domingo, 15 de maio de 2011

UM LUGAR POR AÍ (13)

UM ASSOMBRAMENTO NA CASA PONCE PAZ, DUAS MARIAS E UM RESGATE MAIS DO QUE NECESSÁRIO
Aqui perto de minha morada, outra e essa, cheia de charme e elegância, hoje denominada de CASA PONCE (esquina das ruas Antonio Alves com Ezequiel Ramos), em homenagem a Ponce Paz, homem das artes dessa varonil terrinha. Essa casa, de passado ilustre, com histórias mil e uma delas contada por minha mãe, do alto dos seus 74 anos, a relatar ter morado ali uma colega sua de escola primária, rica na época, local intransponível e de muita imponência. Depois o declínio da tal família, até o apagar das luzes. Décadas depois, alugada para um posto do Ministério do Trabalho, uma das primeiras ações de um juiz ao se deparar com aquelas lindas paredes cobertas de afrescos em formas variadas, não pensou duas vezes e decretou: “Pintemos tudo, vamos cobrir de tinta o colorido dessas paredes, pois isso não combina com Justiça”. Depois, fechada e arquivo de documentos. Redescoberta na administração Tuga, numa permuta vem para cuidados da área cultural do município (vivenciei esse momento) e assim permanece até hoje. O desvendar do encoberto pelas tintas e o desabrochar de algo inédito para a grande maioria das pessoas. Um início a mostrar o que existe e as possibilidades futuras, a destinação como centro de artes e o aguardar de verbas (que um dia virão) para resgatar definitivamente o conjunto num todo. Enquanto isso, abnegados ali se instalam e fazem dali um reduto, um antro de cultura resguardada. Guardiões de algo precioso, tomam conta com as armas que dispõem, tomando os cuidados para que nada de mal possa continuar acontecendo na sua parte física. Muito já foi pensado sobre um futuro para o local, mas quase nada de concreto. Enquanto tudo permanece no campo das probabilidades, dois fiéis escudeiros, Ronaldo Gifalli e Paulo Barreto, fincam raízes no local e com a ajuda providencial de outra instituição começam a escancarar suas portas, que dizem possuir assombramentos variados, para atividades lúdicas e culturais. Não só exercem atividades culturais, como limpam, esfregam, tiram pó e passam panos no chão. Com certeza, vistos durante o dia e parte da noite no local, são os próprios fantasmas da edificação. Assustam alguns e divertem outros. Levam aquilo muito a sério. Fui presenciar isso na noite de ontem, 14/05 e relato abaixo o que vi.

Um projeto da Secretaria Municipal de Bauru, em parceria com a TUSP está a trazer arte para o local. Na noite de sexta um desses espetáculos, quando 65 contadas pessoas estiveram, primeiro ao redor da casa e depois na sua parte interior conferindo o trabalho de umas ousadas meninas piracicabanas do grupo teatral Coletivo Estalo (http://www.coletivoestalo.blogspot.com/ ), com a peça adaptada de texto "A infanticida Marie Farrar", de Brecht, “MARIAS”. O nome de mais um fantasma a assombrar a casa é Circuito TUSP de Teatro, encabeçado por Xyko Peres (e-mail: xykoperes@usp.br ) e tendo como coadjuvante principal a atriz Letícia Neves Ravanini, ocupantes (assim como nas ações do MST, não uso o termo invasores e sim, ocupantes) do espaço. Levo um acertado pito de Letícia quando me ponho a tirar fotos com flashes do espetáculo e resignado assumo meu erro. Duas atrizes grandiosas, na exata acepção da palavra, Gabriela Elias e Marina Henrique, além de uma violinista a ressoar o som desse instrumento pela penumbra dos cômodos. São duas solitárias Marias, num casarão esquecido em um canto qualquer desse mundo e ao se depararem com visitas, muitas por sinal, avançam o sinal e ressoam um pouco de tudo o que estão guardadas dentro delas pela poeira de anos de resguardo. Despejam para fora o provocado pela solidão de mundos guardados entre quatro paredes. E elas são boas no improviso, nas intercorrências inerentes a algo que vai se sucedendo ao longo da peça, situações novas, extraindo risadas e gestos inquietos da platéia. Uma ótima ocupação do espaço público. Uma reocupação mais do que útil e agradável para casa esquecida no meio da noite bauruense, velada pelos travestis no trottoir noturno diante de suas grades (eles os verdadeiros vigias do local) e agora, geradora de inquietações outras. Gostar é pouco, pois é preciso falar muito, cutucar muito e gritar, se preciso for, para que saia da gaveta um amplo projeto para transformação definitiva daquilo em algo de visitação contínua. Torço por isso, reforço o coro dos que lá atuam e faço deles as minhas palavras: “Um dia isso aqui vingará”. Com Elson, Giffali, Barreto, Xyko, Ravanini, muitas Marias e também Josés, caminhamos para isso acontecer. Contem comigo e com as armas desse andante quixotesco e mafuento escrevinhador.

5 comentários:

Anônimo disse...

oi, Henrique...
Estou ensaiando um espetáculo que a proposta cênica é de apresentar em
uma casa e não em teatro...
Um texto meu escrito em 2001 e espero estrear ainda esse ano...
Com quem posso conversar sobre a casa.
Me interessa e mto...Posso falar com quem quiser...com quem
precisar...com quem me autorizar...
Abraços
MADÊ CORRÊA

Anônimo disse...

