MICOS DO ANO, uma tentativa em vão de proteger certos figurões, como o todo poderoso Daniel Dantas e brecar algumas investigações, aproximando-se da provável condenação do banqueiro.

Ao ler sobre o papel de “Veja”, instantaneamente me recordo de Beto Maringoni, o cartunista (e também escritor) que Bauru exportou para o mundo. São dele duas charges significativas sobre o papel desempenhado pela revista e um cartaz (feito para o MST). Beto possui o mesmo entendimento meu (e de milhares de brasileiros) em relação ao execrável papel exercido por essa revista. Rever seu traço nesse momento serve para uma melhor reflexão sobre isso tudo, afinal, esse pessoal da “Veja” fez um trabalho de amador, requentou informações velhas e o país (quase) inteiro cai como patinho em suas artimanhas. É muita falta de escrúpulos. A cada semana "Veja" ultrapassa o limite alcançado por ela mesma em matéria de mau-caratismo. E tem gente que aplaude e acha graça, pior que isso, acredita.

Em tempo: Beto Maringoni é mais do que merecedor de uma ampla retrospectiva de sua carreira, numa exposição aqui em Bauru. Fiquei com um CD contendo toda sua obra, mas não foi possível viabilizá-la ano passado. Mesmo fora da Secretaria de Cultura, a idéia continua em pé e mais necessária do que nunca. Beto desenha e escreve da forma como gostaria de fazê-lo. Queria muito prestar uma homenagem aqui no blog, com outros trabalhos seus, mas os realizados sobre o papel de certa imprensa nativa é algo imediato, que não pode passar batido, nem ser deixado para depois.

6 comentários:

Roque Ferreira disse...

Caro Henrique, como tdos sabemos o grandes meios de comunicação integram o "estado e os interesses de quem o controlam". Você comete alguns deslizes neste texto. A revista veja em outra edição a.tacou as posições do MNS afirmando que nossa posição era contrária a democracia, por defender o socialismo.
Outra questão: As pessaos que aparecem na matéria da veja não são militantes da EM. Tem o Dr. Militão- militante histórico do MNU, Helda e Leão do Movimento pardo mestiço do Amazonas, e Roberto do movimento contra o racismo do amazonas.
Tenh ao longo de minha vida defendido com firmeza e generosidade aquilo que acredito.A revista Veja é um lixo, como o é a Isto é, a Semana, e caminhando para este limbo a carta capital. Sá analisar com muito critério as últimas posições de Mino Carta.

Mafuá do HPA disse...

Caro Roque
Cometi os deslizes por não ter lido a revista. Desculpe se o fiz sem o total conhecimento do conteúdo da matéria. Faço aqui minha mea culpa, porém, estamos no mesmo barco, achamos a maioria das semanais brasileiras um lixo. Só discordo quando diz que a Carta Capital caminha para o mesmo caminho. Terminei de ler nesse momento, sentado na rodoviária de SP o editorial do Mino na edição dessa semana e continuo tendo a certeza de que não existe outra igual a eles no mercado editorial brasileiro. Se puder, posto aqui o longo texto que li lá sobre a imprensa nativa.
Abraços cordiais
Henrique

Anônimo disse...

Caríssimo:
Obrigado por suas palavras. Fico envaidecido.
Sobre a Veja, a grande questão é que toda a imprensa está se direitizando agora, como mostra o recente caso da Folha.
Pena é que até a nossa Carta Capital estra na onda, com a campanha do Mino pela deportação do Battisti. Ele acaba brigando com seu publico fiel.
abs
Maringoni

Cristina Camargo disse...

Henrique, tive sensação parecida. Fui ler a matéria achando que era uma bomba (inocência minha, admito) e vi que não tem nada... Pareceu mesmo armação para desacreditar o delegado, descrito como se fosse um louco. Sempre penso o seguinte: por que algumas autoridades têm tanto medo das escutas e outras "espionagens"?

Anônimo disse...

Carissimo amigo H.P.A.

agradeço muito.

leio o mafuá todos os dias, aproveito a oportunidade para parabeniza-lo pelos assuntos abordados e a clareza como sao tratados,isso contribui muito com a nossa informaçao ja que por ai quando se trata de informaçao a coisa ta pra la de feia.um grande abraço

Lázaro Carneiro

Mafuá do HPA disse...

