Mafuá do HPA

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (20)

O MAESTRO E A PLEBÉIA BAURUENSE, UMA HISTÓRIA EM GRANDE ESTILO

JOÃO CARLOS MARTINS é um maestro mais do que vencedor. Durante um certo tempo, quando esteve envolvido com o indefectível Paulo Salim Maluf e uma empresa sua, a Pau Brasil, com negócios escusos com o Governo paulista não nutria nem um simples gesto de acarinhamento pela sua pessoa. O tempo passou e o maestro sabiamente se afastou de políticos como Maluf, exercendo magistralmente o que mais sabe fazer na vida, reger uma orquestra. Acompanhei todo seu sofrimento com a perda dos movimentos das mãos e a volta por cima à sua maneira e jeito. Foi brilhante. Sua música idem. Um mestre, um bachiano como poucos, reconhecido mundialmente. Neste ano, convidado pela mais popular escola paulistana, a VAI-VAI foi o destaque do desfile da escola, com um tema que já se mostrou acertado na escolha, A MÚSICA VENCEU, retratando sua vida e obra. É isso, a Vai-Vai foi a campeã do carnaval em São Paulo e o maestro que havia desfilado pela escola, logo a seguir viajado aos EUA, volta hoje com pomposa recepção no aeroporto e desfila à noite junto da escola campeã no Sambódromo paulista.

Tenho lembranças dele em Bauru. Primeiro tocou junto da Filarmônica, quando ganhei um belo CD (esse ao lado). Tocou no parque Vitória Régia, graças ao empenho do então Secretário Municipal de Cultura, o Vinagre, administração Tuga. Noite memorável. Ano passado voltou à Bauru para uma apresentação mais modesta, intimista diria, dentro da Paróquia do Sagrado Coração, no Jardim Panorama. Não tenho certeza da data, mas acredito que no mês de outubro. Foi um evento gratuito, atraindo toda a gana de engravatados e muitas damas da sociedade a retirar aqueles longos vestidos, tudo para se exporem diante do famoso maestro. A igreja bombou e algo ocorrido lá me marcou mais do que todos os socialáveis que lá estiveram. É disso que escrevo abaixo.

O maestro diante de tanta gente com perfume francês foi se engraçar justamente da plebéia. Minha dileta amiga MARIA LUIZA CARVALHO foi de carona para o evento, junto de outras amigas, escolheu um canto e em alguns momentos da apresentação não se conteve, saia do lugar para fotografar a apresentação. Foi notada pelo olhar clínico do mesmo e ao saber que a mesma chama-se LUIZA, presenteou-a com um mimo, desses inesquecíveis a deixar as grandes damas da sociedade tupiniquim de queixo mais do que caído. Ele regeu a música do Tom, LUIZA especialmente para a fã, que saia do seu lugar e o fotograva com certa insistência. Ela guarda isso como um dos grandes momentos de sua vida e eu resgato essa história hoje, justamente no dia do desfile das campeãs paulistas, tendo o maestro como destaque, para realçar que não adianta toda a pompa do mundo para ser notado e sim, num gesto simples, também conseguir ser observado e assim conseguir alcançar a felicidade. A nossa Maria Luiza é uma incansável batalhadora pela causa feminina em Bauru, vice-presidente do Conselho da Condição Feminina na cidade e esse escrito, além de fazer eco para tudo isso, ressalta também uma justa homenagem desse escrevinhador pela passagem dia 08/03 do Dia Internacional da Mulher. Essa é a minha história de uma das passagens do maestro por aqui, talvez a mais saborosa de todas elas.

OBS.: As fotos da Maria Luiza e do maestro na igreja foram me passadas por ela no ano passado e tiradas por Vilma Borges, a quem dou o devido crédito nesse momento.