Na sexta feira dia 20 de Maio às 19h a Paroquia Sagrado Coração de Jesus, recepcionrá o DOANE COLLEGE CHOIR , de Nebraska, EU.
O DOANE COLLEGE CHOIR está entre os melhores corais universitários dos Estados Unidos. O Doane College é uma instituiçao de ensino superior com mais de cem anos de existencia. O coral todos os anos faz uma turnê pelos Estados Unidos. No ano de 2010 eles se apresentaram em Veneza, Viena, Berlin, Einsteck, Munique, Leipzig e Salzberg. Se apresentaram nas mais famozas catedrais da Europa como San Marco de Veneza, Il Domo de Munique, Notre Dame de Paris, San Sulspicio de Paris e outros. O coral tem 37 vozes e os cantore sestão entre os 18 e 23 anos.
Esta é a primeira turnê do Doane College Choir pela America Latina, e Bauru juntamente com Lençois Paulista serão as únicas cidades do interior a terem o privilegio de ouvi-lo. Para esta turnê o coral fará uma homenagem especial a compositores latino americanos sendo que a segunda parte do programa será dedicado a compositores brasileiros e argentinos.
O Coral está sendo trazido pelo professor Benedito Sampaio Guedes de Azevedo com apoio de varias instituições da Cidade.
Os ingressos serão vendidos na entrada no local do concerto, na Paroquia Sagrado Coração que gentilmente cedeu o espaço, na Rua Romildo Brunhari
3-47 no Jardim Panorama, Bauru.

NÂO PERCAM!

ROSA TOLON

Mafuá do HPA disse...

LI NO BLOG DO ESTALO ALGO CITANDO O MAFUÁ, REPRODUZIDO ABAIXO:


Agradecimentos Especiais a Bauru...
O que ficou para nós desta cidade? Vibração, energia, acolhimento, diversidade, reconhecimento.


Chegamos em Bauru por volta das 13h do Sábado, eu (Karina), Marina Henrique e Gabriela Elias, uma parte do Coletivo Estalo que faz o espetáculo "MARIAS", fomos a convite do Tusp para uma apresentação na cidade.


Chegando lá encontramos com o coordenador do Tusp em Bauru, Francisco Peres (Xyco) que nos recebeu maravilhosamente bem, depois de almoçarmos fomos conhecer e começar a preparar o espaço em que iríamos nos apresentar naquela noite.


Ao nosso redor uma grande energia e alegria pairava, o espaço que reservaram para nossa apresentação de "Marias" era inacreditável, uma casa muito antiga ( hoje chamada de CASA PONCE PAZ) "Essa casa, de passado ilustre, com histórias mil...local intransponível e de muita imponência" como cita Henrique Perazzi Aquino em seu blog : http://mafuadohpa.blogspot.com/ que também descreve a sensação do espaço sendo ocupado pelo espetáculo naquele momento.


Fizemos algumas adaptações para que o espetáculo acontecesse da melhor maneira, já que a casa é um patrimônio e tivemos que tomar alguns cuidados... principalmente na nossa instalação da iluminação, mas nada que interferisse de forma contraditória ao espetáculo, pelo contrário, o clima antigo e decadente do casarão só fez adentrar mais ao clima do espetáculo.


20h em ponto se iniciou o espetáculo. Esperávamos no máximo 50 pessoas, que era a lotação da casa, e quando nos demos conta havia mais de 65 pessoas e algumas outras que não conseguiram entrar pelo atraso, e assim foi que aconteceu um belíssimo espetáculo, na troca com esse público tão diverso (estudantes universitários, terceira idade, famílias inteiras, namorados, crianças) que só nos trouxe alegria e ótimas surpresas que surgiram com o belíssimo jogo de improviso das atrizes, Marina Henrique e Gabriela Elias, que se adaptaram o espaço cênico bem pequeno para que todos coubessem e conseguissem assistir a peça.


No dia seguinte realizamos uma oficina no mesmo lugar, com os interessados na linguagem e nessa criação colaborativa que foi o espetáculo, que por sinal foi muito gratificante também.


Deixamos aqui nossos saudosos cumprimento para aqueles que fizeram este acontecimento possível:


Xyxo Peres (Coord. de Artes Cênicas Tusp Bauru)
Leticia Neves Ravanini (Assistente Tusp)
Paulo Barreto (responsável pela Casa Ponce Paz) e todos os funcionários
Gastão, grande amigo que nos ajudou do começo ao fim!
E a todo o público de Bauru que dividiram e fizeram juntos com o Coletivo Estalo este momento inesquecível de nossa apresentação por lá!


Grandes Beijos e Abraços,


Coletivo Estalo!

Anônimo disse...

Henrique

O que significa TUSP ?

Aurora

Mafuá do HPA disse...

cara Aurora

Desculpe, siglas, sei disso, tem que terem o seu significado logo a seguir de sua citação. TUSP significa Teatro da Universidade de São Paulo. Nada sei sobre a versão bauruense, capitaneada pelo Xyko. Seria ótimo ele falar algo sobre o trabalho deles.

Henrique - direto do mafuá