sexta-feira, 25 de março de 2011

COMENTÁRIO QUALQUER (80)

MINHA HISTÓRIA COM O JOÃO DEZ E MEIA
Notícia triste a recebida nessa semana, o falecimento de um dos maiores entendidos em música na cidade de Bauru, o querido JOÃO OLCKMEY ALBERT LEITE, 68 anos, conhecido por todos nós como JOÃO DEZ E MEIA, por causa de um famoso programa de rádio na 96FM. Privava de sua amizade e até pouco tempo batia longos papos com ele numa firma de recuperação férrea, onde trabalhava nos últimos anos lá na Vila Dutra.

Tenho algo a me entristecer muito e ocorrido justamente com a boníssima pessoa do João. É um velho assunto, já superado por ele e por mim, mas que muito me entristeceu quando ocorreu. Sou daqueles a não esconder nem as “cagadas” já feitas na vida e uma delas, assumida com pesar logo a seguir, foi por algo instigado por mim no ano de 1990. Ainda não privava da amizade dele e estivemos num show no SESC (sempre ele, ou só ele) em novembro daquele ano, na apresentação do quarteto de monstros sagrados do instrumental brasileiro, o CAMA DE GATO (Mauro Senise no sax, Pascoal Meirelles na bateria, Rique Pantoja nos teclados e Arthur Maia no baixo). Levei meus LPs para eles assinarem (João comprou três deles) e ouvi um diálogo entre o João e o músico Pantoja naqueles encontros saborosos nos finais dos shows. Entendi tudo errado do que havia ouvido e achando que tivesse ocorrido algo a menosprezar o artista enviei uma carta para o Jornal da Cidade e publicada na edição de 23/11/1990. Escrevi um monte de besteira (anos depois Rique me contou num programa de rádio, na extinta JB que não tocou com Chet Baker e sim gravou em cima de um solo feito por ele). Com o título de “Pisada na bola...”, ela está aí ao lado (cliquem em cima e a lerão ampliada).

João, como devia mesmo ter feito me colocou no devido lugar. “Chamou na chincha”, como diriam alguns. Li revoltado a resposta, mas entendi que havia errado. Um amigo em comum, o Sabugo nos aproximou meses depois. Não sabia onde enfiar a cara de tanta vergonha. Com o mesmo título e publicada na edição de 25/11/1990 (lá se vão 21 anos), ela também está aqui. É um fato a me envergonhar. Os anos acertaram tudo e João, grandioso em todos os sentidos acabou por me perdoar ao me conhecer melhor. Afinal, ambos gostávamos demais de música, eu mais da brasileira, ele de todas. Mesmo já tendo conversado com ele, certo dia escrevi para o programa e disse-lhe que se estivesse tudo definitivamente esclarecido, que ele tocasse no programa três músicas por mim escolhidas. Ele tocou as três, não mencionou o imbróglio antigo e daí por diante eu ligava sempre que podia para seu programa.

Acompanhei um pouco da sua doença quando atuava na Cultura municipal e nos contatos que fazia com a firma férrea onde trabalhava. Nossas conversas eram sempre musicais e infelizmente, mesmo sendo convidado por ele, nunca tive o prazer de conhecer seu raro e rico acervo musical (Imaginem aquilo tudo num espaço público e aberto para consulta e ouvidoria?). Escrevo isso não como um retardado acerto de contas. João já havia superado isso, na verdade tirou de letra e o que não conseguiu fazê-lo foi na cruel doença a lhe corroer a alegria e a energia. Esse, com toda certeza, fará uma baita de uma falta.
PS.: As duas fotos, a do João e matéria de jornal são do Jornal da Cidade, edição de 23/03/2011.

OUTRA COISA, MAS COM TUDO A VER: Enquanto escrevia sobre João tive o prazer de ver uma propaganda do diário argentino Página 12 e faço questão de repassar a todos. Sou exatamente assim. Cliquem a seguir e confiram: http://www.youtube.com/watch?v=8DvG1dVJP20 . E mais, ontem aconteceu naquele país vizinho uma festa imensa a lotar suas ruas e praças. "Cientos de miles de personas marcharon en Plaza de Mayo y todo el país en repudio de la última dictadura y en reclamo de Memoria, Verdad y Justicia", relata o diário na edição de hoje, que acabo de ler na internet. Adoro ver o povo nas ruas, todo embandeirado, reclamando, exigindo e clamando por justiça. Ontem foram celebrar o final de uma cruel Ditadura, ocorrida 35 anos atrás. Por aqui os 31 de marços ocorrem como se nada tivessem ocorrido, mas essa data é uma das mais tristes de nossa história. Ela está aí, semana que vem. João Dez e Meia se vivo, com certeza, tocaria essa no programa e ouviriamos com a devida atenção. Cliquem a seguir no "La Memoria", León Gieco: http://www.youtube.com/watch?v=_bC9mqsGeJQ

Um comentário:

Anônimo disse...

Henrique

Tô aqui nas barrancas do Mato Grosso, ainda no estado de São Paulo, mas quase em outro estado. Ler seu blog é algo que faço para relebrar minha cidade.

Ouvi muito o João Dez e Meia e sinto pela perda.

Já no texto lá de baixo, o sobre a Argentina. Acho cruel a briga insensata que somos induzidos a ter com esses vizinhos. Li nos jornais de algo sobre Obama não ter ter ido lá. Causas mil e uma delas o momento político, de uma política mais distante dos interesses dos Estados Unidos. Entendi melhor lendo seu texto. O povo estava todo nas ruas e praças ontem comemorando o fim da ditadura militar. Imagina Obama aparecer e querer fazer o mesmo que aqui, ousar em falar ao povo argentino numa praça, ainda mais próximos do dia em que se libertaram de gente que judiou muito deles todos. Obama seria rechaçado. Ele nem foi lá, pois sabia que a carinha de anjo não colaria por lá. Preferiu passar batido. Não foi isso mesmo?

Paulo Lima