O ENCADERNADOR E A DESBRAVADORA DE QUEBRA-CABEÇAS
Existem profissões, que aqueles que as exercem conseguem facilmente passá-las de pais para filhos. Outras nem tanto. Em Garça, interior de São Paulo, Clóvis Calvo Cáceres, 72 anos, autodidata encadernador, passa por esse dilema. Exerce a profissão há 60 anos e não conseguiu que nenhum dos filhos continuasse à frente do negócio. Começou como funcionário de uma gráfica, aprendeu o ofício e dele não mais se afastou, nem mesmo quando entrou para o quadro de funcionários do Banco do Brasil. Ficou no banco até se aposentar, em 1983 e conta com orgulho como tudo começou: “Tive a noção e fui desenvolvendo. Nunca fiz curso nenhum, acabei é ministrando muitos”.
Sua firma, instalada no amplo quintal de sua casa, bem defronte o outro antigo local de trabalho, o banco, é por demais conhecida em toda a região, trabalhando quase que exclusivamente para universidades, prefeituras, cartórios e colecionadores. “Paciência, adicionado à dedicação são os ingredientes que não podem faltar ao bom encadernador. E isso eu aprendi ao longo do tempo”, conta seu Clóvis, hoje sentado numa cadeira de rodas, devido a um tombo da cama, quando ocorreram algumas fraturas indesejáveis. Serão 60 dias sem andar e se locomovendo com a ajuda de um enfermeiro.
O casal de filhos seguiu profissões bem distintas do ramo escolhido pelo pai. A saída foi treinar dois funcionários, para que tudo não se extinga quando cansar de vez. Carlos da Silva, 43 anos, 30 de gráfica e 13 como encadernador e Jocélia dos Santos, 37 anos e 9 como encadernadora, marido e mulher, fazem tudo conforme aprenderam com o mestre e patrão. Mesmo com toda dificuldade atual de locomoção, ele não consegue ficar muito tempo longe dos balcões de trabalho. Supervisiona tudo com um olhar de lince. “Não basta saber encadernar, tem que ser criativo. A encadernação é um dom artesanal que se mantém ao longo do tempo, precisa ser dominada por um artista competente e criativo. Já ensinei muita gente, como a bibliotecária aqui da cidade, que aprendeu a arte comigo. Prefeitura nunca tem dinheiro e ela faz quase tudo por lá.”, relata o minucioso profissional.
Hoje com mais tempo para ficar dentro da espaçosa casa, acompanha a esposa, Wanda Marino Calvo, 71 anos, num hobby, que nos últimos tempos movimenta o casal, a montagem de quebra cabeças. “Tudo começou com minha filha, que procurava algum passatempo para mim. Seis anos atrás trouxe de uma viagem um primeiro. Peguei gosto e hoje, aqui em casa tem mais de 40 expostos em todas nossas paredes”, relata Wanda. “Eu a ajudo na montagem do aparato onde ela monta as peças, com uma base de madeira e depois com a moldura. Ajudo também na venda da peça pronta, onde não buscamos lucro. Tudo é vendido a preço de custo, só para desocupar lugar e repor os gastos. Não ganhamos nada com isso”, completa Clóvis.
A mesa da copa está constantemente ocupada por alguma montagem. Dona Wanda explica em detalhes a técnica para agilizar a montagem: “Um de 3000 peças chega a demorar até três meses a sua montagem. Primeiro eu separo os desenhos diferentes em caixas separadas, numa outra as peças da beirada, que possuem uma parte reta. Tudo misturado é muito mais difícil”. Circulo com ela pelos cômodos da casa e me espanto de ver a variedade de temas. Pergunto sobre o tal preço de custo e ela me diz: “Aquele que você gostou, o do Mapa Mundi, tem 1,20 por 0,77m, 3000 peças e custa duzentos reais”. Compram tudo nas viagens, vasculhando bazares e papelarias ou pela internet.
Além da distração encontrada, Clóvis faz questão de me mostrar vários recortes de jornais com matérias sobre algumas exposições que já fizeram, tanto em Garça, como na região. “A distração continua fora daqui, quando levamos o trabalho para outros conhecerem. Incentivamos outros casais a seguirem o mesmo caminho. Eu fico lá com minhas encadernações, tudo com muita calma, paciência e ela aqui, montando tudo da mesma forma”, conclui. Pergunto sobre a técnica para começar. “Comece por um de 100 peças e a técnica você vai aprendendo com o tempo, descobrindo como agilizar a montagem”, me diz Wanda.
Com a chegada de um dos netos, Luis Otávio Garavaso, 10 anos, descubro que o que ele gosta mesmo é de guitarra e jogar tênis. “Encadernação e quebra-cabeças eu até gosto, mas nem tanto”, diz o garoto sem pestanejar. Nisso, quem também aparece para um cafezinho é Sidnei Ferreira, 46 anos, genro, dono de uma gráfica, ocupando uma parte do quintal, separado do setor de encadernação. “Esse é quem vai ficar com o negócio todo”, diz Clóvis, “pelo menos um da família eu consegui que se interessasse pela continuidade disso tudo que você está vendo”.