AMIGOS E AMIGAS DESSE BLOG:
Fiz questão de colar abaixo o último editorial da revista Carta Capital, texto assinado por Mino Carta, onde expressa de forma bem clara seu pensamento e o da revista. Lendo isso não posso concordar com afirmações de que a revista está "endireitando". Quem escreve o que Mino escreveu não estará nunca ao lado dessa elite brasileira, que tanto infelicita esse país.
Abracitos do HPA




Mino Carta

Ditadura e democracia sem povo



Há muitos anos, um ilustre jornalista usou de suavidade ao falar da ditadura nativa. Comparou-a com as outras do Cone Sul e decidiu ter sido bem menos feroz por ter matado um número menor de desafetos. À época, não houve reações. Talvez o profissional em questão tenha menos leitores do que imagina e do que imagina quem lhe dá guarida.

Que lições tirar do confronto? Na Argentina, um quinto da população brasileira, morreram 30 mil pelas mãos dos ditadores. No Chile, atualmente 16 milhões de habitantes, morreram cerca de 10 mil. No Uruguai, que não chega a 4 milhões de habitantes, 3 mil. No Brasil, algo mais que 400. Como disse o juiz de um filme sobre o processo de algozes nazistas, o assassínio de um único cidadão por agentes do Estado já configura ofensa imperdoável à humanidade.

Certo gênero de comparação serve apenas a solertes revisionistas. Não cabem dúvidas de que, caso a ditadura verde-amarela julgasse necessário, torturaria e mataria muito mais. Entendeu não ser preciso. Vale, de todo modo, concentrar a análise sobre o Brasil. Assim me parece, a partir das reações a um editorial da Folha de S.Paulo que expõe a peculiar ideia da “ditabranda”, e da agressão cometida pelo jornal contra dois leitores indignados do porte de Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato.


Permito-me começar de longe, pela origem da perene desgraça nacional, a escravidão. Seus efeitos perduram implacavelmente. Em primeiro lugar, na pavorosa, hedionda desigualdade social, que, segundo o Banco Mundial, nos coloca no mesmo nível de Nigéria e Serra Leoa em termos de distribuição de renda. Não observo nada de novo, mas faço questão de sublinhar.

Temos uma minoria exígua de privilegiados e fatia, de fronteiras mais ou menos imprecisas, de aspirantes ao privilégio. Os demais vivem no limbo. Milhões e milhões não têm sequer consciência da cidadania. Se algum progresso houve, foi irrisório. E não apagou a ignorância, o alheamento, a passividade, a resignação da maioria.

A escravidão representou o mais autêntico estágio da educação cultural do País. No povão deixou as marcas do chicote. À minoria ensinou prepotência, ganância, desmando. Impunidade. Arrogância. O deixa-como-está-para-ver-como-fica. A leniência com os pares (aos amigos tudo) e o rigor feroz com a malta infecta (aos inimigos a lei). Etc. etc.


O jornalismo brasileiro, desde os começos, serve a este poder nascido na casa-grande, por ter a mesma, exata origem. A mídia nativa é rosto explícito do poder. As conveniências deste e daquela entrelaçam-se indissoluvelmente porque coincidem à perfeição.

Observem. Basta que no horizonte se delineiem tímidas nuvens remotamente ameaçadoras à tranquilidade da minoria e os barões midiáticos formam a mais compacta das alianças para sustar o perigo. Exemplo clássico, embora não faltem outros aos magotes, é a campanha desencadeada depois da renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, destinada a desaguar no golpe de 64.

Por mais de dois anos, os editoriais dos jornalões invocaram a intervenção militar contra a subversão em marcha, até que o golpe se deu sem que única, escassa gota de sangue respingasse na calçada. Assim como faltou ao Brasil uma guerra de independência, carecemos de uma autêntica revolução popular. O golpe de 64 aconteceu e o povo brasileiro não saiu do limbo, de alguma forma nem se deu conta do evento. O qual só teve significado para quem, com o incentivo dos jornalões, organizava as Marchas da Família com Deus pela Liberdade.

Liberdade? A de confirmar e garantir o status quo que favorecia e favorece os eternos marchadores. Não era, digamos, a liberdade da Revolução Francesa, aquela que no Brasil não se deu (de igualdade nem sonhar). Não há dúvidas de que, em uma mesma época, podem conviver tempos históricos diferentes. Aqui, de inúmeros pontos de vista, ainda vigora a Idade Média.

Com o apoio, às vezes frenético, da mídia. A qual cuidou, in illo tempore, de sustentar a ditadura, mesmo depois do golpe dentro do golpe, perpetrado a 13 de dezembro de 1968, com o Ato Institucional nº 5. Dos jornalões, a partir de então, só o Estadão foi censurado, com regalias, no entanto, que outros não tiveram. Podia preencher os espaços cortados pelas tesouras censoriais com versos de Camões e receitas de bolo.