Existem profissões, que aqueles que as exercem conseguem facilmente passá-las de pais para filhos. Outras nem tanto. Em Garça, interior de São Paulo, Clóvis Calvo Cáceres, 72 anos, autodidata encadernador, passa por esse dilema. Exerce a profissão há 60 anos e não conseguiu que nenhum dos filhos continuasse à frente do negócio. Começou como funcionário de uma gráfica, aprendeu o ofício e dele não mais se afastou, nem mesmo quando entrou para o quadro de funcionários do Banco do Brasil. Ficou no banco até se aposentar, em 1983 e conta com orgulho como tudo começou: “Tive a noção e fui desenvolvendo. Nunca fiz curso nenhum, acabei é ministrando muitos”.
Sua firma, instalada no amplo quintal de sua casa, bem defronte o outro antigo local de trabalho, o banco, é por demais conhecida em toda a região, trabalhando quase que exclusivamente para universidades, prefeituras, cartórios e colecionadores. “Paciência, adicionado à dedicação são os ingredientes que não podem faltar ao bom encadernador. E isso eu aprendi ao longo do tempo”, conta seu Clóvis, hoje sentado numa cadeira de rodas, devido a um tombo da cama, quando ocorreram algumas fraturas indesejáveis. Serão 60 dias sem andar e se locomovendo com a ajuda de um enfermeiro.
O casal de filhos seguiu profissões bem distintas do ramo escolhido pelo pai. A saída foi treinar dois funcionários, para que tudo não se extinga quando cansar de vez. Carlos da Silva, 43 anos, 30 de gráfica e 13 como encadernador e Jocélia dos Santos, 37 anos e 9 como encadernadora, marido e mulher, fazem tudo conforme aprenderam com o mestre e patrão. Mesmo com toda dificuldade atual de locomoção, ele não consegue ficar muito tempo longe dos balcões de trabalho. Supervisiona tudo com um olhar de lince. “Não basta saber encadernar, tem que ser criativo. A encadernação é um dom artesanal que se mantém ao longo do tempo, precisa ser dominada por um artista competente e criativo. Já ensinei muita gente, como a bibliotecária aqui da cidade, que aprendeu a arte comigo. Prefeitura nunca tem dinheiro e ela faz quase tudo por lá.”, relata o minucioso profissional.
Hoje com mais tempo para ficar dentro da espaçosa casa, acompanha a esposa, Wanda Marino Calvo, 71 anos, num hobby, que nos últimos tempos movimenta o casal, a montagem de quebra cabeças. “Tudo começou com minha filha, que procurava algum passatempo para mim. Seis anos atrás trouxe de uma viagem um primeiro. Peguei gosto e hoje, aqui em casa tem mais de 40 expostos em todas nossas paredes”, relata Wanda. “Eu a ajudo na montagem do aparato onde ela monta as peças, com uma base de madeira e depois com a moldura. Ajudo também na venda da peça pronta, onde não buscamos lucro. Tudo é vendido a preço de custo, só para desocupar lugar e repor os gastos. Não ganhamos nada com isso”, completa Clóvis.
A mesa da copa está constantemente ocupada por alguma montagem. Dona Wanda explica em detalhes a técnica para agilizar a montagem: “Um de 3000 peças chega a demorar até três meses a sua montagem. Primeiro eu separo os desenhos diferentes em caixas separadas, numa outra as peças da beirada, que possuem uma parte reta. Tudo misturado é muito mais difícil”. Circulo com ela pelos cômodos da casa e me espanto de ver a variedade de temas. Pergunto sobre o tal preço de custo e ela me diz: “Aquele que você gostou, o do Mapa Mundi, tem 1,20 por 0,77m, 3000 peças e custa duzentos reais”. Compram tudo nas viagens, vasculhando bazares e papelarias ou pela internet.
Além da distração encontrada, Clóvis faz questão de me mostrar vários recortes de jornais com matérias sobre algumas exposições que já fizeram, tanto em Garça, como na região. “A distração continua fora daqui, quando levamos o trabalho para outros conhecerem. Incentivamos outros casais a seguirem o mesmo caminho. Eu fico lá com minhas encadernações, tudo com muita calma, paciência e ela aqui, montando tudo da mesma forma”, conclui. Pergunto sobre a técnica para começar. “Comece por um de 100 peças e a técnica você vai aprendendo com o tempo, descobrindo como agilizar a montagem”, me diz Wanda.
Com a chegada de um dos netos, Luis Otávio Garavaso, 10 anos, descubro que o que ele gosta mesmo é de guitarra e jogar tênis. “Encadernação e quebra-cabeças eu até gosto, mas nem tanto”, diz o garoto sem pestanejar. Nisso, quem também aparece para um cafezinho é Sidnei Ferreira, 46 anos, genro, dono de uma gráfica, ocupando uma parte do quintal, separado do setor de encadernação. “Esse é quem vai ficar com o negócio todo”, diz Clóvis, “pelo menos um da família eu consegui que se interessasse pela continuidade disso tudo que você está vendo”.
2 comentários:
Bonita história, que fui ler nessa noite de sábado.
Fiquei encantada e já penso em incentivar minha mãe a fazer o mesmo que dona Wanda.
Você pode me passar o telefone deles.
Acho que vc errou ao digitar a quantidade de peças do Mapa Mundi, qdo citou 300. Não seriam 3000?
Marisa
Obrigada, Marisa
Falha minha.
Correção feita.
Segue também o telefone da firma Clóvis Encadernação, anexa à residência. Ali você conseguirá todas as informações que precisa.
fone (14) 3471.2066
Henrique, direto do mafuá
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