No caso, tratava-se de uma briga em família. O jornal da família Mesquita fora entre todos aquele mais empenhado em solicitar a intervenção militar e já tinha candidato para as eleições que se seguiriam ao fim de uma ditadura de prazo marcado para terminar a limpeza da casa: Carlos Lacerda, o governador de metralhadora em punho.

O resto da turma desta vez discordava, tinha visão diferente do futuro e dos próprios interesses da minoria. Lacerda foi cassado e o Estadão censurado. Tudo acabou em algo mais que presente. Um prêmio: o fim da censura no centésimo aniversário do jornalão, 4 de janeiro de 1975, celebrado com muita pompa e infinda circunstância.

Hoje o Estadão pretende para si o papel de vanguarda da resistência à ditadura, não registro, porém, a súbita convocação de assinaturas para um manifesto contra uma inverdade que não deixa de ser também bobagem curtida em mania de grandeza. Permito-me lembrar que até um ano atrás os jornalões cuidavam de evitar a palavra ditadura, sapecavam implacavelmente revolução em seu lugar. Ninguém protestou.

Agora a Folha de S.Paulo ofende consciências ao criar um novo vocábulo: ditabranda. Poderia dizer ditamole, soaria melhor aos meus ouvidos. Não sei quais foram os argumentos do editorial, que não li a bem do meu fígado. Talvez sejam os mesmos do remoto jornalista que comparava os números das vítimas das ditaduras do Cone Sul. Como se quem mata 400 não fosse capaz de matar 30 mil.


A Folha esteve com a ditadura, com breve exceção, de 74 a 77, quando, dirigida por Claudio Abramo, manteve digna independência. Mesmo assim, no mesmo período, a empresa de Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira não deixou de publicar diariamente um órgão policial chamado Folha da Tarde, bem como estabeleceu notórias ligações com o DOI-Codi de infame memória, aquele onde foram assassinados Vlado Herzog e Manuel Fiel Filho.

Claudio Abramo pagou por sua ousadia enquanto Frias e Caldeira apostavam na candidatura do general Silvio Frota para ditador da vez, logo ao terminar a temporada de Ernesto Geisel. Uma crônica de Lourenço Diaféria sobre a espada oxidada do monumento do Duque de Caxias foi o estopim de pressões do Ministério do Exército, exercidas diretamente pelo general Hugo Abreu, cabo eleitoral de Frota. Abramo e o chefe da sucursal carioca, Alberto Dines, foram afastados dia 17 de setembro de 1977. Precipitadamente. Vinte e cinco dias depois, Geisel demitiria Frota.


O conjunto da obra não é edificante, mas seria injusto sentenciá-lo como pior do que o do resto da chamada grande imprensa. E haveria de ser de outra maneira? A mídia não alcança a ampla maioria dos brasileiros, a não ser por meio de novelas e domingões, e cuida de vender à minoria as conveniências do poder, lá pelas tantas personificado pela ditadura e hoje por uma democracia oligárquica, como define sabiamente Fábio Konder Comparato.

Cria-se o círculo vicioso, e uma mão lava a outra. A política brasileira precisa desta nossa mídia e a premia de todas as formas. E nada muda, quando não avança de marcha à ré. Como diria Raymundo Faoro, o Brasil é um país com as potencialidades de Hércules reduzido à condição de Quasímodo pelo esforço irresponsável, mas consciente, da elite nativa.

O que a mim surpreende e acabrunha não é um editorial da Folha. Aos meus ouvidos soa normal, corriqueiro, natural. Não difere, na essência, de outros editoriais dos jornalões. Quem sabe, seja mais sincero, ou menos hipócrita.

Entendo a repulsa causada em muitos leitores. De modo geral, entretanto, o que me dói é a falta de indignação diante do espetáculo diariamente encenado pela nossa mídia, recheado por preconceitos e mentiras, omissões e equívocos. Sem contar o distanciamento da contemporaneidade do mundo e a lida precária com o vernáculo.

Que aspirantes ao jornalismo busquem emprego onde podem encontrá-lo e tratem de conservá-lo quando o conseguem, isto eu entendo e justifico. Já não logro desculpar o sabujismo desbragado de profissionais experientes, sua capacidade de se converter aos ideais do patrão. E o que mais me indigna é tropeçar tão frequentemente nas páginas dos jornalões nas assinaturas de intelectuais consagrados, muitos deles a alegarem um esquerdismo de boca. Pois é, a leniência é um traço comum na minoria, exercida antes de mais nada em causa própria.

Ao cabo, pergunto aos meus perplexos botões: qual é a diferença entre ditabranda e democracia sem povo?